Volume 1
Capítulo 30: A "Neve" Finalmente... Cessou
Um sonho.
Nesse sonho, um homem covarde está preso em algum lugar semelhante a uma ampulheta. Ninguém estava com ele.
Contudo, ao invés da areia costumeira, o que recai sobre ele é neve.
Os flocos de neve continuavam caindo, vez após vez, sobre o homem covarde. Sem parar uma única vez.
“E agora?”
O homem sabia que era apenas um sonho. No fim, a única coisa que ele precisava fazer era despertar.
“...”
Mas, o homem covarde não se mexia. Não gritava por ajuda. E também não se forçou a despertar.
Ele apenas continuava parado, olhando para cima. Enquanto a neve continuava cobrindo todo seu corpo.
Pés.
Pernas.
Torso.
Pescoço.
Cabeça.
Por que o homem covarde não agia?
Foi quando entendi...
O que o homem covarde verdadeiramente temia, era encarar a realidade.
***
Nevava bastante.
Depois daquela batalha mortal, estava com algumas lesões em meu corpo. Doía muito; mas não me importava. Isso, porque, finalmente havia chegado ao meu destino.
Depois de algum tempo caminhando finalmente enxerguei o fim daquela floresta. Ver aquilo me deu uma alegria quase que indescritível. Tanta que quase larguei o pedaço de pau, que estava usando para me locomover.
Havia o encontrado umas duas horas atrás. Como meu braço esquerdo se recuperou mais cedo, o usava para conseguir me locomover com mais facilidade. Caminhar sem aquele apoio era extremamente difícil naquela situação.
A injeção de adrenalina me ajudou a caminhar mais rápido para o fim da floresta.
FWOOOOW...
O frio invernal, somado com a ventania repentina fez meus músculos contraírem. Em reflexo, aspirei pela boca resultando numa pequena fumaça.
Meus olhos estavam cansados e quase congelados. Ainda sim, fiz um esforço para enxergar o que estava em minha frente.
“...”
A primeira coisa que vi foi um grande campo cheio de neve branca. Não muito diferente do que tinha na floresta. A diferença era, obviamente, que não havia tantas árvores. Essa planície nevada se estendia até onde meus olhos podiam enxergar. Não havia montanhas.
A segunda, foi uma espécie de cerca que, até onde vi, cercava toda extensão da floresta. Não parecia ter mais do que um metro de altura, o que tornaria fácil pular por cima dela sem quaisquer dificuldades.
Já a terceira foi um riacho congelado. Ele estava entre o campo nevado e a floresta cercada. A neve ficando cada vez mais forte, então, não consegui ver até quanto ele se estendia.
“Onde... está...?”
Mas, nada daquilo chamou minha atenção. Com os olhos atentos, procurava aquilo seria a solução de todos os nossos problemas.
“Cadê... essa maldita caixa?!!”
Foi quando notei algo estranho perto da cerca de madeira. Parecia estar completamente coberto pela neve. Não tive nenhuma dúvida quando meus olhos encontraram aquilo. Era o que estava buscando! Com passos vagarosos, caminhei em direção a aquele monte de neve.
Quando cheguei perto, a primeira coisa que fiz foi tentar passar minha mão direita para tirar aquela neve. Mas ela ainda não estava recuperada. Acabei tendo que largar o pedaço de pau que usava como apoio, para limpar aquela neve.
PSSSSSSSS PSSSSSSSS
“...”
“...É isso?”
Aquela — coisa — tinha a aparência de uma caixa de madeira bem antiga. Sustentada por um tronco de madeira com cerca de um metro e meio de altura, parecia bem antigo e acabado. E estava caindo aos pedaços... literalmente. A caixa parecia ter sido projetada para ter duas pequenas portinhas, onde as pessoas conseguiriam abrir para colocar suas encomendas, mas, parece que um dos lados havia quebrado há muito tempo. Estava quase se soltando da caixa...
— Que porcaria...
De qualquer forma, eu só precisava colocar a carta e as moedas lá dentro e voltar para casa. Assim, finalmente teria cumprido o meu papel. Rapidamente, procurei pela carta e pelo saco de moedas na bolsa de couro.
— Bleh! Que fedor...
Mesmo naquela friaca ainda era possível sentir aquele cheiro podre horrível. O que era realmente impressionante.
Vasculhei pela carta e pelas moedas com minha mão direita. Doía um pouco, mas não era impossível. Puxei a carta com meus dedos rapidamente para acabar com aquilo logo. Depois de colocar a caixa dentro da caixa de madeira, movi meu braço em busca das moedas. Elas seriam as próximas.
Mas, então...
“...”
Uma sensação esquisita percorreu todo meu corpo.
Uma curiosidade inexplicável. Que martelava minha mente como louco.
“Aquela carta... o que será que está escrito nela...?”
Havia arriscado minha pele apenas para trazer essa coisa. E sequer tinha dado uma olhada nela. Erich também, não me disse nada além de que seria um pedido de ajuda para um médico.
“...”
Acreditava em Erich, mas, quando toquei naquela carta... senti um sentimento esquisito...
Era como se... eu precisasse ler aquilo de qualquer maneira...
— Arf... eu vou apenas olhar para ver se não danificou alguma coisa...
Usando uma mentira descarada como aquela, peguei a carta de volta, e a segurei em minhas mãos.
“...”
Sempre que meus olhos se encontravam com a carta, tinha aquela sensação esquisita. Como se, de repente, minha mente ficasse nublada e minhas entranhas se contorcessem. Suor frio descia pela minha testa e não conseguia deixar de engolir seco.
Quando tentava puxar a carta com meus dedos, eles mas pareciam macarrão. Tremiam como louco...
— Tsc... é só uma maldita carta...! A-Abre essa merda l-logo, seu imbecil! — Dizia pra mim mesmo.
Usando a raiva como forma de me encorajar, rasguei a parte de cima do envelope. Fiz isso tão institivamente que me arrependi logo depois.
— Me-Merda... o velhote vai me matar...
Mas, já estava feito.
“De qualquer maneira, se eu dobrar e colocar a carta de volta no lugar, muito provavelmente eu não vou ter qualquer problema... eu acho...”
“...”
“Bom, a carta já está aberta, no entanto... uma olhada não vai matar...”
— Hã...?!
—...Hehehe...
A carta era indecifrável. Eu não conseguia entender uma palavra do que estava escrito naquilo. Isso era óbvio, eu não era daquele mundo. Naqueles tempos, eu sequer entendia direito como conseguia entender as pessoas. Na verdade, meio que já tinha um sentimento de aquilo podia ocorrer
—...Hehe...
—...He-
“...”
Então, por quê?
Por que aquela sensação estranha não ia embora?
Por que meu coração estava tão apertado?
Por que meus olhos estavam tão fissurados naquelas palavras?
Por que estava tremendo tanto...
—...Arf.... ar... Ngh...
“E-Eu tem-tenho que v-voltar...”
TCHUF! TCHUF! TCHUF!
Eu não tinha mais água. Mesmo fracionando, havia acabado algumas horas atrás. Também não tinha mais o que comer, nem mesmo uma migalha de pão.
Voltar seria difícil. A nevasca estava cada vez mais forte. Era até difícil enxergar qualquer coisa. Seria muito melhor e mais seguro procurar algum abrigo depois daquela cerca. Também não tinha condições fisícas e mentais para uma segunda viagem.
Tudo estava me mandando ficar. Era como se a — neve — não quisesse que eu voltasse, não... nem sequer olhasse para trás. No entanto, eu sempre fui teimoso. Desde pequeno e isso nunca mudou até hoje. Só aprendia quando sofria as consequências.
Mesmo com as fortes dores em todo meu corpo, voltei a correr. Com a bendita carta nas minhas mãos, entrei mais uma vez na densa floresta.
Estava voltando para casa.
A Carta de Erich
“Prezado, Iori. Meu querido discípulo.”
“Essa minha carta destinada a você.”
— Ghn... ngh... arf...
“A essa altura você já deve estar bem longe daqui. Isso é muito bom! Acredite.”
— Urf... Ngh...
“Conhecendo você Iori, é meio óbvio que em algum momento você vai acabar abrindo essa carta. Na verdade, você com certeza vai fazer isso.”
TCHUF! TCHUF! TCHUF!
“Escrevi á mão esse bilhete. E sei muito bem que você não conseguirá decifrar o que está escrito aqui.”
“Infelizmente, minha saúde piorou bastante antes que eu pudesse lhe ensinar a ler e escrever.”
“Uma pena. Mas, talvez isso tenha sido apropriado. Acho que não conseguiria colocar meus sentimentos devidamente, caso você entendesse.”
— Aaa.... Khh... Argh...
“Iori. Primeiramente, eu gostaria de agradecer por todos esses meses que você esteve comigo.”
“Desde a morte de Holly, eu estive sozinho nessa densa floresta. Todo dia era solitário... e triste... porque havia perdido a única coisa que havia me restado.”
“Acordar todos os dias sem um abraço caloroso ou um simples — bom dia — era doloroso. Tão doloroso que...”
“Eu pedia para morrer logo... todos os dias...”
—...Snif... Sni... Nggh...
“Mas, então... você chegou!”
“Não vou mentir... eu tomei um grande susto! Em todos esses anos, nesse lugar, nunca havia visto outro humano além de Holly.”
“A primeira impressão que tive de você, também não foi muito boa... talvez, tenha sido impressão... mas, você queria me atacar? Ou estou ficando senil? Hehehe...”
— Não... n-não...
“De qualquer jeito, Iori. Talvez, em um outro momento eu desconfiasse de você. Herdei essa característica de meu pai, sempre fui muito desconfiado.”
“Contudo, quando te vi. Senti como se devesse te ajudar. Eu não sei explicar mas... era como se fosse... destino...”
“Além disso, tenho certeza que se Holly estivesse viva, ela lhe ajudaria sem nem pensar duas vezes. Mesmo se eu fosse contrário a ideia... ela iria gritar comigo! E me dar um soco! Hehehe...”
— Por favor...
“Isso me faz pensar... e se você tivesse chegado mais cedo, Iori? Ou, talvez, se Holly não tivesse ficado doente...”
“Nós poderíamos ter feito tanta coisa juntos: Holly sempre dizia sobre fazer um piquenique em família. Bem, isso antes dela receber aquela notícia. Penso que seria legal...”
“Ela sempre amou a natureza. Com certeza, ela lhe ensinaria a amar as flores, animais e plantas, assim como ela amava. Ela sempre foi como um raio de sol, provavelmente, você ficaria mais próximo dela do que de mim. Hehehe... ela iria te mimar de mais, com certeza...”
— Uf... Gh...
“Caminhar, passear e até comermos juntos. Tudo seria tão divertido! Quão bom seria tomar um banho de cachoeira e Holly, logo depois, nos dar uma bronca porque nos atrasamos para o jantar!”
“Seria muito bom... mas...”
— [...]
“Penso que você ter chegado naquele momento, não foi por simples acaso.”
“Mesmo com os ossos frágeis, você me fez correr de novo! Mesmo com meus olhos cegos, você me fez enxergar o verdadeiro prazer de viver! E mesmo com minha mente já cansada, você me deu ainda mais motivos para que eu lutasse por cada memória!”
“Todos os dias em que estive com você foram verdadeiramente felizes! Seja cada treino ou até nossas pequenas, mais significativas conversas! Você até mesmo me ajudou a cumprir minha promessa com Holly e terminamos o diário”
“Como poderia pedir mais felicidade do que isso? Estaria agindo como um egoísta, como sempre fui!”
TAC! TAC! TAC!
“Você acha que eu lhe ajudei, Iori? Foi o contrario! Eu fui o ajudado!”
“...”
“No entanto...”
—.....Khg.... onde está?
“Iori, você sabe porquê eu lhe treinei?”
“Fiz isso para que você conseguisse sobreviver nesse mundo. Desde que eu lhe vi pela primeira vez, você parecia perdido. Mas, não digo isso apenas no sentido literal, sabe...”
“Iori, você é muito parecido comigo. Desde o início, eu sempre achei isso. Acho que isso explica o porquê brigamos tanto, porém, o porque de nos entendermos tão bem.”
“Assim como eu na época, você também parecia solitário. Não... talvez você seja ainda mais que eu...”
“Você sempre se autoproclamou como alguém ruim. Não entendo totalmente o porquê disso, mas acho que você ainda não está pronto para abrir seu coração.”
“Você disse para mim que matou a sua própria mãe. Acredite, não vou ignorar seu pecado, assim como não quero que você ignore o meu.”
“Ambos temos sangue nas mãos, somos assassinos — você e eu. E você se lembra do que eu disse, Iori?”
—...Cadê aquela...
“Cedo ou tarde, todo pecador algum dia irá pagar pelos seus pecados. Sem falta.”
“...”
“Demorou bastante, mas...”
“Chegou o dia, Iori.”
—...Onde? Onde está?!
“Já faz um tempo que sinto sua sede por sangue insaciável. Não vai demorar para que ataquem. Eles já estão muito perto”
“Por isso Iori, quero que vá para bem longe daqui! Para bem longe dessa floresta!”
“Você é jovem e forte. Acredito que tenha o potencial para salvar muitas vidas. Então, por favor, vá para onde não possam te alcançar.”
“Iori...”
***
A neve branca cobria toda a minha volta. Seja céus ou terra. Cada passo era insuportável e doloroso.
Entretanto, por alguma razão, o que mais doía não era meu corpo. Mas, sim, meu coração.
Eu não conseguia entender o porquê.
— Onde?! Onde está aquela casa?! — Exclamava á plenos pulmões.
Era difícil enxergar alguma coisa no meio de toda aquela neve. Nunca odiei tanto uma estação.
Era como se o mundo todo branco estivesse me punindo.
Naquela altura, tinha a sensação de que até meu cérebro já estava congelando. A única coisa que me fazia agir, mesmo naquele frio torturante era:
“Velhote... cadê você, velhote...?”
Eu sabia que estava perto. Mas, com toda aquela nevasca era difícil fazer qualquer coisa.
Eu já não conseguia pensar direito com aquele frio. E além disso, todos aqueles pensamentos ruins não desapareciam de minha mente.
— Khh.... merda...
Foi quando notei algo se destacava naquele cenário branco.
“Aquilo é...”
Era a fogueira onde Erich e eu fazíamos as nossas refeições. A notei porque ela ainda estava com a panela enorme lá fora.
— Velhote!!
A injeção de adrenalina repentina me fez correr mais uma vez na neve. Corri tão rápido que acabei escorregando num desnível naquela floresta.
Mas, aquilo pouco me importou! Me ergui mais uma vez e corri de novo. Finalmente, estava em casa!
Aos poucos, as árvores de inverno sumiam dando lugar ao terreno da cabana.
Foi quando notei.
— VELHO-
“Hã...”
“...O que é... isso...?”
Não havia cabana.
Não havia jardim.
Não havia nada.
Nada
Nada
Nada.
Ou melhor, havia sim uma coisa:
—...Cin...zas?
Restos de madeira queimada, pretas como carvão. Cinzas que se misturavam a neve branca. O cheiro forte característico que se destacava em meio aquilo tudo.
“O que é isso?”
“Um... incêndio...”
—...N-Não... não... NÃO! NÃO PODE SER...
—...Bluergh... Guh....
—...C-COF!! CO-COF!!!
—...V-VELHOTE!! VELHOTE!!!
Aquela cena aterrorizante me fez agir como louco. Não queria acreditar no que estava vendo. Queria que meus olhos estivessem pregando uma peça em mim.
Mas, a verdade estava ali. Na minha frente.
—...ARF... AAARGHNN ... NÃO! NÃO! NÃO!
Desesperado, tentei encontrar a energia de Erich. Foi um ato desesperado que podia ter acarretado em minha morte. Não tinha condições de continuar forçando meu corpo e mente daquela maneira.
De qualquer jeito, não sentia a energia de Erich em lugar algum. Era como se de repente sua existência tivesse sido apagada.
—...QUE MERDA... ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO....
—... NÃO... POR FAVOR DEUS! DE NOVO NÃO... POR FAVOR!
Minhas pernas finalmente tinham cedido. Meus joelhos encostavam na neve fria. Descontava minhas frustrações socando o chão. Tão, mais tão forte que sangue espirrou dos meus dedos e sujou a neve de vermelho.
A ficha finalmente havia caído...
...Erich estava morto.
—...GAH... NÃO NÃO... POR FAVOR... ELE NÃO...
—...UAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!
Minha lamúria era a única coisa que se podia escutar na silenciosa floresta. Será que acima das nuvens alguém escutava minhas lamentações?
— [...]
Foi quando a dor e a tristeza se tornaram raiva.
— QUEM FOI?!! QUEM FOI O DESGRAÇADO??!!
Para mim, era óbvio que aquilo não foi um acidente. Mas, sim, uma ação muito bem premeditada por alguém.
“Mas, quem...? Aquela maldita sombra?!! Será que ela sabia desde o início onde eu estava e apenas estava esperando o momento certo?!!”
“NÃO FAZ SENTIDO! Porque ela esperaria tantos meses para isso?! Sem contar, que é comigo que ela parecia ter problemas, não com o velhote!!”
“Desde o início, eu era um alvo fácil para ela!! Não pode ser ela!!”
“MAS ENTÃO QUEM?! QUEM?!!!”
“...”
— Yve...
Vilarejo Yve — o pacato lugar onde havia me estabelecido no início. O nome da vila faz referência a Deusa Yve, lembro que até Erich e Holly adoravam essa Deusa.
“Eles são os únicos que devem saber onde o velhote vive. O velhote parece ter uma velha rixa com a vila e parece odiá-los.”
“Sim... faz sentido...”
“É por isso que Erich não queria que eu fosse para aquele lugar...”
“Talvez... eles quisessem desde o início matá-lo, e Holly e Erich devem ter vindo se esconder aqui na floresta...”
“Ou, diferente das outras vilas que acolhiam os dois. A Vila de Yve desde o início queria os ENTREGÁ-LOS a seus perseguidores.”
Mas, aquela dedução poderia significar alguma coisa.
— En-Então... que-quer dizer q-que...
—...A culpa... foi minha...
“Suponhando que eles não sabiam a localização exata de Erich, que devia esconder sua energia para não ser identificado por eles. Alguém que entrou na floresta depois, acabou chamando a atenção deles...”
— Fui eu...
—...Uhn... Gh.....
— [...]
—....Grrrr....... MALDITOS!!!
A neve estava muito forte.
Forte demais.
Forte como nunca antes.
— EU.... EU VOU...
Ao meu lado, havia um pedaço de madeira coberta por cinzas. Eu a agarrei com minha mão esquerda.
—.... EU VOU MATAR TODOS!! TODOS!!!
— MULHERES... CRIANÇAS... TODOS!!
TU-DUM!
“Hã?! O quê...?”
Fim da Carta de Erich
“...Vá além!!! Para bem longe e viva uma vida digna!!”
“Não vou pedir para que seja um herói! Se fizesse isso, estaria agindo mais uma vez como aquele homem...”
“Mas, trate isso como um conselho. Sim, um conselho de alguém que só quer o seu bem: ajude o máximo de pessoas possíveis!!! Da forma que quiser!! Busque sua felicidade!! Ajude os fracos e necessitados!! Seja rico ou pobre, não importa!!”
“Sei que deve estar confuso... em mundo que não é o seu. Um mundo onde há perigos de todos os tamanhos e em todos os lugares. No fim, você ainda é só um jovem.”
“Esse é um mundo enorme cheio de perigos que você nem pode imaginar! Mas, sabe uma coisa... eu sei que você vai passar por todos eles. Porque estou falando do meu amado e único discípulo!!”
“...”
“Sabe, Iori...”
“Um dos maiores baques que Holly e eu sofremos foi de não poder ter filhos. Lembro até hoje do rosto de Holly, ela estava arrasada. Mesmo depois de tanto tempo, sei que essa foi uma ferida que não cicatrizou para ela.”
“O que eu quero dizer é...”
“Iori... não...”
“Satoru. Escute bem.”
“Sei que, mesmo se pedisse, você não perdoaria quem me matou. Acredite, se fosse ao contrário, eu também não perdoaria.”
“Então, ao invés disso, eu quero lhe pedir uma última coisa.”
— [...]
“Quando estiver se sentindo: triste, cansado, irritado... quando achar que não há mais esperanças...”
“...Por favor, levante seus olhos para os céus e lembre-se que eu estarei sempre cuidando de você.”
“Você sabia, Satoru? Que eu passei a amar a neve, também? Assim como Holly! Você sabe o porquê disso?”
— [...]
“Eu acho que... finalmente entendi o que Holly quis dizer...”
“O inverno é rigoroso. É frio e solitário. Porém, apreciar os últimos flocos de neve da estação são valorosos. Porque, mesmo sendo difícil, ao fim da estação: as plantas voltam a crescer! As árvores enchem de folhas de novo! As flores ganham diversas e lindas cores! E os animais voltam a encher os campos com sua graça!”
“Você entende o que quero dizer, Satoru?”
—...Guh.... Nghm....
“Mesmo que agora esteja difícil. Mesmo que se sinta angustiado... e com vontade de gritar á plenos pulmões. No fim, a estação fria e sem cor vai passar.”
“E então, o caloroso sol vai voltar a aparecer.”
“Satoru, eu vou lhe dizer pela última vez! Quando estiver se sentindo triste, angustiado e sem saída... antes de fazer qualquer coisa que se arrependa, olhe para cima! E lembre-se que estarei sempre ao seu lado...”
“...Eu... E-Eu...”
“...”
“...Eu te amo, meu filho. Você sempre será o meu maior orgulho!”
“Com amor eterno.”
“Erich Lume.”
—...UAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!
Por quê parei naquele momento? Não sei. Todo aquele choque bagunçou um pouco minhas memórias.
Mas, talvez... eu tenha olhado para a neve que descia dos céus.
A nevasca que era forte e destemida, se tornou mansa. Apenas alguns flocos agora desciam dos vasto céu.
Uma
Duas
Três
Era tão bonito. Como uma dança livre no céu
Até que um último floco de neve desceu. Lembro de estender minha mão direita e deixar que ele caísse na palma de minha mão.
“...Foi como uma despedida.”
Quando tudo terminou, eu olhei de relance para o pedaço de pau em minha mão, e o larguei em seguida. Respirei fundo, limpei meu rosto e segui em direção a floresta mais uma vez.
Até hoje, acabo pensando o que teria acontecido se eu não tivesse olhado para a neve.
Mas, sempre que penso nisso, acabo voltando as mesmas memórias infindáveis.
Cada pequeno floco de neve que vi naquele dia, estava carregado das memórias em quem compartilhei naquele lugar, ao lado de Erich.
A neve não demoraria a derreter. Ninguém pisa os pés naquela floresta, então, era como se tudo que confirmasse a existência de Erich fosse desaparecer um dia.
Mas, quando olhei a neve cair naquele dia. Me lembrei, de que, eu estou vivo. E que em quanto eu carregasse aqueles dias no meu coração, Erich jamais deixaria de existir.
Eu nunca tive um pai presente. A figura de um pai sempre foi preenchida pela da minha mãe. Ela que sempre esteve ao meu lado, desde pequeno.
Porém, penso que... se tive um pai em vida...
Essa pessoa foi Erich Lume
Antes que eu desaparecesse em meio as árvores de inverno, olhei para atrás uma última vez. Não com tristeza ou receio dessa vez. Mais com carinho do que vivi naquele lugar o qual chamei de — casa — por tanto tempo.
—...Sniff... E-Eu te amo, velhote...
—...M-Muito ob-obrigado!! Muito o-obrigado... por tu-tudo...
—...E-Eu... Eu...
— EU NUNCA VOU TE ESQUECER... NUNCA!!
Virando minhas costas mais uma vez, me virei em direção a floresta. Não podia perder mais tempo. A viagem de volta seria longa e árdua.
—...Continue cuidando de mim...
—...Pai...
FIM DO PRIMEIRO VOLUME! MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS POR ACOMPANHAR — O PIOR HERÓI! A OBRA RETORNA NO DIA 25 DE FEVEREIRO DE 2025, COM SEU SEGUNDO VOLUME ENTITULADO: "LUTE PELA SUA LIBERDADE".
CONTINUEM ATENTOS AOS "SHORT STORIES" DO PRIMEIRO VOLUME QUE SAÍRAM LOGO!
A OBRA TAMBÉM TERÁ UMA SEÇÃO DE "PERGUNTA DOS LEITORES". QUEM QUISER TER SUA PERGUNTA E NOME ETERNIZADOS NO PRIMERO VOLUME DA SÉRIE, POR FAVOR, DEIXEM SUA PERGUNTA AQUI NESTE CAPÍTULO NA SEÇÃO DE COMENTÁRIOS
Notas do Autor: Todas as Ilustrações dessa novel são feitas por IA. Comentem e façam teorias, leio e respondo todos os comentários
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