Rei das Sombras Brasileira

Autor(a): Genji


Volume 1

Capítulo 2: A Garota De Cabelos Vermelhos

 

 

Tomei uma pequena decisão e optei por não viajar pelas estradas, apenas pelas florestas. 

Era complicado lidar com monstros me caçando como uma presa, mas metade deles era fácil de enfrentar.

 Goblins e lobos saíram dos arbustos e de trás das árvores, cercando-me.

 Desembainhei a espada, cortando todos eles antes que os lobos pudessem me fazer de comida e os goblins resolvessem me matar só porque era divertido.

— Espero que o senhor Kay esteja bem — murmurei, colocando a mão sobre meu rosto.

Observei as folhas das árvores acima de mim, enxergando a luz do sol passar entre elas.

 O chão estava coberto por folhas secas e arbustos onde um goblin poderia se esconder.

Apressei o passo para chegar a uma vila antes do amanhecer. 

Ficar perambulando à noite seria suicídio e burrice. Ao perceber um barulho vindo em minha direção, sussurrei:

— O que é isso?

Saltei e fiquei observando em pé sobre o galho de uma árvore. 

Quatro homens apareceram com uma garota de cabelos vermelhos.

— Você irá salvá-la? — questionou uma voz que eu já havia ouvido antes.

— Sim, eles não parecem ser boa gente 

— Nesse caso, sua espada não servirá de muita coisa, ela parece desgastada.

— Não tenho tempo para procurar outra, o sol já nasceu e a essa hora deve ter vários soldados me caçando por todo o reino.

A garota soltou um grito, e eu me preparei para saltar.

— Não tenho muito tempo, Rei das Sombras — disse a voz — então deixe-me explicar algo.

— O que é?

— Você pode criar armas a partir de suas sombras, pode invocar aliados, animais, pode voar usando asas de sombras e abrir portais.

— Como faço isso?

— Concentre-se. Quando chegar ao Castelo das Montanhas, há um cristal mágico. Passe magia por ele e você saberá quem eu sou. Boa sorte.

Avancei com um salto em direção ao chão, minha visão desacelerou enquanto desembainhava a espada.

 Com um movimento rápido, cortei o braço do homem, sua mão foi decepada. Ele deu alguns passos para trás soltando um grito de dor.

— Quem é você? — disse à garota

— Faço a mesma pergunta 

— Peguem ele! 

Girei minha espada e me aproximei do homem de cabelos verdes. Ele pegou uma faca e avançou, desviei rapidamente causando um corte em sua perna.

 Enfiei minha espada em sua boca e com um movimento cortei sua cabeça de dentro para fora.

— Próximo — falei sorrindo e fixei meu olhar nos outros três.

O de cabelos castanhos avançou junto do de cabelos loiros. Desviei dos ataques e cortei o ar aparecendo atrás deles. 

As cabeças de ambos caíram e encarei o que havia cortado o braço. A garota não tirava os olhos de mim.

— É sua vez agora.

— Não! — gritou ele — não, não!

Ele tentou fugir, mas a garota criou uma esfera de fogo em suas mãos e o atingiu, carbonizando seu corpo.

Ela não precisava da minha ajuda afinal. Voltei a seguir meu caminho, mas fui surpreendido quando ela segurou minha capa.

— Ei, garota, o que está fazendo? Está chateada por eu tê-los matado?

— Não, só quero agradecer — respondeu ela, retirando a mão.

— Não quero agradecimento — retruquei.

— Você não disse seu nome.

— Galrian, Galrian Wolfhart.

— Prazer em conhecê-lo — disse ela, pondo a mão sobre o peito — sou Aryanna Voidborn.

— Ah, claro. Agora, se me der licença, preciso seguir meu caminho.

— Espere! — exclamou ela, segurando minha capa novamente — me leve com você.

— Para onde está indo?

— Eu... fui expulsa de casa e estou vagando sozinha por aí. Encontrei esses bandidos e eles iriam fazer coisas ruins para mim. Não me deixe sozinha.

Essa garota...

— E se eu fosse um cara mau?

— Sinto que você não é... — ela respondeu, fixando o olhar em mim.

Acho que não será ruim deixá-la me acompanhar.

— Ok, estou indo para as montanhas — falei enquanto uma ideia surgiu em minha mente — na verdade, antes de ir para lá, irei passar em um local.

— Tudo bem, irei acompanhá-lo — ela disse com um lindo sorriso no rosto.

— Sabe empunhar uma espada?

— Sei — ela assentiu.

Retirei minha bainha da cintura e embainhei minha espada, entregando-a a ela.

— Fique com minha espada. Nossa próxima parada é na fazenda de um amigo meu e lá tem um ferreiro. Pedirei para ele reforjar essa espada, Aryanna

— Me chame de Arya, mas... — ela falou olhando para a espada — e você?

Se o que aquela voz disse era verdade, então é realmente possível que eu possa convocar armas a partir desse poder de sombras estranho.

— Eu ficarei bem, vamos lá.

Voltei a percorrer o caminho, agora com uma companheira. Apesar de não confiar muito nela, acho que ela pode ser útil.

 Andando pela floresta, percebi que nossos passos se mantinham na mesma velocidade.

 Ela definitivamente não queria ficar para trás, provavelmente estava assustada devido ao último acontecimento.

— Ei, por que você usa uma capa por cima de um casaco branco? — questionou ela.

— Fui um ex-capitão do exército real.

— Entendi.

Percorrendo nosso caminho, ouvi algo entre os arbustos. Arya se aproximou, coloquei a mão sobre a boca dela e a puxei para o lado, nos escondendo em um arbusto.

 Coloquei o dedo indicador próximo à minha boca e percebi uma criatura verde de cerca de 3 metros de altura: um orc, segurando uma clava de madeira.

Removi minha mão da boca dela e percebi que o orc nos procurava devido ao nosso cheiro. 

Ele chegou mais perto ao encontrar nossa localização. Ao colocar a cabeça entre nós dois, Arya criou uma esfera de fogo em sua mão e eu uma esfera de massa escura, uma esfera de sombras. 

O orc observou ao redor, seu fedor pairava no ar, uma mistura de podridão que causava desconforto.

Acenei com a cabeça, e movemos nossas mãos em direção à cabeça do orc, liberando os ataques ao mesmo tempo.

 Arya e eu nos afastamos quando as esferas atingiram a cabeça da criatura, causando uma explosão.

— Conseguimos?

Olhamos em direção à poeira levantada pela explosão. Ele emergiu de uma poeira soltando um rugido estrondoso que reverberou por toda a floresta. Arya desembainhou sua espada e como um instinto, abri minhas mãos para o lado. 

Uma massa escura surgiu das minhas mãos, moldando-se em uma espada negra. Parece que a voz estava certa; posso mesmo convocar armas a partir desse estranho poder de sombras.

 O orc balançou sua clava em nossa direção e eu defendi com minha espada.

 Arya correu na direção dele, se arrastou em direção ao chão, ergueu-se atrás dele e cortou suas costas com a espada.

Ele soltou um rugido de dor, e ergui meus dedos médio e indicador. Do chão, emergiram correntes negras. Fiquei boquiaberto; mesmo que a voz não estivesse ali naquele instante, era como se estivesse sendo ensinado por ela.

 Arya retornou para o meu lado e juntos estendemos nossos braços. Esferas de fogo e sombras surgiram em nossas mãos, e liberamos em direção ao orc. 

Outra explosão surgiu, mas isso só o irritou ainda mais, conseguindo sua liberdade ao quebrar as correntes de sombras.

— Algum outro plano? — questionou Arya.

— Talvez...

O orc avançou enquanto dávamos passos para trás. Observando atentamente, percebi uma coisa. Voltei meu olhar para Arya e ela acenou com sua cabeça. 

Ela havia entendido o plano. Direcionamos as lâminas e avançamos quando o orc atacou com a clava. Ambos desviamos para os lados.

— Agora! — ordenei.

As lâminas das espadas cravaram dos dois lados da cintura do orc. Continuamos a nos mover para frente, enquanto as espadas percorriam o corpo verde dele. 

Ficamos lado a lado e o corpo dele caiu de rosto no chão. Nossa atenção se voltou para ele; o plano havia funcionado.                                                                   

                            [...]

Ao cair da noite, havíamos encontrado um local espaçoso suficiente para montarmos uma fogueira. eu estava próximo ao calor da fogueira. 

Antes de me sentar, abri o broche do lobo e a capa caiu por terra. Removi meu casaco branco, ficando apenas com uma camisa preta. 

Me agachei para pegar a capa e a coloquei novamente. Arya retornou, arrastando um javali e começou a esfolar a carne.

— Achei que cobria o seu rosto por ele ser feio — ela disse ao perfurar a pele do javali — mas vi que você é bem atraente.

— Uso a capa para esconder minha identidade. Mudando de assunto, onde aprendeu a caçar?

— Meu pai me ensinou.

— Entendi.

— Agora... — ela disse, fixando o olhar no casaco — posso usar isso como cobertor?

— Claro, sinta-se à vontade.

Arya preparou e assou a carne do javali. Peguei um pedaço com as mãos e pus na boca.

 A carne tinha uma textura mais firme, menos gordurosa e um sabor completamente diferente, difícil de explicar em palavras.

Após nosso jantar, fiquei responsável por vigiar enquanto Arya dormia. Ela se aproximou de mim, deitou sua cabeça sobre minhas pernas, se cobriu com o meu antigo casaco e fechou os olhos. Ao longo da noite, alternamos nossas posições até o amanhecer.

Ao nascer do sol, arremessei meu casaco na fogueira e o vi queimar por completo antes de Arya apagar o fogo com areia.

 Coloquei o capuz e juntos continuamos seguindo nosso caminho. O cheiro de grama e a luz do sol entre as folhas das árvores tornavam o clima agradável.

— Então quer me contar, quem é você? — perguntei enquanto andávamos lado a lado.

— Só se me disser quem é você, ex-capitão do império — retrucou ela.

— Fui acusado de assassinar o rei, mas na verdade eu presenciei o assassinato com meus próprios olhos. Ainda bem que meu comandante confiou em mim e me ajudou a fugir.

— Que história... — ela disse sorrindo — a minha não é muito diferente.

— Foi acusada de assassinar alguém?

— Não... eu recusei assumir o trono...

— Você é uma princesa? — questionei.

— É... já ouviu falar da raça Hornsiana?

— São aquela raça que tem chifres, mas... você não tem chifres.

— Sou metade humana, consigo assumir as duas formas... — ela soltou um sorriso sem graça — mas prefiro ficar assim.

Coloquei minha mão na cabeça dela fazendo um cafuné. 

Ela me encarou como se dissesse que não era uma criança e que não precisava de conforto. 

Apenas sorri para ela e continuei a caminhar. Ela apressou o passo, me seguindo

                               [...]

 

Hestia observava a cidade da janela do corredor do castelo, soltando um suspiro enquanto as pessoas se moviam ao redor, a mesma cidade que Galrian frequentemente espiava ao percorrer os corredores do castelo.

Kay se aproximou, também voltando seu olhar para a cidade.

— Alguma notícia sobre o fugitivo? — indagou ela.

— Alguma novidade dos alquimistas? — retrucou Kay, com um tom irônico.

— Sim, encontraram veneno no sangue do meu pai.

— A espada de Galrian não contém veneno.

— Eu sei... A espada foi um presente que dei a ele em seu aniversário — respondeu Hestia, fixando seus olhos em Kay.

— Mais alguma coisa? — indagou ele.

— Sim, a espada de Galrian estava manchada de sangue, mas não era o sangue do meu pai. As empregadas também encontraram cabelos loiros na sala do trono.

— Galrian deve ter visto o assassino. Deveria ter perguntado a ele...

— Encontre Galrian novamente. Queria poder fazer isso, mas tenho que me preocupar com a coroação e ficar de luto pelo meu pai...

— Alteza... você ainda ama o Galrian, não é?

A expressão de Hestia mudou; seus olhos se encheram de lágrimas. Ela baixou a cabeça e seus cabelos cobriram o rosto. Kay ficou surpreso ao ver lágrimas caírem no chão.

— Aquele idiota — ela disse em lágrimas — é impossível esquecer aquele idiota... Eu deveria ter recusado esse noivado...

— Alteza...

— Por isso — continuou ela, dessa vez fixando seus olhos em Kay novamente — quando arrumar um jeito de falar com ele... ou encontrá-lo... diga que eu sei a verdade agora e que ele venha me ver.

— Podemos saber da inocência dele... Mas enquanto Adrian estiver como rei e for seu noivo e marido, o Galrian vai ser caçado.                                                                   

                                 [...]

Havíamos chegado ao nosso destino, avistei um casarão de dois andares com 8 janelas em cima e em baixo, colunas na entrada; sem dúvidas, era a casa de Isael e de sua noiva.

 Senti uma magia vindo de nossa retaguarda e ao me virar, um homem da minha idade, com cabelos cacheados pretos e olhos castanhos avançou em minha direção. 

Nossos punhos colidiram, um sorriso apareceu em meu rosto ao perceber que era Isael.

— Bem-vindo à minha residência, Galrian Wolfhart — disse ele, enquanto um sorriso apareceu em seu rosto também.

 

 



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