Ronan Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 75: As Runas de Ronan (5)

Com lágrimas nos olhos ele fitou sua mão, estava emocionado com o que via.

— Finalmente! — O brilho azulado irradiava o espanto estampado na cara dos seus amigos.

Anna, a mais sentimental do grupo se emocionou num choro tímido.

— Parabéns — disse ela com a voz trêmula, recostando a cabeça no ombro da amiga.

— Dois meses — Nathalia extravasou o alivio numa longa expiração. — Agora podemos desocupar o campo. — Apontou para Ronan — Está na hora de você retribuir o favor — finalizou com um sorriso no canto da boca.

Ronan secou as lágrimas com a manga do casaco.

— É claro, é claro, nada mais justo. Mas me sinto como uma garotinha ao me deixar levar desse jeito, ainda mais na frente de vocês.

— Sorte sua que reservamos esse espaço em um horário pouco movimentado — Dario justificou. — Mas vamos logo para a oficina. Quero aprender aquela porcaria de runa o quanto antes. Não quero me ferrar semestre que vem.

Cada um pegou o seu material e, juntos, saíram do gramado.

Anna, Dario e Nathalia esperaram Ronan na porta da oficina. Apesar de o espaço estar reservado neste horário para eles, alguém precisava ir à secretaria retirar a chave. Não demorou muito e Ronan logo surgiu no pátio, correndo do jeito dele, como se fugisse de um monstro invisível. Ninguém falou ou riu sobre o assunto, os três manteram a piada entre si. Ronan parou para descansar e entregou a chave para Anna, que sem perder tempo, abriu a porta da primeira sala da Oficina Universitária.

— Eu ainda acho que deveríamos chamar o resto da turma — começou Anna como quem não quer nada. — Você se daria muito bem. — Ela encarou Ronan, e acrescentou: — Professor Briggs.

— Anna, o garoto iria explodir de nervoso, desculpa Ronan, mas é a verdade. — Nathalia o encarou com um olhar hipnotizante.

Doeu em seu peito ouvir aquelas palavras vindo dela.

— Eu sei. — Por sorte, a satisfação de aprender uma manipulação nova conseguiu camuflar a dor das duras palavras que diziam nada mais que a verdade.

— Como se você desse para professora.

— O que você quer dizer com isso, senhor Zeppeli?

— Quero dizer que você queimaria o primeiro espertalhão da turma.

— E com todo o prazer, para que sirva de lição para o resto da classe. — Faíscas crepitaram num estalar de dedos.

Anna deixou escapar uma risadinha.

— Escute aqui vocês três. — Eles se viraram. — Hoje eu gostaria de testar algo novo. — Ronan caminhou para a mesa do professor. — Como chegamos ao fim do mês, o meu treinamento com o professor Ronaldo terminou. E ele me ensinou algo incrível que eu gostaria de mostrar a vocês.

— Ui… até me arrepiei de emoção — Nathalia disse com tanto sarcasmo que recebeu de presente uma cotovelada da amiga.

— Nat! Fica quieta — Anna praguejou baixinho.

Os três se aproximaram da mesa do professor, onde a mochila de Ronan repousava ao lado de um longo embrulho. Os olhos de Nathalia se arregalaram em excitação.

— Posso?

Ele confirmou com um aceno e Nathalia retirou a camada de pano, revelando um objeto envolto em couro, com uma guarda prateada numa das pontas. Ela segurou a bainha e ofereceu a parte metálica ao seu dono, encurvando-se.

— Sua espada… Lorde Briggs.

Ronan envolveu sua mão direita na empunhadura e puxou a lâmina num impulso veloz.

— Você vai…

— Gravar uma runa? Com certeza.

— Ela pode quebrar meu presente, sabia?

Dario e Anna se espantaram com a revelação.

— Seu presente? — ele perguntou.

— É uma longa história Zeppeli, pergunte depois para seu amigo se quiser saber.

— Não era para ser um segredo? — Ronan coçou a nuca.

— Era, mas eu não me importo mais com o Lorde “trapaceiro” Reiner. Chega de conversa, quero ver do que você é capaz garoto.

Aquele tom de desafio aqueceu sua autoestima. Ronan puxou a gaveta da mesa do professor e retirou o formão e o martelo guardado por ele anteriormente.

— Um passo para trás, por favor.

Os três se distanciaram e acompanharam em primeira mão o trabalho de Ronan. Cada martelada no formão gravou um minúsculo traço na lâmina, logo acima da guarda do florete. Passou-se uma hora inteira e uma estrela tomou forma sobre o aço.

— Vai demorar muito? Não dá pra fazer mais rápido, não? — perguntou Nathalia, sentada na primeira bancada.

— Estou na metade ainda, e não, não posso ser mais rápido. Já faz um mês que eu ajudo vocês e parece que ainda não aprenderam a importância em calcular cada gravura.

— Não é que não aprendemos, é que não parece funcionar com a gente essa técnica de calcular tão friamente — acrescentou Dario, que compartilhava do mesmo problema.

— Engraçado ter mencionado isso, estive lendo dias atrás um livro que descrevia a história da criação de runas. Por algum motivo, os maiores mestres da conjuração tem certo preconceito com essa arte. O autor até mencionava que é um trabalho de camponês

— Típico — comentou Ronan dando mais uma pancada no formão. — Querem saber a verdade? Eu acho que eles têm medo, medo de um dia serem caçados por Procuradores ou Guardiões Rúnicos.

Dario deitou-se em uma bancada.

— Nem todos os procuradores são especialistas em runas. Se você é capaz de conjurar uma barreira resistente o suficiente, você é aceito.

— E qual é a diferença entre uma barreira conjurada e uma ativada por runa?

Foi Ronan quem respondeu.

— Runas não necessitam de sincronização ou conversão de energia, basta canalizá-la que o efeito é ativado. Em contrapartida, ela depende da estrutura em que é gravada. Vocês não estavam na sala, mas durante a primeira prova com o professor Ronaldo, minha runa absorveu a conjuração, mas terminou rachando o bloco de madeira. Fiquei até com medo de ter falhado, mas ele explicou logo em seguida que era comum, pois além do padrão ser gravado num cubo de material frágil, aquela runa de absorção era de baixo nível.

Nathalia soltou uma risada.

— Eu retiro o que disse. Ronan, você daria um ótimo professor.

Aquelas palavras lhe trouxeram uma confiança sublime.

— Terminei…

Nathalia pulou da cadeira, Dario se levantou da bancada e Anna correu para checar o resultado. Olhos brilharam em contemplação. Uma estrela cercada por raios ondulados marcavam a espada presenteada por Nathalia.

— O que ela faz? — perguntou Anna.

Ronan olhou para os lados e inspecionou cada canto da sala da oficina.

— Nat — ele chamou. — Mostre-me do que é capaz.

— Tem certeza? — ela perguntou com o cenho franzido.

Ronan canalizou sua energia para a runa gravada, um brilho minimalista acentuou os traços da assinatura arcana em cada talho. Estava tudo pronto, o padrão exclusivo do usuário funcionou. De agora em diante Ronan poderia ativá-la. Anna e Dario se recostaram na parede onde a porta se encontrava, enquanto atrás das bancadas do meio, Nathalia permanecia de pé.

— Pronto?

— Manda ver.

Ela levantou o braço em direção ao teto, uma bola de fogo do tamanho de um livro comum tomou forma.

— Muito grande? — ela inquiriu confiante.

— Tá perfeito.

— Espera ai! — Dario alertou. Com a atenção dos três para si, sugeriu: — Ronan, posso fazer uma barreira na sua frente, só para garantir?

— Qual é Zeppeli — Nathalia o provocou. — não tem confiança no amigo? Deixe-o brilhar um pouco.

Ronan a encarou com um sorriso confiante, ela continuou:

— O Dario só disse isso porque não é o centro das atenções dessa vez.

Nathalia não conseguiu segurar o riso e Ronan a acompanhou em seguida.

— Se der merda não digam que eu não avisei. Já me ferrei que chega esse ano.

Ignorando o aviso do Zeppeli, ela perguntou para o garoto brandindo a espada rúnica:

— Posso?

— Pode.

O braço dela abaixou e a bola de fogo acompanhou o movimento, partindo contra Ronan. Dario sentiu o rosto esquentar conforme a esfera se aproximou e resfriar quando se distanciou. Ronan apontou a ponta do florete, concentrou sua energia e a runa brilhou numa intensidade luminosa.

A bola incandescente se desmanchou ao entrar em contato com o escudo côncavo e transparente que protegeu o espadachim.

— Isso — comemorou Ronan num salto.

— Fogo! — vociferou Anna.

E um tufão varreu o ambiente, descabelando o antes empolgado Ronan.

— Não precisava me assustar assim Anna, era só uma fagulha. — Dario a repreendeu, apontando para a quina da mesa carbonizada.

 



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