Volume 1 – Arco 4

Capítulo 52: Num Redemoinho (3)

— É ainda mais assustador à noite. — Cale comentou ao olhar para baixo, em direção ao maior redemoinho sob ele. 

Como Toonka conseguiu o Som do Vento no livro? Ele naufragou e de alguma forma conseguiu chegar a esta ilha. Logo em seguida, após sua condição ter melhorado um pouco, ficou interessado naquele redemoinho no oceano.

Após refletir por um tempo, o ruivo chegou a uma conclusão:

"Toonka é realmente maluco."

Não importava se fosse vulcões, geleiras, deserto, o desgraçado gostava de enfrentar os elementos da natureza apenas com seu corpo. Ele gostava de situações perigosas. Não, Toonka era obcecado. Caso desse de cara com algo dessa proporção, não pensaria duas vezes antes de ir pra cima. Por isso, Cale sempre dizia que aquele cara não batia bem da cabeça.

 

❖ ❖ ❖

— É a primeira vez que vejo o mar, mas acho que vai ser divertido.

❖ ❖ ❖

 

Toonka disse isso antes de pular na água sem qualquer tipo de preparo. Claro, Cale não planejava agir da mesma forma. Ele tinha guardado tudo o que precisava nos bolsos do equipamento de mergulho.

— É aqui? — perguntou o dragão.

Cale acenou com a cabeça e olhou ao redor.

Talvez fosse por ser uma vila no campo mas, toda aquela região ficava um breu a noite. O oceano também ficava bastante escuro, mas, era ainda mais barulhento do que na vila devido ao som do redemoinho. Graças a isso, o fato de ficar ainda mais barulhento daqui a pouco não chamaria atenção. As pessoas apenas pensariam que o redemoinho estava agindo de forma estranha e deixariam isso de lado.

Cale se afastou do oceano e olhou em direção ao Penhasco dos Ventos.

 

❖ ❖ ❖

Toonka descobriu uma caverna escondida sob o Penhasco dos ventos. Ele ficou curioso e decidiu explorar aquele local. No fim das contas, acabou encontrando algo no final da caverna.

— Eu não esperava que algo tão bom estivesse aqui.

Toonka soltou uma risada

Aquele foi um presente do destino que nem mesmo ele, em seus mais loucos sonhos, esperava receber.

❖ ❖ ❖

 

Cale deixou as informações da novel de lado e disse:

— Vamos começar.

— Certo, humano.

Uma energia negra começou a sair da pequena pata dianteira do dragão.

Ooooong.

A bomba mágica reagiu à energia e começou a vibrar. O objeto que Cale segura não era o mesmo que havia sido usado pela organização secreta nos dois primeiros volumes do livro.

— Essa é ainda melhor.

Por volta da segunda metade do volume 3, os magos do Reino Whipper — que estavam prestes a perder a guerra — começaram a desenvolver novas ferramentas para lutar contra os não-magos. Uma dessas ferramentas era parecida com o objeto em suas mãos.

A mana condensada, o principal ingrediente para o explosivo, reage à mana do desenvolvedor e se divide em várias pequenas esferas de mana antes de explodir. Embora não fosse muito forte, a cadeia de explosões era suficiente para matar alguns inimigos.

— Sabe, acho você bem incrível por criar algo assim. — comentou Cale.

— Pois é, eu sou um dragão incrível e poderoso.

Ainda mais mana negra fluía daquelas pequenas patas e era absorvida pelas bombas.

Ooooooong.

Cale podia sentir o aparelho vibrando em seus braços. Enquanto mirava em seu alvo, a lua havia se posto, mas o sol ainda não havia nascido.

— Tome cuidado. — disse o dragão ao voar mais alto e colocar um escudo a sua volta. — Não se machuque.

Click.

Um pequeno ruído soou de dentro da bomba mágica.

Cale soltou a bomba e, logo depois, colocou a máscara de mergulho. Era uma ferramenta mágica que ajudava o usuário a respirar debaixo d'água por 5 minutos.

Alguns momentos depois.

Boom!

Boom! 

Booooooom!

Naquela noite, o vento soprava furiosamente em seu rosto. A bomba explodiu e ele convocou escudo de prata antes de cair.

Assim que as dezenas de pequenas explosões ocorreram, o redemoinho perdeu sua força e não conseguiu mais girar da mesma forma. Cale abriu as asas do escudo.

Splaaaaaash!

Ele colocou o óculos de proteção e foi para o fundo do mar. Enquanto mergulhava, o escudo tremulava contra a correnteza. Graças ao poder antigo, o corpo de Cale estava afundando em alta velocidade.

Boom! 

Boom! 

Mais explosões ocorreram e enfraqueceram ainda mais o redemoinho. As ondas criadas pelas explosões bateram contra o escudo e as asas prateadas, mas Cale ainda conseguiu chegar com segurança nas profundezas do oceano.

Boom!

Cale usou o Escudo Indestrutível, mais uma vez, para lidar com a última explosão antes de começar a nadar.

No pequeno vilarejo, o grande redemoinho que ficava a sua frente, foi causado por um pequeno pião que estava sob uma grande rocha. Esse brinquedo continuou a girar por centenas de anos sem parar.

Cale podia ver aquela pedra a sua frente. Era tão grande que poderia facilmente esmagar uma pessoa.

 

❖ ❖ ❖

Toonka percebeu que o redemoinho começava debaixo desta grande rocha e decidiu ergue-la porque tinha levantado uma pedra maior que essa no norte. No entanto, ao contrário de suas expectativas, ele não conseguiu fazê-la se mover um centímetro se quer.

— Sendo assim... Irei apenas quebra-la.

Por isso, o enorme rochedo foi destruído.

❖ ❖ ❖

 

"Toonka, seu desgraçado. Você destruiu isso...?"

Cale balançou a cabeça debaixo d'água e se dirigiu até o objeto debaixo da pedra, que por alguma razão se parecia com Sun Wukong.

 

Naquele momento, assim como todas as outras vezes em que adquiriu um poder antigo, a voz do antigo dono apareceu.

— Seus filhos da puta!

Uau! Esse aí tinha um linguajar e tanto.

— Por que é pecado roubar algo pelo qual eles sacrificaram pessoas para criar? Sendo que eu ia apenas devolvê-lo ao povo? Seus vermes! Por que pessoas como vocês têm tanto poder?!

O antigo dono do Som do Vento era o ladrão que havia sido mencionado na lenda, aquele que roubou algo de deus. Para falar a verdade, "ela" não tinha furtado um artefato divino. O que havia sido roubado era algo que estava no templo. Ela morreu afogada quando ficou presa debaixo de uma pedra. A história da ágil e furtiva ladra teve um fim trágico. 

O seu poder não era controlar as correntes de ar com a mana. Ela era o próprio vento. Após sua morte, a ladra havia se transformado em um pião que continuava a criar redemoinhos.

— Água estúpida! Se a luz do meu amigo estivesse aqui, tudo isso já teria virado cinzas!

A expressão de Cale ficou estranha enquanto procurava por algum item para libertar este pião.

"Será que ouvi direito? Ela disse luz?"

— Você sabe por que o relampagos são tão assustadores? Por que tudo o que você precisa é de uma única faísca... apenas uma! 

Cale começou a pensar no último poder antigo em sua lista, o Fogo da Destruição. Ele precisava passar pelo fogo para alcançá-lo e também precisava arrumar muito dinheiro. De repente, alvo veio a sua mente:

 

O Escudo Indestrutível, com o poder da madeira.

 A Vitalidade do Coração, representada pelo Vento. 

O Som do Vento, simbolizando a Água. 

O Fogo da Destruição, que era o próprio Fogo.

 

Ele estava ficando preocupado com isso. Até se questionou se deveria ou não buscar esse poder. No entanto...

Bip!Bip!Bip!

O alarme dentro do equipamento de mergulho mostrava que faltava apenas três minutos. Cale decidiu deixar essa preocupação para depois.

"Vamos nos apressar e tirar isso daqui."

Então, começou a cavar com a pá de mão que trouxe consigo. Ele precisava se livrar de alguns pedaços de pedra da grande rocha que tapavam uma parte do pião. A pá, reforçada com magia, era tão afiada que o chão cedia facilmente.

"Não preciso agir como um maluco feito Toonka e destruir a pedra."

Tudo que precisava fazer era cavar. Cale começou a sorrir. Finalmente, conseguiu ver todo o pião após cavar um pouco mais. Ele estendeu a mão e o pegou.

Swiiiiiiiish.

Cale deu alguns passos para trás com o pião girando em sua mão.

Booooom!

A pedra, que estava equilibrada com o pião, começou a inclinar para o lado.

— Se o que fiz foi pecado... Então, por que eles se gabam de não serem pecadores quando ficam mentindo para os humanos? Este mundo é podre! Um mundo podre onde aqueles no poder podem fazer o que bem entenderem!

"O mundo sempre foi podre."

Cale ignorou o desabafo da ladra e colocou o pião no chão.

Havia apenas uma coisa que a dona do Som do Vento desejava... Liberdade. A única maneira de lhe proporcionar isso era destruir o pião.

Racha. Racha.

O objeto começou a rachar sob o pé de Cale.

Craaaack!

Um ruído agudo como um grito ecoou sob a água quando o pião se quebrou. O vento que saía dele começou a cercar Cale.

— Então você tem o poder da recuperação. Não seja pego como eu fui, entendeu?

"O poder da recuperação? Ela está falando sobre a Vitalidade do Coração?"

Isso o fez franzir a testa enquanto ouvia as últimas palavras.

— Seja livre.

Swooooosh.

Um vento cercou o corpo de Cale e subiu até sua cabeça antes de começar a descer. Isso deveria continuar até chegar aos seus pés e parar ali.

"Hmm?!"

Mas o vento, em vez disso, envolveu o seu coração.

Tu-Tum! Tu-Tum! Tu-Tum!

O coração de Cale começou a bater descontroladamente.

"Ah!"

O seu coração batia descontrolado, as batidas eram tão fortes que chegavam a doer. Cale acariciou o coração com a mão direita enquanto bolhas de ar saíam de sua boca, que se abria com força por causa da dor.

"O que está acontecendo? Argh!"

Cale segurou outro gemido e se encolheu de dor. Nesse instante, o vento brilhou e desceu rapidamente até seus pés, desenhando uma imagem em seu tornozelo. Entre o traje de mergulho e os sapatos de mergulho, ele viu a imagem de um redemoinho prateado.

Assim que o desenho do redemoinho foi concluído, sentiu que as batidas do seu coração estavam desacelerando aos poucos.

"Será que a Vitalidade do Coração também fortaleceu o Som do Vento?"

Ele estava curioso, mas não tinha tempo para pensar nisso.

Biip! Biiip!

O alarme tocou novamente, avisando que o tempo estava acabando mas, o tempo que restava era mais que suficiente. 

Cale ativou o seu mais novo poder e uma rajada de vento começou a girar ao redor de seus pés e moveu levemente um pé para a frente.

Swiiiiiiiiiiiiiiiiiiish!

Ele atravessou o oceano em um piscar de olhos. Embora, o grande redemoinho em frente à ilha tivesse desaparecido, os outros ainda estavam presentes. No entanto, Cale passou por eles facilmente, sem nenhum problema.

“Os outros redemoinhos vão desaparecer em uma semana. No entanto, o plano é manter alguns por durante um ano. ”

Os redemoinhos reconheciam o Som do Vento, o símbolo de seu dono, e abriam caminho para Cale.

Seu destino era o Penhasco dos Ventos. Quando avistou o seu destino ao longe, se aproximou rapidamente e, quando estava quase chegando, seu corpo disparou para cima.

Swiiiiiiiiiish!

Ao emergir da água, a brisa do oceano deu as boas-vindas. Cale rapidamente tirou a máscara de mergulho e a jogou em algum canto.

Bip!

O alarme soou, indicando que os cinco minutos haviam acabado. Cale olhou para a vila e viu que várias luzes estavam sendo acesas.

— Eu preciso me apressar.

Hans provavelmente não iria acordá-lo, a menos que fosse algo urgente. Mas ainda era melhor voltar logo.

Ao nadar em direção ao Penhasco dos Ventos, Cale avistou várias rochas grandes e pequenas abaixo do local. Essas pedras eram perigosos e causavam ferimentos graves nas pessoas que caíam do penhasco. Cale procurou por aquela que se parecia com à cabeça de um leão e a encontrou facilmente, já que era a maior entre elas. Quando notou uma pequena caverna atrás da rocha, um sorriso se formou em seu rosto.

"Achei."

Toonka achou uma coisa preciosa nessa caverna, após obter o Som do Vento. Para aquele maluco, aquilo era inútil, mas, seria um "ingrediente" importantíssimo no futuro. Se fosse combinado com outro ingrediente, que Lock conseguiria para Cale no futuro, a Rainha da Selva não teria outra escolha senão fazer um acordo com ele.

"Já precisa salvar a selva."

Cale nadou com cuidado pelas rochas e entrou na caverna. A entrada estava escura, mas isso não importava. Ele entrou na caverna e rapidamente pulou para fora da água. Em seguida, olhou para o céu lá fora.

— Já está na hora dele chegar.

Assim que apareceu, o dragão negro começou a falar, como se soubesse o que ele estava pensando. No entanto, suas palavras ressoavam em sua mente.

— Humano fraco, você não se machucou.

Nesse momento, sentiu todo o seu corpo arrepiar. Havia apenas uma razão para o dragão falar com ele telepaticamente... quando havia alguém desconhecido por perto. Cale virou lentamente a cabeça para o interior da caverna. 

— Há uma forma de vida dentro desta caverna. Embora esteja quase morta, não é um daqueles cadáver que te assustam.

Pssssssss.

Pssssssss.

Cale podia ouvir algo arrastando-se dentro da caverna e começou a anaaaalizar suas opções.

“Será que devo pular de volta na água? Ou peço para o dragão me levar para casa agora mesmo?”

Psssssssss.

Pssssssss. 

Mas, aquele barulho de arrastar ficou mais alto e, antes que podesse se decidir, a pessoa dentro da caverna se revelou. Cale colocou um pé de volta na água.

— P-Por favor, me salve. — disse o desconhecido com uma voz trêmula.

— Ah. — Cale suspirou.

Aquele sujeito tem um cheiro salgado, o cheiro do mar.

"Não é possível."

— Há algo que preciso fazer. Não posso... m-morrer aqui!

Uma criatura com aparência humanoide, com a perna terrivelmente arranhada, arrastando-se pelo chão, se aproximou de Cale. Havia um fluido verde sobre as feridas, fazendo com que a aquela criatura continuasse a vomitar sangue. Aquilo, com certeza, era obra de uma sereia.

— P-Por favor...

Uma baleia.

Esse belo ser humano de cabelos bagunçados que se arrastava em direção a Cale, era uma baleia.

— Humano fraco, você pegou um resfriado? Seu rosto está pálido.

O Dragão Negro falava na mente na sua mente, mas ele não conseguia ouvi-lo. Era como se estivesse diante de uma cena de um filme de terror. Um membro ferido e quase morto da Tribo das baleias estava diante dele.



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