Volume 1 – Arco 2
Capítulo 10: Ressurgir.
— Finalmente... — Kenshiro abriu os olhos. — Estamos de volta.
Contemplando os arredores, não conseguiu evitar as lágrimas se formarem em seus olhos. A cabana, o armazém, até mesmo a grama, estava tudo como ele se lembrava.
— Quanto tempo faz? — perguntou Erina, caminhando até seu lado. — Desde a última vez que estivemos aqui?
4 meses.
Mesmo em pouco tempo, não eram os mesmos do passado. Haviam adquirido conhecimentos, equipamentos e técnicas inimagináveis.
Erina estava vestindo uma grande armadura negra. Sua resistência ainda era desconhecida, parecia capaz de aguentar até o disparo de uma balista. Seu maior problema era sua locomoção, jamais voltaria a utilizar suas técnicas de espada vestida assim.
No lugar de Aphrodite estava um grande escudo, feito do mesmo material de sua armadura; era largo o bastante para cobri-la por inteiro. Na falta de uma arma, atacaria utilizando os próprios punhos e escudo.
Kenshiro vestia uma armadura simples de couro animal tingida de preto. Uma armadura que poderia ser comprada em qualquer ferraria. Valorizava a velocidade acima de sua própria proteção.
Ainda mantinha presas em seu cinto, Bóreas e Notus.
Descontentes por terem retornado, felizes pela nostalgia, recobraram o foco.
— Não os mate — disse Erina, em tom autoritário —, quero saber quem os enviou.
— Sim, senhora.
Kuroda e Takashi foram descobertos, duas flechas foram disparadas no mesmo instante, miravam as cabeças do casal.
Kenshiro correu para a floresta adiante, não seria mais alvejado. Erina encarou a flecha que se aproximava rapidamente.
Ting! A flecha caiu ao chão, quando um elmo surgiu, salvando Erina.
Takashi mal pôde ver o fracasso de sua ação, Kenshiro já estava diante dele com as duas espadas sacadas.
— PULA! — gritou o assassino.
A dupla pulou em direções contrárias. Kuroda para outra árvore — fora pego antes de conseguir alcançá-la — e Takashi aterrissou no chão.
No chão, o assassino pôde ver todas as armadilhas desarmadas pelo espadachim.
“Como alguém pode ser tão rápido assim?!”
Armando seu arco, aguardou pacientemente, acreditava que o menor dos barulhos fosse denunciar a localização do seu alvo. O silêncio da floresta só não era mais incômodo que sua respiração, alta e incessante.
“Acalme-se, droga! Esse contrato foi confiado a mim... Eu tenho que concluí-lo. Eu posso concluí-lo!”
Um arbusto atrás dele havia se mexido.
— Eu vou concluí-lo! — disparou três flechas o mais rápido que pôde.
Esperou alguns segundos, nenhum outro som era emitido em toda a floresta.
Quando foi checar o que havia atrás dos arbustos, duas lâminas prateadas encostaram em seu pescoço. Kenshiro estava atrás dele.
(...)
Erina aguardava pacientemente de braços cruzados, apoiada no armazém.
Kenshiro retornou, arrastando os dois assassinos amarrados.
Kuroda murmurava palavras incompreensíveis, estava amordaçado.
Takashi permaneceu em silêncio desde que fora rendido. A grande diferença de forças havia o deixado em um estado de choque.
— Se divertiu?
— Hm. São dois amadores, não representam perigo algum.
— Disso não tenho dúvidas. Ainda assim — Erina se agachou para vê-los —, alguém os enviou. Alguém que sabia do nosso retorno.
Os dois assassinos estavam ajoelhados diante de Erina, aquela que parecia ser o carrasco ou o torturador; aquela que faria de tudo para conseguir suas respostas.
Para a surpresa da dupla, a mulher rapidamente os libertou de suas amarras. Retirou a mordaça de Kuroda com calma e delicadeza.
— Por favor, sem nenhum drama agora. Devem ter entendido, não podem nos vencer nem fugir — disse Erina, esboçando um sorriso meigo. — Se tentarem algo, serei obrigada a dar permissão ao meu marido de matar vocês — seu sorriso soava assustador agora.
Kenshiro guardou as lâminas em suas bainhas. Ficara um pouco afastado, observando atentamente.
— Quem são vocês? — perguntou Erina, ainda simpática.
— Nós...
— Silêncio, Kuroda — exigiu Takashi. — Já fracassamos em nossa missão, não desonraremos nossa família sendo traidores.
Kuroda estava suando frio, temia por sua vida. Takashi havia aceitado seu destino.
Erina suspirou desapontada.
— Acreditem, eu não quero recorrer a tortura, mas se necessário, eu não hesitarei — Apontou o dedo para Kenshiro.
O espadachim cortou o próprio pulso, criando um ferimento considerado fatal. O sangue jorrava, sujando a grama verde com sua coloração carmesim. A dupla ficou abismada ao ver o ferimento se fechando rapidamente quando uma aura esverdeada o dominou.
Encararam novamente Erina.
Seus olhos estavam brilhando em dourado, as pontas de seu cabelo se tornaram loiras, a aura verde emanava de seu corpo. Quando se encerrou, seu cabelo rapidamente voltou a coloração normal; sua íris só retornou após fechar os olhos.
Nenhum deles sequer indagaram o fato do espadachim não ter reagido a dor; sabiam a resposta.
— Você é Erina Waltz?! — questionaram.
O casal ficou surpreso com a rápida descoberta.
— Como sabem meu nome? — perguntou receosa. Fechara o punho, imaginando que precisava acabar com a vida dos dois.
A dupla se encarou. A identificação de Erina mudava tudo a respeito do que acreditavam.
— Está bem, falaremos tudo — concordou Takashi.
***
Magos sempre foram figuras supersticiosas, tão fantasiosas quanto as próprias criaturas mágicas. Histórias diziam que magos poderiam tecer a própria realidade, criar feitiços e magias tão poderosas que causariam os piores desastres no Continente.
Os magos eram treinados por uma academia especializada, criada pelos próprios. Lá eles intensificavam seus estudos e práticas. Apesar de serem constantemente requisitados por inúmeros governadores e até pelo próprio Império, poucos ousaram sair da vida acadêmica.
Para os poucos que quiseram se aventurar, se tornaram figuras lendárias — Heroicas. Adquirindo terras, riquezas e respeito inigualáveis. Inevitavelmente, acabaram participando de políticas e guerras de suas respectivas cidades.
Eram temidos no campo de batalha. Diziam que um único mago poderia valer por um exército inteiro.
Os Waltz eram uma das poucas famílias de magos que, além de saírem completamente da academia — retirando toda a sua linhagem —, não participavam das batalhas. Eram neutros sobre quaisquer assuntos. No entanto, eram os mais ricos dentre os magos, pois eram especialistas em magias curativas.
A magia curativa poderia curar doenças e ferimentos, mas um Waltz podia restaurar um coração perfurado e membros decepados. Haviam criado um monopólio sobre essa magia, ninguém ousaria desafiá-los.
***
— Sua família — explicava Takashi —, era vigiada e protegida por nós, Erina.
— Desculpe-me, mas minha família possuía seus próprios mercenários. E foram eles que nos traíram, fui a única que restou... Está dizendo que seu grupo fazia parte deles?
A luva metálica de Erina começara a ranger, tamanha era a força que fazia.
— Não foi isso que ele quis dizer! Nós vigiávamos sua família pelas sombras, impedindo que qualquer outro assassino ou político tentasse algo a respeito. Claro, nunca imaginávamos que seus próprios guardas fossem os trair, afinal, por que dispensar um contrato de ouro puro?
— Nós até salvamos sua família algumas vezes. Porém, no dia em que vocês desapareceram, nosso irmão, responsável por vocês, fora morto. Nós só descobrimos quando já era tarde demais.
— Possuem alguma prova? — perguntou Kenshiro.
Takashi o encarou seriamente, então começou a recitar a árvore genealógica inteira das famílias do casal. Aproveitou para dizer as tentativas de assassinatos e outros desastres que foram impedidos aos Waltz, um total de 38.
— Mas existe uma coisa que ainda me incomoda — disse Takashi. — O que diabos está fazendo com o Carrasco de Valéria?! Tem ideia da quantidade de mulheres que ele matou?!
O casal não respondeu. Erina afastou um pouco, Kenshiro resolveu assumir.
— Esse foi o título que recebi? “Carrasco”. Não é muito glamuroso...
— Pare de piadas! Acha que viemos aqui por quê? Você era o nosso alvo!
— Querem me matar por eu ter feito o trabalho de vocês?
Takashi pôde perceber que o espadachim falava com convicção, não estava mentindo.
— Os habitantes de Valéria já estavam condenados antes mesmo de eu chegar lá; foram todos mortos pelos mesmos mercenários que mataram a família de Erina, estavam procurando por ela.
— Então, você...?
— Quando eu vi tudo que fizeram àquelas pessoas, eu percebi, se tratavam de demônios. Eu apenas reabri os portões do inferno para eles.
Kenshiro falava com uma frieza inquietante, não se arrependia do que fizera. Era uma das poucas coisas que acreditava ter feito corretamente na vida.
— Takashi, deveríamos confiar nele? — perguntou Kuroda, perdido e particularmente incomodado com as histórias.
O assassino olhou nos fundos dos olhos do espadachim, o mesmo permitiu ser lido.
— Eu não sei — respondeu Takashi. — Ele está dizendo a verdade, mas... nenhum contrato jamais fora incorreto!
— Desculpe-me interromper — disse Erina. — O título de “carrasco” foi dado à Kenshiro pelo Império, correto? Vocês são algum tipo de destacamento especial?
Incomodados com a suposição, rapidamente explicaram que eram inimigos do Império.
— O que garante que vocês estejam protegendo o lado errado? Ou que sua irmandade fora corrompida?
— NÃO DIGA BESTEIRAS! — Takashi se levantou. — O PAI NUNCA SERIA CORROMPIDO! VOCÊ NÃO SABE PELO QUE ELE JÁ PASSOU.
— Talvez não tenha sido o Pai, Takashi. Talvez seja aquele que busca os contratos? Nós não fazemos ideia de onde eles surgem...
Takashi pensou um pouco a respeito.
Era verdade, a única maneira do contrato estar errado e o Pai ser inocente, é se outra pessoa — aquele responsável pelos contratos — fosse o verdadeiro corrupto.
— Se esse for o caso — continuou Kuroda —, precisamos voltar para a irmandade! Talvez não seja tarde demais.
— Não só isso... a própria operação do Pai já pode estar comprometida!
Os assassinos se prepararam para correr, Kenshiro os impediu, derrubando-os novamente no chão.
— Onde pensam que vão? Temos assuntos inacabados...
— Deixa disso! Temos um assunto mais urgente!
Erina tocou o ombro de Kenshiro, pedia para ele ter calma.
— Então nos leve com vocês — disse ela.
— O que?!
— Estamos procurando pelo mesmo culpado. Seja lá quem cuida dos contratos, deve ser, ou conhecer, a pessoa que sabia do nosso retorno. Estivemos escondidos por meses, e mesmo assim fomos encontrados justo hoje... Podemos ao menos nos ajudar.
— O que você acha, Takashi? — perguntou Kuroda.
— Se Kenshiro é realmente inocente, e esteve todo esse tempo protegendo e cuidando da última Waltz... Vocês podem me dizer onde está Reiji Torison?
O casal trocou alguns olhares.
Reiji era um assunto delicado, um segredo que pensavam que não haveria necessidade de ser compartilhado. Porém, se aquela era a única maneira para eles irem junto dos assassinos...
— Ele está aqui.
(...)
E lá estava ele, Reiji Torison. O homem que, ainda com seus 18 anos, se tornou um herói imperial; explorou toda a região central do Continente; criou o plano de fazerem uma jornada em busca de resposta, sendo o líder desse grupo.
Lá estava ele, em seu túmulo.
Um simples amontoado de terra. Nenhuma lápide, ou flores. Nem mesmo um caixão.
— Que merda... — disse Kuroda.
Takashi não estava surpreso, encontrá-lo com vida era no mínimo improvável. Ainda precisava de respostas.
— O que houve?
Kenshiro resolveu explicar, era sua família, sua obrigação.
— 6 meses atrás, fomos atacados por alguém singular. Uma mulher, utilizava uma pessoa morta como marionete.
— Marionete?
Marionetes são pessoas colocadas em um tipo de feitiço de controle.
Controle é impor sua vontade a outro ser, seja de maneira forçada ou convencional. Os Servos são obrigados a obedecer a vontade de seus mestres, porém ainda mantêm sua própria consciência, por isso conseguem até dar queixas.
Uma marionete não possui nenhum controle sobre seu corpo, em alguns casos perdem até a capacidade de suas mentes.
Diferentes dos Servos, as Marionetes são obrigadas a ficarem próximas de seus mestres, pois uma linha mágica invisível é traçada entre os dois. A linha não pode ser cortada, mas fica fraca à longas distâncias. Caso a distância seja superior, a qual o mestre consiga suportar, a linha se parte e o feitiço é desfeito.
Matar a marionete ou o mestre também anularia esse feitiço.
Porém, existe um fato sobre esse feitiço...
— Uma mulher morta? Isso é impossível! — Disse Kuroda.
— O nome da mulher era Anna, tinha apenas 16 anos quando falecera. Vocês podem ver o registro de sua morte na Capital, além de seu corpo enterrado próximo daqui.
Kuroda ficou sem palavras com a frieza do espadachim.
— Hm. Acredito em você — disse Takashi. — Então, Reiji foi morto por uma marionete de 16 anos? Quem era o mestre?
— Não sabemos.
— O que?
— Quando Kenshiro a derrotou, eu mesma procurei por toda Mancha Verde. Utilizei uma técnica de avanço rápido para ter certeza de que a pessoa não fugisse. Ainda assim, não fui capaz de encontrá-la.
Takashi levou a mão a testa, tentava raciocinar.
— Não existem relatos de ninguém habilidoso o bastante para controlar uma marionete e ser capaz de vencer um herói imperial... E está me dizendo que essa pessoa estava distante do local, além de ter controlado uma pessoa morta?
— Já disse, se não acredita na gente...
— Não é isso! Droga... Só... é estranho. Se uma pessoa assim existe mesmo, quais são os motivos para ela atacar vocês? Por que não utilizar esse poder para outra coisa, algo mais... “grandioso”.
— Então foi por causa dela que vocês desapareceram?! — perguntou Kuroda.
— Não. — respondeu Erina. — Ficamos ainda 2 meses aqui. Somente depois dos acontecimentos de Valéria que decidimos partir daqui.
— Depois de 2 meses — dizia Takashi —, nenhum outro ataque foi feito a vocês?
— Não. — disse Kenshiro. — E mesmo na nossa nova casa, não parecia que existia algum interesse em nos encontrar. Diferente dessa cabana, aquele chalé não era escondido por uma barreira ilusória.
Takashi tentava encontrar alguma ligação entre aquela que os atacou com o que estava acontecendo em sua irmandade, além de tentar descobrir quem era a possível pessoa que os contratou.
“Será que essa pessoa foi o contratante? Não... Só pode ser outra pessoa”
Verdadeiro.
— Prontos para ir? — perguntou Erina.
— O que? — Takashi foi pego desprevenido.
— Para sua irmandade, não vai nos levar?
Não havia muito do que ser feito. Ainda não sabia se poderia confiar completamente nos dois, apenas entendia que não poderia assassiná-los. Nem conseguiria se tentasse.
— Por favor, sigam-me.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios