Os Raios de Lost Sun Brasileira

Autor(a): Gil Amorim


Volume 1

Capítulo 4: Quanto tempo o tempo tem?

Após um dia inteiro de cavalgada, Escorpião-Sorrateiro e eu chegamos ao nosso destino. Era uma pequena vila, menor que as outras em que estive. Não consegui ler a placa, pois estava bastante desgastada.

Desci do cavalo, amarrei-o e peguei o diário na bolsa. Li discretamente distante do meu colega.

Isso está me cheirando a uma competição! Aposto que o xerife maldito quer que disputemos. “Aquele que conseguir capturar o alvo primeiro e trazê-lo a mim vence!” Aposto que é isso! Não posso bobear e perder para Escorpião-Sorrateiro!

Lancei um olhar julgador ao longe na direção do caçador. Ele Notara. Virei a cabeça tentando disfarçar. Voltei-me ao diário.

“Elizabeth McDonald”. Esse é o nome da mulher que tenho que matar.

O diário continha diversas ilustrações da cabeça-prêmio. Era uma bela mulher. Havia também ricos detalhes da sua vida, hábitos, gostos, etc. Como poderiam saber tudo isso?

Aqui diz que ela mora numa fazenda a 10 milhas daqui.

— Vamos lá, Vento-Galopante! Desculpa, amigo, sei que não deixei você descansar direito, mas temos que correr. — O cavalo bebia a água de um cocho aos pés de um estabelecimento.

Desatei a correia do freio que estava presa a um piquete e subi no animal. As minhas botas eram desprovidas de esporas, afinal não era necessário. O simples ato de subir na montaria acionava seu senso de direção e o mesmo dirigia-se ao destino quase que magicamente.

Ao aproximar-me do local dei o comando para que Vento-Galopante parasse.

A fazenda tinha um porte médio. O casarão mais ao fundo possuía dois andares e um belo jardim de frente. Era fortemente guardada por pistoleiros. Da distância em que os observei, contei pelo menos de seis.

Aquela missão cheirava a mais uma daquelas típicas abordagens suicidas. Quase me dei muito mal da última vez que resolvi encarar o perigo de frente.

Dirigi-me à uma mata próxima a fim de montar um acampamento e fazer o reconhecimento do lugar.

Rancho do Touro Amarelo... que nome mais estranho...

As informações do diário contavam com ilustrações precisas do estabelecimento. Inquestionavelmente, a equipe de reconhecimento de Lost Sun era deveras aplicada. Aquilo me dava cada vez mais medo.

“Roteiro da missão. É imprescindível que siga-se à risca as orientações aqui descritas.

Ao meio dia uma carroça de suprimento virá da cidade. Encontre-se com o condutor e apresente-se com seu codinome ‘Coiote-do-Deserto’. Ele te guiará a partir daí.”

— C-como eles sabem de tudo isso? Parece até que podem enxergar o futuro! Tinham tudo planejado de antemão...

Fazenda do Touro Amarelo. Por volta das onze horas da tarde.

Olhei para o posição do sol. Faltavam algum tempo até a chegada da tal carroça.

Deitei-me na relva. Coloquei o chapéu sobre os olhos a fim de bloquear a luz e facilitar a realização da sesta.

Acordei instantes depois com o barulho das rodas de madeira da condução, rangendo como um porco sendo sacrificado no dia de ação de graças.

Observei a carroça vindo ao longe. Possuía uma lona bege que protegia as mercadorias no fundo.

A condução dirigiu-se à entrada da fazenda para a vistoria e liberação por parte dos capangas.

Uma hora depois a diligência saiu do rancho. Ao aproximar-se do lugar onde estava escondido abordei o condutor mostrando a agenda dada a mim pelo xerife. A capa continha um símbolo que julguei ser a marca registrada de Lost Sun, um desenho de uma caveira com um chapéu de cowboy. Fora o único método de identificação que encontrei naquele instante.

Um caçadôooo... — O homem esboçou aquele sorriso medonho de quem sabia de alguma coisa muito sinistra acerca da organização.

O sujeito parecia tão emblemático quanto o Xerife-da-Noite. Possuía um cabelo desgrenhado e grisalho, olhos baixos e cansados, quase se fechando. Usava chapéu marrom e um casaco cinza tão antigo e desgastado quanto a sua cara.

— F-fui enviado por Lost Sun...

— Tô sabendoooo. Sobe aí!

Que jeito sinistro de falar...

Subi na carroça e sentei-me ao lado do velho. Vento Galopante permaneceu na mata como se aguardasse a minha volta ao local.

— Então... você também é um caçador?

— Aaaah, nãooo... apenas um escravo de Lost Suuuun.

De novo esse papo...

— Escravo não é uma palavra muito forte?! — abri um sorriso amarelo.

— Eeeeu num fui capaz de cumpri os contrato.

— Onde estamos indo?

Pra cidaaaade. Vaaaamo se encontra cus ôto caçadô...

— Outros caçadores?

Pensei que apenas Escorpião-Sorrateiro e eu estivéssemos aqui...

— Siiim. Ocês vãaao destrabili... desestrabili... desistrabili... droga!

— Desestabilizar....

— Destri... desistabli... isso aí queeee ocê falô! Vamo traaansformá essa vila numa ciiidade fantasma! Hé! Hé! Hé!

Como é que é?

— Quer dizer, matar todo mundo? — falei.

— É, ué! Ocê num é caaaaçadô?!

Droga! Igual aconteceu em Riverline! Aquela mulher e os outros caçadores...

— Como começou a trabalhar para o dono da fazenda?

— Aaaaah... faz cinco ano...

— C-cinco?

— Siiiiim. Tudo por esta missão!

A irrealidade dos fatos corrompia a minha sanidade.

Num é fáaaacil ganhá a confiança das pessôa. Lost Sun é paciente....

Um grupo de 10 caçadores estava reunido a três milhas da cidade. O carroceiro parou a diligência à beira do acampamento.

Desci acompanhado do velho condutor que me apresentou ao grupo.

O bando era liderado por Carrapato-Estrela, um homem de semblante sério com um profundo corte de faca na parte esquerda do rosto e dentes de ouro reluzentes.

Seu braço direito era Gazela-graciosa, uma mulher jovem de cabelo vermelho e com o rosto cheio de sardas Possuía um semblante irritadiço que infligia mais medo no bando que o próprio chefe.

Escorpião-Sorrateiro não está aqui...

Ocê é o novato? — disse Carrapato-Estrela logo após cuspir uma massa negra da boca.

— O Xerife-da-Noite me enviou como parte do meu teste...

— Quem te perguntou?! — A mulher puxou uma faca e apontou para a minha cara.

— E-eu só quis deixar claro! — Levantei as mãos.

— Acha que nóis é burro?

Sossega o facho, Gazela! Dêxa o novato...

Gazela-graciosa encarou-me passando a língua na faca.

Onde que isso é “gracioso”?

— Saiba, novato, o seu serviço é matá o alvo que consta no diário. Só assim poderemo iniciar a abordage. Ocê é uma parte essencial do plano. Matá o alvo principal vai causá o distúrbio que precisamo pra botá fogo no circo! — disse Carrapato-Estrela.

— E-entendi!

— Se falhá eu pintar o meu cabelo cum seu sangue! — falou Gazela-graciosa.

Estou com medo dessa mulher!

— P-preciso compartilhar a informação do diário com vocês?

— Não, nóis já sabe tudo o que tem de fazê! Entrá na fazenda num é fácil. Eles toma as nossa arma. Ocê vai seguí junto com Enguia-Véia, o carrocêro, fingindo ser ajudante. Chegando lá, entrano no rancho, terá que improvisá!

Olhei para o diário.

— Quando poderemos começar?

— Mês que vem.

— Como é que é?

Enguía-Véia já levou as compra deste mês. A próxima demanda é só daqui há um mês...

Droga! Escorpião-Sorrateiro vai obter vantagem sobre mim! Tomara que não seja um competição para ver quem mata o alvo primeiro!

Entendeu? — disse Carrapato-Estrela.

— S-sim, entendi...



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