O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 23: Irmãos Diabo

Continuamos seguindo os rastros e, quanto mais nos aproximávamos, mais destruição seguia pelo caminho. Havia uma perseguição ocorrendo e o monstro que perseguia as duas pegadas menores era enorme, com certeza.

Orates de repente se abaixou, colocando a cabeça contra o chão. Aguardei em silêncio enquanto ele escutava as vibrações. De súbito, ele levantou-se e apontou para a mata logo a frente.

Não precisei nem pensar duas vezes. Cristal começou a fungar e a mostrar suas presas. Havíamos encontrado o que quer que fosse.

Passei por entre algumas árvores discretamente e levantei o braço para me seguirem em silêncio.

Contornei um pouco os arredores. Poderia ser uma armadilha meticulosamente preparada, então seguir reto era pedir para morrer.

Quando estávamos perto o bastante, pude escutar sons de corrida e um rugido alto.

— Eles estão logo a frente.

Subimos nas árvores, atravessando por entre os galhos até o destino. Finalmente consegui ter uma visão do que acontecia.

Abaixo, um enorme ogro perseguia duas crianças, mas não eram crianças normais.

Ogros eram relativamente inteligentes, criando sociedades próprias e vivendo em comunidade. Claramente, eles seguiam a lei do mais forte a risca.

Quando maior um ogro era, mais poderoso. Aquele que os perseguia não era tão grande, então provavelmente é um renegado.

— Ogros quase nunca andam sozinhos. 

Mesmo sendo menor que o normal, sua altura chegava próxima ao do orc nobre, ele tinha uma pele amarelada, músculos fortes e um par de chifres na cabeça. 

O seu rosto era como o de um demônio. 

As crianças do outro lado também não eram normais. Elas eram magras, mas não por desnutrição. Os seus corpos pareciam saudáveis, eles apenas era extremamente esguios.

Um fino par de chifres vermelho subia pela cabeça de um deles, um menino, que também tinha a pele em um tom vermelho, quase rosa, sobrancelhas grossas vermelho sangue e o cabelo curto e espetado da mesma cor com pontas douradas.

Usava roupas sacerdotais e tinha um longo ferimento no ombro, causado por um corte de alguma arma.

A garota possuía uma aparência similar, mas tinha um único chifre de cor azul, sobrancelhas também azuis e as pontas dos longos cabelos vermelhos, adivinhe? Azul. Era um tom de oceano profundo.

O garoto balançava um galho no braço bom, como um animal desesperado que tentava proteger a garotinha atrás dele.

— O garoto tem uns 12 anos e a menina uns 10 — disse.

Cristal rosnou e deu um passo a frente, tentando ir em apoio.

— Cristal, não se mexa. Eu quero observar. — Ela me olhou um pouco confusa. — Lembre-se, Cristal, nos não somos heróis. Eu perdoei você por ter fugido, mas não haja com imprudência outra vez.

Eu dei meu alerta e ela abaixou o corpo, entendendo que eu falava sério. Qualquer um julgaria as coisas pela aparência, mas eu queria analisar a situação.

Ogros normalmente não perseguiam criancinhas pela floresta.

Além disso, o garoto havia sido cortado por uma lâmina. Ogros viviam de pura força bruta. Quando mais avançados, usavam alabardas e machados como armas.

Um machado destruidor não deixaria um corte desses.

Havia sido uma espada e uma bem fina e afiada para deixar um corte daqueles.

— Orates, use sua furtividade e vá mais perto. Caso escute o meu sinal, pode atacar o grandalhão.

Ele acenou em compreensão e desapareceu na frente dos meus olhos, fundindo-se ao ambiente ao redor. Nem mesmo eu conseguia notá-lo.

Vi o ogro se aproximar das crianças vagarosamente. Ele já era enorme, mas parecia um verdadeiro colosso perto dos pequenos.

O mais velho, vendo a aproximação, puxou um galho e teve dificuldade até em quebrá-lo para transformar em um graveto. Com a “arma” na mão, balançou de um lado para o outro frenético.

Os olhos da garotinha se encheram de lágrimas enquanto agarrava-se ao garoto, amarrotando as bordas da roupa que ele usava.

Com mais um passo pesado, o ogro chegou perto o bastante. Eu instantemente levantei a mão acima da cabeça pronto para dar o sinal, porém parei um pouco quando vi o olhar sério do moleque.

— Hm. Esses não são os olhos de alguém com medo.

O colosso com cara de demônio ergueu o braço, tentando agarrar o garoto. Ele parecia querer capturá-los ao invés de simplesmente matá-los.

Quando o braço chegou perto do garoto, ele deu um salto, surpreendendo a todos. Ele correu pelo braço do gigante que fez o favor de erguê-lo com rapidez.

O equilíbrio do pequeno sumiu por um instante, mas ele se agarrou ao antebraço erguido e balançou o corpo, saltando na cabeça do ogro e então...

Sangue vermelho fluiu por um dos olhos do ogro, perfurado pelo curto graveto.  Por um instante, eu paralisei surpreso.

 Mas no ficou assim. Mesmo cego de um olho, o ogro bateu com o braço, acertando o moleque em cheio e jogando-o contra uma árvore. O impacto foi tanto que ouvi os ossos quebrarem.

De repente me dei por mim e enviei o sinal, fechando o punho erguido.

Dado o sinal, Orates apareceu no ar, acima do ogro, e cortou com sua adaga curta contra o outro olho do bicho. Caiu no chão e desapareceu com velocidade por entre as árvores.

— Orates vai cuidar dele, Crystal. Vamos ajudar as crianças. 

Ela acenou com a cabeça e correu na direção dos garotos, passando por entre as pernas do ogro cego que se debatia. Eu fui pelo caminho mais seguro e dei a volta.

Chegando perto, notei que a menininha já estava ao lado do garoto. Assim que me viu, ela lançou um olhar assustado, mas não soltou o irmão.

— Acalme-se. Vamos ajudá-lo. 

A garota ainda ficou receosa, mas ela não tinha muita escolha e logo cedeu. Rapidamente me aproximei do corpo.

Realmente algo havia quebrado. Ele respirava com dificuldade e cuspia sangue. Eu não era nenhum médico, mas tinha certeza que ele havia sido perfurado internamente.

Dar um poção de cura de alto nível pode piorar a situação.

Ainda tinha um pouco da poção rara, mas antes precisava colocar os ossos no lugar, senão eles calcificariam fora de lugar. Para impedir sua morte, dei-lhe uma comum.

— Cristal, leve-o para a masmorra.  — Coloquei os dois em cima da loba. — Segure-o com força e não deixe cair. Entendeu? 

A garotinha concordou com a cabeça e Cristal correu sem perder tempo. 

Eu me virei para o ogro e o ghoul que ainda estavam em disputa e puxei rapidamente minha lança. Estava na hora de testar minhas habilidades novas em campo. 

Dei uma baforada forte e pisei firme no chão, arrancando um pedaço de terra e arremessando meu corpo em um ímpeto para frente.

Ganhei velocidade enquanto circulava o ogro que ainda era provocado pelo Orates. Cada vez mais e mais velocidade e finalmente alcancei o auge ultrapassando os 100km/h.

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[Habilidade Ímpeto Veloz] Ativada

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Meu corpo carregou e a lança moveu-se em um poderoso golpe, acertando, perfurando e dilacerando a carne do braço do ogro. 

O sangue e pedaços de carne caíram no chão e restou apenas um buraco em carne viva onde o impacto foi dado.

Comparei o poder daquilo a uma bala de canhão destruidora. Mas ainda não tinha acabado.

O contra ataque veio com um berro de dor um punho gigantesco. Defendi em um reflexo e meus pés se arrastaram meio metro para trás.

Meus braços tremeram um pouco com o impacto, mas não era nada comparado ao nobre. Rodei a lança em mãos e com o cabo devolvi o dobro da potência.

Vi o ogro ser jogado para trás e sua defesa abriu, então não perdi essa chance. Coloquei a lança à frente, segurei o final do cabo e rodei.

— Grito da Brisa! 

Dezenas de golpes com puro poder bruto foram executados de uma única vez. Os três primeiros rasgaram a pele, os próximos três perfuraram os músculos, os seguintes atravessaram até o osso, e os últimos passaram para o outro lado.

Quando parei, havia apenas um enorme buraco no peito do ogro que descia até o umbigo. Sangue fluiu pelo buraco e pela boca da criatura enquanto ela entregava aos mundo o seu último suspiro.

Agarrei a lança firmemente, cortei para baixo, livrando-me do sangue e bati com o cabo contra o chão, decretando-me o vencedor.

❂❂❂

[Ogro Morto]

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Orates desceu de uma árvore, surgindo ao meu lado em silêncio.

— Cuide do corpo. Vou enviar alguém para ajudar a levá-lo à Masmorra — disse, pegando apenas a Pedra de Mana do cadáver e correndo de volta para a masmorra.

Cristal a está hora já deveria ter chego ao segundo andar. O problema era que ninguém entre os meus servos possuía habilidades médicas.

Eu literalmente teria que colocar os ossos do garoto no lugar sozinho. Corri o mais rápido que pude, atravessando a mata densa.

Poucos minutos depois, alcancei os portões da torre e, assim que pisei no primeiro andar, me teleportei para o terceiro e desci pelo portal para o segundo.

As crianças foram classificadas como invasores, então não conseguia teleportar diretamente para o segundo andar. Chegando lá, vi uma grande comoção entre os goblins.

Eles foram levados até a cabana do Gleen. Quando me aproximei, abriram caminho para mim. 

—Oh, mestre, ainda bem que chegou. Ele está em um estado grave — alertou Gleen, levando consigo um balde d’água.

Assim que entrei, vi Cristal sentada em um canto quieta e a garotinha limpando o rosto do irmão com a água trazida por Gleen.

Droga. O que eu posso fazer... 

 Agora que os havia trago, eles eram um problema meu. Ainda tinha a poção de cura rara em caso de uma emergência. Se eu usasse nessa situação, o garoto viveria, mas provavelmente nunca mais andaria.

— Gleen, chame as meia-orcs. Veja se alguma delas tem a capacidade de ajudar.

Continuei administrando um pouco da poção de baixo nível para mantê-lo vivo, mas havia algum tipo de lesão interna. O osso realmente havia perfurado alguma coisa.

 As irmãs chegaram e Anna se aproximou, analisando o corpo. Ela passou algum tempo tocando o garoto, até que escutei um grito de dor e ela balançou a cabeça em negação.

— Eu não posso fazer nada, perdão — disse enquanto olhava para garotinha chorosa.

Em meio ao choro, ela começou a falar.

— P-por... por favor, eu faço qualquer coisa. Salva o meu irmão, por favor. 

Ela tentou se agarrar a Anna, que também ficou com lágrimas nos olhos, mas balançou a cabeça. Vendo aquela situação, não tive escolha.

— Eu posso salvar ele...  — todos me olharam e a garotinha parou de chorar por um instante enquanto se agarrava àquele fio de esperança —, mas há risco e ele provavelmente não vai mais poder andar. Tem certeza que deseja que ele fique como um inválido?

A menininha olhou o rosto em sofrimento do irmão e não pensou duas vezes.

— O meu irmão é forte. Ele vai se recuperar.

— Eu entendo, mas não vou me responsabilizar por nada.

Eu puxei a poção de cura rara.

 

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