Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


Cidade Flutuante – O Orfanato

Capítulo 11: O Dia

Despertava o jovem, discretamente, com olhos ainda agitados em meio ao quarto do orfanato. 

Sem pensar duas vezes, levantou-se de sua cama rapidamente, ainda com um olhar ansioso. Ficou em pé e encarava, mais uma vez, o seu espelho no armário ao lado da cama. A boca tremula tentou pronunciar algo... no mesmo instante, interrompeu-se enquanto sacudia a cabeça. 

— Vai ficar tudo bem!  

O agir abatido começava se tornar passado, seja lá a razão da sua fonte, determinava junto as forças do coração para que a mesma não voltasse tão cedo para atentar a alma. 

Depois de um suspiro, andou à janela para abri-la. Percebeu o movimento comum ao redor do orfanato: carros andando e pessoas que conversavam em frente de suas casas. O anseio de respostas pulsou, e sua convicção a expulsou. Era inútil prosseguir com este comportamento — justo naquele dia.  

Seis e quarentena e cinco da manhã de um sábado, que seria verdadeiramente comum para qualquer um que não tivesse um vínculo com o orfanato, Mark firmou um passo pesado  e deu um tapinha nas bochechas com as duas mãos.

Hora de retomar to que perdeu o controle, aquelas coisas todas perderam a influência num sorriso satisfeito que revigorou o rosto do jovem.

Tinha tudo para ser incrível e esperançoso, porém, na verdade, era uma mistura disto num amontoado de confusões incertas: medo e tristeza — alma sem coragem, infeliz num resultado final, uma prova que estava vivo, era ele controle.  “Sem coma”, pensou. 

O orfanato estava todo desperto. As crianças estavam acordadas em um horário cedo como este. A diretora, em seu escritório, assinava as últimas páginas de um documento cuja pasta competia com livros acadêmicos caros; as duas empregadas estavam inquietas, emocionadas e tristes enquanto organizavam coisas para colocar nos quartos de Will e Mark. O espaço vazio defina a causa das lágrimas dos olhos, que incharam pela notícia dos três órfãos, donos de uma propriedade do amor de cada uma delas. O que tinha merecimento para cobrir a falta de um filho?

Enfim, o dia tão aguardado que causava angústia para todos no orfanato chegou, o mesmo dia que Réviz iria buscar os mais velhos dos órfãos.  

Will estava em seu quarto, arrumou os pertences, manuseava vários itens e diversas sacolas espalhadas pelo chão. Percorria o quarto feito um canguru, pulava de armário e gaveta em busca de agrupar tudo da maneira ideal a uma mente de um nervoso.

Aí estava o lugar que evitou na ordem de organização. Ao lado da cama, uma gaveta branca de um pequenina cômoda prendeu o respirar longo e melancólico.  Os dedos impetuosos congelaram o impulso ao ter sua direção decretada para dentro do compartimento.

O encarava enquanto suas mãos tremiam levemente. “E pensar finalmente aconteceu”, se levantou e foi em direção ao relógio, que estava numa almofadinha dentro da gaveta. Aqueles movimentos abruptos e sequenciais, era um relaxante para aqueles com nervos de panicos prontos para saltar a pele.

Admirar os segundos saltarem de ponto a ponto… Um ligeiro sorriso apareceu no canto da boca. Os dedos passavam pelos desenhos incomuns com naturalidade, era como se aquilo conversasse. A textura, o brilho e cor; um notar de importância:

— Eu queria muito entender. Desde… Hm… o começo. Então você vem. — Estreitou os olhos.

A gravidade foi provada, e o relógio sentiu nas ferragens as forças de equilíbrio levar o estado emocional a zero. Will colocou o item na sacola e prosseguiu a porta,

Nirda estava no quarto das meninas, também organizava as coisas; a delicadeza de uma donzela foi um fator contraste do ambiente. As outras crianças o abraçavam constantemente, tentavam impedi-la de prosseguir através da brutalidade carinhosa. Sorria cada vez mais com cada abraço. Perdeu os sentidos quando foi esmurrada pelas costas, ferida na cabeça e atordoada no cérebro; amor cruel. Algumas choravam e outras riam, a plateia do show de horrores inverso afundaram a vítima no tatame nomeado “cama”.

— Você tem mesmo que ir? — perguntou a menina de cabelos castanhos. 

— Por que você não fica? — perguntou, em tom baixo, a com uma marca no rosto. 

— Fica com a gente! — Levantou os braços a de cabelo loiro. 

— Me deixa ir junto! — Cutucou a que tinha a franja sobre o rosto. 

As ameaças constantes das agressoras foram vis, exigiam da Nirda, além da derrota calorenta, várias respostas para cada facada de compaixão. Ela não teve escolha, a voz abafada saiu como uma súplica de misericórdia em baixo dos monstros em forma de monstros.

— Calma, gente! 

Um silêncio momentâneo apareceu, não era ameaçador, pelo ao contraio, era como pedido de atenção amigável — como uma despedida. A violência de afeto cessou, as caras coradas apareciam no campo de visão, rodeava a menina que tentava arrumas as coisas com cuidado.

— Vo-você vai voltar, não é? — indagou a menina com a marca.  

Havia perguntado baixinho, mas, com aquele silêncio, se tornou uma pergunta que pode penetrar os desejos de todos. Fez as mesmas esperarem pela tal resposta que tanto queriam em comum, evidenciava claramente nos sorrisos que cresciam exponencialmente. 

Nirda olhava em volta ao notar a tensão que criou, após segundos, estava pronta para responder. Devido à carga de choro que subia desde a garganta, lagrimas incessantes escorreram por seu rosto. Todas as meninas a abraçaram, novamente, para consolar sua amiga, a violência voltou de forma agradável.

Cada abraço desprendeu os goles de choro, desfizeram barragens para o desencadear do temido tsunami de carinho.

— Sim! Sim! Sim! — insistia em meio aos abraços. 

Com certeza era um dia caloroso e melancólico, justo ao que Mark imaginou. Podia ser amanhã, semana que vem ou mês que vem, porém… hoje. 

Lembrava de tudo que passou pelo orfanato, lembrava das risadas durante as brincadeiras na rua, de todas às vezes que ficou de castigo por muita das vezes chegar com as roupas sujas ou ter machucado sem querer alguém.  Existia uma memória mais querida de todas que recordou: o momento na qual prometeu ao irmão que estariam sempre a tentar permanecer juntos. 

O peitoril sentiu os cotovelos da lembrança pesada. A promessa também trouxe o tormento dos últimos tempos. Sinos o atacara mais tarde, após ter entrado no orfanato. A melodia sem vida remexia sua respiração até agora.

Suas mãos contorciam pelos brancos incessantes. Tinha exatamente visto nessa primeira vez… Nada. Havia imensos buracos naquilo que chamava de memória. Os fragmentos do ocorrido depois do pacto com Will eram tão confusos que parecia um sonho de uma noite mal dormida.

Começou a se culpar, mesmo que não era digna desta responsabilidade… não ainda. Ter a visão de uma figura estranha e encapuzada no portão gradeado do orfanato podia aterrorizar crianças. Uma silhueta que o observava de tão perto, tinha uma aparência tão… reconfortante. Mark não conseguia expressar tudo, fitava o ser que ligeiramente abaixava o capuz.

Aquele cabelo, a franja branca. Uma divisão frontal do preto e branco, um adulto encorpado. A face era mera falta de angulo, as memórias possuía falta das informações como essa. Com exceção da silhueta coberta e a franja branca, apenas um pedaço de um tecido azul foi introduzido pela mão que segurou uma das grades.

— Tente. Tende. Tente. E tente. Quando tentar, sempre tente tentar, não desista… Nunca desista de tentar.

Feito uma invocação de feitiço, aquela figura concluiu a passagem ao desaparecer em metade de uma piscada. 

O som dos sinos ainda persistiram. Suas lembranças eram todas misturadas como imagens aleatórias, não apareciam sempre as mesmas imagens e, constantemente, apareciam coisas que nunca havia visto ou imaginado, talvez significasse nada.  

— Vou. Esquecer. Por. Agora. — Aumentou a força dos tapinhas. 

Foi ao seu armário e pegou a blusa favorita, envolvida em azul com duas listras brancas. Após a ter vestido, retomou a organizar suas coisas. Quando terminou, imediatamente as pegou para colocar no andar de baixo; pegava todas as sacolas de uma vez e teve dificuldade de passar pela porta. Quase tropeçou, retomou as pontas e prosseguiu num susto para as escadas. 

Com passos calculados, descia de degrau a degrau com estratégia, viu que tinham todos do orfanato o esperando. Will e Nirda foram rapidamente ajudá-lo. A menina pegou uma sacola no ar que Mark deixou cair, e Will apanhou metade das sacolas. 

Os observadores ali na sala de espera foram tocados por emoções e reflexos rápidos, já que, uma adoção não é somente uma pessoa a menos, mas uma despedida honrosa. E conseguiram um show de malabarismo incluso.

Martía, com as mãos inquietas, foi em direção a Mark em um pulo e pegou todas as sacolas restantes, as colocou ainda mais rápido no chão perto das outras de Will e Nirda; Mark, impressionado com a façanha, arregalou os olhos, porém, sua reação foi interrompida no momento que as crianças aproveitaram o caminho livro para a saraivada de cumprimentos e abraços.

Mark era órfão mais antigo, portanto, qualquer celebração seria pouco para as duas empregadas. Ele sorria de orelha a orelha. Maria se colocou em sua frente, dividiu o mar de amor em dois, com lagrimas pelo rosto.

— M-Mark! Você c-cresceu tan-to, que bom q-que está bem. — Maria passava suas mãos pelo cabelo enquanto engolia rios sentimentais em sequência.

As duas empregadas, que cuidaram dele desde bebê, despediam dos três que foram tratados como filhos. Com o calor do momento, conversaram muito, afinal, foi justo em sua simplicidade,

— Liga para gente, tá bom? N-não vacila. — Martía enxugava os olhos ao dar um murrinho no ombro dele.

— Tome, Mark, espero que dê tudo certo na mais nova vida — comentou a diretora enquanto estendeu a mão. 

Ela se comovia com tudo que presenciava, tentava esconder as verdadeiras emoções — tinha o dever de transmitir segurança. Um pano fino e branco, que bordas em azul com o símbolo incomum no centro.  

O reconheceu na velocidade de um raio da nuvem à terra. Mark encarava surpreso, o ar entrou com força pelo queixo caído.

— Achei que tinha perdido.

— O pessoal do hospital entregou um pouco depois de você ter recebido alta. Não pode sair esquecendo as coisas por aí.

Examinou mais uma vez. O imenso valor que tinha por aquele objeto podia ser comparado ao relógio de seu irmão, as únicas pistas sobre o que um dia já foram ou que iam se tornar... Um valor que trazia aflição sobre sua origem. 

Nirda observava atentamente. Já tinha o visto, muitas e muitas vezes, mas olhava com uma expressão incrédula que levantava um desprezo, uma expressão que não era dela.

Mark colocou o pano em seu bolso. Sacudiu seu rosto, novamente, para tentar esquecer o momento que observou as chamas de cor ciano. A palava “hospital” estava cada vez mais perturbadora, calafrios percorreram os fios do cabelo.

— Problema? — perguntou Nirda, puxou a blusa azul.

O querido irmão estava estranho, a menina piscou algumas vezes e olhou para ele. Mark foi coagido, deu um peteleco no nariz da menina que podia apertar de tão fofa. 

— Não é nada, na verdade… Posso dizer que é tudo. Esse dia é um dos dias mais importantes das nossas vidas, pretendo me assegurar em tentar nunca esquecer — respondeu animado enquanto chamou a atenção de todos. 

A deixa foi incrível, Will assentiu e começou outra conversa, onde lembrava dos momentos para quem não pode vê-los. As crianças prestavam muito atenção nas histórias antes da chegada delas a este mesmo orfanato. Ele conseguia manejar a atenção de todos com maestria, o clima melancólico e lento se diluiu em uma agradável nostalgia. 

O palestrante surgiu na sala. Entretanto, a presença não convidada da janela ousou roubar os sons, captava as palavras no fundo dos olhares de todos, escondido da percepção também de todos.

Eram sete e vinte sete da manhã. Réviz, quem causou todo esse evento, estava em sua casa no lado de fora do vasto jardim que cercava a casa, tinha uma vista muito bonita da cidade. O ar mais tranquilo em uma ambientação brilhante próxima às montanhas. Não chegava a ser afastado, toda aquela área havia sido reservada somente, exclusivamente e apenas para aquele homem.  Apenas o movimentar das folhas tentavam buscar reações do imóvel no sol.

Olhos ao céu, braços cruzaram. Contemplou o movimento das aves com vazio e respiração lenta. Rearranjar pensamentos de acordo com uma missão perigosa levaria tempo e uma determinação rancorosa de décadas.

“Descobrirei, sim. Conduzirei um final a isto”. O queixo despencava, foi apontado mais abaixo para atingir a vista da cidade. Agora, compreendeu seu verdadeiro objetivo:

— Benditos sinos, é tolice remoer dúvidas. Mark possui energia e vislumbres. — Lembrava da perspectiva de Mark na visita ao hospital. 

Mais Imagens surgiam em sua mente, presenciava o desespero do garoto como se estivesse em seu corpo, porém não temia ou sentia pena, só direcionava seu raciocínio para informações importantes. Eletricidade fluiu sobre seu corpo como uma descarga. Antes de mergulhar no poder, raios de luz puderam atravessar o visível em tons marrons pelas janelas da alma.

— Cabelo vermelho, alta, forte, sozinha, triste, cratera, cidade desorganizada. — Sua energia intensificou novamente num brilho laranja. — E agora outro: cabelo lilás, roupas pretas, perseguido, biblioteca. 

Palavras que resumiam anos de vislumbres em uma conclusão. Abriu os olhos em um tom confiante e determinado. O tom rígido relaxou. A nuvem tampo a iluminação do sol, e seu anseio tornou-se transparente.

— Por ela… É tudo por ela. — Retirou de seu bolso um chaveiro quebrado com "qui" gravado. — Luri apenas contem a missão mais fácil, me sinto horrível em deixar o fardo com usa irmã, quem tanto quis deixar longe disto.

Guardou o item de esperanças, foi a casa mais ao longe, pegou as chaves de seu carro e o retirou da grande garagem para o destino combinado semanas atrás. O veículo potente, que emitia sons altos, saiu a toda velocidade no caminho de adentrar pela cidade. 

Nirda olhava para a porta de saída do orfanato, atenta, sua expressão medonha retornou num instante de um pressentimento.

— Lá vem — sussurrou.

Enquanto o carro chegava cada vez mais próximo do orfanato, ela parecia levantar mais atenção a cada segundo. Will percebeu o movimento estranho de sua irmã, tentou alcançá-la próximo à porta, mas, logo bem perto, ela se virou com um meigo sorriso.  

— O que foi? 

 

 

 

 



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