Segunda Terra Brasileira

Autor(a): Dimas Tocchio Neto


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 4: Decisões

Diego

Do meu posto na sala de comando, observei a expressão preocupada de Igor e o abraço reconfortante de Isabella. Eu me perguntava como poderíamos enfrentar essa nova ameaça, mas tentei manter a calma e me concentrar na tarefa em mãos.

Foi então que notei algo estranho na tela de navegação. Uma mancha roxa no fundo negro do espaço, que logo se revelou como Plutão, o planeta anão mais distante do Sistema Solar.

— Ei, pessoal, olhem para a tela. Plutão está em nosso campo de visão — anunciei, chamando a atenção de todos para a descoberta.

Houve um momento de silêncio enquanto observávamos o planeta distante. Então, David quebrou o silêncio:

— Não é incrível como estamos tão longe de casa? — disse ele, com admiração na voz.

— É, mas também significa que estamos sozinhos nesta missão — respondi, lembrando a todos da responsabilidade que carregávamos.

Ao fundo, Carlos se pronunciou:

— Mas não estamos sozinhos, Diego. Toda a humanidade conta conosco e com o sucesso desta missão. Não podemos falhar.

Assenti em concordância com as palavras de Carlos, sentindo uma onda de determinação me inundar. Foi nesse momento que o televisor instalado no teto da sala de comando começou a piscar, indicando que uma mensagem de vídeo estava chegando.

Eu me aproximei do aparelho e o liguei, revelando imagens de pessoas de diversos países do mundo, falando em seus idiomas nativos. Fiquei maravilhado ao ver a união da humanidade em torno dessa missão e a motivação que essas mensagens traziam para todos nós.

As mensagens eram em 23 idiomas diferentes, os mais falados no mundo, e as pessoas encorajavam nossa equipe a continuar com o trabalho árduo, garantindo que eles estavam torcendo por nós e agradecendo pelo trabalho que estávamos fazendo.

Após o término da mensagem, ficamos em silêncio por alguns instantes, processando a emoção do momento. Então, David quebrou o silêncio novamente, dizendo:

— Vamos continuar com o nosso trabalho, pessoal. Temos uma missão a cumprir e não podemos decepcionar a humanidade.

Concordei com David e voltei minha atenção para a tela de navegação. Passamos por Plutão e agora estávamos saindo do sistema solar.


***

Após algumas horas de viagem desde a saída do sistema solar, sete dos tripulantes começaram a preparação para entrar em hibernação.

Os sete tripulantes se levantaram e começaram a se preparar para a hibernação, enquanto eu, David e Ellie ficamos para trás.

— Parece que seremos nós três pelo próximo semestre — disse Ellie, sorrindo.

— Parece que sim. Temos que estar prontos para qualquer eventualidade — concordei.

David olhou para nós dois e falou:

— Será uma boa oportunidade para nos conhecermos melhor e fortalecermos nossa equipe.

Passamos as próximas horas conversando e nos conhecendo melhor. David contou algumas histórias engraçadas de sua juventude, Ellie falou sobre sua família e eu contei sobre minha vida antes de me juntar à missão.

Finalmente, chegou a hora de nos despedirmos dos sete tripulantes que entraram em hibernação. Foi uma sensação estranha ver meus colegas de equipe adormecerem em cápsulas, mas sabia que era necessário para o sucesso da missão.

Eu, David e Ellie nos despedimos deles e nos preparamos para os próximos seis longos e solitários meses, sabendo que a responsabilidade de manter a missão em andamento recairia apenas sobre nós três.

***

Depois de um dia, enquanto nos ajustávamos à nova rotina a bordo, um sinal de alerta começou a ser emitido na nave. Corremos para a sala de comando, tentando identificar a origem do problema.

Foi David quem primeiro encontrou a causa do alarme: um erro de sua parte havia impedido o escudo contra micrometeoritos de ser ativado e a nave havia sofrido um pequeno dano.

— Desculpem, pessoal. Eu não devia ter deixado isso passar despercebido. Mas não se preocupem, podemos consertar isso facilmente — disse David, visivelmente abatido por seu erro.

No entanto, quando verificamos o dano, percebemos que seria necessário sair para consertar a nave do lado de fora. Isso era uma operação perigosa e complicada, mas não havia outra escolha.

— Vamos precisar de um voluntário para fazer o reparo do lado de fora. Quem se oferece? — perguntou Ellie.

David prontamente se ofereceu, mas eu interrompi:

— Desculpe, David, mas como líder da missão, é minha responsabilidade fazer isso. Eu me prepararei e irei.

David tentou argumentar, mas eu o interrompi novamente:

— Não há discussão. É minha responsabilidade e eu irei.

A nave foi abruptamente interrompida no espaço para que o conserto pudesse ser feito. Eu rapidamente me preparei e saí para realizar a tarefa, mas enquanto trabalhava, num piscar de olhos, a nave simplesmente desapareceu da minha vista, deixando-me sozinho e sem respostas. Será que eles me abandonaram? O que diabos aconteceu?

Passei alguns segundos tentando entender o que havia acontecido, mas logo a realidade cruel me atingiu: com a velocidade atual da nave, que viaja a metade da velocidade da luz, eles deviam já estar a uma distância inimaginável dali. Eu estava completamente sozinho, flutuando no vácuo do espaço, e sabia que não tinha muito tempo de vida. Em poucos minutos, eu estaria morto.
 
Cinco minutos se passaram e, com o oxigênio se esgotando rapidamente, eu comecei a aceitar o inevitável. Não havia nada que pudesse ser feito. Eu estava prestes a morrer sozinho no espaço, sem nunca ter a chance de ver minha família e amigos novamente. Aceitei a minha morte iminente e fechei os olhos, me preparando para o fim.

Com o oxigênio acabando, comecei a sentir meus pensamentos ficando nebulosos e minha visão escurecendo. Tentei lutar contra a inevitabilidade da morte, mas sabia que era inútil. Em questão de segundos, eu perderia a consciência.

Mas, de repente, vi uma luz brilhante surgindo diante de mim. Era uma luz intensa e reconfortante, que parecia me chamar para perto. Eu não sabia o que era aquilo, mas sabia que era algo que eu precisava seguir.

Deixei meu corpo se entregar e me entreguei à luz, sentindo um estranho alívio e paz tomar conta de mim. Era como se todas as preocupações e medos que antes me atormentavam simplesmente se dissipassem. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia que estava tudo bem.

— Diego…. Diego…

Após perder a consciência, uma voz distante ecoava em meus ouvidos. Gradualmente, comecei a recuperar a consciência e percebi que estava deitado em uma cama na nave. David e Ellie estavam ao meu lado, aliviados por eu estar vivo. Fui resgatado, mas não tinha ideia de como isso havia acontecido.

David explicou que, por um erro seu, a nave se ligou novamente e partiu por um segundo, deixando-me para trás. Eles entraram em desespero e conseguiram me localizar graças ao rádio de comunicação que estava comigo, mas me encontraram inconsciente no espaço. Ele disse que resolveu o problema e que estávamos indo de volta para a Serafim sem mais problemas.

Nesse momento, eu me permiti deitar e descansar um pouco. Afinal, tudo o que aconteceu foi bastante emocionante para o início da nossa viagem.

David

Seis meses se passaram desde o incidente com Diego... Ellie foi esperta em achar aquele inútil no espaço, mas se ela não tivesse interferido, eu seria o líder dessa missão. Não importa como ela o encontrou, quando chegarmos em Serafim, eu tomarei o controle da missão, custe o que custar. Há muito em jogo e eu farei o que for preciso para garantir que tudo saia conforme meus planos.

Fazer amizade com outros seres? Ser amiguinhos? Patético. Eles não compreendem a verdade, mas mesmo que compreendam, recusarão-se a destruir esses falsos deuses. Mas a destruição acontecerá, e a humanidade prevalecerá.

Nesse momento, Ellie se aproximou de mim com um sorriso e curiosidade estampados em seu rosto.

— O que está passando na sua mente, David? — ela perguntou, inclinando a cabeça para o lado enquanto observava a imensidão do espaço através da janela.

Respirei fundo antes de responder.

— Estava apenas refletindo sobre nossas próximas etapas em Serafim.

De repente, Diego entrou na sala e interrompeu a nossa conversa.

— Desculpe interromper, mas tenho uma notícia importante. Eu hibernarei, e você, Ellie, deveria fazer o mesmo. O comando da Terra quer falar com David uma última vez antes de iniciarmos a missão em Serafim — disse Diego, com uma expressão séria.

Olhei para Ellie e vi sua expressão de surpresa.

— Mas por quê? — ela perguntou.

— Não tenho certeza, mas parece que há uma mudança nos planos. De qualquer forma, David, você precisa gravar uma mensagem para a Terra antes de entrar em hibernação. O comando quer uma atualização final antes de todos hibernarem — explicou Diego.

Acenei com a cabeça, ainda processando a notícia.

— Entendido. Realizarei a gravação agora mesmo.

Me despedi de Ellie com um abraço e segui para a sala de comunicações. Gravei a mensagem por vídeo.

Eu me sentei em frente à câmera de gravação e comecei a falar.

— Olá, Comando da Terra. Aqui é o vice capitão David da missão Serafim. Estou gravando esta mensagem como solicitação final antes de entrarmos em hibernação e partirmos para nosso destino. Quero informá-los de que a tripulação está em bom estado e nossos suprimentos estão em ordem. A nave está em perfeito estado de funcionamento.

Ainda temos algumas incertezas sobre o que podemos encontrar em Serafim, mas estamos preparados para enfrentar quaisquer desafios que possam surgir. Nossa missão é importante e estamos comprometidos em concluí-la com sucesso.

Agradeço a todos na Terra que trabalharam arduamente para nos preparar para essa missão. Estamos ansiosos para relatar nosso progresso assim que chegarmos em Serafim. É isso por agora. Até breve, Comando da Terra.”

levantei da cadeira e segui em direção à câmara de hibernação, onde Ellie já havia entrado ao meu lado.

— Parece que finalmente estamos chegando perto de Serafim — eu disse a ela, com um sorriso cansado.

Ellie concordou e fechou os olhos, se preparando para entrar em hibernação. Fiz o mesmo, sentindo a sensação de dormência se espalhar pelo meu corpo enquanto a tampa da câmara se fechava lentamente.

Tudo ao meu redor ficou escuro e silencioso. A sensação era estranha, mas eu sabia que era necessária para a nossa missão. 

Minha última lembrança foi do som da minha respiração se tornando mais lenta, e então, tudo se tornou escuro



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