Volume 2

Capítulo 47: O Dia em que o Mundo de um Certo Indivíduo lhe Deu as Costas (2)

“… esta é a nova casa de Shuria?”

“Yup.”

Yumis trouxe Shuria para um prédio numa área quieta, remota na beirada da cidade. Ele era realmente alto, e Shuria não podia ver o negócio inteiro sem mover sua cabeça, mas os Olhos Escarlates de Shuria me permitiram perceber que ele era como a casa de Yumis. Havia um enorme feitiço conjurado por toda a propriedade. Shuria só sabia como usar magia instintivamente, então Shuria não conseguia descobrir o que o feitiço fazia, mas Shuria acha que é provavelmente uma Barreira de Defesa, o mesmo tipo de magia que a irmã mais velha de Shuria havia conjurado em sua própria casa.

“Eu marquei este lugar como um dos meus ‘laboratórios secretos’. Você pode descansar em paz que nem minha Mãe ou meu Pai serão capazes de entrar nela sem minha permissão.”

(Isso significa que nós não precisaremos nos preocupar com o Lorde Feudal ou sua esposa! Nós não teremos que ver ele enquanto nós apenas ficarmos em casa enquanto ele estiver na cidade!)

O pai de Shuria e sua esposa espantaram cheios de escárnio a mãe de Shuria da casa deles, então Shuria tinha certeza que nenhum de nós gostaria de se ver.

“A porta está aberta, Shuria.”

“Entrando!”

O interior da casa parecia realmente comum. Ia sem dizer que não chega nem perto da mansão privada em que Shuria esteve vivendo pelos últimos três anos. Mas ainda, era muito melhor do que o bangalô de um andar em que Shuria vivia lá na vila.

“Nós estivemos aguardando sua chegada, Yumis, Shuria.”

Sori, que ainda estava vestindo seu uniforme de maid de costume, se curvou no que ela cumprimentou nós duas em seu jeito tão sempre dignificado.

Shuria começou a olhar ao redor na esperança de encontrar Shellmy ou nossa mãe, mas não adiantou.

“… Eu não vejo minha mãe ou Shellmy em lugar algum.”

“Isso é apenas porque elas estão um pouco mais dentro.”

Yumis parecia saber exatamente onde elas estavam, no que ela confiantemente começou a andar pelo prédio. Shuria acabou seguindo Sori, que já havia começado a seguir os passos da irmã mais velha de Shuria. Yumis abriu uma porta para revelar um conjunto de escadas e começou a descer até o porão do prédio. Shuria começou a se sentir um pouco preocupada porque havia algum tipo de energia mágica repulsiva pairando lá dentro.

“Hum… você tem certeza que este é o local certo, Yumis…?”

“Confie em mim. É bem por aqui.”

“Espere por Shuria!”

Um pouco de dúvida começou a se formar dentro de Shuria, mas Shuria decidiu não deixar isso incomodá-la no que Shuria continuou a seguir sua irmã mais velha.

O desconforto de Shuria começou a sumir no que Shuria avançou. Ela foi esmagada pelo nervosismo e felicidade que atingiram Shuria no que Shuria percebeu que cada passo que dava era um que aproximava Shuria de ver sua mãe e irmãzinha de novo. Nós estivemos trocando cartas por anos, e nós costumávamos a viver juntas, então Shuria achou seu nervosismo sendo um pouco esquisito.

Uma simples porta de ferro estava no fim da escadaria.

“Todo mundo está lhe esperando logo além desta porta.”

Yumis sorriu no que ela saiu do caminho e deixou Shuria ir na frente dela. Shuria moveu sua mão em direção da porta e tentou abri-la, mas parou antes de fazer isso.

Shuria não podia deixar de hesitar.

(Uuu… Shuria está se sentindo realmente nervosa.)

Shuria não sabia realmente o que dizer. Shuria não tinha certeza de como deveria cumprimentar os membros de sua família. Shuria esteve longe por três anos inteiros. Shuria sabia que sua voz era realmente quieta, e que Shuria era ruim em projetar ela, mas Shuria realmente queria dar à elas um bom, acalorado e alto cumprimento de qualquer forma. É por isso que Shuria tomou um fôlego profundo antes de finalmente torcer a maçaneta da porta de ferro rangendo, e abrir ela empurrando.

“Mãe, Shellmy! Shuria está tão feliz em ver vocês de no… vo…?”

A voz de Shuria começou alta, mas ela rapidamente morreu no que Shuria olhou pelo quarto.

“…”

A visão que cumprimentou Shuria não era nada como aquela que Shuria estava esperando. A porta que Shuria abriu havia levado para uma caverna escura, estilo prisão. Shuria não foi recebida por Shellmy ou sua mãe, mas ao invés disso, a repugnante energia mágica que Shuria sentiu mais cedo e um enxame de coisas gemendo.

Todas as coisas estavam trancadas atrás das barras de ferro da prisão e envolvidas em energia mágica da cabeça aos pés. Elas pareciam ser feitas de algum tipo de carne crua nojenta. Muitas até tinhas órgãos internos expostos. Elas se moviam por aí arrastando seus corpos meio-invertidos pelo frio chão de pedra. Os gemidos que eu ouvi mais cedo claramente vieram de suas abertas, ocas bocas.

“Y-Yumis, Shuria acha que isso podem ser morto-vivos!”

Os corpos das criaturas foram distorcidos e diferiam grande demais de qualquer coisa viva que Shuria conhecia para ela identificá-los, mas Shuria ainda reconhecia elas como morto-vivos de qualquer forma. Os Olhos Escarlates de Shuria permitiam que ela vesse a mana delas no que ela radiava de seus corpos. A energia mágica que elas passavam claramente era uma que pertencia apenas aos morto-vivos, no que era um tipo que era alimentado por algum tipo de emoção negativa.

“Shuria nunca viu isso antes, mas Shuria tem certeza que são morto-vivos!”

“Você está certa. Isso é exatamente o que elas são. Elas não foram capazes de manter suas formas originais. Eu tentei usar magia para prevenir que elas apodrecessem e se distorcessem mais. Isso meio que funcionou. Elas pararam de decair, mas elas ainda acabaram sendo descoloridas com o tempo.”

“… Huh?”

Shuria se virou para sua irmã mais velha no momento em que Shuria ouviu sua resposta. Ela ainda estava sorrindo do mesmo jeito que ela sempre esteve, mas por alguma razão, Shuria não conseguia falhar momentaneamente de reconhecer ela.

“Elas provavelmente não teriam acabado pobres assim se eu tivesse deixado os corações delas, mas eu decidi pegar eles já que corações batendo são um dos melhores catalisadores para purificar pedras mágicas usadas em itens mágicos. Os morto-vivos ainda conseguem se mover mesmo sem seus corações, mas morto-vivos sem corações tendem a ter mais dificuldade armazenando energia mágica. Seus corpos começam a apodrecer se você apenas deixá-los quietos.”

Yumis colocou uma mão em sua bochecha e suspirou depois de afirmar uma série de fatos de uma maneira sem ligar. Era quase como se a única coisa que a cena diante dela lhe fizesse sentir era a vergonha de seu próprio fracasso.

“O-o que você está dizendo?”

pessoa que lembrava a gentil irmã mais velha de Shuria sorriu. Sua voz, seu rosto e gestos que ela fazia todos combinavam com os de Yumis, mas o ar que ela passava era completamente diferente. Essa mudança súbita no tom e atmosfera geral dela fez com que ela parecesse uma pessoa completamente diferente.

“Técnicas que envolvem o uso dos espíritos dos mortos certamente são difíceis. Muitas poucas pessoas sabem como usá-las, e aqueles que sabem não realmente tendem a deixar para trás muitos dados ou pesquisa. É por isso que muitas dessas acabaram terrivelmente assim. Ainda, elas são realmente bem valiosas como cobaias. Eu posso fazer o que eu quiser com elas. É uma verdadeira vergonha que a única coisa que eu consegui fazer até agora é dar à elas a habilidade de falar ao jogar algumas partes de monstros na mistura. Em seguida, eu acho que eu verei se eu consigo fazer com que elas possam pensar de novo.”

“…”
Apenas quem é essa?

A questão que correu pela mente de Shuria no que ela olhou para a mulher ao lado dela. Os olhos de Shuria contaram para ela que era Yumis, sua gentil irmã mais velha, mas a mente de Shuria simplesmente recusava a acreditar que isso era verdade.

Yumis nunca faria esse tipo de expressão. Nem ela diria alguma vez nada tão horrível.

“Oh, qual é, se anime. Por que você parece estar toda assustada? Hoje não é o dia que você finalmente vai ver sua mãe e irmãzinha de novo? Vamos lá, elas estão bem por aqui.”

“Shu… pa…” 

Yumis segurou Shuria pela sua mão no que Shuria ficou embasbacada. Shuria tentou resistir puramente por reflexo, mas Yumis superou em força Shuria e a arrastou para segui-la.

“Agora, por que você não aproveita essa reunião emotiva sua?”

“Kyah! O-o que você está dizendo, Yumis? Yumis!?”

Yumis jogou Shuria na cela que ficava lá no fim da prisão. Shuria apressadamente usou suas mãos para quebrar sua queda, e por causa disso, acabou derrubando o animal de pelúcia que esteve segurando. Shuria se virou, apenas para ver a porta da prisão fechada atrás dela.

Dentro da cela, com Shuria, estavam dois dos morto-vivos cuja espécie Shuria ainda tinha que discernir.

“Hii…!!”

Assim como os outros, os dois diante de Shuria tinham sua pele escurida coberta numa camada de gel. Shuria não tinha ideia do que eles eram no começo, mas dar uma olhada mais de perto permitiu que Shuria finalmente percebesse que eles de algum modo lembravam pessoas com todos seus quatro membros cortados fora. Seus peitos tinham leves protuberâncias neles, e as partes que pareciam ser suas cabeças tinham uma leve lembrança de um rosto.

Eles tinham dois buracos por volta de onde um nariz humano estaria, e apesar de não terem lábios, eles tinham dentes exatamente como pessoas os teriam.

Os dois com quem Shuria estava enjaulada eram levemente diferentes do resto. Eles não gemiam da mesma forma infernal que todos os outros faziam. Ainda, eles eram morto-vivos. Eles não tinham olhos, mas de algum modo eles pareciam ter sentido Shuria, no que eles em breve começaram a se aproximar.

“Pa-parem…”

Um senso de horror atacou Shuria. Esta não era a primeira vez que Shuria havia encarado morto-vivos, mas Shuria havia perdido o poder que teria usado para se defender.

“N-não! Fiquem longe! Deixe Shuria sair daqui! Yumis! Yumis! Deixe Shuria sair!”

Shuria segurou as barras de ferro enferrujadas e desesperadamente gritou em terror, mas Yumis se recusou em ajudar Shuria. Ao invés disso, ela simplesmente ficou ali e sorriu de seu modo usual.

“Hey Shuria, você disse que você queria ver uma pedra de espírito, certo?”

“Huh?”

Yumis puxou um item de dentro de seu bolso, um enrolado apertado num pano selador. Ela desenrolou ele para revelar uma joia preta arroxeada.

“Es-essa coisa está… dando… a mesma energia mágica que sempre esteve no quarto de Shuria…”

“Oh, você consegue dizer? Ter Olhos Escarlates certamente parece conveniente.”

O sorriso dela se distorceu, e ao fazer isso, se tornou muito mais frio do que aquele que Shuria estava acostumada em ver.

“Você não está feliz que você finalmente pode ver um espírito? Este aqui é um pouco descolorido, mas ele ainda é um espírito independentemente.”

“『Wow, você é terrível. Isso realmente tem que ser a primeira coisa que você diz depois de não falar comigo por tanto tempo?』”

Uma voz saiu do que parecia ser do nada no que o mesmo tipo de energia mágica que o quarto de Shuria estava repleto começou a sair da pedra na mão de Yumis. Parecia ter tanto disso que poderia até ser visível com o olho nu.

A energia mágica, cuja cor nem Shuria conseguia discernir, girou antes de finalmente tomar uma forma.

“Isso é… um… demônio…”

Ele tinha uma gigantesca boca aberta e afiados dentes que pareciam presas. Seus chifres eram curvados para dentro como aqueles de uma cabra, e as asas que brotaram de sua cintura eram cobertos numa membrana preta avermelhada. Sua pele era preta e cinza, e tinha um tipo de textura áspera, como de rocha. A criatura era tanto uma fada, mas também não era uma ao mesmo tempo. Sua função fazia ela servir ao que era efetivamente a própria antítese de um anjo. O nome de sua espécie é difundido, e havia sido registrado em muitas peças de literatura. Resumindo, era um Demônio da Ganância.

“Ah… uh… ah…”

Shuria não entendeu o que havia acabado de acontecer.

Shuria havia falhado em compreender o cenário que havia se desenvolvido diante de seus próprios olhos.

“Não foi você que ficou todo putinho quando eu comecei a te chamar de espírito?”

“『Kekeke, isso é porque nós demônios não aguentamos ser amontoados com seus espíritos comuns de todo dia.』”

A voz da criatura era desagradável, quase soava como se estivesse falando tanto numa voz aguda como grave ao mesmo tempo.

“『Então ela deveria ser o último sacrifício? Oh, wow, ela até tem um pouco de sangue élfico misturado naquela alma dela. Porra, esse é um produto de primeira linha bem ali.』”

“Hiii… não…!”

O demônio lambeu seus lábios com sua língua coberta em saliva roxa, no que suas pupilas em formato de cruz se moveram em suas órbitas oculares.

“Me desculpe! Shuria não sabe o que ela fez, mas me desculpe! Por favor, não faça isto com Shuria! Por favor apenas ajude Shuria!”

“Oh, não se preocupe. Você não fez nada ruim o suficiente que exija uma desculpa.”

Yumis estendeu suas mãos através das barras de ferro e acariciou as bochechas de Shuria do seu jeito usual, gentil.

“Mas não tem o que fazer. Seu destino esteve decidido desde o mesmíssimo começo.”

“Huh…?”

“Sua vida e alma foram ambas uma parte do preço que eu paguei para ativar nosso pequeno feitiço de contrato para começo de conversa. E você acreditaria nisso? O demônio especificamente queria uma alma que viveu tudo até seus últimos momentos em alegria. Que pedido egoísta, né?”

“『Não, não, não, você entendeu tudo errado. Eu não sou egoísta, eu sou apenas um gourmet.』”

Yumis sorriu como ela sempre fez, mas a piscada da chama das vela que iluminava nossos arredores fez isso parecer extremamente distorcido.

“Vocês demônios com certeza amam dizer o que quer que vem à mente. Não foi você que começou dizendo ‘quantidade acima de todo o resto’? Nossa, você até me fez erradicar a vila inteira dela.”

“『Isso é só porque os tempos mudam. Lá trás, eu apenas realmente queria me encher. Eu queria comer o quanto fosse possível. Veja só, almas felizes são algo como uma iguaria, mas o tipo barato, distorcido e miserável é muito bom por si só. É meio como vocês humanos gostam de comer porcaria.』”

“O que… vocês estão dizendo…?”

Shuria não conseguia entender o que estava acontecendo.

Shuria não conseguia entender o que estava vendo.

Shuria não conseguia entender o que estava ouvindo.

“Oh, qual é, você não sabe que demônios são notórios pelo quanto eles demandam em troca de conceder um desejo, né? Este aqui queria 50 pessoas vivas diferentes, então eu decidi usar aquila vila sua. A população era um pouco grande demais, mas eu não podia apenas deixar sobreviventes, então eu trouxe eles para cá. Vamos lá, você não consegue ouvir como eles estão te recebendo? Eles estão muito mais animados do que o costume hoje.”

“Que!? Isso não pode… ser verdade…”

Shuria se virou para alguns dos morto-vivos e os observou mais cuidadosamente no momento que Shuria veio a entender as implicações do que sua irmã mais velha havia acabado de dizer.

Eles não pareciam mais humanos, ou nada como qualquer tipo de criatura que ocorreria naturalmente, nesse quesito, mas havia ainda um pouquinho de energia mágica que pertencia à alguém além dos morto-vivos. Ela estava apenas por pouco se segurando, mas ela estava lá de qualquer forma. E no que Shuria olhou para ela, Shuria veio a entender que ela reconhecia isso.

“Essa é… essa é a mana do Vovô Jas, e aquela lá é a da Vovó Ymir! Isso deve significar que vocês realmente fizeram…” 

O mundo de Shuria começou a embaçar.

Lágrimas começaram a se amontoar nos olhos de Shuria. Um estranho som de campainha começou a preencher os ouvidos de Shuria. Tudo que Shuria ouvia, Shuria ouvia duas vezes. Era como se o mundo inteiro tivesse começado a ter eco.

“Wow, você consegue dizer tudo isso? Esses Olhos Escarlates seus farão alguns materiais bons. De qualquer modo, eu terminei aqui, faça como quiser, mas tenha certeza de não se esquecer sobre nosso contrato. Você só pode ter a alma dela, não o corpo. Eu vou querer fazer uso do corpo dela.”

O mundo de Shuria se distorceu mais ainda.

Shuria esticou sua mão pela jaula numa tentativa de pegar a atenção de sua irmã, mas Shuria falhou em alcançá-la.

“Espere! Espere! Yumis! Yumisssss!!!”

Shuria gritou e gritou, mas Yumis não ligava. Ela nem uma vez olhou para trás depois de se virar e andar até a saída da masmorra.

Os passos dela lentamente sumiram; ela deixou Shuria sozinha com o demônio.

“『Kakakaka! Você ainda está pedindo ajuda para ela apesar de tudo que ela te fez? Cara, aquela mulher Yumis tem um ótimo gosto em como ela trata as pessoas. Ela nem piscaria se eu comesse alguém na frente dela. Ela ser uma humana com certeza faz isso ser um desperdício de potencial kekekeke.』”

“Você está mentindo! Yumis nunca faria algo assim…! E Shuria tem até prova! Minha mãe e Shellmy enviaram um monte de cartas para Shuria, e elas nunca mencionaram nada de ruim acontecendo com a vila!”

“『Huh? Ah, é, isso é porque foi o que eu ordenei que elas dissessem.』”

“… Huh?”

O que… ele acabou de dizer?

“『Por que você não tenta olhar para aqueles dois morto-vivos se você não acredita em mim? Seus olhos devem lhe contar exatamente quem eles são.』”

Isso não é possível.

Não tem como Yumis alguma vez ter feito algo tão horrível. Não tinha razão para ela fazer isso. Shuria esteve sendo uma garota tão boa.

“Ahh… Aahhhh… Aaahhhhhhhh!”

“『Qual é, você não esteve sempre indo e indo sobre o quanto você queria vê-las? Bem? Você não está apenas tããããão feliz?』”

Você não queria sempre ver sua amada família de novo?

Tudo se quebrou. O mundo inteiro parecia ter começado a ruir no que as palavras do demônio entraram nos ouvidos de Shuria.

“Nããããããããooooooooooooo!!”

“『Ukakakakakakakakaka! Ótimo. Isto é perfeito. Sua alma está parecendo tão deleitável e repleta com desespero que eu já posso sentir o gosto!!!』”

As criaturas morto-vivas para quem Shuria virou seu olhar eram sem dúvidas os membros da família com quem Shuria esteve sua vida inteira, a mãe e irmãzinha com quem Shuria sempre havia vivido junto e amado.

“『Quer saber, eu serei até legal o suficiente para lhe deixar ouvir as vozes delas uma última vez.』”

O demônio balançou sua mão e moveu um pouco de sua mana para Shellmy e minha Mãe.

“Vermelho…”

“Ou…ça…”

A área ao redor da boca delas começou a se mover de forma esquisita. Elas cerraram seus dentes algumas vezes antes de finalmente falarem as falas que eu havia ouvido apenas alguns dias atrás.

“Como você esteve indo ultimamente, Shuria?”

“Você sempre diz que está indo bem, mas eu apenas não consigo deixar de me preocupar.”

“Por favor… apenas… pare…”

A risada alta, cheia e desagradável do demônio sacudiu os poucos fragmentos intactos do mundo de Shuria e os esmagou.

“『Sabe, a razão pela qual você ainda pode reconhecer elas mesmo depois de tudo que elas passaram deve ser amor, huh? Oh cara, isso é rico. Quer saber? Eu estou feliz que nós nos encontramos.』”

“Você está mentindo… você tem que estar mentindo… o que Shuria fez de errado? O que Shuria fez para merecer isto…?”

“『Hehe, eu não estou mentindo naaaada. Você mesma não fez nada de ruim, mas aquela irmã sua com certeza fez. Apenas olhe para o que ela fez com sua preciosa família. Aposto que isso deixa ela excitada. Hahahaha, ela é ainda mais demoníaca do que a maioria dos demônios de verdade.』”

O corpo de Shuria ficou mole no que as sensações de Shuria começaram a deixá-la. Shuria até perdeu sua habilidade de sentir suas lágrimas no que elas desciam sua bochecha.

“Ent… endo…”

Shuria sempre viu o mundo como um local morno, gentil. Shuria havia pensado nele como uma coberta macia feita de seda.

Mas agora, isso mudou. O mundo inteiro havia sido revirado.

Todas as memórias mornas de Shuria haviam se transformado de fios de seda para agulhas afiadas. Elas começaram a perfuraram bem através de Shuria e causaram dor à Shuria.

(Foi tudo uma mentira. Foi tudo uma mentira desde o princípio. O sorriso dela, a gentileza dela e o tempo que nós passamos juntas foram tudo partes de uma teia de mentiras. A única razão pela qual ela deu livros para Shuria, a única razão pela qual ela levou Shuria para passear hoje foi para que ela pudesse continuar mentindo para Shuria, para que ela pudesse reforçar a ideia de que ela era a gentil irmã mais velha de Shuria.)

“Haha… hahahahaha. Que ridículo. A coisa inteira foi apenas uma farsa.”

Shuria foi tão idiota. Shuria não apenas confiou aquela puta que matou todo mundo na sua vila, mas também tratou ela como um amado membro da família de Shuria. Shuria havia deixado ela ser trancar Shuria num quarto e roubar todo seu talento por magia, mesmo quando ela havia transformado tanto a mãe e irmã que Shuria amava em um par de bagunças desfiguradas.

“『Está acontecendo? Você finalmente caiu nas profundezas do desespero?』”

“Calado! Queime, oh orbe de chama, Bola de Fogo…!”

Shuria tentou criar um projétil e disparar ele no demônio por fúria, mas a energia mágica que Shuria colocou no ataque acabou apenas se dispersando pelo ar sem tomar forma.

“Shuria… Shuria não pode nem conjurar mais isso…?”

Shuria havia perdido cada última gota de talento mágico que uma vez teve. Shuria não podia nem retalhar contra o demônio que estava prestes a consumir sua alma.

“Fufufu… Hahahaha… Hahahahahahahahahahahaaahhh!”

A situação em que Shuria estava era tão ridícula que fez com que Shuria risse. Uma risada seca encheu os arredores de Shuria no que lágrimas continuaram a despejar de seus olhos.

“『Uhihihi, parece que sua alma realmente vai acabar sendo uma bem deliciosa.』”

A visão de Shuria estava embaçada, mas Shuria ainda podia ver o demônio no que ele abriu suas asas.

“Por que…?”

Por que isto teve que acontecer?

Como as coisas acabaram assim?

Shuria sempre pensou que o mundo era um lugar maravilhoso. Mas Shuria não era mais capaz de acreditar nisso. Até suas memórias mais agradáveis haviam a muito tempo apenas virado outro espinho em seu sapato.

“『Bom, bom. Eu realmente amo uma alma cheinha de amargura.』”

“Shuria já teve o suficiente… Shuria não quer ver ou ouvir mais nada.”

“『Parece tão bom que eu não consigo deixar de querer comer neste instante. Na verdade, quer saber, já deu. É hora de eu cair de boca.』”

Cor havia começado a ser drenada do mundo ao redor de Shuria, mas o demônio, rindo e tudo, permaneceu sempre tão claro de qualquer forma. Ele estava lentamente estendendo seu braço em direção de Shuria. Shuria sabia que o momento em que ele finalmente alcançasse ela, sua vida estaria abandonada. No momento que ele alcançasse ela, isso tudo finalmente acabaria. E então, eu, Shuria, aguardei isso. Shuria simplesmente sentou ali e não fez nada no que seu último suspiro se aproximava mais e mais.

Mas então Shuria percebeu algo.

“『Oh? Você ainda planeja resistir?』”

“… Shuria não pode se deixar morrer. Shuria não deixará isto acabar assim.”

Apesar de Shuria querer desistir, Shuria acabou movendo seu corpo para trás numa tentativa de evitar o toque do demônio.

Porque Shuria percebeu que não estava satisfeita.

“… Shuria não perdoará ela. Shuria não perdoará aquela puta estúpida! Shuria jura que terá sua vingança e fará ela pagar de volta por tudo que ela fez com Shuria!”

“『Ohhh, nada mal mesmo. Aqueles que resistem até o fim acabam sendo ainda mais deliciosos do que os que não fazem isso.』”

Shuria não quer morrer.

Shuria não quer deixar tudo acabar.

Não assim.

Uma sede por retribuição cresceu dentro de Shuria e preencheu toda e cada fibra de seu ser.

Shuria odiava ela. Shuria queria matá-la tanto que Shuria não conseguia conter suas próprias emoções.

Shuria decidiu que Shuria não ia desistir, que Shuria teria sua vingança não importa o que.

E então, Shuria jurou um voto, um voto de vingança.

“… Shuria jura que Shuria matará todo mundo que se envolveu com Yumis. Shuria jura que matará todo mundo que alguma vez qualquer coisa para o benefício de Yumis.”

“『Minha nossa. Tenho certeza que ela se sentirá realmente machucada se você disser isso para ela. Hehehehe.』”

Shuria não sentia nada além de ódio pelo demônio que está diante dos seus olhos. Ele havia conspirado com Yumis e ajudou ela a trazer à fruição seus planos. Shuria queria rasgar ele, queimá-lo vivo, morder sua carne, afogá-lo e estrangulá-lo com as próprias mãos nuas.

Shuria queria fazê-lo sofrer, forçá-lo numa jaula de desespero em que luz nenhuma pudesse invadir. E Shuria queria que ele morresse ali.

Não.

Algo não está certo.

Shuria não quer apenas deixá-lo morrer.

Shuria queria fazer as honras.

Shuria queria matá-lo com suas próprias mãos.

Shuria sabia que não adiantava resistir, mas Shuria começou a jogar pedras no demônio. Quando acabaram, Shuria ao invés disso recorreu à areia.

Os pensamentos de Shuria estavam repletos com nada além de ódio, ódio por todos e tudo que haviam forçado o destino atual de Shuria nela.

Mas isso não importava.

Não importava o quão frustrada Shuria estava. Nem importava o quanto Shuria resistisse.

Nada ia mudar.

“Ugh… arghh…!”

O demônio pegou Shuria pelo seu cabelo no que ele lambeu seus lábios.

Shuria tentou sacudir ele fora, mas ele era forte demais. Shuria não conseguia escapar.

“『Não se preocupe. Ela me disse que ela ia usar seu corpo, então eu não irei te acabar muito. Eu só vou sugar sua alma para fora e pararei seu coração com meu veneno demoníaco.』”

“Solte… Shuria… seu monstro. Shuria vai te matar!”

Shuria arranhou desesperadamente os braços dele numa tentativa de fazê-lo derrubar Shuria. Shuria usou o máximo de força que podia. Shuria nem ligou em ter suas unhas arrancadas enquanto isso significasse machucar ele.

“『Kuhahaha. Já faz um longo tempo desde que eu tive uma alma de tão alta classe quanto a sua. Não se preocupe, eu terei certeza que você não ficará solitária. Eu até misturarei sua energia mágica junto com o que sobrou naquelas morta-vivas fracassadas ali.』”

O demônio soltou Shuria e estendeu sua mão na direção da mãe e irmã de Shuria.

“Ugh!? Pare…!”

“『Absorção Demoníaca.』”

Shuria não era capaz de entender o que ele estava murmurando, mas os resultados eram auto evidentes. Shuria não precisava de nenhum tipo de explicação.

Ele fez elas explodirem. Sangue vermelho se espalhou por toda parte no que os corpos delas foram destruídos. O que permaneceu deles era apenas um pouco de névoa preta, uma substância que o demônio sugou e absorveu.

“Seu cuzão do caralho! Como você ousa! Como você ousa!?”

“『Ora, ora, ora, o que quer que tenha acontecido com você? Você não estava apenas tentando ficar o mais longe que pudesse de mim? Agora olhe para você. Eu acho que isso deve ter sido meio chocante para se ver.』”

O demônio sorriu.

“『Não fique preocupando tanto sua cabecinha. Você logo se juntará à elas no meu estômago.』”

Lágrimas de raiva e frustração mais uma vez fizeram a visão de Shuria embaçar no que Shuria gritou com ele e repetiu as mesmas questões de novo e de novo.

Por que, como pôde acabar assim?

Shuria não fez nada de errado, então por que isto teve que acontecer?

“Isso não pode acabar, não assim…”

Aquela puta ia continuar usando Shuria mesmo depois que ela morresse. Ela ia fazer com Shuria o que ela fez com os membros de sua família.

Ela ia transformar Shuria num ingrediente e usar os olhos de Shuria para criar algum tipo de item mágico. Ela ia usar Shuria para seus experimentos antes de finalmente transformar Shuria numa morta-viva.

Shuria estava muito mais frustrada pelo que Yumis ia fazer com Shuria depois que Shuria morresse do que o fato de que Shuria ia morrer.

Onde foi que Shuria errou?

Como Shuria acabou aqui, de todos os lugares?

Apenas quando Yumis decidiu primeiro que ela trairia Shuria?

“『De qualquer jeito, de qualquer jeito, chega disso. É hora de eu comer você, e de verdade desta vez.』”

O jeito que o demônio sorriu fez Shuria recordar o próprio sorriso de Yumis.

『Então você é Shuria? Prazer em lhe conhecer. Eu sou Yumis, sua irmã mais velha.』

Especificamente, parecia exatamente com aquele que ela tinha quando nós nos encontramos pela primeira vez. A semelhança era tão marcante que a voz dela até começou a ecoar pela minha cabeça.

(Isso… foi provavelmente quando tudo começou…)

“Shuria jura… Shuria jura… Shura vai matar ela.”

“Ô desgraça. Eu não consigo acreditar que suas circunstâncias são realmente similares assim com as minhas próprias. Isto tem que ser alguma piada do caramba, e uma terrível, nisso.”

“Huh…?”

Shuria viu algo brilhar no que as barras da prisão foram cortadas abertas. Os postes de metal caíram e começaram a rolar. Os braços do demônio, que estiveram bem diante dos olhos de Shuria, caíram no chão no que eles foram separados de seu corpo.

A pessoa que havia causado a mudança súbita era um espadachim de olhos e cabelo pretos.

Seu rosto era um familiar, mas também não era ao mesmo tempo. Seu corpo, que Shuria havia conhecido como sendo espiritual, havia se tornado com um forma física.

“Kai… to…?”

“E aí. Faz um tempo. Estou aqui para lhe ver de novo, assim como prometido.”

Ele respondeu à questão que Shuria não conseguia parar de se perguntar em um tom casual.

“『Quem diabos é você? Você não sabe que é rude interromper, humano?』”

Kaito se virou para encarar o demônio no que ele fez sua questão.

“Eu adoraria abrir com ‘pode ser bem presuntuoso para eu disser’, ou algo assim, mas eu na verdade estou aqui para fazer um pouquinho de uma iniciativa de recrutamento hoje, então eu me conterei.” 

Em sua mão havia uma única lâmina azul-prata com duas bolas laranjas felpudas penduradas no fundo de sua guarda.

“Eu sou alguém que veio de longe pela única razão de torturar a puta que te invocou até a morte.”

Ele ergueu sua lâmina e apontou ela para o demônio, no que seus lábios começaram a se curvar para cima. O sorriso negro no rosto dele estava tão cheio de sua paixão queimante que Shuria quase queria chamar isso de heroico.

“Eu sou ninguém menos do que o tolo que eles chamam de Nidome no Fukushuusha.”



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