Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 126.3: Missão Em Fallen

Os líderes controlavam os moradores de Eragon por drogas. Usavam desses meios para manter uma expressão depressiva em todos os moradores, tornando-os submissos, porém acabavam morrendo por conta da imunidade baixa.

As lendárias Amazonas Aladas eram alimentadas por drogas e não sabiam, assim como os garotos do “Insituto para Reencarnados”, sequestrados pela garota de orelhas de gato na batalha de Eragon.

A explicação dada por Azazel van Elsie deixou Raul horrorizado. Supostamente, aquela era uma Cidade-Estado religiosa, por que os seguidores da Deusa da Lua fariam isso?

Sabendo daquela informação, o garoto pensou que foi melhor metade da população ser sacrificado pela Presidenta do Inferno para invocar o Espírito Ceifador, pelo menos morreram e não precisavam mais viver sob o efeito das drogas.

“Guller conseguiu o nome dos traficantes que forneciam as drogas, a missão de vocês é fazer contato com eles em Fallen, aproveitaremos esta oportunidade para recrutar alguns homens de lá, lembrem-se: eles não tem escolha.” A explicação da mestra reverberava em sua cabeça.

Estava voltando para aquele lugar onde tudo começou mais uma vez, as malditas favelas esquecidas pelo mundo.

A carruagem discreta seguia em uma velocidade constante. O cocheiro era um mensageiro medroso do castelo, Holland. Raul e Azazel van Gyl iam no interior do veículo, ambos cobertos por mantos cinzas e com os rostos ocultos pelos capuzes.

Mal trocaram duas palavras desde que saíram do castelo, sabia que tentar iniciar um diálogo com aquela demônia de cabelos verdes era inviável.

Sua mente voltou-se para Eragon, a ilha flutuante agora não passava de um monte de entulhos na cratera que abriu ao desabar do céu. Um grupo de reconhecimento foi mandado para lá, no entanto ninguém retornou.

O ar ao redor da Cidade-Estado destruída tornou-se venenoso devido ao laboratório onde se fabricavam as drogas que, ao explodir, liberou toxinas mortais no ar. 

Sua mestra não desistiu de mandar pessoas até lá, ela queria algo, aparentemente era o veículo enorme que vivia trancado na igreja da Deusa Lunar.

A Presidenta do Inferno era imprevisível, mas sabia que ela pretendia obter o máximo de poder que pudesse, talvez para matar os seus companheiros, afinal não estava mais trabalhando com os outros membros do Conselho do Inferno.

“Fique forte, mate Belphegor dé Halls e torne-se um Duque do Inferno. Imagine… Azazel van Raul, o primeiro Duque humano.”

A demônia pretendia seguir naquele plano, por isso mandou alguns espiões procurarem Belphegor. Alguns o avistaram nas redondezas de Nova Canaan. Segundo ela, Gyl chegou ao posto de Duquesa matando um demônio que esteve neste posto há alguns anos.

Não sabia se queria ir tão fundo assim, assumir este título significava se envolver na guerra dos demônios, algo que acabava englobando até os deuses. Estava preparado para as consequências? Era apenas um garoto em busca de vingança!

— Che-chegamos — anunciou Holland parando a carruagem na praça. Com aqueles cavalos, dois dias foram o suficiente para chegar na cidade.

Varreu a praça com os olhos castanhos ao saltar do veículo. Não havia quase ninguém, a maioria das pessoas de Fallen aceitou sem relutância o novo governador e não precisaram ser queimados, porém não tinha mais coragem de sair de casa.

Os poucos transeuntes eram homens corpulentos trabalhando em construções. 

Olhou em direção à guilda de aventureiros filial da capital, era mais ou menos ali onde Noah costumava vender suas flores quando criança.

O prédio em questão estava vazio, mas não por medo dos aventureiros, provavelmente eles estavam se aventurando nas florestas perigosas de Fallen. Para eles, era indiferente quem governava Andeavor, podia ser uma criança ou a Presidenta do Inferno, só precisavam de dinheiro para sobreviver e pagar suas bebedeiras noturnas.

Gyl saltou da carruagem com uma expressão de nojo no rosto oculto pelo capuz cinza. Os cabelos verdes trançados saltitavam do interior do tecido e balançavam próximos aos seus peitos médios, quase pequenos, conforme caminhava.

— Nos espere na guilda, voltamos em algumas horas — ordenou Raul ao cocheiro. 

A demônia de tranças esverdeadas começou a andar sem fazer questão de esperar o garoto. Não era a primeira vez dela em Fallen, sabia para onde ir.

Ainda lembrava de quando foram eliminar os membros da Corvos lá, Gyl matou todos com um sorriso insano no rosto. Não hesitou nem em tirar a vida dos filhos de alguns nobres, ela assassinou todos com aquelas mãos frágeis de unhas pintadas de rosa agora.

Demônios eram horripilantes, reforçou isto naquele dia. Elsie pediu para que ele ajudasse sua discípula a empilhar os corpos, tudo, segundo ela, para assustar o marquês Guller quando ele chegasse.

Ele, Guller e Edward não passavam de marionetes daqueles monstros.

Chegaram na entrada das favelas em cinco minutos de uma caminhada parcialmente rápida. Ali era onde o mundo se dividia, onde as leias eram ditadas pela força e as crianças eram condenadas a uma vida miserável desde o nascimento.

Olhou para o cenário e contemplou três crianças sujas de lama brincando embaixo e uma tenda furada. 

Ratos e água fedorenta de aparência repugnante dominavam a entrada do local, saudando os visitantes com guinchados irritantes e um odor de revirar o estômago.

As construções caindo aos pedaços possuíam uma aparência mórbida, todos ganhavam um aspecto cinza com o tempo. Virou o rosto ao passar pela casa que pertencia à mãe de Noah, fez isto também quando foi ali com sua mestra para matar os membros da Corvos.

Escutou uma briga se desenrolando em um bar clandestino e uma mulher cobrindo o corpo apenas com uma tolha saltou de lá com uma faca ensanguentada em mãos. Ela olhou desesperada para rua e desapareceu por um dos becos escuros.

Não demorou muito para dois homens gordos e calvos repletos de tatuagem passarem correndo e seguirem na mesma direção da mulher, usando o rastro de sangue deixado pela faca como guia.

Apenas um dia comum em Fallen, Raul pensou suspirando e voltando a caminhar. 

Sua mãe e pai morreram quando ainda era criança, Ruthy contava que um cobrador invadiu a casa e eles não tinham o dinheiro para pagar o aluguel da casa. Foram abusados e mortos ali mesmo a facadas, por sorte as crianças assustadas estavam escondidas na casa de um tio.

Ruthy matou aqueles cobradores quando entrou no tráfico, assim como o tio que os obrigava a trabalhar e quase não alimentava os sobrinhos orfãos.

Talvez fosse por isso que sua irmã mais velha gostava tanto da frágil Noah, a situação dela era similar à deles. Raul também gostava de brincar com ela, apesar de ficar com ciúmes quando a garotinha chamava Ruthy de “irmãzona”.

Eliminou aquelas memórias ao chegar no local. Era um prédio quase na mesma altura da guilda da cidade, porém, como todo o resto, tinha um aspecto acinzentado, janelas de vidro quebrados e o barulho de bêbados em plena luz do dia.

Conforme subiam, os degraus de madeira antiga rangiam como se fossem quebrar. Na verdade, aquilo afundariam se alguém acima do peso tentasse usar, uma prova disso era um buraco do tamanho de um pé logo no fim da escadaria.

Empurraram as portas de madeira quase caindo e encararam o interior fedido do local, procurando o seu contato. Os olhos da dupla pararam na figura de uma mulher com o corpo repleto de músculos à mostra.

As pernas grossas eram cobertas por uma calça com furos aqui e ali, porém, na parte superior, apenas um pedaço de pano negro escondia os seios grandes. O que mais chamava a atenção naquela mulher era a orelha de gato marrom no lado esquerdo da cabeça, apenas uma orelha com um piercing dourado grande.

A mulher virou o rosto e uma cicatriz pôde ser vista no lado do rosto que faltava uma orelha. Ela ajeitou os cabelos brancos com cuidado, escondendo a cicatriz e baforando a fumaça presa no pulmão. 

O contato visual demorou pouco, ela jogou o cigarro que tinha em mãos na mesa e apontou para um par de cadeiras à sua frente.

Ela não era fraca. Uma mulher estar ali, com pouco roupa e postura relaxada, sinalizava que nenhum daqueles animais tinha a coragem de se aproximar.

Ao se aproximar, notou mais algumas cicatrizes espalhadas pelo corpo forte e de pele um pouco escurecida, uma cor típica dos moradores do Norte do Continente Ocidental.

Raul sentou sem fazer cerimônia, diferente de Gyl, que aumentou sua expressão de nojo ao ver a cadeira suja oferecida, havia rastros de vômito mal-limpado lá. Ela preferiu ficar de pé.

— Vocês nobres são uns frescos mesmo, viu? Isso aí é bem limpo se comparado às coisas que eu “sentei” na noite passada.

— Esta meretriz é o nosso contato mesmo? — perguntou a demônia, olhando para o garoto com raiva.

— Ô, vai ofender na cara? Tá achando que só porque é nobre pode fazer o que bem entender aqui? Coisinha fofa, cê não tá mais na casa do papai não. 

Em um estalar de dedos, as pessoas espalhadas pelo salão levantaram com o barulho de lâminas sendo sacadas. O olhar lascivo deles foi direcionado para Gyl, esquecendo completamente do garoto ao lado.

Surgiram homens das sombras, dos quartos do segundo andar — ainda vestindo as calças — e do exterior do prédio. Ficaram cercados rapidamente e o burburinho mesclado a comentários obscenos franziu ainda mais o cenho da demônia.

A mulher de apenas uma orelha de gato sacou uma adaga da cintura e, apontando para Gyl em provocação, começou a girar a arma enquanto assobiava.

— Não mate a mulher, ela é essencial para nossa missão — disse Raul afastando-se da zona de batalha. O massacre da Corvos se repetiria ali, todos aqueles homens, pais de família que entraram no tráfico a fim de conseguir dinheiro para alimentar os filhos, morreriam pelas mãos de Azazel van Gyl.

Um sorriso insano formou-se no rosto da demônia e a carnificina começou.



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