Volume 1

Capítulo 5

Alyssa respirou fundo e foi em frente.

Uau…

O que viu foi surpreendente — a Colônia dos Cosmos que encontrou era muito mais bonita do que imaginava. A luz do sol caiu sobre as pupilas dilatadas da princesa.

Os belos talos das flores e os cosmos que floresciam nas pontas pareciam dançar no céu.

Isso agitou o coração de Alyssa novamente.

— Que… bonito…

As flores pareciam acenar para ela, “Olá, olá, muito prazer em te conhecer.”

Pela primeira vez, Alyssa encontrou algo que a acolhia nessa mansão. Não, ela não sabia o que as flores sussurravam para ela, mas o seu silêncio a deixou aliviada.

A princesa estendeu a mão, mordendo levemente os lábios. Tocou as pétalas macias. Era tão bom ter vindo tão longe… Se ela pudesse ver esse campo para sempre, talvez a vida não continuasse tão infernal. Onde quer que ela fosse, seria melhor do que estar com a família real.

Alyssa ficou ali por um tempo, perdida em pensamentos.

 

***

 

Eric parou na cara do jardineiro, tirou o equipamento e voltou para a mansão com uma cesta repleta de frutas. Ophelia, que o estava esperando, apoiou o queixo contra o corrimão antes de correr para baixo.

— Mano!

— Ophelia?

O rapaz pegou a garota com um braço e a abraçou, mas ela logo fechou a cara.

— Que fedido! Tava mexendo com paisagismo de novo?

Shh. Leons, aqui.

Eric empurrou a irmã e entregou a cesta para o mordomo. Ophelia fez beicinho e começou a rodear o homem.

— Tem bastante fruta aí. Você tá no jardim desde cedo.

— Se Cambridge cair, vou comer e viver como um jardineiro. — O chefe da família riu um pouco enquanto tirava as botas sujas e as colocavam de lado, só se endireitando depois de colocar os sapatos trazidos pelos servos. — Cuide da mãe e… — Eric piscou. — Da princesa Alyssa também.

Ophelia ergueu a cabeça, ferida pelas palavras dele: — Tá falando sério?! Por que me dar aquela garota? Não me dê nada, vou enlouquecer!

— Ophelia. — chamou a irmã com seriedade.

— Por quê? A princesa Alyssa tem sangue Avery. Por que eu devia ser legal com ela? Eles mataram o nosso irmão mais velho!

Shh, Ophelia. Proteja a imagem da princesa.

— Mas…

— Ophelia… — Eric suspirou e gesticulou para Leons.

Depois de ver o mordomo se curvar, pegar a cesta e sair, o rapaz agarrou o punho da irmã e deu um passo à frente. Ela precisava saber antes que alguma coisa maior acontecesse.

Se a nobre princesa não conseguisse superar a perseguição causada por Ophelia e corresse para a família real, eles teriam grandes problemas.

— Ah, mano. Você tá fedendo!

— Tá bom, tá bom. — respondeu o rapaz, que tinha conseguido levar sua irmãzinha cruel para o quarto, soltando-a.

— Por que você fez isso? — Ophelia fez beicinho, tentando entender o porquê dessa nova postura do irmão.

O rapaz se jogou na cadeira, e resmungou, desabotoando a camisa: — Não faça isso com a princesa Alyssa.

— Por quê? Você gosta dela? Não, Eric, você…

Shiu. Pensando demais de novo. Culpa sua, espera eu acabar de contar a história.

Ophelia franziu o cenho para o irmão. Ele era o oposto de Henry, que sempre dizia que tudo nela era fofo. Embora soubesse que o que Eric dizia era verdade, se sentia incomodada. Então, virou a cabeça.

— Escuta aqui, Ophelia. — O rapaz estalou a língua e disse: — Você não quer ver o Henry de novo?

— O que…? — A garota virou a cabeça com olhos trêmulos. Embora fosse sensível e exigente, não era uma criança má. Na verdade, era tudo mais simples do que o pensado. Por isso Eric escolheu tratamento de choque, o que pareceu funcionar.

— Por-por que eu não poderia ver ele? Me-meu irmão casou com a princesa… não posso ver ele se for com você?

— Você acha que é assim tão fácil? Nós odiamos a família real, e eles sempre tiveram o poder de nos impedir de entrar. Mas e se eles descobrirem que você tem feito essas coisas para a princesa Alyssa?

Os lábios de Ophelia começaram a tremer. Os seus olhos começaram a brilhar com a água se acumulando, como se lágrimas fossem cair a qualquer momento.

— Então… você tá falando que Alyssa não vai nos deixar ir lá? Nem você pode ir ver o Henry, mesmo sendo o irmão dele? Essa família real pode ser mais cruel com a gente?! Ugh…

— Ophelia, não chore…

Eric tocou a sua testa com a palma da mão. Ele sentia o seu coração se despedaçar vendo a irmã com o rosto tão pálido. A dor dela era maior que a sua, afinal, ela seguia Henry como uma sombra.

Depois de hesitar por um instante, Eric deu uns tapinhas no ombro de Ophelia, que mordia os lábios enquanto suas lágrimas caíam.

— Seja boa com a princesa Alyssa, pra ela poder ir à família real falar coisas boas sobre Cambridge.

— Ma-mas… Eu, hah, eu odeio ela… — sussurrou a garota, tensa. — Eu não sou idiota, a família dela matou o meu irmão.

Eric olhou para Ophelia com os seus olhos fundos. Ela tinha só 18 anos. Ainda era jovem pra ser adulta, e velha para ser uma criança. Presa nessa transição entre infância e maioridade, estava perdida como uma menina que perdeu os pais.

O rapaz suspirou.

— Você não pode ficar presa ao passado e perder todo o resto, Ophelia. Vou ter que deixar a mansão por um tempo, então você vai ser a única que poderá ficar de olho na princesa. A saúde da mãe não está tão boa.

Eric mal percebeu a hipocrisia das suas palavras. Ele mesmo estava preso no passado, sem nem mesmo conseguir encarar a esposa.

“Você fala bem.”

Para ele, Alyssa era apenas um membro da família real Avery, ao mesmo tempo que era algo que o lembrava de Henry. Era uma estratégia, mas a verdade continuava sendo que o casamento dos dois estava chegando quando tudo aconteceu.

— Você pode fazer isso, não pode? — pediu ele, escondendo tudo em uma voz profundamente subjugada.

Ophelia secou as lágrimas com as costas da mão e assentiu: — Vou dar o meu melhor.

— Obrigado, meu bem. — O rapaz deu um sorriso amargo. Esse ano estava sendo excepcionalmente difícil, e ele sentia o seu coração exausto.

Eric olhou para o jardim onde Alyssa estava pela janela sobre Ophelia. Não, ela já devia ter voltado.

Depois de se afastar da esposa, ele vagou pela floresta por um longo período. Considerando o tempo, era provável que ela estivesse dentro da mansão. No entanto, ele, que logo esqueceu da esposa, falou para Ophelia: — Agora vou me lavar. Cai fora, maninha.

— E a comida?

O rosto de Alyssa dançou pela sua mente. Ele continuava a pensar nela e, ao pensar no jardim, o seu nome lhe vinha naturalmente.

— Peguei qualquer coisa no jardim. Aproveite a sua refeição.

Ophelia assentiu com o rosto vermelho.

Depois que a sua irmã saiu, Eric ficou sozinho no quarto. O cômodo era de Henry, mas agora ele que o usava. Seu coração doía. Ophelia fingia ser forte, mas Eric não era diferente, e não podia escapar da morte de Henry. 

Ele apertou bem os olhos.

Era difícil ficar ali. Ainda achava que precisava deixar o espaço de Henry em paz. A vã esperança de que o seu irmão voltaria um dia com um sorriso brilhante no rosto com frequência consumia o rapaz por dentro.

No entanto, se Eric, que era o novo Duque, usasse outro quarto, só criaria mais ansiedade em todos na mansão. Então ele se manteve ao máximo fora de casa com a desculpa de estar ocupado.

Então, não conseguindo superar a dor naquela noite, aproveitou a noite e saiu.

 

***

 

Para Alyssa, todo dia na mansão era difícil. Ela nem mesmo conseguia fazer refeições confortavelmente. Dia após dia, apenas Sasha cuidava dela, ansiosa que só.

As pessoas da casa se tornaram estranhamente amigáveis, mas não a ponto de esconderem melhor os olhares hostis. Dessa forma, a garota tornou-se ainda mais sensível conforme sorriam à sua frente, mas falavam às suas costas.

Esse carinho frio inesperado estava acabando com ela.

Depois de um tempo, recebeu a notícia de que Eric, que não chegou a aparecer, foi em uma viagem de negócios para o sul. O marido de quem nem mesmo conhecia o rosto tinha ido para longe.

Diferente de antes, Ophelia não dizia coisas ruins para a cunhada, e às vezes falava com ela e dava algumas notícias. Era uma mudança grande em relação aos três meses posteriores ao casamento.

Mas nada disso importava: Ophelia ainda era ruim em esconder os seus sentimentos.

Como o inverno que chegava, ela não conseguia esconder o frio em seus olhos.

E Alyssa percebeu.

Como uma princesa, estava recebendo o tratamento que lhe era devido, mas nada mais que isso. Ficar na mansão aquecida era mais duro e frio do que andar no jardim coberto pela neve.



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