Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 14: Náufrago

     Várias arquibancadas encheram a sala, criaturas da noite gritaram e comemoraram sobre elas. No centro da sala, Johnny e Daniel olhavam em volta, se perguntaram como sairiam dessa situação.

— E agora?

— A gente luta e afunda o navio.

— Belo plano — Johnny disse em tom sarcástico — Afundar um navio!

— Já afundei minha vida, um navio não é nada.

     No canto da sala, uma tela de arame, exibia várias armas penduradas: clavas, espadas, machados e facões. Carmila assumiu a frente, o que fez todos ficarem em silêncio.

— Estamos aqui para provar que é preciso dois de vocês para matar um de nós — Carmila olhou para Daniel e Johnny — Podem pegar a arma que quiserem e quando quiserem.

     Daniel sussurrou para Johnny: “Se quiser ser o Paladino Azul, preste atenção em como se faz.”

       Uma porta se abriu, um ser humanoide saiu dela, sua pele cinza cheia de rachaduras, indicava ser um vampiro especial. Ele tinha longas garras no lugar das mãos e algo que parecia uma lâmina no lugar de cada pé.
        De uma das arquibancadas, Duque e Sam observavam a luta que tinha seu início. O garoto tentou se erguer, mas foi contido por Duque, que disse. “Não é a hora ainda!” Eles olharam para a arena onde pareceu que a dupla iria vencer. “Vamos aguardar.”

       Johnny retirou a cruz dourada debaixo da blusa e derramou o líquido sobre o machado que segurava. Ao perceber que ambos eram Paladinos, Carmila tentou interromper a luta, mas foi tarde de mais.

      Johnny acertou o machado no pescoço do vampiro e fez a cabeça rolar aos pés de Daniel.

— Mandou bem! Mas agora sabem que somos Paladinos.

— Como ousam! — O ódio era evidente no olhar de Carmila — Leve–nos daqui agora!

      Johnny e Daniel resistiram aos vários vampiros que os seguraram, assim que ambos foram levados, Carmila se voltou para a plateia, com um sorriso no rosto.

— Esta tudo bem! Paladinos não podem chegar aqui. Foi um pequeno erro. Façam suas apostas para a próxima luta.

      Quando Bruno e Rose entraram na arena, Sam perguntou a Duque se era hora de atacar e recebeu uma resposta negativa, o que o deixou frustrado

— A gente vai morrer! — Bruno disse a Rose — Não temos mais, nem uma cruz dourada.

— Você vai dar um jeito, assim como fez no pub.

      O adversário da dupla adentrou a arena e sumiu, aparecendo em lugares diferentes, como se fosse veloz ou se teleportasse. Rose arremessou uma lança em seu algoz, mas por puro azar, a lança acertou a parede de metal do navio.

       Bruno foi arremessado ao chão sem ver o que o atingiu. Ao olhar para a porta, ele ouviu um som de batida e, em segundos, a porta foi derrubada. De lá saem Johnny e Daniel, sujos de sangue, evidência de uma possível batalha.

— Agora! — Duque pulou da arquibancada para arena. Antes que o algoz de Bruno pudesse o atacar novamente, Duque torceu o pescoço do vampiro.

— Matem todos esses humanos desgraçados! — Carmila gritou com raiva.

    Sam pegou um taco de beisebol, que estava junto as armas, e derramou o líquido da cruz dourada no objeto, o tornou assim letal para os vampiros que foram atingidos.

— Vamos para o hangar! — Daniel gritou enquanto tentava afastar os vampiros. — Deve haver uma forma de sair!

— Não vou sair daqui até matar o último deles — Johnny gritou enquanto acertava os inimigos com um machado.

       Daniel sinalizou para todos saírem dali, enquanto Duque mantinha os inimigos afastados. Daniel foi até Johnny e o pendurou no ombro.

— E agora? — Sam procurou em volta uma forma de sair dali.

— Os botes. Esperem os outros. Eu vou até as maquinas e explodir tudo.

— Mas como você vai sair? — Rose disse preocupada, vendo o outro grupo se aproximar.

— Tenho uma carta na manga. Agora, vão!

     Bruno correu na direção oposta e adentrou o navio. Ele abriu porta por porta em busca de algo.

— Cadê! Cadê! — Ele abriu uma porta onde havia várias coisas empilhadas, de livros antigos até vasos de plantas. Sobre uma caixa de madeira, lá estava: a maleta preta que Bruno sempre carregava. Ele pegou a maleta e correu até a sala de máquinas do navio, abriu cada registro ali, o que aumentou a pressão. Quando ele se virou para sair, a presença de Carmila o impediu.

— Onde pensa que vai? — Ela desviou o olhar para a maleta preta na mão de Bruno, imediatamente a mulher passou a puxar o objeto. — O que um humano como você faz com isso?

— É minha! — Bruno deu uma cabeçada em Carmila e correu. Trancou-se em uma das salas. Ele temeu ser devorado pela mulher que o perseguia.

     Carmila arrombou a porta da sala e procurou por Bruno na escuridão. Porém, encontrou apenas um papel com um gesto obsceno desenhado nele.

***

— É, o navio não explodiu — Assim que Johnny terminou de falar o navio no horizonte explodiu. — Retiro o que disse!

— Temos que voltar lá. — Rose olhou para a escuridão das águas que rodearam o pequeno bote. — O Bruno disse que ia dar um jeito de fugir.

— Se ele conseguiu fugir daquilo, ele vira um mártir para mim. — Daniel apontou para o navio em chamas. — Agora começa a remar para costa.

— Remar? Com os chifres do Johnny só que fosse! — Sam olhou para o céu e para a água que refletia toda escuridão. — Eu vou ficar louco!

     Rose não deixou de pensar em Bruno; sua feição triste era mais que visível. Mesmo que não o conhecesse muito bem, ela conviveu com ele, lutaram lado a lado. Só de pensar que ele havia dado a vida para ajudá-los a deixava triste.

— Podemos buscar minha mochila no hotel?

     Assim que pisaram em terra firme, o grupo foi até o hotel onde Rose estava hospedada. Não puderam deixar de notar o brilho do lugar. Sam olhou para o salão de café da manhã, em seguida, olhou para Daniel e sorriu.

— Perdi minha carteira lá no navio. — Daniel virou a cara.

— Eu sei que é mais fácil você perder os dentes do que a carteira.

— Não vou gastar um tostão!

— Então vou ligar para o Silver e contar que você nos obrigou a vir até aqui!

— Vocês vieram por que quiseram!

     Sam pegou o celular e discou um número, o que fez Daniel puxar o aparelho das mãos do garoto, e dizer: “Tudo bem, vamos tomar café!”

— Quero voltar logo para a escola. — Duque disse feliz — Para ver o Silver. Já estou até com saudades.

— Pensei que fosse para voltar à cela escura e fria que estava.

— Obrigado por lembrar, Johnny!

— Temos que voltar logo mesmo. A notícia que há caçadores na cidade pode se espalhar, e podemos receber visitas indesejadas à noite. — Daniel disse e deu um gole no café à frente.

— Quando eu voltar, ainda vou poder ser o Paladino Azul?

— Por que não poderia?

— A Rose está de volta, e viemos até aqui sem permissão.

— Quem disse que não tinha permissão? Eu tenho, vocês que não tem. — Daniel disse com um semblante debochado. — Mas isso não afeta a decisão que você foi escolhido.

     Daniel olhou para o celular, onde há dezenas de ligações e mensagens de Silver e Eliot. Ele somente ignorou todas elas.

— Nosso voo é amanhã. Vamos descansar aqui até lá!

— Pensei que você fosse pão-duro para pagar um lugar como esse. — Sam colocou várias coisas do bufê em seu prato.

— Não sou eu quem vai pagar; vai ser a escola. — Daniel se ergueu e foi até a recepção. — Vou verificar uma coisa.

    Daniel virou para recepcionista e perguntou: “O quarto 307 está registrado por quem?”

— Não podemos dar informações sobre os hóspedes — A moça da recepção disse e digitou algo no computador. — Mas o 307 não está em uso!

      Ao ouvir isso, Daniel correu até as escadas e foi atrás de Rose.

   Rose adentrou o quarto; a garota foi até a mochila. Colocou-a nas costas. Antes de deixar o quarto para trás, Rose olhou pela janela a linda vista, pensou em Bruno e seu triste fim. Ela colocou a mão na maçaneta da porta, mas um assobio a fez hesitar em sair.

— E aí, guria? — Bruno saiu do banheiro,  enrolado em um roupão.

Incrédula, Rose olhou para ele.

— Como você escapou?

— Tenho meus truques. — Ele secou o cabelo enquanto olhava para a mochila nas costas de Rose. — Vai voltar com seus amigos? — Ele estendeu a mão para ela. — Então até mais.

    Rose olhou para a mão estendida de Bruno; no seu pulso foi visível uma cicatriz, o que preocupou a garota.

— Você foi mordido?

    Ao ouvir a pergunta, Bruno imediatamente recolheu a mão e escondeu o pulso.

— Não, esta tudo bem!

   Rose andava pelos corredores, até que se deparou com Daniel e sua feição nada amigável.

— Deixa eu adivinhar, o “guri” está vivo. — Daniel disse e foi em direção á porta do quarto. — Tenho algumas perguntas para ele.

— Não! — Rose segurou o braço do Daniel. — Ele só está tentando salvar a mãe dele.

    Daniel encarou Rose firmemente. A garota encarou novamente e deixou claro que não iria recuar. A feição séria de ambos dava a entender que iriam começar a lutar ali mesmo. Por um momento, Daniel viu uma semelhança entre ele e Rose, o que o fez rir e dizer: "Tudo bem".

— Vamos ficar aqui no hotel por hoje — Daniel disse e deu as costas para Rose.

    Assim que Daniel saiu, a garota respirou aliviada.

 



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