Volume 1
Capítulo 13: A Era dos intocáveis
Chamas iluminaram a base adormecida. A escuridão da caverna, responsável por proporcionar um descanso apropriado para os membros da resistência, cedeu espaço para luz intensa. Uma nuvem de fumaça escondia o caos por trás do fogo, enquanto explosões evidenciavam a destruição do veículo em cheque. Despencando da estrutura principal, como folhas caindo de suas respectivas árvores, cada peça da nave em manutenção desmoronou rumo ao chão, partindo-se em destroços de tamanhos ínfimos.
Ruídos ressoaram com a colisão de metais, proporcionados pelo uso de armas devastadoras. Ferramentas de demolição, capazes de penetrar qualquer substância, amassaram a carcaça metálica, marcando o material com cicatrizes irreparáveis. Nos arredores do incêndio, cinco homens cercavam o veículo a partir de posições privilegiadas, gargalhando à medida que observavam o espetáculo, criado pelas suas próprias mãos.
— HAHAHAHAHA!!
— Não parem, rapazes!! Devemos continuar até que essa lata velha fique irreconhecível!
— Estamos diante do nosso melhor trabalho em anos! É como olhar para uma pintura de renome!
— Essa é uma vista e tanto! O que acha, senhor Falco?
O líder do esquadrão encarava atentamente os destroços diante dele. Diferentemente do seus subordinados, sua face foi dominada pelo mais sincero desprezo.
— Apenas fizemos o que já deveria ter sido feito. A escória da resistência deve se manter no chão. No espaço não há lugar para um ranque tão baixo.
Chegando nas proximidades do hospital, Roccan se deparou com o cenário catastrófico. Reconhecendo a nave, na qual ele havia descansado no passado recente, sua mente demorou para processar o que via, enquanto seus ouvidos perceberam um som que se diferia entre as risadas. O choro expressou a angústia de uma jovem.
Lágrimas escorriam pelos olhos de Proxie, forçados a observar a imagem desesperadora. A garota se encontrava ajoelhada, incapaz de reagir, ao testemunhar o último presente deixado pelo seu pai ser reduzido às cinzas da destruição infeliz.
Como se estivessem festejando ao redor de uma fogueira, os homens do esquadrão continuavam se aproveitando do incêndio, usufruindo ao máximo de um momento tão aguardado. Por outro lado, a jovem se manteve distante da celebração, acompanhando tudo de longe, sem conseguir formar uma única palavra com seus lábios.
Pupilas atenciosas tomavam o tempo necessário para inserir o recém-chegado no contexto. Roccan permaneceu imóvel, focando sua atenção em um único ponto: as costas de Proxie destacavam a consoante de maior repúdio. Sozinha, a letra F destoava do grupo de vogais, carregadas pela satisfação dos Escultores de Ranque A. Falco e o seu esquadrão enfim terminaram o serviço.
— Senhor Falco, você deveria se animar. Fizemos um ótimo trabalho hoje — comentou Kazo.
— Apenas cumprimos o nosso dever. Com isso, Proxie não poderá mais voltar para o espaço. Sua utilidade como uma Escultora chegou ao fim, como deveria ter sido, desde o início.
— Você está ainda mais sério do que antes, mas nada que o álcool não resolva! O que acha de irmos para o bar? A noite está apenas começando!
O grupo se distanciou da nave em chamas, deixando o cenário caótico para trás. No caminho, o líder pensou cuidadosamente antes de responder ao subordinado, quando percebeu a garota solitária lhe encarando com olhos encharcados.
— Parece uma boa ideia.
Conforme os homens deixavam o local, Roccan se aproximou da jovem ajoelhada. Mesmo com a intenção de se levantar, a usuária da prótese perdeu o controle sobre o membro metálico, com o equilíbrio afetado pela colisão de emoções poderosas. A fracassada parecia estar presa ao chão. Se opondo aos ruídos do incêndio, os passos do rapaz loiro foram o único outro som a adentrar nos ouvidos desesperados, seguidos da voz relaxada que os acompanhava.
— Ei, Proxie. O que quer que eu faça? — perguntou Roccan.
Uma espera quieta concedeu tempo para a formulação da mais genuína resposta.
— Qualquer coisa — afirmou rouca.
O esquadrão de Ranque A se afastou da dupla, sem se preocupar com a consequência de suas ações. Conversas descompromissadas logo sobrepuseram a intensidade de feitos irreparáveis, tratando-se apenas de outro simples acontecimento no cotidiano da resistência.
— Você parece bem melhor agora, senhor Falco. Quer tanto assim beber? — acrescentou Kazo.
— Após refletir um pouco, eu senti o alívio pelo qual esperei a minha vida inteira: a garota e o pai dela nunca voltarão aos céus.
Partículas rosa moveram uma presença inesperada.Um portal foi formado diante de Falco, que teve o seu trajeto interceptado por um jovem enfurecido. Roccan surgiu na frente do esquadrão, impedindo o avanço da equipe em retirada. O líder do grupo reconheceu o garoto.
— Roccan? Que surpresa! Resolveu entrar para o time?
Nenhuma palavra foi dita. O rapaz evitava as faces dos demais indivíduos, se recusando a visualizar rostos tão desprezíveis. A simples linguagem corporal daqueles em sua frente solucionava qualquer dúvida ainda não esclarecida. Braços relaxados e passos espaçados indicavam a ausência de todo tipo de preocupação.
— Ei, qual é o seu problema? Veio até aqui para permanecer calado? — Falco não compreendeu a postura do recém-chegado.
Lábios sérios escondiam vulnerabilidades apresentadas no passado, dificultando a leitura sobre um lado atípico do garoto loiro, nunca antes presenciado pelos demais ao seu redor.
— Muito bem, a minha agenda não está livre. Já entendi que você veio para me atrapalhar. Caso não saia da minha frente, será movido à força — ameaçou o líder.
Inconformado, após inúmeras tentativas frustradas de chamar a atenção do sujeito loiro, Falco perdeu a paciência. O homem enfurecido empurrou o obstáculo em seu trajeto, mas não conseguiu movê-lo. A fúria elevou a determinação do corpo pressionado, construindo uma postura inabalável, sem a intenção de ceder à pressão externa. Roccan não moveu um músculo sequer, resistindo a todas as provocações do líder do esquadrão. Seu objetivo estava claro o suficiente para tornar qualquer distração inútil.
Contrastando com as ações do jovem, o adulto seguiu incrédulo. Seu precioso tempo não deveria ser gasto com a escória da resistência. Falco socou na direção do indivíduo loiro, almejando um acerto direto no rosto ameaçado.
— Chega de enrolação! Eu vou te mostrar o seu lugar, pirra—
O alvo do golpe foi alterado. Com o rastro da poeira rosa, Falco cravou os punhos na própria face. Um portal na frente de Roccan redirecionou o soco para o responsável pelo ataque, fazendo com que o indivíduo atingisse a si mesmo. Outro portal conduziu o percurso para um contra-ataque impossível de ser desviado. Falco foi impulsionado até o chão, caindo de joelhos frente ao rapaz enfurecido.
— Hawk. — Os lábios de Roccan enfim se pronunciaram, mordidos pela raiva que movia os seus dentes.
— O que disse? — O líder caído não compreendeu a situação.
— É o nome do pai dela. Nunca ouvi você se referindo a ele desta forma, então achei que merecia saber.
— Quem liga para o nome daquele fracassado? É apenas um idiota de Ranque F! Ele está internado no hospital há anos, sabia disso!? Patético, não!?
— Eu o conheci.
— Tsc, que seja! Você acabou de infringir o regulamento da resistência. Está ciente desse fato?
— Errado. Eu nem encostei em você.
— Suas brincadeiras estão indo longe demais, pirralho. Está comprando briga com a pessoa errada.
Roccan observava o seu oponente de cima para baixo. A posição privilegiada contrariava o ranque dos Escultores, evidenciado o total controle do rapaz, pronto para se opor aos conceitos que agora alimentavam o seu conhecimento.
— À propósito, você fez algo ainda mais grave do que tentar bater em alguém. — O jovem desafiou seu ouvinte.
— Entendo aonde quer chegar… Infelizmente, isso é perda de tempo. Não importa como tentem me punir, nada vai melhorar a situação da garota. Um Escultor de Ranque F só pode reparar a sua nave uma única vez. Não há exceções para essa regra.
— Nesse caso, mesmo com você sendo punido…
— Ela também será. O motivo por trás dos danos não importam. O veículo está quebrado, e isto é prejudicial para a resistência.
— Nada disso retira a sua punição.
— Proxie não terá tempo para isso. Ela estará ocupada derramando lágrimas pelos seus fracassos.
— Eu também sou um membro da resistência. Não deixarei a sua afronta passar em branco.
— Você está blefando.
— Eu nem sei fazer algo assim.
Falco avançou na direção de Roccan, mas o rapaz utilizou os seus portais para desviar da investida, sendo transportado para trás do sujeito. Diante de uma humilhação inquestionável, Kazo foi ao resgate do seu superior, disparando rumo ao jovem loiro. Um agarrão tentou interceptar a movimentação do alvo, porém, este reagiu rapidamente. Partículas rosa sinalizaram uma esquiva perfeita, utilizando portais para redirecionar o atacante.
Um portal surgiu entre Roccan e Kazo, levando o inimigo para a mesma posição do líder de esquadrão. Falco recebeu a presença inesperada do seu companheiro, levando ambos a colidirem em uma ação forçada. Unidos por um portal surpreendente, os dois homens esbarraram entre si, caindo sobre o chão da base.
— Eu quero fazer uma proposta — afirmou Roccan, encarando o esquadrão desnorteado.
— Acha mesmo que está em posição para fazer exigências?
— A oferta vai beneficiar vocês.
— Desembucha.
Distantes da confusão, mas ainda capazes de escutar a conversa, os ouvidos de Proxie se atentaram para o diálogo promissor. As lágrimas nas pálpebras da garota secaram, enquanto assistiam o brilho nos olhos do rapaz determinado.
— Eu desafio vocês para uma competição. Caso vençam, não irei recorrer ao regulamento dos Escultores. Fecharei o bico para os seus crimes.
— Você é realmente ousado, moleque.
— Em um cenário onde vocês percam, terão a obrigação de utilizar um de seus reparos disponíveis. Uma nova manutenção será feita na nave destruída.
— Por que aceitaríamos correr um risco tão alto?
— A modalidade da competição é a nossa principal desvantagem.
— Ei, ei… Você só pode estar brincando…
— Eu e Proxie enfrentaremos você e o seu companheiro nos Jogos da Folia.
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