O Pior Herói Brasileira

Autor(a): Nunu


Volume 1

Capítulo 22: 12° Dia — 3° Etapa

A vitória era minha mais uma vez! Agora, só restava o último desafio: a meditação na floresta. Como que se quisesse brincar conosco, o dia realmente já estava anoitecendo. Todo aquele clímax tinha me dado mais uma vez uma injeção de adrenalina, mas, tinha decidido que iria manter a calma desta vez.

Tivemos que partir rápido da cachoeira para a cabana. Isso, porque, não sabíamos que ficaríamos tanto tempo na cachoeira, por isso, não tivemos a ideia de pegar a lamparina para ajudar a iluminar o caminho. Em condições normais, Erich apenas poderia criar fogo para fazer alguma luz, entretanto, era óbvio que ele não estava em plenas condições pra isso.

Para acelerar o tempo em que chegaríamos na cabana, acabei tendo que carregar Erich em minhas costas mais uma vez. Já tinha se tornado algo habitual. Apesar disso, não pedia para fazer isso toda a vez, porque sabia que ele não se sentia bem quando eu fazia isso. Tenho a impressão de que ele não gostava de se sentir inútil, de ser um peso pra mim.

Mas, isso é bobagem. O velhote nunca foi um peso pra mim. Jamais! Para mim, essa foi apenas uma das poucas formas que tinha de retribuir a Erich o que ele fez por mim. Que é algo que nunca poderia pagá-lo em vida.

***

Havíamos passado pela cabana e pegado a velha lamparina. Na cabana, ela cumpria o seu trabalho, mas, na densa floresta escura ela já não era tão útil. Ela apenas iluminava um ou dois pés na nossa frente, o que não era grande coisa. Além disso, tinha que carregar Erich enquanto iluminava o caminho o que não era muito fácil.

Quando estávamos na cabana, Erich sugeriu que ele já estivesse bem e que ele poderia andar com o auxílio de sua bengala. Mas, aquilo não pareceu muito convincente pra mim. Mesmo que fosse verdade, andar naquele breu escuro com aquela pouca luz seria perigoso demais. Ele mesmo já não enxergava grande coisa, provavelmente... Erich não podia ver um palmo a sua frente.

Porém, é notório dizer que isso pouco parecia importar para Erich. Era ele quem estava me guiando no meio de todo aquele breu, em direção ao formigueiro. Hoje, penso, que tivesse alguma relação com o Nill, mas antigamente, não tinha nem ideia de como ele conseguia saber essas coisas.

— Velhote, você é impressionante.

—...Por que diz... isso...?

— Digo, mesmo sem enxergar direito você sabe exatamente onde está o formigueiro — disse, com um tom sereno. — na verdade, você parece saber onde está qualquer coisa nessa floresta.

—...Bem, aqui... é minha casa. Hehehe...

— Hehehe... é verdade! — Exclamei com um sorriso no rosto. Gostava de ter essas pequenas conversas com Erich. Ficava feliz em ver que ele parecia um pouco melhor.

Depois de algum tempo caminhando pela floresta ( e alguns quase tropeços em galhos ), chegamos ao nosso destino: o formigueiro. Para o meu azar, as formigas pareciam tão agitadas como sempre. Algumas perambulava pra fora do formigueiro, enquanto outras entravam nele. Só de ver aquela cena um arrepio percorreu toda minha espinha. Acho que o velhote percebeu isso já que escutei ele dando uma risadinha.

"Essas formigas não dormem?!! Que merda!!"

Já devia se passar mais das 19:00 horas da noite e meu pesadelo estava prestes a começar. Aquele que parecia, pra mim, o treinamento mais torturante de todos! Assim como os outros, eu sequer tinha ideia de como deveria passar por aquele treinamento. Só sabia que tinha algo a ver com meditar. Que sorte...

— Bem, Iori... está na hora...

— T-Tem c-certeza que não p-podemos pular esse...

— Não.

"Velhote maldito!!! Você não tem um coração dentro desse seu peito? Ou ele é feito de ferro?!"

Eu sabia que teria que passar por aquele desafio, por mais ameaçador que parecesse. Apesar disso, meu corpo não se movia. Quanto mais olhava aqueles pequenos insetos se movendo de um lado para o outro, mais pesadas pareciam minhas pernas.

O velhote aproveitando-se do meu estado de choque, acabou descendo das minhas costas e me empurrando para o chão. Eu acabei caindo ao lado do temível formigueiro. Meu corpo reagiu quase que instantaneamente para tentar fugir, entretanto, escutei Erich dizer tais palavras:

— Você vai fugir?

— [...]

— Não... eu não vou...

— Eu sei.

Eu já estava ali. Tinha chegado tão longe... não podia desistir! Para diminuir o meu medo e para vencer o desafio, fechei meus olhos. Também coloquei meu corpo na posição de meditação e comecei.

Eu não enxergava as formigas. Mas, sabia que elas estavam ali, se movendo de um lado para o outro. Minha mente estava um verdadeiro turbilhão... estava muito nervoso...

Se concentrar já é extremamente difícil. Nas outras noites, mesmo quando não havia tantas formigas se movimentando pelo formigueiro, ainda sim, era um desafio muito grande — esvaziar a mente — porque a menor possibilidade de encontrar alguma já me desestabilizava completamente.

Não bastava isso ainda tinha Erich. Em uma das noites, o velho Erich, pegou um fino galho de árvore e esfregou nas minhas pernas para me assustar. Lembro de ter dado um pulo tão grande que quase voei para cima de uma árvore. Erich gargalhou como se não houvesse amanhã.

"Se concentre... se concentre..."

Eu tinha que pensar em como passaria por aquele treino. Qual era o seu objetivo?

"Provavelmente... não, com certeza envolve o Nill."

Mas, isso ainda não era concreto o suficiente. Eu tinha a chave, mas tinha que arrumar um forma de abrir a porta. Isso, porque, eu tinha uma ideia de como vencer aquele desafio! Sim, agora era diferente das situações anteriores; antes, não tinha qualquer ideia de o que fazer nos outros treinos. Entretanto, agora eu tinha um norte.

Era como... eu tinha uma chave. Eu também via claramente a porta... porém, não conseguia introduzir a chave na fechadura. Porque para isso acontecer, eu tinha que me concentrar. Mas, sempre que tentava, por alguma razão ficava nervoso e minhas mãos começassem a tremer e a chave caísse da minha mão vez após vez...

Mas, eu tinha a chave. Eu só precisava... me concentrar...

"Se concentre... se concentre..."

Mais uma vez, fiz o processo para liberar o Nill: imaginei a sua cor azul, onde ele estava guardado, a válvula e ele se locomovendo pelo meu corpo. Mas, agora, eu sabia que a palma da minha mão não era o único lugar para liberar a energia. Por isso, meu objetivo seria envolver meu corpo inteiro em Nill. Pelo menos, essa era meu chute na época.

Para isso, tive que liberar ainda mais energia que no segundo treino. Além disso, pensava que não poderia ter muitas tentativas visto que gastaria muito Nill no processo. Isso significava que cada chance seria a única para mim, pois, não sabia o quão meu corpo poderia aguentar.

Sem contar, que eu não poderia liberar muita energia de vez, se não, poderia acabar desmaiando. Por isso, tinha que liberar, sim, uma grande quantidade de energia, mas tinha que ir liberando aos poucos para não causar um choque muito grande no meu corpo. Esse era meu plano.

Hnnghhh...

Claro, era muito mais fácil na teoria do que na prática. Imaginar a energia se formando em sua mão ou no seu braço é muito mais fácil do que imaginar no corpo inteiro. Isso já era difícil o suficiente, mas o pior era que ainda tinha que regular a quantidade de energia liberada pelo meu corpo, enquanto me preocupava com as formigas que podiam subir pelo meu corpo.

Se isso acontecesse, isso poderia levar a um choque na hora. O que poderia ser até... mortal.

"Con...centre-se..."

Eu não podia perder a calma. Então, me forcei a me concentrar ainda mais.

***

Depois de algum tempo, estava entrando em estado quase inerte. Acho que estava quase dormindo. A energia azul estava agora se sobrepondo a todo meu corpo. Todo meu corpo estava formigando em resposta. Havia demorado bastante tempo pra conseguir chegar nesse estado, e só manter ele era muito difícil. Segundo Erich, dormir não seria um problema.

"Então...eu..."

Porém, quando estava preste a fazer isso. Uma estranha sensação percorreu todo meu corpo.

"O que é... isso...?"

Era como se... meu corpo inteiro estivesse cheio de formigas. Completamente.

Gaaaaahhhh!!!

O susto me fez levantar quase que instatanêamente. O que não foi uma boa ideia. Primeiro, porque, devido a minha posição de meditação minhas pernas estavam sonolentas. Segundo, porque, eu acabei me desconcentrando isso resultou no meu primeiro fracasso e uma dor muito grande na minha cabeça. A dor era latejante... sufocante...

Naquele momento, estava na estaca zero. Caído no chão e com minha cabeça doendo como louca.

Khhhhhh!!! Droga... DROGA!

— [...]

O velhote parecia se preocupar comigo. Entretanto, ele sabia dos meus sentimentos, por isso não se movia. Ele sabia que naquele momento eu tinha que passar por aquele desafio sozinho — Aquela era minha luta! E de ninguém mais

Esfreguei minha cabeça com minhas mãos com tanta força que senti meu coro cabeludo arder, depois disso respirei fundo pra esfriar meus nervos. Não tinha qualquer formiga em cima de mim, era apenas o medo que havia me passado aquela sensação. Elas apenas saíam e entravam no formigueiro como sempre, sequer pareciam se importar comigo. Era tão... frustrante... minha covardia me fez perder minha oportunidade de vencer

Joguei minhas costas sobre a grama. Estava com os olhos fechados para me acalmar um pouco. Mas, quando abri minhas pálpebras vi algo que me chamou a atenção

— Velhote, a lua...

Mesmo sobre a densa floresta ainda se conseguia enxergar a lua. Ela estava deslumbrante — uma lua cheia belíssima. As pequenas estrelas que cintilavam em sua volta era como um carrossel no céu. Tudo parecia tão perfeitamente colocado que mais se parecia uma pintura sobre uma tela escura.

Erich olhou para cima, entretanto, eu sabia que ele não podia enxergar qualquer coisa. Nesse momento, eu fiquei um pouco triste. Porque esse era um momento que eu gostaria de dividir com ele, mas devido a sua velhice isso seria impossível.

"Se eu tivesse o conhecido mais cedo..."

Ainda sim, sobre o brilho âmbar da lua, Erich estendia sua cabeça para cima. Como se enxergasse cada parte dela perfeitamente. Um forte vento frio vinha do norte e balançava suas vestes. Era como se aquele fosse um momento mágico... não... eu acho que realmente foi...

— A lua...

— Hã? — Surpreso, indaguei.

—...está realmente linda, não é? — Ele se virou pra mim, em resposta. Notei em seus olhos quase que fechados, lágrimas. Seus olhos estavam marejados.

Não fazia sentido. Sequer parecia real. Mesmo que Erich não enxergasse o vislumbre da lua, para ele parecia irrelevante. Mesmo que seus olhos não a vissem, seu coração a enxergava com clareza.

"Hunf... eu sou mesmo um idiota..."

Naquele dia, percebi que meus pensamentos eram nada mais que egoístas. Eu já era sortudo o suficiente por tê-lo conhecido e por passar momentos como esse com ele. O que eu podia fazer naquela ocasião era passar por aquela adversidade, para que eu pudesse passar mais momentos especiais com Erich.

— Velhote... eu vou tentar de novo

—...Ah... tudo bem...

Sentei na grama e cruzei minhas pernas mais uma vez. Estava ao lado do formigueiro amedrontador, mas eu tinha que fazer isso! Respirei fundo e... tentei mais uma vez!

***

Demorou bastante tempo até que eu conseguisse estender o Nill por todo meu corpo. Meu corpo inteiro formigava em resposta, era difícil não associar aquela sensação a formigas... mas, foquei bastante para evitar o medo.

Notei que sempre que pensava em relação a elas, a minha energia começava a se mostrar inconstante. Já quando me acalmava, o Nill se mantinha estável. Sabia que era isso que eu tinha que buscar!

"Se eu conseguir manter o meu Nill estável por bastante tempo..."

"...eu vou conseguir! Sei que vou!"

Já tinha a chave nas mãos. Era hora de abrir a fechadura. Não podia tremer meus dedos, se não a — chave — escorregaria da minha mão mais uma vez.

"Calma...calma..."

Um fragmento de memória passou em minha cabeça. Era o que tinha acabado de ver algumas momentos atrás. A lua, o céu estrelado, as formigas... tudo parecia no seu lugar. Será que eu precisava ficar tão ansioso assim? Com o que eu me preocupava tão demasiadamente?

"Por que estou tão nervoso...?"

"Do que estou com tanto medo...?"

"Não preciso me preocupar... tudo está no seu devido lugar..."

"Sim... tudo..."

Aquela sensação estranha se voltou a mim mais uma vez. Mas, agora, não estava com medo.

Aos poucos, senti que estava perdendo a consciência. Nesse momento, notei que quase podia enxergar... as formigas. Mesmo com os olhos fechados, eu podia as enxergar com facilidade. Pequenas energias azuis se movimentavam: saindo e entrando no formigueiro. Elas não pareciam se importar comigo.

"Então... eu posso..."

Aquela sensação esquisita me fez tentar procurar pela energia de Erich. Mas, quando eu estava prestes a fazer isso... adormeci.

                                      Ponto de Vista: Erich Lume

Nem percebi quando adormeci. Estava tão cansado hoje que acabei nem notando.

Fiquei um pouco irritado comigo mesmo, porque estava decidido a ver Iori vencendo todos os treinamentos. Ele cresceu tanto...

Senti um leve incômodo no meu nariz. Ele estava escorrendo um pouco. Eu estou usando uma roupa quente, mas, está ventando bastante. Espero que eu não pegue um resfriado...

"Vamos lá..."

Dei alguns passos até chegar a Iori. Meus passos estão tão pesados. E é tão doloroso. Minhas juntas e articulações já estão velhas demais para o esforço que fiz hoje. Na verdade, não só elas.

Assim que cheguei na frente de Iori. Um arrepio percorreu minha espinha.

"Uau..."

Em seguida, não pude de deixar de dar um pequeno sorriso. Esse moleque não para de me surpreender.

Sua energia ainda permanece estável. Ele está dormindo, seu sono parece pesado. Eu também consigo sentir algumas pequenas coisas se movimentando em seu colo... são formigas...

Hehehe... acho que não vou contar essa parte pra ele...

Não demorei pra tirar a parte de cima da minha roupa e cobri-lo. Seria ruim se ele pegasse um resfriado...

— Você conseguiu...

—...Parabéns, Iori...

 

Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora