Paladinos da Noite Brasileira

Autor(a): Seren Vale


Volume 1

Capítulo 19: Pandora

       O aroma de macarrão e molho de tomate ficou cada vez mais forte à medida que ambos se aproximaram do destino: um restaurante italiano, comandado por uma senhorinha aparentemente inofensiva.

— Quero falar com a Ada.

— Ela não fala com clientes, depois do que aconteceu no pub. — O garçom disse distraído com as comandas.

— Diga a ela que só vim conversar. — Eliott largou a cruz dourada sobre o balcão. — Pode ficar com isso enquanto conversamos.

— Eu vou perguntar a ela.

      O garçom se retirou e voltou com a confirmação segundos depois.

— Ela pediu que seja breve.

     Eliott passou pelo balcão seguido por Duque, foi em direção à cozinha. Ao adentrarem o local, uma senhora de pele enrugada e cabelos grisalhos pediu que toda equipe de cozinheiros se retirassem. Diferente de sua aparecia jovial, após o incidente em seu pub, os Paladinos chegaram até ela e queimaram o seu grimorio, impediram assim ela de realizar feitiços para se auto rejuvenescer.

— Vou ser direto. — Eliott pegou um morango que estava sobre a bancada e analisou. — Sabe algo sobre o vampiro conhecido como Lebre Branca?

— Lebre Branca? — Ela pensou um pouco. — Sei alguma coisa. Mas o que vou ganhar se eu te contar?

— Não estou aqui para barganhar.

    Ada rodeou Duque e puxou o colar do pescoço dele. Instantaneamente, a aparência demoníaca de Duque retornou.

— Paladinos agora têm vampiros de estimação?

— Isso não é da sua conta. Deixamos você livre, depois do que fez...

— Meu grimório, quero meu grimório de volta. Aí posso te contar tudo que sei.

— Nada feito. — Eliott fez menção em se retirar, mas Ada disse algo que lhe interessou, o que fez ele parar instantaneamente.

— Se eu te contar que a rainha quer o neto dela de volta? Ela falou algo sobre matar o Paladino das correntes e pegar o garoto dela.

— Ela pode tentar.

— Sei algo sobre o Lebre Branca também, mas não consigo me lembrar. Era algo com as crianças. Talvez se você me devolver meu grimório, eu possa lembrar.

     Eliott retirou do bolso um frasco com um líquido rosa florescente.

— A poção de rejuvenescimento que estava no seu grimório. Você pode me contar o que sabe e dou ela pra você!

— Não é à toa que você é o Paladino Azul, sabe o que fazer e quando fazer. Estava guardando essa carta na manga. — Ela pegou a poção e começou a falar o que sabia. — Eu ouvi por aí que a vampira de classe especial Carmila está atrás do seu filho, por ordens do próprio Lebre Bbranca.

— Por que?

— Não sei, talvez por que você seja o Paladino Azul, mas é só um palpite.

— Agradeço sua cooperação

     Eliott se retirou do local enquanto Ada dava saltos de alegria com a poção em mãos.

— As crianças estão em perigo? — Duque perguntou preocupado.

— Enquanto estiverem na escola, não.

— Esse é problema. — Duque disse sem jeito e temeu ser repreendido.— No porta-malas, eles estão no porta-malas.

— Johnny! — Eliott abriu o porta-malas do carro pronto para dar uma bronca no filho, mas estava vazio o que deixou, Duque preocupado.

— Vai ver saíram pra tomar um ar. — Duque foi em direção à porta do carro, pronto para retornar à escola.

— Quem disse que já vamos voltar? — Eliott pegou o celular do bolso e discou o número de Johnny — Onde você esta?

“Na escola!”

   Atrás da voz de Johnny, se escutou Sam, que disse: “O meu sem cebola, por favor”, o que deu a certeza a Eliott que os garotos não estavam na escola.

— Johnny! — Eliott disse bravo.

“Tudo bem, a gente só viemos comer um cachorro quente. Vamos voltar para o carro, já já.”

— Sejam rápidos. — Eliott desligou o celular.

— Como é? Eles estão comendo um cachorro? — Duque disse espantado.

— Não, não é um cachorro animal, é pão com salsicha.

— Então a salsicha é feita de cachorro ?

— Não, não.

— Então por que tem esse nome?

      Eliott trancou o carro e começou a andar seguido por Duque, que fazia diversas perguntas. Sua feição preocupada se agravava ao tentar ligar para Johnny e não obter resposta.

— Mande uma equipe para cidade. Os garotos sumiram! — Ele falou sem rodeios e deixou Silver confuso.

***

      Johnny segurou dois cachorros quentes que recebeu e entregou um para Sam.

— Seu pai está bravo?

— Não, ele não vai nos castigar de novo. — Johnny deu uma mordida no lanche e derramou molho no uniforme escolar. — Mas que merda!

— Por que não sentam-se para comer? — Uma voz feminina, doce e amigável os convidou para se sentarem à mesa que havia na calçada.

— Não, obrigado — Johnny disse rispido.

— Só quero bater um papo, contar como coloquei aquela pobre garota ferida nas rosas curandeiras.

    Ao ouvir a referência ao acontecido com Rose, Johnny e Sam se entreolharam e puxaram uma cadeira, ambos sentam lado a lado de frente para linda mulher que os chamou.

— Qual seu nome? — Johnny perguntou ríspido.

— Tenho diversos nomes, mas pode me chamar de Pandora.

— Você é a mulher que dava doces para mim e para Rose quando éramos crianças. — Sam disse ao reconhecer a mulher.

— Eu sempre estive por perto, o Silver era ocupado de mais para perceber. — Ela largou uma cédula sobre a mesa — Quero que conheçam um lugar, venham comigo.

      Sam se ergueu da cadeira e fez  menção de seguir Pandora.

— Não! — Johnny segurou o braço do Sam. — Temos que voltar para o carro.

— Se vierem, posso lhes contar quem realmente é o Paladino Azul!— A mulher disse ao  olhar para Johnny com uma expressão vitoriosa.

— A qualquer sinal de encrenca vou pular fora. — Johnny seguiu Pandora, assim como Sam.

     Assim que chegaram no bairro, era possível ver a casa de Silver e a casa onde Rose havia sido encontrada ferida, que também era o lar de Pandora.

— Já estivemos aqui. — Sam passou pelo portão. — Quando encontramos a Rose.

— Por que estou com um frio na barriga? — Johnny deu um passo para trás e puxou Sam. — Olha!

     Sobre a sala de estar da casa, havia vários carniçais e espectros da morte. Isso assustou os dois garotos, que hesitaram em entrar.

— Não se preocupem, eles só estão aí para afastar quais quer Paladino de se aproximar. — Pandora acendeu a luz e as criaturas sumiram imediatamente. — Sentem-se, vou preparar um chá!

      Assim que Pandora deixou a sala, Johnny se levantou do sofá e foi em direção aos diversos livros nas estantes.

— Não mexe aí! — Sam foi até Johnny e  puxou o livro da suas mãos.

— Só estou vendo! Estamos aqui mesmo... Se o papai perguntar, foi ideia sua estar aqui.

     Pandora retornou e largou uma bandeja com duas xícaras de chá e um prato com biscoitos sobre a mesa de centro.

— Olha só para você. — Pandora apertou as bochechas do Sam. — Você se parece tanto com sua mãe! E esse cabelo ruivo, igual ao dela. — Ela passou a mão nas madeixas vermelhas do garoto.

— Você conhece ele? — Johnny perguntou ao sentar-se para beber o chá.

— Ele é meu neto, seu nome de nascença é Bartolomeu.

     Johnny se afogou com o chá, em seguida, quando o susto passou ele começou a ri.

— Bartolomeu. Parece nome de cachorro.

— É melhor irmos, Johnny. — Sam sinalizou para seu amigo o seguir.

— Espere, fique! — Pandora disse e segurou as mãos do Sam. — Você não precisa mais voltar para escola de Paladinos, você pode ficar aqui com sua verdadeira família... Eu sei como você se sente, sua mente se tornará uma fonte de caus.

      Sam desviou o olhar e se afastou de Pandora. O que a mulher disse era verdade. Sam sempre se sentiu um deslocado, nunca se encaixou. Quando fazia novos amigos, em pouco tempo os deixava, se afastando deles, sempre tentou ser engraçado para poder se encaixar, assim qualquer tribo o aceitaria e ele poderia pular fora assim que não se sentisse bem. Muitas vezes, Sam se sentia negligenciado por seu pai, principalmente depois que Silver se tornou diretor da escola, se tornando o típico filho rebelde.

— Eu já perdoei o Silver por ter matado sua mãe. Mas não o perdoei por ter te tirado da família. — Pandora disse e tirou Sam de seus pensamentos.

— Foi um acidente, eu estava lá —  disse Sam já com raiva.

— Você era uma criança, praticamente um bebê. Não se lembra como realmente foi.

 



Comentários