O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 1

Capítulo 35: Neve Escarlate

Shiina estava sentada na beira de um penhasco, com suas pernas balançando livremente.

Uma coruja piava, tão perto que provavelmente estava no topo de uma árvore logo atrás dela.

Seus olhos observavam o horizonte de maneira distante, sem focar em algo específico.

Uma brisa fresca, suave e confortável soprava seu cabelo cinza e a acalmava. Era este tipo de brisa que ela gostava, não uma nevasca congelante e desagradável.

Enquanto contemplava, ouviu Raymond se aproximando devagar.

— O que foi? — Seu tom seco demonstrou ainda estar irritada.

— Vim conversar... Por que defende Aegreon tanto?

Shiina virou o rosto para o horizonte, sem responder de imediato.

— Não posso dizer.

— Se não falar, será apenas uma questão de tempo até que um dos dois mate o outro. Tenho certeza de que Sariel tem boas intenções, mas não sei nada sobre Aegreon. Você é a única que o conhece.

— E vai confiar no que eu dizer? Uma assassina?

— Ainda não confio em você, e jamais confiarei sem saber mais sobre ti.

Shiina encarou Raymond fixamente por um tempo, quando virou o rosto de volta para o penhasco.

— Se prometer não dizer a ninguém, eu lhe conto.

— Tens minha palavra. — Ele levou uma mão ao peito como símbolo de sua promessa.

— Tudo bem, sente-se aqui então. — Shiina apontou para a beira do penhasco.

Concordando com a cabeça, Raymond se aproximou e se sentou de pernas cruzadas ao lado de Shiina, mas um pouco afastado.

— Por que sempre se mantém afastado?

— Nenhum motivo em particular.

— Você é sempre tão certinho — riu a assassina. — Se não ficar mais perto não contarei nada — chantageou.

— Está bem... — Raymond, hesitantemente, se aproximou um pouco.

— Bom, tudo começa logo após meu nascimento, lá nas Montanhas Prateadas... — começou Shiina.

 

***

 

Um homem e sua pequena filha caminhavam pelo chão coberto de neve, em um dia tremendamente frio.

Shiina, a criança, estava descalça, portanto sentia as solas de seus pés queimando em carne viva, e seu pai continuava a puxando pelo braço, sem se importar com suas súplicas e seu choro de dor.

Aquele homem velho, maldito e desengonçado, com a barbar por fazer e um hálito terrível de álcool nem se importava com seu sofrimento, mesmo que ela tenha acabado de aprender a andar.

Nem mesmo entregou um agasalho a ela, usava suas roupas de casa.

Após alguns minutos caminhando por uma floresta branca, Shiia viu de longe um homem mascarado e gordo.

— É essa a mercadoria? — Sua voz era detestável e possuía um tom avaliador. — É nova demais, tá achando que sou babá? Pagarei menos por isso.

— Nã-não se apresse, ela é inteligente! — Seu pai nem tentava esconder o quanto queria se livrar dela. — Ela aprendeu a andar antes que as crianças de sua idade, e já sabe ler e escrever um pouco!

— Hmm, tudo bem, tome. — O mascarado entregou uma bolsa pequena a ele, que pegou com decepção no rosto.

Só isso?

Se é tão exigente, então pode ficar com ela. Me devolva o dinheiro.

— Quis dizer que sou grato pela quantia, tome. — Seu pai a empurrou na direção do mascarado.

Humpf, suma da minha frente!

— Sim senhor. — Com o rabo entre as pernas, aquele homem abandonou sua filha, sem nenhum remorso.

Papai! — Shiina se desesperou e lágrimas surgiram em seus olhos, fazendo seu rosto congelar devido à temperatura. — Espera! Não me dei...

Cala a boca! — O mascarado colocou um pano sujo e malcheiroso no rosto dela. Sua visão se escureceu rapidamente, e logo perdeu a consciência.

Quando acordou, se encontrou em uma sala pequena sem janelas, com um armário e uma cama, e uma porta fechada. A única fonte de luz vinha de uma pedra de Alteração no teto que mal iluminava a sala.

Tentou sair pela porta, mas ela estava trancada. Então bateu, chamou por seu pai e chorou, ainda meio tonta. Ela tentou sair de todo jeito por horas, até que se cansou e desistiu.

Ficou escorada e chorando em um canto daquela sala claustrofóbica por sabe-se lá quanto tempo, quando finalmente ouviu o som da porta destrancando.

Ela correu imediatamente na direção dela, gritando “papai” na falsa esperança que fosse ele, mas se deparou com outro homem mascarado, dessa vez alto, magro e vestindo roupas pretas.

— Ora, vejo que está bem agitada! — Sua voz era calma. — Infelizmente não poderá ver seu pai agora, mas poderá voltar para casa se ir bem nas aulas!

— Aulas? — Shiina hesitou.

— Sim! Se aprender bem o que iremos te ensinar, poderá voltar para seu pai!

— Certo, vou me esforçar então!

Mal sabia ela que estava sendo manipulada apenas para que colaborasse.

Logo naquele dia, começaram a ensiná-la o básico de se tornar uma assassina. A princípio, os dias se passavam e ela se esforçava o máximo possível, pois queria ver seu pai novamente, mesmo depois dele ter a abandonado.

Não demorou muito para perceberem que ela tinha mais poder mágico que o normal, além de eu ser a melhor aprendiz entre outros da sua idade.

Por isso, trocaram o discurso de “se você se esforçar poderá voltar para casa” para “seu pai não te quer mais, e esta é sua casa agora”. Eventualmente, após meses de ouvir a mesma coisa, todo sentimento que ela tinha por ele morreu.

Com isso, Shiina continuou aprendendo, já que os alunos exemplares ganhavam recompensas.

Logo ela foi movida para uma classe especial com outras duas pessoas: uma delas era um garoto tímido e sério que tinha a mesma idade. Ele tinha cabelo branco e curto, pele clara e olhos azuis.

A outra era uma garota, um pouco mais velha, com cabelo longo e castanho, assim como seus olhos, além de um sorriso animado.

O garoto se apresentou, dizendo que seu nome era Y5, enquanto a garota era M3.

Todos os aprendizes naquele lugar eram nomeados dessa maneira, uma letra e um número, para que se esquecessem completamente de seu nome original e largassem sua vida passada.

O nome de Shiina naquele lugar, era C7.

Nessa classe, os três aprenderam a ocultar suas presenças pela supressão dos sentimentos, e logo foram enviados em suas primeiras missões de assassinato com apenas seis anos, tendo sucesso em todos elas.

Naquele ponto já não eram mais crianças. A lavagem cerebral que fizeram com eles havia os transformado em armas quase perfeitas para matar, apenas falharam em impedir os três se tornassem amigos próximos.

Apesar da vida nada comum para crianças da sua idade, eles se divertiam sempre que estavam juntos, as vezes até demoravam mais para retornar de alguma missão para fazer algo juntos depois.

Por causa disso, começaram a serem punidos severamente, já que eram instruídos a sempre omitir seus sentimentos, mas não o faziam quando estavam juntos. Mais tarde, descobririam que ter ignorado essa lição foi um erro.

Ficaram tão próximos que deram nomes entre si.

No idioma das Montanhas Prateadas, as letras e números são pronunciados de maneira diferente: cinco é go, três é san, e sete é nana, então Y5 ficou “Yuugo”, M3 ficou “Emi-san”, e C7 ficou “Shiina”.

Com oito anos, receberam a missão que seria sua prova final. Deveriam matar Yukinoshita Yuu, a aprendiz de Feng Ping.

Aquele era o momento perfeito, pois o Pilar estava no Éden no momento devido à recente vitória definitiva contra os anjos.

Parecia fácil, mas como dito, Yukinoshita era a aprendiz de um Pilar, portanto, mesmo que estivesse sozinha ainda era necessário cuidado.

Ao chegar na residência, se depararam com uma grande casa de madeira e coberta pela neve das Montanhas Prateadas, que nunca para de cair não importa a estação.

Como meu elemento principal de Shiina era Ilusão, ela era encarregada de ocultar a presença dos três, enquanto Emi era responsável por estabelecer uma comunicão telepática com Alteração, e Yuugo seria o responsável por matar Yukinoshita com sua magia de Fogo.

Como Feng Ping estava longe, foi fácil entrar na casa e encontrar a aprendiz dela, que estava no salão de entrada e sentada no chão, próximo de uma mesa.

Naquela época, ela tinha cerca de dezesseis anos, mas era mais madura que outras garotas de sua idade.

Os três estavam prestes a matá-la quando de repente, o Pilar do Vento entrou pela porta rapidamente e lançou uma magia poderosa bem onde eles estavam.

Shiina saberia mais tarde que Yuugo deixou escapar um pouco de intenção assassina, o que fez com que Feng Ping os detectasse.

Tudo aconteceu muito rápido, em um momento Shiina estava dentro do grande aposento do Pilar do Vento, e no outro estava caída no chão gelado, sentindo uma dor terrível conforme respirava e se afogando lentamente com seu próprio sangue.

Ela olhou ao redor e percebeu que estava do lado de fora, e a neve havia adquirido um tom avermelhado. Na verdade, a cor predominante da neve havia se tornado escarlate ao invés de branco.

Emi estava caída ao seu lado, com o rosto no chão. Sua mão estava esticada em sua direção, tentando alcançá-la, e Yuugo estava mais longe e tentando se arrastar até ela.

Shiina tentou se levantar e ajudar Emi, mas uma dor terrível tomava conta de seu corpo mesmo sem me mover. Chamou pelo nome dela repetidas vezes e desesperada, mas ela não respondia.

Com muito esforço, conseguiu virar o corpo dela para cima, quase vomitando ao ver seu rosto achatado, coberto de sangue e com parte de seu cérebro vazando da testa.

Todo seu corpo estava da mesma maneira, como se uma montanha tivesse caído sobre ela, transformando-a em um amontoado de carne...

Enquanto Yuugo se arrastava na sua direção, o Pilar do Vento se aproximou com uma aura assassina terrível que rivalizava à de Aegreon.

Então, ele agarrou Yuugo e fez várias perguntas.

— Minhas amigas... me leve no lugar delas, por favor...

Aquelas palavras ecoaram na mente de Shiina... Ele estava disposto a morrer em seu lugar, sem saber que uma delas já estava morta, ou talvez sua mente apenas estivesse em negação.

Percebendo que Yuugo não diria nada, o Pilar do Vento trouxe ele para perto de Shiina e o socou no peito, deixando um vazio onde ficava seu coração.

Depois... ele soltou o corpo dele na sua frente, com seus olhos vazios a encarando profundamente.

Após isso, ele fez as mesmas perguntas a Shiina, usando Yuugo como exemplo se não respondesse.

— Yuugo... Emi... Se levantem! Por... favor...

Ela implorava, negando que aquilo pudesse estar acontecendo.

“Eles não podem estar mortos, nós éramos pra ser os melhores... Era para ser uma missão fácil...”

Shiina cerrou o punho, agarrando parte da neve avermelhada.

“Porque diabos Feng Ping tinha que voltar justo hoje?”

Lágrimas surgiram em seu rosto, que se congelavam aos poucos devido a temperatura daquele lugar.

Percebendo que ela não diria nada, Feng Ping a agarrou e se preparou para matá-la, quando uma outra voz o parou.

— Feng Ping...

Ele se virou e viu uma figura negra se aproximando. Sua animosidade imediatamente redirecionou de Shiina para aquela pessoa.

— O que está fazendo aqui, Aegreon? — Ele soltou a garota no chão.

— Eu estava em uma região próxima quando Clementius me notificou sobre sua saída no Conselho, achei que viria aqui. — Ele encarou brevemente Shiina. — Sua ajuda ainda é necessária para lidar com as Seitas.

— Fiz um juramento de nunca mais usar minha magia. O Conselho terá de encontrar outro Pilar do Vento.

— Então o que foi aquilo que aconteceu com sua casa quando eu estava vindo?

— Fiz aquilo no impulso, para proteger Yukino desses assassinos!

Aegreon examinou melhor Shiina.

— Uma criança como ela? Matar sua aprendiz?

— Uma criança corrompida pelo seu maldito elemento!

O Pilar da Conjuração cerrou levemente os punhos.

Então, caminhou até Shiina, parando a um passo de distância dela e a encarando de cima.

— Eu lido com ela.

Feng Ping se virou e, sem dizer nada partiu até sua casa.

— Por que vocês tentaram matar a aprendiz do Pilar do Vento? — Ele encarou a garota com um olhar assassino.

— Era nossa missão... Fomos obrigados...

— Por quem?

Shiina, contudo, estava à beira da morte, portanto perdeu a consciência naquele momento.

Aegreon, então, a levantou em seus braços e a levou para longe da casa de Feng Ping.

Ao encontrar um lugar escondido, tratou os ferimentos dela e, enquanto ela se recuperava, foi atrás dos corpos dos amigos dela.

Quando retornou, esperou até que ela acordasse, para então questioná-la sobre o que havia acontecido.

No começo, Shiina evitava dizer muito, pois foi assim que lhe ensinaram, porém, ao saber que Aegreon havia trazido de volta o corpo dos seus amigos, acabou contando tudo.

Após ouvir tudo, ele se levantou com um olhar sério.

— Vou lidar com esse grupo que te treinou. — Seus olhos roxos brilharam por um momento. — Mas saiba que, dependendo do que eu descobrir lá, poderei ter que te matar também.

Sem esperar uma resposta, partiu.

Algumas horas depois, ele retornou, encontrando Shiina ainda acordada e segurando a máscara de raposa preta de Yuugo e o colar de Emi.

— Você voltou... — Ela a encarou com olhos levemente esperançosos. — Você os matou?

— Estão todos mortos. — Ele se aproximou dela.

— O que vai fazer comigo? — Shiina não parecia com medo, ela havia perdido seus únicos amigos, portanto sentia que não seria ruim se unir logo com eles.

Você tem sorte que é forte e aprende rápido, teria perdido sua alma se fosse fraca. — Ele colocou sua mão na cabeça dela. — Você ainda tem salvação, portanto cuidarei de você por um tempo.

Shiina encarou Aegreon com um olhar suspeito. Desde que nascera, nunca soube o que era gentileza, portanto, não podia acreditar que aquele homem a protegeria sem querer algo em troca.

— Alma? Como assim?

Aegreon explicou detalhadamente sobre as Seitas, seus objetivos e como usam as almas de pessoas para abrir portais dimensionais.

Ele também disse que, como Shiina era forte, eles planejavam fazer ela parte da Seita, por isso ainda não tinham extraído sua alma.

Caso tivessem julgado que ela era fraca, teriam removido sua alma e a assassinado.

— Alguém como você pode ser importante para a humanidade. Se você quiser, pode se juntar à Vigília para lutar contra essas Seitas, salvando outras crianças de sofrer o mesmo destino que você e seus amigos.

Quando ouviu aquilo, Shiina ficou em dúvida sobre o que queria fazer. Não entendia por que aquele desconhecido estava sendo tão gentil, e não tinha curiosidade nenhuma de viver, já que perdeu seus amigos.

— Eu... Não sei...

— Não se preocupe, não precisa decidir nada agora. Por hora, você apenas viajará junto comigo.

— Tá bom... mas quero enterrar meus amigos.

Seguindo os desejos dela, Aegreon a ajudou a encontrar um lugar distante e enterrar os amigos dela.

Depois, ambos viajaram juntos por vários meses, e Shiina aos poucos foi encontrando alegria na vida, porém ainda não sabia o que queria fazer.

Aegreon também não a pressionou sobre se juntar à Vigília, ele a deixou pensar com calma.

Eventualmente, os dois se separaram, com Shiina ainda sem saber o que faria.

Algum tempo depois, ela voltou a trabalhar como assassina, mas apenas aceitava os contratos para matar pessoas que julgava nocivas à humanidade.

Ela até considerou se juntar na Vigília para lidar com as Seitas, mas ela se lembrou que, se outra pessoa a tivesse encontrado no dia que conheceu Aegreon, ela provavelmente teria sido morta.

Portanto, sabia que teria que matar vítimas como ela e seus amigos, e isso era algo que não podia fazer.

Portanto, como estava aceitando contratos de assassinato, acabou se tornando uma procurada e fugitiva da Vigília.

Anos mais tarde, porém, enquanto descansava em uma pequena cidade por um tempo antes de seguir viagem, algo mudou.

Estava no quarto de uma humilde estalagem quando ouviu uma batida em sua porta.

A abriu sem pestanejar, se deparando com um idoso com uma bandeja de madeira e comida.

— Boa noite! Trouxe sua comida! — Ele a cumprimentou animadamente.

— Mas não pedi nada...

— É por conta da casa, tome. — Ofereceu a ela.

Shiina, julgando que não custaria nada aceitar uma refeição grátis, aceitou sem pensar muito.

— Até mais! — Ele se afastou logo em seguida.

Shiina fechou a porta e colocou a bandeja em cima da mesa, mas logo percebeu algo estranho.

Se surpreendeu ao percebeu uma carta com dois selos neles retratando um pilar, sendo um deles dourado e o outro vermelho.

Quando viu aquilo, pôde sentir um pouco do elemento Fogo e Proteção neles.

Não havia dúvidas, eram os selos de Clementius, o Pilar da Proteção, e Ardos, o Pilar do Fogo, sabia como se pareciam devido suas viagens com Aegreon.

Na carta estava escrito “para Shiina”, e quando a abriu, percebeu se tratar de uma oferta do Conselho: Se matasse a princesa de Fordurn — um anjo —, eles a recompensariam com uma quantia enorme de dinheiro e perdoariam seus crimes.

Shiina ficou ainda mais surpresa pelo fato de que aquele senhor era parte da Vigília, mesmo assim sua Ilusão conseguiu enganá-la, o que significava que aquela pessoa tinha uma quantidade bem considerava desse elemento a mais que ela.

Ela não pensou muito sobre aquilo e imediatamente decidiu aceitar aquela proposta, simplesmente só tinha a ganhar.

Ela receberia uma quantidade absurda de dinheiro, seria perdoada e ainda mataria um anjo, que apenas causava mal à humanidade.

Então partiu para Fordurn, porém, antes que pudesse fazer algo com Luna, acabou se encontrando com Aegreon após tantos anos.

Lá, descobriu suas intenções de levar a princesa para longe de Fordurn.

Por causa disso, decidiu abandonar seu contrato. Não apenas tinha uma dívida a pagar — por Aegreon a ter salvado — também estava curiosa do porquê ele queria protegê-la.

 

***

 

— E isso é tudo. — Finalizou Shiina.

Durante todo este tempo, ela segurava firmemente sua máscara e, com sua outra mão, tocava um colar fino e com uma pequena pedra de Alteração nela.

Após ouvir isso, Raymond ficou em silêncio por um tempo.

— Sinto muito por suas perdas.

— Está tudo bem, já faz um bom tempo. Além disso, agora tenho você. — Ela sorriu para Raymond.

— Tem a mim para ser sádica? — O guarda-costas, entretanto, estava cético.

— Mais ou menos, você meio que me lembra Yuugo, sabe? Ele era sério e tímido igual você, talvez seja por isso que gosto tanto de te atormentar, hehe.

Ao ouvir isso, Raymond não conseguiu se conter em esboçar um pequeno sorriso que, para seu azar, foi percebido por Shiina.

— Oh? Então você gosta de ser provocado? — Se aproximou dele com um tom provocativo.

— Apenas estou feliz que... que posso confiar em você.

— Ah, então confia em mim... E quanto a Aegreon?

— Bem, se ele te salvou de uma Seita então não vejo por que ele tentaria sacrificar Luna, então creio que ele tem boas intenções..., mas o comportamento dele não ajuda muito.

— Eu sei... Ele deve ter passado por muita coisa...

— Então não sabe do passado dele?

— Não, e nunca perguntei também, deve ser algo doloroso demais para ser lembrado.

— Isso pode ser problemático, não sei se Sariel vai aceitar viajar com Aegreon sem saber mais sobre ele...

Ao ouvir aquilo, Shiina olhou seriamente para Raymond.

— Você realmente confia em Sariel?

— Ele teve inúmeras oportunidades para fazer mal a Luna, mas nunca fez nada.

— Não acredito que uma pessoa deixaria seu lar apenas por causa de um boato, ele deve ter algum objetivo.

— Talvez ele queira descobrir sobre si mesmo, ele tem descendência angelical, sabe? Talvez ele ache que pode encontrar as respostas que procura em Luna.

— Tem razão... talvez seja mesmo um mal-entendido...

Após isso, ambos permaneceram em silêncio enquanto observavam o penhasco. O piar da coruja continuava de maneira insistente, como se estivesse curiosa com a conversa dos dois.

— Bem, acho melhor voltarmos — sugeriu a assassina. — Estou preocupada que Aegreon volte antes, e com Sariel lá...

— Tem razão.

Então ambos se levantaram, assustando a corujinha que levantou voo e se afastou.

Ambos caminharam de volta ao acampamento e depararam com Sariel e Luna, Aegreon ainda não havia retornado.

— Oh, finalmente voltaram. — O viajante parecia calmo como sempre.

— Sariel. — Raymond se aproximou dele com um olhar sério. — Creio que pode confiar em Shiina.

— E quanto a Aegreon?

— Não tenho certeza, mas...

— Esqueça isso. Vou tolerar ele por enquanto, mas posso perceber que ele está ansioso para se livrar de mim. Se ele tentar algo, não terei escolha senão matá-lo também.

— Eu... posso tentar falar com ele. — Shiina deu um passo adiante.

— Ótimo, quem sabe ele te escute.

Shiina concordou com um aceno e entrou na floresta a procura de Aegreon.

Não demorou muito para achá-lo, sentado em uma pedra olhando o céu.

— O que foi? — Ele a encarou com irritação.

— É sobre Sariel.

O Pilar se levantou em um pulo.

— Ele fez algo?!

— Não! Apenas acho que poderíamos confiar um pouco...

— Já decidi que vou matá-lo.

— O que?!

Shiina percebeu um olhar ardente e determinado nos olhos de Aegreon, ele não estava brincando sobre isso.

— Eu o matarei assim que chegarmos nas Planícies Vulcânicas.

— Mas isso é muito arriscado! Se não fosse por ele, Indra já teria capturado Luna! E se outro Pilar aparecer? Não acha que está sendo irracional?

Porém Aegreon ignorou sua pergunta.

— Em breve chegaremos nas Planícies Vulcânicas e eu lutarei com ele lá. Não diga nada a ninguém, entendeu?

— Mas...

— Entendeu? — insistiu ele em um tom irritado.

Fez-se um breve silêncio, acompanhado apenas pelo piar de uma coruja.

Apesar de ainda não confiar inteiramente em Sariel, sentia que ele era necessário para aquela aventura.

Mas não podia ir contra Aegreon, ela devia toda sua vida a ele.

— Está bem... — concordou Shiina contra sua vontade.

Depois disso, ambos voltaram ao acampamento. Shiina olhava para Sariel com um olhar conflitado, mas não disse nada.

Então, todos descansaram e partiram no dia seguinte.


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