Volume 1
Capítulo 13: O Filho Perdido de Eldoria
[A Toca dos Leões, 16 de Junho de 812 da Era Mágica]
O dia amanheceu. Eu já estava acordado antes mesmo dos primeiros raios solares começarem a invadir as frestas por entre as cortinas da janela. Miyuki estava deitada ao meu lado em um sono profundo sem se quer imaginar que não demoraria muito tempo para que não estivesse mais junto a ela.
Em anos de ataques, pilhagens e destruições daqueles que não tiveram como se defender das ações covardes de Algardia, essa seria a primeira vez que as bandeiras seriam levantadas em prol de uma ação defensiva de resistência. Sentia que minha mente não estava pronta para assumir tamanha responsabilidade, e que muito menos estava completamente saudável devido a tudo o que descobri e vivenciei nesses últimos anos. Mas além de todos os problemas, sentia que tinha que assumir o dever de fazer alguma coisa. Não só por respeito a minha família destruída, mas também por todos aqueles que se foram tendo esperanças de um dia melhor.
Sentado naquela cama com a mão sobre o rosto, eu sentia uma enorme vontade de chorar, mas por algum motivo as lágrimas não saiam, e a dor permanecia em meu peito de uma forma incompressível e insuportável. Estava mais do que claro para mim o quanto eu ainda sofria pelas perdas que tive naquele maldito dia, e da mesma forma que esse sentimento me trazia dor e amargura, ele também me trazia uma chama vingativa da qual eu não conseguia controlar.
Força de vontade eu tinha de sobra para fazer algo a respeito, mas ao mesmo tempo vários questionamentos pairavam sobre a minha cabeça.
”E se eu falhar? O que poderá acontecer?”
“Se eu não tiver mais forças? Como eu vou poder continuar?”
“Não seria melhor levar Miyuki comigo e fugir de tudo isso?”
“Não posso fugir, muita gente vai morrer se eu não fizer nada a respeito”
A negação pode ser algo incrivelmente forte caso você esteja entre a cruz e a espada, e saber lidar com isso mentalmente sozinho é um desafio e tanto. O quarto logo começou a clarear, mesmo estando com as cortinas fechadas. Havia chegado a hora de levantar, se preparar e fazer o que tinha que ser feito.
[...]
Trajado mais uma vez com minhas vestes de combate, todos os soldados que haviam se reunido no quartel general naquela manhã abriram espaço para eu passar, fazendo um corredor que me levava até onde Dominic, Bhalasar e Saadreen estavam. O local era um enorme saguão, onde havia um palco junto um palanque, onde Dominic se preparava para discursar para todos os soldados antes de ir.
Dominic estava usando uma armadura de placa completa, onde duas cabeças metálicas de leão formavam suas ombreiras. Um escudo enorme contendo a imagem de um leão se fazia a sua frente, junto com a espada que estava embainhada na parte de trás do mesmo. Cobrindo suas costas havia uma capa avermelhada com detalhes em dourado, onde estampando ao seu centro estava o Brasão de Armas da Resistência Leonina. Em volta do seu pescoço havia uma enorme pelagem felpuda que cobria e escondia a parte metálica que o protegia. Ele estava completamente pronto para uma batalha intensa, e acreditava tanto na vitória dessa expedição que não se limitou a utilizar a melhor armadura que tinha. Tudo ali era de extrema qualidade, desde as grevas subindo até às manoplas.
— Leões de Thâmitris! — Os guerreiros reagiram a Dominic com um poderoso grito uníssono em resposta. — Hoje é o dia em que esse mundo conhecerá os primeiros ares de mudança e prosperidade! A liberdade é algo que nunca deveria ser retirada de ninguém, e por ela iremos lutar no dia de hoje. Com nossa vitória, traremos a atenção de Algardia para nós, e provavelmente as coisas ficarão cada dia mais difícil. Mas acima de qualquer coisa, caberá a nós proteger tudo aquilo que amamos e acreditamos, pois Algardia precisa ser parada.
Os soldados prestavam atenção nas palavras que Dominic lhes dizia. Ele parecia extremamente determinado naquilo que gostaria de transmitir e transpassar, afinal, aquele era um dia importante para todos em Thâmitris. Um ataque surpresa que a depender de seu resultado, mudaria o curso de toda a história que estava sendo contada até então. Não era apenas uma questão de crença, justiça e valores, era também uma guerra movida por ódio, vingança e desgosto.
As famílias que se foram não voltarão para os braços daqueles que ficaram nesse plano, e por isso, é compressível que eles se agarrem ao único objetivo que havia lhes restado. Derramar o sangue daqueles que os haviam atacado.
— Se não formos nós, ninguém vai ter coragem de fazer o que estamos fazendo! E precisamos ser fortes, corajosos e determinados. Pois a morte andará lado a lado com conosco a partir desse dia. Desde já é uma honra estar com todos vocês, e caso eu não morra cedo em campo de batalha... Lembrarei e honrarei cada um de vocês diante ao meu escudo leonino sagrado. — Dominic ergueu brevemente seu escudo o batendo no chão para fazer um barulho metálico ecoar por todo aquele lugar — Hoje! Tenho plena certeza da nossa vitória, pois estamos sendo abençoados pela deusa águia dourada! Pois seu portador veio até nós, assim como eu gostaria. Príncipe Magnus Wingsfield! Gostaria que você dissesse algumas palavras. Por favor.
Fui pego de surpresa por aquele pedido, mas logo comecei a caminhar até o palanque onde Dominic estava. Ele desceu me deixando sozinho ali. E uma vez olhando para aqueles soldados que não eram muitos, percebi que em seus olhos havia um brilho determinado, fazendo com que suspirasse ao fechar meus olhos. Eu estava diante de verdadeiros heróis que dariam tudo o que tinham para ver as próximas gerações viverem longe das garras do Império Algardiano. E isso foi extremamente inspirador.
— Após a queda de Eldoria eu confesso ter vivido tempos em que o medo havia me dominado por completo. Havia perdido o propósito da minha vida por não ter conseguido cumprir com minhas promessas, por não ter conseguido fazer o papel que me havia sido dado. — Coloquei a mão sobre o pomo da minha espada embainhada na cintura ainda observando cada um deles. — Mas agora depois de ver o brilho de esperança que havia perdido no olhar de cada um de vocês, tenho plena certeza de que estou diante de verdadeiros heróis! Determinados a mudar o rumo da história. Hoje daremos início a uma nova vida que ainda há de nascer em Thâmitris, e por esse motivo quero que lutem com honra, justiça, amor, por liberdade e um futuro melhor que aqueles que se foram pelas mãos de Algardia não puderam desfrutar enquanto estavam vivos. Por tudo aquilo que vocês desejam honrar, deixe que a fúria tome conta de vocês. Mas não retirem do coração o herói que cada um aqui é no mais profundo desejo de trazer um dia melhor para quem amamos ou iremos amar. Era isso que meu pai me dizia. E é nisso que vou acreditar. Conto com cada um de vocês em campo de batalha.
Um silêncio ensurdecedor se fez por vários segundos, pois acreditei que ninguém estava sabendo como reagir depois daquelas palavras, e eu não os julgava.
— POR DIAS MELHORES!!!! — Um dos soldados ergueu sua espada com um grande sorriso corajoso em seu rosto.
— POR UM FUTURO DE ESPERANÇA!!! — Mais um soldado havia feito como o outro.
— PELA PROSPERIDADE E GERAÇÕES QUE VIRÃO!!! — Outro soldado ergueu sua lança com o mesmo intuito. E assim, pouco a pouco todos começaram a erguer suas armas em resposta.
Aqueles soldados gritaram com as armas erguidas, e então colocaram seus punhos fechados sobre o peito, ajoelhando-se diante de mim. Dominic se aproximou colocando a mão sobre meu ombro, enquanto Bhalasar e Saadreen se juntaram aos soldados.
— Eles estão prontos. Querem que você os abençoe com a aprovação de Halwking. — Dominic terminou assentindo com sua cabeça para mim, e então se juntou a eles também.
Por um momento minha mente começou a se lembrar de todos os questionamentos que havia feito anteriormente. Mas ali estando perto deles, o medo parecia já não fazer mais sentido, e antes mesmo que percebesse, eu já havia erguido minha mão direita em direção a eles, deixando com que a benção de Halwking começasse a transbordar pelo meu corpo, fazendo com que a íris de meus olhos ficassem completamente brilhantes e douradas.
Aquele era o momento em que eu poderia iniciar minha própria jornada de redenção pessoal, e com isso em meu coração logo deixei que as palavras da oração a Halwking saíssem naturalmente de minha boca. Um manto dourado de mana pairou acima da cabeça dos guerreiros explodindo gentilmente em várias partículas que caíram lentamente sobre todos ali presentes.
— Que as Asas de Halwking protejam cada um de vocês. — Olhando para eles fiquei um pouco mais esperançoso em nossa vitória.
[...]
Durante nossa partida, me foi dado à missão de organizar os pelotões e a cavalaria que iria seguir na frente da infantaria. Quando todos estavam organizados e prontos para partir Dominic apareceu montado em seu Mangalarga Marchador de cor branca. Um cavalo elegante e muito astuto para o que havia sido treinado para fazer é conhecido por sua incrível inteligência e habilidade com saltos e corridas, além de ser muito forte. Estava coberto com uma armadura leve de placas, junto a um manto vermelho com o Brasão de Armas Leonino, além de um cabeçote de placa metálica para sua proteção, seguido de um ornamento com penas grandes alaranjadas.
— Oh!! Vamos com calma Maximus! Ainda não estamos tão desesperados. — Brincou ele ao segurar o cavalo pelas rédeas. Ele sorriu para mim e então me cumprimentou juntou ao relinchar de seu cavalo. — Magnus! Eu tenho um presente pra você! Não comentei nada sobre ele para guardar segredo e para não atrapalhar sua linha de raciocínio estratégico.
— Para mim? O que seria? — O questionei terminando de ajustar a armadura de um dos soldados. — Pronto rapaz, pode se juntar ao seu pelotão novamente.
— Queira me acompanhar, por favor! — Ele então se virou junto a seu cavalo na mesma direção de onde havia vindo. E assim o segui, indo logo atrás de seu cavalo.
Nosso destino final foi o estábulo onde os cavalos haviam sido tratados e cuidados antes de estarem com seus devidos cavaleiros. Era uma das poucas estruturas que se projetava para fora daquela ravina. Dominic me levou até a parte de trás do local, onde um enorme campo aberto cercado por uma cadeia de pedregulhos e paredes de pedra se faziam iluminados pelo sol. Havia um pequeno lago ali presente, e algumas pedras grandes assentadas no gramado verde. Mas o que estava me chamando a atenção diante toda aquela paisagem era um ser parrudo de pelagem negra, pois era a única coisa que destoava naquele lugar. Estava pastando enquanto balançava sua enorme e linda cauda de pelos desfiados. Em toda extensão de seu pescoço havia uma crista grande da mesma cor do seu corpo, bem como em seus cascos que também eram adornados por uma pelagem menor a sua volta.
— Um Mustang negro? — Perguntei a ele arqueando a sobrancelha.
— É... Exatamente! Se conseguir domar aquela fera ali. Ela será toda sua! — Dominic desceu de seu cavalo, o segurando pelas rédeas. — E então? Gostaria de tentar? É o único cavalo que nem eu e nem meus homens conseguiram deixar dócil. Ele é bem... Temperamental eu diria.
— De fato é um belo cavalo. Eu poderia tentar, mas domar um cavalo e deixá-lo dócil vai demandar tempo. — Cruzei os braços o observando, e assim que o olhei mais atentamente percebi que ele estava me olhando de canto, como se já estivesse se preparando para me dar um coice a qualquer momento. — É... Não vou negar que ele é um tanto sinistro.
— Não precisa usar ele no dia de hoje caso não consiga nenhum progresso... Terá muitos dias para tentar quando voltarmos. — Ele colocou a mão em meu ombro.
— Eu vou ficar aqui e tentar uma aproximação com ele. Pode terminar de organizar os soldados? — Sem tirar o olho do cavalo, fiz o pedido a Dominic que assentiu com a cabeça.
— Boa sorte! — Ele então montou em seu cavalo novamente e seguiu de volta para o local de onde havíamos vindo.
Observando aquele imponente cavalo logo de cara percebi que não seria uma tarefa fácil, afinal era um Mustang arisco. Adentrei o local devagar para tentar não assustá-lo, mas seu olho continuava fixo em mim. Já havia percebido que ele era muito corajoso e não era de recuar em meio ao perigo.
Quando menor, meu pai me ensinou como se aproximar, domesticar e cuidar de um cavalo, foram momentos que nunca esquecerei em minha vida, e que com toda a certeza gostaria de reproduzir algum dia se tivesse filhos. Lembro-me perfeitamente da primeira vez que montei no cavalo do meu pai. Ele guiava o cavalo com as rédeas, enquanto me divertia sentado em sua sela.
Por algum motivo ao me aproximar cada vez mais daquele cavalo sentia uma conexão forte com ele, era como se o destino já tivesse preparado aquele momento para nós.
“Lembre-se sempre Magnus. Você não escolhe seu cavalo, é o cavalo que vai se afeiçoar a você. É algo natural, que às vezes pode demorar, mas quando acontece, você nunca mais estará sozinho”
Por um momento, um flash de memória passou pela minha mente, era meu pai dizendo tais palavras enquanto estava sentado em seu colo.
O Mustang não recuou ao me aproximar, e quando finalmente me coloquei parado diante a ele, o mesmo levantou sua cabeça para me encarar por alguns segundos. Tentei aproximar minha mão de sua cabeça, mas de forma arisca ele relinchou, ficando sob duas patas de uma forma magnificamente linda, e então passou por mim correndo diante naquele gramado. Depois de toda essa apresentação ao vivo para mim, não tinha como não estar com um grande sorriso no rosto, e aquele com certeza seria o meu cavalo.
[...]
Ao retornar para o local onde as tropas já estavam prontas para partir, vi que tudo estava organizado para que déssemos início a expedição. Os portões alternativos que levavam para o lado de fora foram abertos, e logo Dominic ordenou para que seus homens marchassem com força total.
As pessoas que ali ficaram nos saudavam com palavras de incentivo e apoio. Lenços eram balançados e as bandeiras carregadas pelos soldados logo foram hasteadas. Na frente do enorme portão aberto, Miyuki, Ursula e Fenrir nos aguardavam, Dominic se aproximou junto a mim, enquanto Sadreen e Bhalasar guiavam as tropas para fora.
— Devemos voltar em menos de dois dias. Não é pra ser uma campanha de larga escala. — Dominic explicou a elas que prestaram atenção em suas palavras.
— Voltem em segurança, o mundo não poderá contar com vocês se morrerem logo na primeira campanha. — Ursula sorriu ao tentar esconder sua preocupação. — Eu fiz esses medicamentos para vocês. São feitos com uma erva rara só encontrada nos domínios Eiyonianos. Miyuki me ajudou a fazê-los hoje de manhã.
— Eu agradeço. — Dominic pegou gentilmente o frasco que lhe foi entregue, e então Ursula se aproximou agarrando sua mão. — Eu vou voltar. Eu prometo.
— Eu confiarei em você. — Então soltando sua mão, ela se afastou de seu cavalo. — Lorde Magnus! Eu confio em você também.
Assentindo com a cabeça a ela, peguei o frasco que me foi entregue da mesma maneira, e então o guardei em uma das minhas bolsas táticas. Após isso Miyuki se aproximou de mim, estava trajada com suas vestes de Serviçal de Combate. Ficamos ali nos entre olhando por alguns segundos, até que ambos sorrimos porque já sabíamos o que íamos dizer um ao outro.
— O primeiro passo finalmente está sendo dado. — Disse a ela orgulhoso do meu progresso até ali. — O que meu pai estaria pensando nesse momento?
— Ele estaria orgulhoso Lorde Magnus. Você está se tornando o Guardião que Eldoria queria que você fosse. Volte em segurança. — Usando suas mãos, ela pegou firmemente a minha. — Eu farei a proteção de todos aqui junto a Fenrir enquanto estiver fora. Pode confiar em mim para isso?
— Acho que não é nem preciso perguntar. — Lentamente nos aproximamos até que finalmente nossas testas tocaram-se. — Dominic e Ursula se entreolharam sorrindo e então nos deixaram a sós naquele momento especial.
— Eu vou voltar. E trarei essa vitória em nome de todos aqueles que acreditam em uma nova esperança. — Nosso olhar estava fixo um no outro.
— Eu sei que vai. — E então finalmente um beijo apaixonado foi dado, iniciado por ambas as partes.
— Magnus! Não querendo atrapalhar... Mas temos que ir! — Gritou Dominic ao lado de Bhalasar e Saadreen que começaram a rir.
Olhei para eles com certo ódio, enquanto Miyuki começou a rir. Como ato de despedida nós nos abraçamos uma última vez, e então corri para me juntar a eles, aonde me foi dado um cavalo para que o montasse.
Passamos pelos portões que se fecharam assim que saímos, e então começamos a correr em meio ao enorme e largo túnel iluminado por tochas, que levava até o lado de fora daquela ravina escondida na montanha. Finalmente o brilho do dia foi visto ao fim do túnel, e uma vez estando lado de fora, minha visão foi completamente preenchida com a luz do sol precisando usar meu antebraço para proteger minhas vistas. Porém, quando minha visão se acostumou observei os batalhões já prontos e organizados para o início da expedição, apenas esperando o chegar daqueles que os iriam guiar rumo ao objetivo.
Todos ali ergueram suas armas e estandartes contendo as bandeiras da resistência assim que nos viram, então fizemos o mesmo, com Bhalasar erguendo sua enorme espada que estava encaixada a um gancho em suas costas. Sadreen por sua vez amarrou uma bandeirola azul na ponta de sua lança para representar seu povo, e logo a ergueu assim como todos estavam fazendo. Puxando minha espada da cintura, olhei o meu reflexo em sua lâmina por alguns segundos, enquanto que Dominic ao meu lado, puxava sua espada que estava embanhada diretamente em seu escudo, apontando-a para seus guerreiros montado em seu cavalo.
Finalmente levantei minha espada fazendo-a brilhar intensamente ao apontá-la para cima, onde uma enorme figura de águia dourada se fez, entoando um enorme grunhido ao abrir suas asas.
[...]
Algumas horas se passaram desde o momento em que havíamos começado a caminhar. Todos permaneciam alinhados e organizados, marchando de forma disciplinada e focada, para que assim ninguém se perdesse ou deixasse em aberto alguma falha defensiva caso fôssemos atacados.
Dominic estava na frente junto com a cavalaria, que liderava toda a infantaria que vinha a atrás. As três Manganelas que pedi para serem construídas, vinham logo atrás de todo o exército, sendo empurradas e puxadas por alguns homens que ficariam responsáveis por manuseá-las, protegê-las e fazer as devidas manutenções antes e depois dos combates. Aquelas armas eram de extrema utilidade, uma peça chave para as situações ao qual havia pensado.
Liderando a infantaria estava eu, Bhalasar e Sadreen, e atrás das linhas de frente estavam os arqueiros. Bhalasar estava trajando uma armadura de placas completa e extremamente pesada. Suas características eram bem marcantes, já que ela era inteiramente negra, com adornos e ornamentos em dourado, porém com vários detalhes em um carmesim ardente. Por cima do seu peitoral havia um manto vermelho com um dragão preto bordado, bem como sua enorme capa vermelha que cobria suas costas e ficava em baixo de sua gigante espada. Havia detalhes vermelhos em suas manoplas, além de correntes douradas em sua cintura e acima de suas ombreiras. Em seu cinto estava bem preso uma faca e uma espada menor que permanecia embainhada. Para completar havia um elmo negro ornamentado que ele segurava em suas mãos. Seu capacete já tinha algumas marcas de batalha, como uma clara tentativa de ataque contra seu olho, mas apenas deixou uma lembrança que ficou cruzada em seu visor. O elmo era completamente fechado, deixando apenas duas aberturas para os olhos do usurário, mas a característica principal era o fato de que ele havia sido feito exclusivamente para Bhalasar, perfeitamente moldado para sua cabeça. Os adornos do elmo incluíam vários espinhos nivelados que começavam entre seus olhos e subiam até o topo do capacete onde uma base dourada segurava uma pluma vermelha que subia de forma longa caindo para baixo enquanto afinava. Por sua vez, a enorme espada as costas de Bhalasar não deixava a desejar. Tratava-se de uma poderosa Zweihänder, muito bem forjada e feita para um homem das capacidades daquele Draconiano. Seu pomo e guarda mão eram dourados, a empunhadura estava completamente coberta por couro da cor preta, enquanto que toda sua lâmina tinha uma cor incrivelmente avermelhada. Desenhada na parte achatada da lâmina havia um dragão cuspindo fogo, que se estendia até a ponta daquela grande lâmina.
— Está ansioso meu Lorde? — Comentou Bhalasar ao perceber que estava prestando atenção em sua armadura.
— Sua armadura é um pouco diferente das que estou acostumado a ver. — Bhalasar sorriu mostrando seus caminhos anormais, enquanto mantinha seu passo firme.
— Ela é feita de placas metálicas e carapaça de dragão. Um dragão que matei com minhas próprias mãos pra ser mais exato — Fiquei surpreso com aquela afirmação, afinal, eu sabia que Bhalasar era extremamente forte. Mas quão forte ele realmente era? — Serei a sua espada e a sua mão forte! Não se preocupe!
— Eu agradeço. — assenti a ele em agradecimento.
— Acredito que eu possa ser muito útil nessa batalha também Lorde Magnus! — Sadreen comentou ao olhar para nós dois conversando. — Peço que confie na minha lança.
Olhando mais atentamente para aquele loiro, percebi que o mesmo tinha uma cicatriz em sua testa, fazendo com que sua sobrancelha esquerda ficasse falhada. Também estava trajando uma armadura completa de placas, sua coloração era prateada com adornos em dourado. Uma enorme capa azul estava sobre suas costas e em volta do seu pescoço havia uma quantidade significativa de pelagem branca. Por mais que sua armadura fosse significativamente cheia e volumosa, ela parecia extremamente flexível e ágil para um combate rápido. Transpassado em seu peitoral havia um cinto de couro em formato de "Y" que prendia as suas ombreiras e terminava se prendendo ao cinto que contornava sua cintura, onde uma espada comum estava bem presa ainda na sua bainha.
A armadura continha grevas, manoplas, placas laterais na região da sua cintura além de uma saia de tecido azul com ornamentos em dourado que cobria as costas e suas pernas, deixando aberta somente a parte da frente. Sua lança era relativamente grande, deveria passar um pouco de 2 metros e meio de comprimento do seu pomo até a ponta da lança. A haste era feita completamente de metal maciço ornamentado, cheio de entalhes e padrões desenhados. Havia uma bandeirola azul amarrada abaixo da sua ponta letal. Uma empunhadura central em couro negro se encontrava na haste, adornos de anéis dourados também se encontravam acima do pomo e abaixo da ponta. O pomo por sua vez crescia de forma simples, porém mortal se bem utilizado, já que imitava a ponta principal da lança de uma forma menor e mais compacta. Já sua ponta principal era uma lâmina de dois gumes muito afiada que começava larga e terminava afunilada, seguindo linhas que imitavam espinhos em sua base. Na parte achatada da lâmina é possível ver ornamentos em dourado, e a cabeça de um lobo bem talhada.
— Obrigado Sadreen, vou contar com você. — Coloquei minha mão sobre seu ombro como um gesto amigável. — Deixe-me perguntar... Por que um lobo na sua lança?
— Antigamente meu povo vivia nas terras gélidas do norte. Por isso nosso Deus patrono era o próprio Fenrir. Inclusive eu gostei muito de seu lobo, ele lembra muito o Deus Lobo do Norte. — Sadreen me explicou enquanto caminhávamos. — Após as campanhas militares de conquista de Algardia terem seu início nosso povo optou por se dividir e se misturar a outras nações restantes, a fim de proteger nosso legado. Acredito em meu povo... e sei que essa foi a melhor escolha. Mas não posso negar o fato de que sinto raiva de minha nação por ter sido desmantelada pelo medo. Quando isso aconteceu eu ainda não era nascido, mas afinal sou filho de um homem e uma mulher que me ensinaram tudo o que sabiam. E morreram pelas mãos da invasão Algardiana defendendo sua paixão por nossa cultura materna.
— Espera... Então... Você era residente de qual Reino quando seus pais foram atacados? — Ele claramente não estava no norte quando tudo aconteceu, afinal, esses acontecimentos ocorreram em um passado mais distante.
— Vai ser um prazer servir ao estandarte de Eldoria mais uma vez Príncipe Magnus. — Ele então colocou seu punho fechado sobre o peito e se curvou rapidamente em respeito.
Aquilo havia me pegado de surpresa, pois Sadreen era um filho perdido de Eldoria. E isso só me deu mais certezas de que o antigo caído Reino de meu pai não era só apenas um reino comum, mas um lar para todos aqueles que buscavam proteção e um lugar para viverem suas vidas em paz.
— Você é um Eldoriano refugiado. — Olhei para ele incrédulo, enquanto ele apenas assentiu com a cabeça.
— Eu era filho de dois camponeses que moravam afastados da parte central do Reino de Eldoria. Com eles eu aprendi a ser um guerreiro nórdico, tudo sobre minha cultura matriz e a sobreviver. Mas quando tudo aconteceu, eu não pude fazer nada, meus pais me protegeram e deram tempo para eu fugisse e lutasse pela minha vida. Enquanto eles deram a deles por mim. — A expressão dele ficou um tanto entristecida durante aquela conversa. — Eu ainda era adolescente, e tinha medo dentro de mim. Corri o mais rápido que pude em direção as muralhas do Reino onde vi com meus próprios olhos o cair de Eldoria. Quase fui pego em uma emboscada, mas por sorte fui salvo por sua mãe. A Rainha me protegeu utilizando seu arco, e me mandou ir junto aos refugiados para longe dali, enquanto ela corria para dentro das muralhas novamente. Desde então eu sinto a culpa pela perca dos meus pais e por não ter sido útil na proteção da nação evitando o destino horrível de que o povo nórdico tentou se proteger. E por isso, trabalhei duro para me tornar o melhor guerreiro que poderia, para que eu não volte a cometer os mesmos erros do passado.
Coloquei a mão sobre seu ombro em sinal de força, enquanto o mesmo assentiu ao sorrir para mim. Sadreen tinha grande potencial, além de um enorme coração. E com toda a certeza foi um achado que nunca irei me arrepender por mantê-lo por perto.
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