Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 12: Paladi

    Duque seguiu Steve, que farejava a areia da praia na tentativa de encontrar Rose.

— Praia não é novidade para mim. — Duque disse ao cão. — Mas faz mais de quatrocentos anos que não piso em uma, graças aos Paladinos, eu posso ver o sol nascer novamente. — Duque olhou sol nascer que iluminava a areia e as árvores da praia.

— Vamos, ela não está aqui! O meu pai encontrou a cruz dourada do senhor  Silver — Johnny pegou a guia do Steve e o puxou para o lado contrário. — Ele disse também que você não pode ficar muito tempo longe dele.

— Estão me usando como isca para o Lebre Branca, é?

— Se ele vir atrás de você, vamos dar um jeito.

— Como assim “vamos”? Você nem é um Paladino ainda.

— Ainda não sou, mas amanhã vou ser, assim como serei anunciado como próximo Paladino Azul.

— Esta muito convicto de si.

— Assim que eu for Paladino Azul , não vou sentar a bunda na cadeira e lixar as unhas.

— Ah, é o Eliott vai saber disso.

     Johnny e Duque aproximaram-se de Eliott, este que conversava com Silver, com uma feição preocupada.

— Vai para casa, arrume suas coisa, você e o Sam vão para escola hoje.

— Mas e a Rose?

— Vamos encontrá-la, não se preocupe.

       Sam se aproximou com um tablet nas mãos e entregou o aparelho para Silver.

— Foi o que deu para conseguir.

       O vídeo rodado mostrou Rose que entrou no carro do Bruno. O ângulo da câmera não permitia ver Bruno, mas a placa fica visível, o que foi um alento para os presentes.
       O dia passou, as aulas na escola tiveram seu início, junto à cerimônia dos Paladinos. Johnny olhou no espelho o uniforme escolar preto com detalhes azul–marinho, e sentiu-se desconfortável com a roupa, retirou o blazer e ficou somente com a camisa branca.

— Se você tirar, leva advertência — Sam amarrou os tênis cor mostarda, que chamavam atenção na monocromia de suas vestes. — Vamos! Não quero me atrasar.

      Ambos deixaram o quarto em direção ao corredor. A estrutura contemporânea das instalações remitiu à idade média, com grandes janelas que iluminava o corredor e permita a entrada da luz natural do sol.
      Os dois garotos adentraram um salão, onde havia vários outros jovens, todas organizadas por ordem alfabética. Na frente, em um palco, encontravam-se Eliott e Silver. Ao verem a figura autoritário de Eliott se aproximar do microfone, todos ficaram em silêncio.

— Sejam bem vindos — Eliott encarou a multidão, que olhou diretamente para ele. — Hoje, vocês se tornam o pilar da sociedade, aqueles que protegem a todos do irreal. — Eliott ergueu a cruz dourada. — Esse símbolo, significa que vocês terão uma enorme responsabilidade, para com a vida do próximo. Cada um receberá uma cruz dourada. Não as danifiquem ou percam. — Ele olhou de relance para Silver.

      Silver chamou um por um e entregou a cruz dourada, enquanto Eliott perguntava: jura lealdade a Ordem dos Paladinos?
       Assim que a entrega terminou, Eliott pediu que todos ficassem em silêncio, pois havia um pronunciamento a ser feito.

— Como todos sabem, a cada geração é escolhido um Paladino para ser o detentor do poder Azul, o Paladino Azul. E nessa geração Jonathan Helsing  foi o escolhido. Caso ele não passe no teste, outro será o escolhido. Agora podem ir.

      Sam correu para alcançar Johnny.

— Você soube?

— O quê?

— Seu amigo vampiro está preso nas catacumbas. Parece que os anciões decidiram não matá-lo graças ao seu pai.

— Podemos ir vê-lo?

— Depende. Se você pedir, não podemos. Se formos escondido é outra história.

— Você conhece essa escola muito bem?

— Não só a escola, a ilha inteira. Vou levar você lá. — Sam fez menção para que Johnny o siga. — Do que ele se alimenta?

— Sangue de animais.

— É impressionante ele viver séculos, somente com sangue de animais.

     Johnny observava Eliott de longe, o homem mexeu em um tablet, com sua expressão seria e preocupada. O garoto esperava que Eliott se distraísse por um segundo que seja.

— Saca só! Vai lá falar com meu pai, distrai ele para mim?

— Falar o quê?

— Qual quer coisa, só distrai ele.

      Sam se aproximou do Eliott com um sorriso forçado na face.

— Samuel? — Eliott largou o tablet sobre a mesa e deu atenção ao garoto.

— Olá, senhor Eliott, olha eu aqui de novo. — Sam sorriu e desviou o olhar para Johnny, que estava preste a pôr as mãos no Tablet.

— Espero que dessa vez você não fuja.

     Sam arregalou os olhos ao ver que Johnny consegui pegar o tablet, mas uma garota o observava, com a postura seria e vitoriosa. Kristen fez menção em dizer algo, mas Sam pensou rápido e puxou Eliott para perto das janelas.

— Eu acho que tem alguma coisa lá, nas montanhas. — Sam apontou para uma das montanhas ao longe. — Era uma algo bem estranho, acho que devemos ir investigar.

— Não há nada lá. Esta ilha é protegida. Agora se me der licença... — Eliott disse e pegou um amontoado de pastas sem ao menos verificar se seu aparelho estava lá.

      Johnny conseguiu, finalmente pegou o tablet e agora estava longe, sentado em um banco ao lado de Kristen.

— Ele é seu pai. Por que simplesmente não pergunta o que quer saber?

— Eu conheço os meus e sei que ele não vai dizer. — Johnny abriu o tablet. O garoto se surpreendeu com o mais novo relatório que Eliott escreveu.


      “Dia 18: Um pub frequentado por bruxas foi queimado e destruído por um Paladino desertor. A possibilidade de ter sido proposital não deve ser descartada. Sobreviventes contaram que o indivíduo chegou acompanhado de uma garota, cabelos curtos e pretos, estatura mediana, aparentando ter entre 15 e 16 anos.”
       As últimas palavras do relatório foram as que mais chamaram a atenção de Johnny, assim como o assustou.
“No local foi encontrada uma máscara de lebre branca”

     A frase só aumentou o interesse de Johnny em mexer mais um pouco nos documentos e pastas do tablet. Johnny encontrou um possível suspeito, mas a situação do indivíduo o assustou.
“Bruno F.H, 26 anos (Paladino desertor)

"Última informação: Comprou uma passagem no aeroporto internacional, no entanto não embarcou.”

— Pela sua expressão, você encontrou o que estava procurando?

— Achei. Está a fim de matar aula?

— No nosso primeiro dia?

***

       Rose encarou o pub do outro lado da rua, um lugar na periferia da cidade, escondido dos olhares humanos comuns. Quem passava por ali penava ser só um pub normal, mas ele era frequentado apenas por bruxas e bruxos.

— Que roupa é essa? — Rose perguntou a Bruno, que estava vestido estranhamente. Um chapéu preto, sombra preta nos olhos e alguns acessórios que remeteu ao movimento gótico, assim como as botas de cano alto e roupas pretas.

— Eu preciso me enturmar. Tenho uma coisa para você se enturmar também, feche os olhos e estenda as mãos.

       Assim Rose fez, estendeu as mãos e escutou um “clique”. A garota rapidamente abriu os olhos e deparou-se com algemas que prendiam seus pulsos.

— Algemas deixam tudo mais divertido — Bruno disse e puxou Rose para perto da porta do pub. — ¡Hola, ¿todo bien? ¡El gran brujo All está aquí! — Bruno mostrou o pulso onde havia uma tatuagem de pentagrama. Ao verificar a tatuagem, o segurança abriu caminho para ambos.

— Bruno! — Rose cochichou.

— Fica quieta, guria! Só segue o plano.

      A área interna do pub espantou Rose. Ela nunca havia estado em um lugar como aquele. As luzes baixas, a decoração que remetia à era vitoriana, garrafa de bebidas nas prateleiras, pessoas estranhas – muitas pareciam góticas devido à forte presença da cor preta.

— ¿Está Ada ahí? — Bruno recebeu uma confirmação do barman, que apontou para uma cortina vermelha.

— Vou avisar que um bruxo argentino quer vê-la!

      O barman se retirou, e Rose viu o momento perfeito para questionar Bruno.

— Quem é essa? E por que estou algemada?

— Xiu! Vai estragar o plano! — Bruno pegou uma taça de drink no balcão. — Toma, para você se acalmar.

— Não vou beber isso, nem sei o que tem aí!

— O máximo que pode acontecer é nascer um terceiro olho. — Bruno disse em tom de piada.

       O barman se aproximou do Bruno e disse: “Ela ira vê-lo”.

        Bruno adentrou a sala, onde havia um sofá cinza. No centro, uma mesa com vários objetos esotéricos e bebidas, assim como um cinzeiro. A linda mulher sentada sobre o sofá largou o cigarro sobre o cinzeiro e direcionou a atenção para Bruno.

— O fabuloso bruxo All, finalmente nos conhecemos. — Ela foi até Bruno e retirou o chapéu que ele usava de forma sensual. — A que devo sua presença?

— Señora... —  Bruno foi interrompido por Ada.

— Senhorita! — Ela o corrigiu.

— Señorita, tiene relación con vampiros. Les vendes cosas, y tambén compras.

— Sim é verdade. Eu compro “coisas” de pessoas e revendo para o clã dos vampiros. E suponho que tenha algo para mim. — Ada disse e apontou para Rose.

       Rose, por sua vez, não pareceu estar concentrada naquele lugar. A garota olhou diretamente para uma decoração na parede: Uma máscara de lebre branca.

— Eu pagaria 100 mil por essa garota e 150 se for virgem. — Ada disse e  acendeu um cigarro.

— Lo cambio por información.

— Sou toda ouvidos.

— Um vampiro pode voltar a ser um humano? Há uma forma de trazer a humanidade nessas criaturas novamente?

       Ada soltou um riso abafado.

— Independente da resposta a garota é minha! — Ada levantou do sofá, foi até Rose e analisou a garota. — Ouvi dizer que há uma forma sim. — Ada passou a mão nos cabelos da Rose e recitou um canto no ouvido da garota, que fechou os olhos e caiu sobre os braços da mulher.

— Quem sabe? E onde posso conseguir mais informações?

— Se quiser saber mais, me traga mais mercadorias como essa!

— Não! Tu vai me dizer agora! — Bruno disse e retirou uma arma prateada da cintura.

— Um paladino! — Ada disse com uma expressão debochada. — O pub está cheio de bruxas, não tente nada.

— Sua bruxa imunda! Vou pegar a guria e sair daqui, ou acionarei a Ordem e direi que você vende humanos para servir de alimentos pra vampiros.

— Paladinos e bruxas estão em trégua, o tempo da espada e do fogo passou.

      Bruno pendurou Rose no ombro. Assim que ele deixou a sala, Ada gritou: “250 mil para quem matar esse homem”. Bruno escutou e escondeu atrás do balcão de bebidas, com Rose desacordada ao lado.

— Vamos acabar com essas bruxas!

      Bruno atirou várias vezes nas pessoas, que não pouparam esforços para atingi-lo com feitiços. Bruno apontou os dois dedos do meio em gesto obsceno.

— Suas bruxarias não funcionam comigo! — Bruno riu, um raio passou de raspão por ele e acertou várias garrafas de álcool. As balas de Bruno acabaram. Ele olhou para Rose desacordada ao lado. — Parece que é o fim, e eu arrastei a guria comigo.

     Bruno olhou para as garrafas quebradas sobre o chão e recordou-se da noite passada quando conheceu Rose. — Lembra como nos conhecemos?

     Bruno atirou várias garrafas de álcool em todos os cantos do pub. Ele pegou um isqueiro do bolso e o jogou para longe na espera que  o fogo se iniciasse. Ele sabia que daquela maneira as bruxas ali não iriam morrer, mas isso causaria fumaça, o que permitiria que ele saísse dali.

       Rose abriu os olhos lentamente. A primeira coisa que viu foi o ventilador de teto marrom que girava e girava, deixava a garota mais tonta.

— Acordou! — Bruno ofereceu uma xícara de café para Rose. — Toma, deve estar com fome. Coma e depois vá para casa.

— O que aconteceu? — Ela disse e ergueu-se da cama ainda tonta.

— Você apagou e eu nos tirei de lá.

      Ela caminhou até a janela e puxou as cortinas para o lado, deixou assim a brisa da manhã entrar. Rose arregalou os lindos olhos castanhos ao ver a Torre Eiffel ao longe. Ela se perguntou: Como?

— Não, não, não, como eu vim parar aqui? Como vou voltar? Nem tenho passa porte! — Brava, a garota pegou a primeira coisa que encontrou, um sapato, e jogou em Bruno. — Isso é sequestro!

— Não é. Eu disse que você pode ir. E outra, ninguém vai dar falta de uma guria de rua.

— Eu não sou uma garota de rua! — Rose gritou para Bruno. — Me leva para casa agora!

— Não dá, você disse que não tem passa porte. — Bruno se jogou sobre a cama.

      Rose viu sobre a escrivaninha um envelope com apenas uma passagem, assim como uma maleta vazia.

— Você me trouxe na maleta! Como?

— Ela disse brava.

— Tenho vários truque na manga. — Bruno disse e fechou os olhos.



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