Sinfonias Galáticas Brasileira

Autor(a): Yago.H.P


Volume 1

Capítulo 14: Lanius

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Elizabeth: Ponte de comando

Lá estava eu, contemplando o espaço escuro à minha frente, assentado no meu "trono", enquanto os sons suaves dos aparelhos eletrônicos preenchiam meus ouvidos, trazendo um senso reconfortante. Era um alívio em comparação ao incessante tic-tac da maldita bomba, cujo som frequentemente assombrava meus pensamentos.

À minha frente, cada um em seus respectivos postos de controle, estavam Vincent, Suzuhara e Poul, enquanto ao meu lado, em pé com postura rígida e disciplinada como uma militar, estava Sofia.

Estávamos nos preparando para um salto de dobra em direção aos arredores de Lanius, uma colônia fora da lei. Mas antes disso, havia questões que eu precisava esclarecer.

— Vincent, como engenheiro da nave, você tem um conhecimento íntimo de sua estrutura, superando o de qualquer um aqui — Olhei para ele com uma expressão interrogativa, inclinando-me para frente. — Você tem conhecimento sobre a localização de todos os rastreadores da nave?

— Alguns eu conheço... — Ele respondeu em um tom calmo e neutro, como de costume. Seu olhar vagueava entre cima e baixo, enquanto ponderava ou tentava recordar. — No entanto, alguns são tão sigilosos que nem mesmo os engenheiros têm acesso à sua localização; apenas os construtores originais.

— Tenho uma ideia arriscada — declarou Poul, lançando-me um olhar determinado. Concordei com um aceno de cabeça, encorajando-o a prosseguir. — Todos os sistemas internos da nave têm uma tolerância de temperatura, mas se excedermos esse limite, eles queimam...

Ele direcionou seu olhar para Vincent, levantando as sobrancelhas com confiança, esperando que o engenheiro captasse sua proposta. E Vincent captou exatamente o que ele queria dizer.

— Compreendo. Você sugere aumentar a temperatura a um nível extremo para queimar todos os sistemas, incluindo os rastreadores. — Cheguei a me impressionar com o tanto de palavras que saíram da boca dele. 

— Na verdade, a ideia é diminuir a temperatura. Aumentá-la afetaria mais do que apenas os sistemas, e para baixá-la... — Poul voltou seu olhar para Sofia, exibindo um sorriso confiante. — A rainha do gelo, ela pode fazer isso...

— Às vezes você mostra ser um gênio, Poul — comentei, virando meu olhar esperançoso para Sofia. — Então, você consegue?

— Ei! O que quer dizer com "Às vezes"? — ele cruzou os braços, lançando-me um olhar desafiador.

Ignorei sua provocação e aguardei a resposta de Sofia, que permanecia em sua postura impecável.

— Se assim desejar, posso fazer isso, senhor. — Sua resposta era típica da garota mais disciplinada da nave. — Mas se me permite a pergunta, quem irá consertar depois?

Todos voltaram seus olhares para Poul, o instigador da ideia inicial. Ele sentiu o peso dos olhares curiosos sobre si, e sua expressão desconfortável era evidente enquanto ele desviava o olhar de rosto em rosto.

— O que? Tudo eu agora? Vocês não têm cérebro? Vamos usar essas cabeças para pensar! — Ele respondeu, com uma ponta de irritação em sua voz.

— Na verdade — Suzuhara interrompeu. — Se Lanius é uma colônia fora da lei, é bem provável que haja mecânicos por lá, especializados em desmontar naves roubadas.

Não foi surpreendente vindo de alguém com o passado dela; afinal, ela conhecia os meandros desse tipo de situação. Com isso em mente, nossa decisão estava tomada. Utilizamos nosso último resquício de energia da bateria para realizar o salto em direção aos arredores de Lanius.

Chegamos em questão de segundos, e imediatamente percebemos nossas luzes piscando, indicando que agora tínhamos bateria apenas o suficiente para manter alguns sistemas funcionando, e logo isso se esgotaria também.

— Então, esta é Lanius... — Suzuhara murmurou, admirada. — É tão... utópica...

Poderia ser chamada assim mesmo. Esta colônia era a personificação do futuro cyberpunk. Pairava no vácuo como uma sombra sinistra entre as estrelas, suas estruturas metálicas corroídas pelo tempo e pelo crime. Torres vertiginosas de metal retorcido erguiam-se em meio a uma teia de fios elétricos expostos, enquanto luzes neon piscavam intermitentemente, lançando um brilho distorcido sobre tudo.

— Quem diria que eu voltaria aqui... — Poul deixou escapar, revelando seu certo histórico com o lugar.

Ignorei seu comentário e ordenei que preparassem o pouso. Precisávamos nos livrar rapidamente dos rastreadores. Enquanto estivessem ativos, éramos um alvo brilhante no vácuo, pedindo para ser descobertos pelo governo. E nem era preciso dizer o que aconteceria quando as autoridades entrassem em um lugar onde as pessoas estavam à margem do sistema.

— Comandante, não consigo contato com ninguém. Como vamos pousar? — Suzuhara indagou, com seus dedos clicando freneticamente na tela holográfica.

Ao ouvir isso, Poul saltou de sua cadeira, desesperado, voando em direção a ela, quase a derrubando.

— Não faça isso! — Seus olhos estavam arregalados. — Eles podem nos hackear!

— Me solte! — Ela o empurrou, fazendo-o cair desajeitado no chão. Quase ri da cena, mas no fundo ele estava certo. — E outra coisa, como você sabe disso!?

— É... porque eu... — Ele hesitou.

— Isso não vem ao caso, vamos apenas pousar onde der. — Livrei a barra dele, e ele me olhou com os olhos de alguém genuinamente agradecido, aquelas pupilas brilharam como nunca.

Vincent habilmente guiou a nave até a entrada da colônia, onde era óbvio que uma taxa de entrada era exigida. Pagamos sem hesitação e adentramos o local. Enquanto vagávamos pelos céus da colônia, deparamo-nos com uma área repleta de naves, e avistamos um amplo espaço vazio onde decidimos pousar.

Levantei-me da cadeira, descendo os degraus e dando ordens:

— Sofia, garanta que ninguém passe pela colônia sem autorização.

Ela assentiu. Era arriscado permitir que alguém não preparado vagasse por esse reduto fora da lei, e Sofia, com sua autoridade conhecida e temida, era a pessoa ideal para essa tarefa, conhecida como a rainha do gelo, de olhos inexpressivos.

— Poul, Suzuhara, troquem de roupa. Vamos nos misturar ao ambiente e evitar chamar atenção.

Ainda estávamos vestidos com os trajes chiques da festa anterior, algo que certamente atrairia olhares demais. Naquele lugar, roupas extravagantes ou, no mínimo, adornadas com algum neon eram o padrão.

— Após se trocarem, Suzuhara, certifique-se de que todos deixem a nave. Precisamos permitir que Sofia use seus poderes.

Planejávamos reduzir drasticamente a temperatura dentro da nave. Qualquer um que permanecesse dentro sofreria queimaduras, hipotermia e outros problemas. Era mais seguro evacuar completamente a embarcação.

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Lanius: Área de pouso

Depois de algum tempo estávamos fora da nave, com nossas roupas trocadas. 

Eu optei por minhas clássicas calças pretas e uma camisa branca distintiva da nossa organização, ostentando o emblema "A" em destaque. Completei o visual com um elegante sobretudo preto, realçado por sutis detalhes em azul neon, e calçando botas brancas que complementavam o conjunto com estilo e praticidade.

Poul sempre adotou um estilo meio punk, destacando-se com uma calça militar preta, uma camisa branca e tênis no estilo "Jordan" brancos com detalhes em laranja. Sua jaqueta tática preta, realçada por toques de laranja neon, complementava o visual. Além disso, ele acrescentava alguns acessórios, como brincos de cruz, anéis nos dedos e uma corrente de prata com um pingente de espada.

Já Suzuhara optava por uma calça jeans azul escuro, combinada com uma camisa verde e uma jaqueta curta em tom claro para completar o traje. Seus tênis, no estilo "Air Force", também eram verdes. Ela adornava seus ouvidos com brincos japoneses e usava uma pulseira artesanal, feita à mão, em volta do pulso. Apesar da ausência de neon, ela esperava passar despercebida.

— Sofía, é com você — falei, e ela se encaminhou para dentro do hangar.

Ela estava sozinha na vastidão daquele lugar, seu poder de gelo operava por meio de um complexo sistema de nanobots chamados criobots. Esses criobots permaneciam em repouso em seu reservatório até serem ativados por meio de uma interface neural avançada em seu cérebro.

Ao enviar impulsos elétricos específicos para os criobots, ela podia ativar seus poderes de gelo, permitindo a síntese de um material especial que se solidificava em gelo quando liberado. Essa substância gelada podia ser moldada em estruturas ou projetada como jatos de frio intenso, dependendo da necessidade e da quantidade de nanobots ativados. 

Ela ajoelhou-se, tocando apenas um dos joelhos no solo de aço da nave, apoiando uma mão nele, enquanto a outra tocava no chão. Deixando seus cabelos prateados dançarem livremente sobre seu rosto e seus olhos azuis brilhavam com a frieza de sempre. Um pouco distante ao lado de fora, estava Poul, concentrado, tocando a parede de aço da nave com firmeza.

O plano consistia em uma complexa troca de calor: enquanto Poul canalizaria o poder de seus nanobots pirocinéticos para extrair o calor da nave, ela empregaria seus nanobots criogênicos para resfriar cada centímetro da embarcação, começando pela palma de sua mão.

Apesar dos muitos olhares curiosos que nos rodeavam, que era óbvio que teria, já que era uma nave enorme, rodeada por trabalhadores aglomerados do lado de fora, eles estavam totalmente concentrados em sua tarefa crucial.

Ela encontrou meu olhar e, com um simples aceno de cabeça em concordância, dei o sinal para Poul iniciar o procedimento. Com um toque hábil, ela ativou seus nanobots, observando com fascínio enquanto sua mão rapidamente mudava de cor, adquirindo um tom azul gélido. 

Se fosse uma mão de carne, certamente congelaria até gangrenar e morrer, mas, para sorte dela, era uma mão protética, capacitada para realizar tal proeza. Em um piscar de olhos, uma fina camada de fumaça começou a se erguer ao redor de sua mão, indicando o início do processo de resfriamento.

Ele concentrou o olhar, e em questão de instantes, aquele pequeno ponto onde uma fina camada de fumaça começou a se formar, expandiu-se para envolver todo chão em volta de seu corpo. Seus cabelos começaram a flutuar, agitados pela intensidade da fumaça que produzia um leve vento. O ambiente ao seu redor começou a adquirir tonalidades de azul, e pequenas rajadas de brisa gelada começaram a nos atingir do lado de fora.

Enquanto isso, Poul também estava ocupado em sua tarefa. Agachado, ele tocava uma mão no chão, enquanto a outra permanecia na parede da nave. Sua missão era absorver o calor do ambiente e dissipá-lo pelo solo.

Quando voltei o olhar para ela, pude ver uma grande extensão do hangar sendo gradualmente coberta por finas camadas de gelo. Era impressionante testemunhar o poder avassalador do congelamento em ação. A brisa se intensificava a cada momento, enquanto seu olhar permanecia impassível. Suas mãos estavam agora tão azuis quanto o mar. 

Ela ainda parecia bem à primeira vista, porém, a cada expiração, sua boca exalava uma fumaça branca, indicando que o resfriamento de seu corpo já havia começado.

Em questão de instantes, todo o hangar estava coberto por uma fina camada de gelo, e logo o lado externo da nave também começou a se tornar gélido. As primeiras estalactites começaram a se formar, e a brisa se tornou mais intensa. Mesmo conhecendo bem o poder de Sofia, eu estava impressionado. No final das contas, ela realmente merecia o título de rainha do gelo.

— Ezekiel! Acho que está pronto! Meça a temperatura! — disse Poul, enquanto ainda tentava absorver calor, que agora era escasso.

Atendi ao seu pedido, ativando minhas lentes oculares em segundos e obtendo a temperatura em tempo real: -30 graus Celsius... um frio extremo. Como ela conseguia fazer isso? Bem, no fim das contas, não importava; o importante era que provavelmente tínhamos conseguido.

— Menos trinta graus, é o suficiente, Vincent? — Ele estava ao meu lado, de braços cruzados, observando Sofia com atenção.

— Sim, é o suficiente. Neste momento, todos os sistemas e eletrônicos da nave provavelmente queimaram — afirmou ele, com sua habitual apatia.

Não era o tipo de notícia que um comandante gostaria de ouvir em um dia comum, mas naquele momento, senti-me aliviado. Não estávamos mais sob os olhos do governo. Bem, pelo menos não no sentido de rastreamento, já que o governo tinha ratos em todos os lugares, ratos muito barulhentos...

— Sofia! — Eu projetei minha voz, colocando as mãos ao redor da boca para amplificar o som. — Pode parar!

Ela virou-se para mim e retirou a mão do chão, levantando-se em seguida. Sua mão tremia levemente, tingida de azul como se tivesse sido mergulhada em tinta. Mas, apesar disso, parecia estar bem. Isso me fez concluir que, quando se tratava do uso de nanobots, ela era a mais eficiente de todos nós. Fazia sentido, considerando todo o treinamento que recebeu desde criança.

— Comandante, esgotei meus nanobots. Preciso reabastecer — declarou ela, seus olhos azuis encontraram os meus enquanto todos ao redor a observavam com admiração. — Por que estão todos me olhando assim...?

"Espere, ela está corando? Eu realmente a vi corar!?" Pela primeira vez, testemunhei uma expressão de vergonha em seu rosto, suas bochechas adquirindo um leve tom rosado, quase imperceptível. Podia morrer em paz agora.

Eu até tinha vontade de fazer um comentário sarcástico e brincar com a situação, mas não havia tempo para isso, e também não queria constrangê-la diante de tantas pessoas. Seria infantil da minha parte. Em vez disso, toquei seu ombro suavemente e limpei um pedaço de gelo que estava em seu rosto.

— Depois que a temperatura lá dentro voltar ao normal, vá com a Sarah reabastecer os nanobots — ordenei, sentindo um leve toque no meu peito, algo que nunca imaginei que viria dela. Ela estava realmente mudando aos poucos.

— Se terminamos por aqui — começou Suzuhara, com uma prancheta holográfica em mãos, analisando cada detalhe com precisão. —, nossos próximos passos são comprar algumas naves e consertar esta.

"Quanto isso vai custar, afinal?" Eu não tinha ideia do preço, mas sabia que não seria barato. Como prometi ajudar aqueles que queriam voltar para casa, concordei em comprar algumas naves para eles irem à Terra. No entanto, eram muitos e isso representava um desafio financeiro considerável.

Havia outro problema também, relacionado a Elizabeth. Com mais da metade da tripulação optando por deixar a nave, estávamos com escassez de pessoal, e Elizabeth era muito grande para o número reduzido de trabalhadores que sobraram. Era uma situação complicada.. No pior dos casos, teríamos que trocar de nave.

— Vamos dar uma olhada neste pátio, talvez encontremos algo à venda — sugeri, deixando a questão da Elizabeth para ser resolvida mais tarde. Uma coisa de cada vez, para não enlouquecer.

Avançamos eu, Poul e Suzuhara. Estávamos no pátio que era ao ar livre, ele era um emaranhado caótico de naves de todos os tamanhos e formas imagináveis. Em meio a um terreno árido e poeirento, as naves estavam estacionadas em fileiras desordenadas. 

Algumas brilhavam com o resplendor do sol, embora fraco devido à nossa distância da terra, enquanto outras estavam cobertas de ferrugem e marcadas por batalhas, testemunhos de seus anos de serviço, ou talvez de como foram roubadas. O ar estava impregnado com o cheiro penetrante de óleo queimado e combustível de navegação, invadindo nossas narinas a cada respiração.

— Victor adoraria isso aqui — comentou Suzuhara, admirando cada nave.

— Ele tem uma tara por naves, não é? — Ele olhou para mim, curioso. — Por que não o trouxemos?

— Talvez porque ele está machucado? — respondi com sarcasmo, enquanto continuava a caminhar.

Senti a vontade de Poul de me dar um tapa na nuca, mas ele se conteve. O local era movimento, grupos de mercenários, contrabandistas e aventureiros movimentavam-se entre as naves, carregando suprimentos, fazendo negócios ou simplesmente socializando. Música alta e risadas ecoavam pelo pátio, misturadas com o zumbido constante dos motores das naves que estavam sendo reparadas ou preparadas para partir.

Muitos nos encravam com olhares e sorrisos maliciosos, muitos por acharem que éramos pobres inocentes que não conheciam a maldade do lugar, outros pela Suzuhara que nos acompanhava.

— Quanta gente mal encarada... — comentou Suzuhara, aproximando-se de mim em busca de proteção. — Sinto um certo perigo no ar... E ficar tão redeoda de pessoas, me deixa um pouco desconfortável...

— Ei! Por que está se aproximando dele!? Eu sou o cavalheiro protetor das damas aqui! — Poul estreitou os olhos, mas em seguida suavizou o olhar, dando um conselho: — Nunca os encare para evitar problemas. Apenas os ignore.

Era um conselho sábio de Poul, mas logo ele quase o quebrou quando:

— Ei, gatinha! Vem cá, fazer companhia... — Um homem sentado próximo a uma nave, acompanhado de outros indivíduos, lançou essa proposta para Suzuhara, que se aproximou ainda mais de mim. Eu a abracei, tentando transmitir segurança. — Ah, vai ficar com esses idiotas mesmo? Eles nem devem te...

— Eu vou acabar com esses caras — Poul já estava arregaçando as mangas, suas mãos se aquecendo. — Eles vão conhecer o inferno!

— Onde foi parar aquele conselho... qual era mesmo? — Fingi pensar, levantando o queixo com um olhar sarcástico. — Ah, é, "Apenas Ignore".

Ele me encarou irritado enquanto caminhávamos entre as outras naves, os sons das soldas ressoando ao nosso redor. 

— Fica na tua, Ezekiel — Ele colocou as mãos nos bolsos da jaqueta e desviou o olhar, claramente estressado.

Paul, às vezes, tinha um pavio curto, mas eu optei por ignorá-lo da mesma forma que fiz com os homens mal-encarados que haviam assediado Suzuhara. Em um lugar como Lanius, não havia espaço para confusões, pois uma simples briga poderia facilmente escalar para um conflito com proporções desastrosas, dependendo das afiliações do indivíduo em questão.

Continuamos nossa caminhada entre as naves, que muitas vezes estavam em condições deploráveis, com ferrugem corroendo as estruturas e peças faltando aqui e ali. O ambiente estava impregnado de uma atmosfera tensa, com outras pessoas de semblantes sombrios observando nossos passos.

Risadas altas ecoavam pelo ar, enquanto alguns indivíduos sentados seguravam copos ou latas de bebidas, e uma névoa de fumaça pairava no ar, indicando o uso de uma variedade de drogas, tão nocivas quanto munições.

— Estão nos observando — murmurou Paul, mantendo as mãos nos bolsos e o olhar fixo à frente, como se estivesse fingindo não ter percebido. — Atrás da nave vermelha, à minha direita.

Nós avançamos por um corredor estreito, ladeado por naves, e, ao passarmos por uma pequena Falcon vermelha, notei homens sentados em cadeiras nas naves subsequentes. Vestiam bandanas e camisas pretas regatas, exibindo tatuagens principalmente nos braços, mostrando uma aura intimidadora.

O indivíduo que Paul mencionara estava posicionado atrás da Falcon. Virei levemente a cabeça, lançando-lhe um olhar perspicaz. Pude discernir seu terno preto, adornado com linhas brancas sutis.

— Máfia? — indagou Suzuhara, enquanto prosseguíamos pela superfície árida, com o eco das marteladas dos homens consertando suas naves ao fundo. — Ou algum outro tipo de grupo?

— Máfia italiana — respondi, reconhecendo os acessórios que denotavam sua afiliação. — Paul, olhe para o chapéu dele.

Ele retirou a mão do bolso, ainda cerrada em punho, e soltou uma moeda que ecoou duas vezes ao cair no chão. Inclinando-se para recuperá-la, lançou um olhar discreto na direção do homem.

— Chapéu Fedora. É definitivamente a máfia italiana… — afirmou, reconhecendo o tipo de chapéu comumente usado por esses mafiosos. — E agora?

— Apenas continuemos a andar. Provavelmente estão apenas nos seguindo por curiosidade.

Foi o que eu disse, a urgência da situação nos pressionava, mas os problemas pareciam nos perseguir implacavelmente. Enquanto eu estava distraído, meu rosto encontrou o emaranhado de músculos e gordura do homem que parecia ocupar o dobro do espaço à minha frente, eclipsando até mesmo o sol que tampouco chegava em Lanius.

— Ora, ora... Se não é o Ezekiel… — disse ele, com um tom sarcástico que ecoava pela paisagem árida.

— Big Typhon… — murmurei, antecipando que as coisas logo esquentariam…



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