O Mestre da Masmorra Brasileira

Autor(a): Eduardo Goétia


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 38: Duelo

Leifr instantaneamente abriu outro largo sorriso. Aparentemente ele gostava mesmo de sorrir. O elfo superior fez uma expressão bem contrária, como se tivesse levado um tapa na cara.

— Você vai me insultar dessa forma, seu... — Ele levantou a mão e algumas partículas negras começaram a surgir, mas foi interrompido por um presença destruidora.

— O que está tentando fazer? Você disse que ele poderia escolher qualquer coisa. Aceite quieto. — A aura do dragão era assombrosa.

— Mas... Mas...

— Está com medo de perder? 

— Nunca! — O elfo bateu a mão no peito. — Vamos acabar logo com isso.

— Então está feito. Se o mestre Kayn perder o duelo, garantirei que nunca mais direcione a palavra a mim ou a você outra vez, mas, se ele ganhar, poderá escolher uma das suas duas servas para ser dele.

O elfo rangeu os dentes, mas logo aceitou. Sinceramente, se eu perdesse, não acharia assim tão ruim. Evitaria muitas confusões futuras, porém eu queria vencer.

Desde que cheguei nesse bendito lugar, era só porrada atrás de porrada. Uma pequena vitória me faria bem e eu estava confiante nela.

Provavelmente aquele elfo tinha segredos obscuros. Sua ligação com Amadeus, o vampiro primordial, era algo muito perigoso.

Contudo essa era a sua primeira vez aqui, então sua masmorra estava no mesmo nível que a minha, portanto seu nível não deveria ser tão distante do meu e eu também tinha alguns segredos.

Desde que acordei, estive sentido essa estranha calmaria. Uma calmaria tão incomum quanto a vontade de beber sangue que tive anteriormente. 

Poderia ser apenas uma suposição vazia, porém não custava nada tentar.

Assim seguimos até a arena. Todo o grupo estava junto.

Chegamos num local vazio, o grupo se dividiu e Leifr guiou eu e o elfo para dentro da arena. Eu conseguia ver Cristal sentada na arquibancada ao lado da elfa e da vampira.

Qual das duas eu escolho? Depois penso nisso.

Chegando a arena, ficamos frente a frente com Leifr explicando as regras. O elfo superior me olhava convencido, mas não lhe dei muita atenção.

Regras simples: proibido matar, ou causar dano irreparável ao adversário. O elfo estalou a língua quando escutou isso. Mal sabe ele que isso estava salvando sua vida.

As condições de vitória eram algumas. Desistência do adversário, nocaute ou um xeque-mate, no caso do xeque-mate, quem decidiria era o Leifr.

Poderíamos lutar da maneira que quisermos e não haveria ajuda da plateia. O elfo aceitou os termos e eu também depois de pensar um pouco.

— Então que comece! — Leifr anunciou o início da luta.

Imediatamente observei o elfo tomar distância com alguns saltos para trás. Levantei a guarda e saquei minha lança.

Avancei devagar, mas não diretamente. Dei uma olhada no ambiente e era só um chão de terra comum. 

O elfo tocou o chão e recitou algo muito baixo para que eu pudesse escutar. Partículas negras brotaram das suas mãos e invadiram o chão.

Uma mancha escura como piche com cerca de um metro surgiu e uma criatura começou a brotar.

Era como um cão de um metro, com olhos vermelhos e pelagem escura. Ele fedia a podridão e tinha feridas por todo o corpo.

— Um cão zumbi.  

O elfo sorriu e se levantou, apontando na minha direção.

— Ataque!

O cachorro rasgou o chão com as garras e latiu furioso, correndo na minha direção. Eu, por outro lado, sorri, enquanto lançava uma única habilidade.

— Suspiro da Ventania! — O vento poderoso rasgou o ar, separando o cão zumbi ao meio e ainda continuou voando diretamente na direção do elfo. — Xeque-mate, espero que você não morra.

Os olhos do elfo saltaram e ele desesperadamente colocou a mão no piche negro que instantaneamente triplicou de tamanho.

Antes que a habilidade acertasse ele, uma outra invocação bloqueou o caminho. Desta vez era um gorila que tinha as mesmas características deformes do cão zumbi. 

Assim que surgiu, o gorila ergueu ambas as mãos para bloquear o poderoso ataque.

O vento residual arremessou o elfo para trás. Sua invocação conseguiu bloquear o ataque, mas não antes de perder os dois braços e quase ser cortada ao meio.

Gregórios estava ainda mais distante. Cabelo todo desgrenhado e caindo sobre o rosto. Ele estava com tanta raiva que nem conseguia respirar direito.

A poça de piche negro desapareceu e eu vi isso como uma chance para partir ao ataque.

— Ímpeto Veloz! — exclamei o nome da habilidade.

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[Habilidade Ímpeto Veloz] Ativada

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Minha lança ficou reta ao meu corpo e descarreguei como um trem para frente, cortando a distância entre nós dois num instante.

Minha trajetória era um semicírculo com o ponto final sendo o lugar onde estava o elfo. Optei por fazer isso para evitar qualquer feitiço ou magia que ele pudesse disparar e assim foi feito.

— Flecha de Sombra! Flecha de Sombra! Flecha de Sombra! — disparou ele esses três gritos seguidos de três flechas negras da palma da sua mão.

Neste instante, somente alterei um pouco minha rota e tornei o círculo uma linha reta, evitando as flechas e diminuindo ainda mais nossa distância.

Era quase brincadeira de criança enfrentar esse cara. Sua inexperiência em combate era enorme e eu, sendo um atacante a curta distância, só precisava me aproximar para acabar com ele.

Com a brusca mudança de trajetória, precisei reativar minha habilidade com outro 

— Ímpeto Veloz — exclamei.

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[Habilidade Ímpeto Veloz] Ativada

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Meu corpo se impulsionou para frente e a distância encurtou. Gregórios tentou até reagir, mas era tarde demais, já estava perto demais.

Mirei no seu peito e firmei o aperto na lança.

Poderia facilmente acertar seu pescoço e arrancar sua cabeça fora, porém isso resultaria na minha eliminação. Apesar de um corte no peito ser grave, ele ainda conseguiria sair vivo.

Como um raio, minha lança desceu. Os olhos do elfo saltaram e notei um brilho arroxeado pulsar do peito dele.

Quando o fio afiado do ferro chegou perto de cortá-lo, o brilho estourou do seu peito, tornando-se um escudo de energia escuro.

A Voz do Vento, minha lança, chocou-se contra o escudo e senti como se batesse num muro de aço. Todo o cabo tremeu e reverberou e, com outro brilho de cor negra, fui arremessado para trás.

Voei por metade da distância que havia percorrido. Todo o poder que concentrei na ponta da lança, voltou como um contra ataque. 

— Argh! — Me mantive de pé e não perdi o elfo de vista.

Ele estava sentado de bunda no chão respirando desesperadamente. Meus olhos vistoriaram o escudo negro, que se despedaçou como vidro quebrado.

— Como... Como esse maldito? — reclamava ele.

Aquele era provavelmente um último recurso.

Aproveitei o meio tempo para escutar a plateia.

 — Oh! Que habilidades incríveis — comentou a sereia.

— Aquele corte foi uma habilidade vinda da arma dele, mas o impulso de velocidade é uma habilidade dele — explicou o desert, Akai. — Alina, por que não contou para a gente que ele tinha tanto talento?

— Nem eu sabia. — A jovem mestra cruzou os braços e enrijeceu as sombrancelhas, concentrada na minha luta. — Ainda não acabou. Continuem vendo.

E ela não estava errada.

Logo recuperei o fôlego e planejei meu próximo passo. Precisava agir rápido antes que ele se recuperasse do choque.

— Ímpeto Veloz! Força Monstruosa! 

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[Habilidade Ímpeto Veloz] Ativada

[Habilidade: Força Monstruosa] Ativada

Estatísticas de Força Duplicará pelo período de 10 minutos

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Com um firme aperto na lança, cruzei o espaço no dobro da velocidade anterior. Minha velocidade era tanta que deixava um rastro de poeira para trás.

Gregórios, porém, não observou parado.

— Droga, seu maldito! — Ele colocou ambas as mãos no chão, invocando outra vez o piche negro. Contudo, desta vez, a mancha escura era quatro vezes maior. — Invocação das Sombras!

Vários cães zumbis brotaram da poça, até o número total de 15. Eles logo partiram para me atacar enquanto Gregórios tentava tomar distância.

No entanto já era tarde demais.

Quando cheguei perto dos cães, disparei:

— Grito da Brisa! — A ponta de ferro da lança tingiu-se de verde e reverberou.

Meus braços seguiram os movimentos dela sem se preocupar. Cabeça por cabeça os cães zumbis foram caindo pelos ataques poderosos que eu disparava.

Em menos de dois minutos, eu já havia acabado com todos e já estava no encalço do elfo superior.

Escutava Gregórios tentar disparar flechas de sombra na vã esperança de conseguir me acertar. 

— Flecha de Sombra! — exclamava ele.

Assim que a energia escura se formava, eu traçava sua trajetória e dava um passo curto para o lado, desviando sem muito trabalho.

Quando me aproximei mais e comecei a sentir os impactos da força monstruosa, decidi acabar logo.

Corri na direção do já abatido elfo. Cortei nossa distância num instante. Ele tentou me atacar corpo-a-corpo com um soco. Simplesmente desviei, dei um pequeno salto para suas costas e chutei baixo com uma rasteira.

Seu corpo instantaneamente despencou no chão e eu dei um salto enorme, rodei minha lança não mão, apontei para baixo e desci sem temor.

Naquele instante, encarei o rosto do elfo. Seus olhos estavam cheios de terror e pânico, o rosto disforme de medo e o sangue escorria um pouco do nariz.

Um sentimento brotavam na minha mente calma, assumindo-me o controle. Então isso é...

Minha lança desceu!

Um forte impacto ressoou, um pouco de sangue voou e um buraco foi feito no chão de terra. A ponta de ferro fez um leve corte na bochecha do elfo e atravessou o chão do seu lado. Lágrimas caíam dos seus olhos.

Finalmente entendi o que era o sentimento.

Alegria. Profunda alegria.

Soltei o aperto da lança e agarrei o pescoço do elfo ainda calado, possivelmente em choque. Dedilhei sua garganta e parei os dedos perto das veias, onde sentia o seu coração pulsar.

A ponta da minha unha afiada roçou aquela veia e eu me senti quase como se em paz.

Cheguei perto do ouvido de Gregórios. Bem pertinho para que apenas ele escutasse.

— Você perdeu, seu fracassado — murmurei.

Logo saltei de cima dele, recuperando minha lança e caminhando lentamente na direção de Leifr. Por fora, um rosto cansado e uma expressão de satisfação pela vitória, mas, por dentro, eu estava em êxtase por outro motivo.

Ter a vida de alguém na palma da mão. Aquela sensação de controle absoluto era tão agradável. A alegria era realmente surreal.

Eu não presto mesmo. 

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[Habilidade Ímpeto Veloz subiu de Nível]...

[Habilidade Ímpeto Veloz subiu de Nível]

[Habilidade Força Monstruosa subiu de Nível]

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