Volume 1

Capítulo 0: Mundo de Singulares (versão antiga)

— Mary... Fuja... — uma voz masculina dizia para uma garotinha em sua frente, que estava assustada e lacrimejando. O local estava escuro e só havia destroços. A menina hesitava antes de realmente atender o desejo do rapaz. — Vai!

A pequena então se levantou e saiu correndo na direção oposta ao homem no chão, ensanguentado. Isso o deixou aliviado e acabava relaxando, porém não durou muito esse momento, pois o rapaz sente seu pescoço virando forçadamente, até eventualmente tudo ficar preto. O que acabava restando depois é apenas um corpo sem vida.

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Ano de 20XX

Europa.

Ruínas da cidade. Pelo caminho somente se viam destroços do que um dia foi uma civilização, prédios destruídos, pedaços de concreto pelo chão, e os principais indicativos de uma batalha entre singulares no local eram carros retorcidos e buracos ao redor perfeitamente esféricos.

Uma figura aterrissou na rua e olhou em volta, carregando um pedaço de papel com alguns nomes e um endereço. A queda parecia alta, mas mesmo assim nenhum dano aparentemente foi recebido por suas pernas, que utilizavam coturnos militares.

Enquanto andava pelas ruas, algumas pessoas surgiam nos destroços e a ficavam observando, como se temessem o que a figura poderia acabar fazendo. Estavam com medo principalmente de algo que carregava, uma katana numa bainha metálica, e que possuía um gatilho perto da guarda dela. Isso era envolto na cintura por uma espécie de cabo metálico dobrável.

A tal figura observava em volta enquanto continuava seu caminho, logo todos perceberam que se tratava de uma mulher. Mal podiam ver seu rosto, pois estava coberto por uma máscara de pano preta, porém com apenas poucos gestos, segurando a bainha da espada, as pessoas que observavam em volta nem se atreveram a ir em direção a ela.

A figura olhou por alguns instantes os curiosos, por um momento aqueles que viram seus olhos, sentiram como se um predador selvagem estivesse analisando sua presa. Assim que perceberam o perigo, todos se esconderam novamente, e a moça apenas suspirou e seguiu em frente, sem dizer uma palavra.

Ela chegou no que parecia ser uma casa — apesar de estar bem danificada — e bateu na porta, esperando alguém atender enquanto olhava em volta, para garantir que ninguém a estava perseguindo.

Quando a porta se abriu, viu um rapaz que, por sua postura, roupas e jeito de falar, aparentava ser um gangster que dominava aquela região. Era branco, com um cabelo totalmente desarrumado e um olhar curioso, pois não estava esperando encontrar uma mulher na porta.

— Qual foi, dona? Perdeu o rumo de casa? — o rapaz na porta dizia na maior ignorância.

— Preciso de uma informação. — a moça respondeu, sua voz era realmente suave, mas no fundo passava um tom de agressividade.

O rapaz analisava um pouco a mulher na porta. Mesmo que não fosse avantajada, ela tinha um volume bem aceitável em suas curvas, o que chamava a atenção dele. Ele ficava cauteloso com relação a ela ter uma katana na cintura, além de suspeitar da aura de guerreira que ela passava, afinal, que pessoa comum andaria por aí com uma braçadeira, uma ombreira de metal e uma luva em apenas um dos braços?

Mas ainda assim, fica maravilhado por seu cabelo, branco como a neve e presos em um coque tão apressado que havia uma franja na frente de seus olhos acinzentados, que também eram um chamativo, apesar que em volta deles havia uma maquiagem borrada, então aparência não era sua prioridade.

— Do que precisa? — ele perguntou, com um sorriso bem suspeito. A moça então mostrou um papel com alguns nomes riscados, o único que não estava era um que ele reconhece. — Sim, sou eu.

— Sabe onde posso encontrar os Heróis? — a mulher indagou. Após uma rápida olhada em volta para ver se não tinha ninguém tentando bisbilhotar, ele respondeu:

— Entra, podemos negociar informações. — dito e feito, os dois adentravam na casa.

— O que você tem? — ela perguntou.

— Então, você quer informações, não é? Acho que podemos fazer um bom negócio. — respondeu o rapaz com um olhar bem sugestivo e um sorriso, que para alguns poderia ser até repugnante.

— Passo. Faça outras propostas. — a moça devolveu na hora.

— Heheh. Ah minha cara, você não entendeu o que eu quis dizer. — logo que o rapaz proferiu tais palavras, outra pessoa fechou a porta da casa. Tratava-se de outro homem, que dessa vez tinha quatro braços ao invés de dois apenas, além de ser alto e parrudo.

A moça nem teve tempo de se virar para ver o que estava acontecendo, pois suas mãos foram pegas pelo que pareciam ser teias de aranha, só que muito maiores e mais rígidas, tanto que ela nem conseguia movê-las. O singular com poderes de aranha fez então um movimento com os braços, obrigando as mãos da mulher a irem para as costas e se grudando nas teias. Após isso se aproximou dela e a segurou, apenas para garantir que ela não fugiria.

A moça grunhiu por ter caído em um truque tão velho quanto aquele.

Enquanto ela tentava se libertar, o outro rapaz sacou uma pistola e foi se aproximando da moça com um sorriso malicioso. Chegando perto o suficiente, ele pisou não muito forte na ponta dos pés dela e ainda retirou a máscara de seu rosto com a arma, revelando-a. Tinha lábios de certa forma carnudos, e, mesmo que tivesse uma cicatriz de corte passando por sua boca e bochecha, não tirava o fato de ser bem atraente.

— Se quiser informações vai ter que cooperar, então se me dá licença, eu vou me divertir um pouco. — ele disse, e logo em seguida armou a pistola, enquanto a outra mão foi para a gola de sua camiseta branca, ao mesmo tempo que aproximava seu rosto do dela.

A moça parecia abrir a boca para cooperar, porém, quando as bocas de ambos estavam para se encontrar, ela simplesmente mordeu o lábio inferior do rapaz sem remorso, até cortar sua pele e começar a sangrar. O homem gritou de dor e acabou recuando, o que só contribuiu para o ferimento piorar e fez a mulher libertar seus pés. Então, aproveitando-se disso, ela rapidamente o chutou para trás e cabeceou o homem que a segurava, desorientando-o e se libertando enfim.

O rapaz com a arma encarou com uma raiva tremenda e gritou enquanto apontava a pistola para a moça. Era possível ver que seu lábio inferior já estava com a parte mordida faltando.

— Sua vadia! — ele não teve remorso e disparou na direção dela. A mulher se abaixou assim que viu a arma se levantando, portanto quem recebeu o tiro no braço foi o singular aranha, que acaba caindo no chão. Curiosamente o sangue dele era azul, como o de um aracnídeo comum.

A moça saiu correndo na direção de uma mesa, derrubou-a e se escondeu atrás dela, evitando levar mais tiros. O rapaz continuava atirando mais algumas vezes enquanto ela se movia, mas estava tão irritado que nem mirou direito, nenhum projétil a atingiu.

Nisso, a mulher aproveitara o momento para se libertar da teia com apenas sua força, ela então pegou ângulo e deu um forte chute na mesa, fazendo com que o objeto fosse na direção do homem com a arma e atingindo suas pernas, desequilibrando-o. Aproveitando disso, a moça correu na direção dele e saltou enquanto se preparava para sacar sua katana.

O rapaz, porém, mirou nela mais rapidamente, e levaria alguns instantes até que a mão dela chegasse no cabo da espada. Na mente dele, a vitória estava garantida, a menos que alguém tivesse um poder muito grande de resistência, ninguém sobreviveria a um tiro a queima-roupa.

Entretanto, o que ele não esperava era que a bainha da katana tinha um gatilho não por estética. A mulher aperta-o e então a espada é praticamente disparada na direção da mão dela, chegando muito mais rapidamente do que se sacasse normalmente.

A pistola então disparou um projétil. Por estar com a katana já em mãos, a moça, no instante em que sacou de vez a lâmina, cortou a bala em pleno ar. Não sendo o suficiente para surpreendê-lo, ela ainda aterrissou na mesa que estava de lado e rapidamente fez um corte horizontal que passa pela mão do rapaz, partindo-a ao meio e ainda jogando a pistola para longe.

Ele gritou de dor novamente; juntando seu lábio arrancado com sua mão dividida por uma lâmina, alguns descreveriam como tortura. Para finalizar, a mulher ainda pegou impulso e deu uma joelhada no queixo dele, fazendo-o desmaiar.

Imaginando que as coisas estariam mais calmas agora, a moça respirava fundo e olhava com desgosto para o homem no chão.

— Nojento. — ela sussurrou para si mesma.

Logo em seguida ela foi surpreendida pelo singular aranha, que a agarrou com os quatro braços pelas costas. Não conseguindo se libertar, ela então cravou sua espada na perna dele, o que o fez gritar de dor, girar e jogá-la na direção da parede.

A mulher sentia um pouco de dor nas costas, mas ainda conseguia se levantar, por sorte não quebrou nada. Logo após viu o rapaz retirando a katana de sua perna e jogando-a para trás, antes de vir com tudo para cima dela.

A moça desviou de um soco diretamente no rosto e tentou revidar com outro na mesma moeda, porém seu braço é segurado pelo outro do singular, que estava logo abaixo do que ele usou para socar. Ela tentara outro soco com a outra mão, que dessa vez foi segurada sem dificuldades.

O rapaz a pressionou na parede e lançou teias pelas mãos que prendem as pernas dela na estrutura. Logo em seguida, sua boca começou a se abrir mais do que deveria e revelava presas enormes de aranha nela, com um líquido viscoso. Ela não gostaria de descobrir se era veneno ou não.

A mão dela, que estava fechada até então, se abre, ficando com a palma visível por algum motivo. A moça tentava afastar seu rosto o máximo que dava do singular aranha, que estava para já fincar suas presas nela, seria o fim.

 Porém, ele não imaginava que aquela mulher também era uma singular. Só passou a entender quando a katana dela, que estava jogada longe deles, simplesmente atravessou sua lâmina na parte de trás de sua cabeça, parando poucos centímetros do rosto da moça, que agora estava com respingos de sangue azul em sua face.

Ela respirava um pouco enquanto o singular aranha caía para trás. Terminando de fincar a espada totalmente em sua cabeça ao bater no chão, deixando que o sangue azul de aracnídeo dele se esparramasse pelo chão.

Recuperando o fôlego, a moça então sacou uma faca militar de seu short embaixo da saia e utilizou para cortar as teias em seus pés. Liberta, ela retirou a espada da cabeça do singular e olhava com uma expressão de desapontada para a situação.

— Porcaria, nada de novo. — ela então fez um balanço em sua katana para retirar o excesso de sangue e depois a limpou em sua luva. Mas, antes de guardá-la, a moça ouviu um barulho de vassoura caindo, e, ao olhar para a direção do barulho, viu um canto escuro com alguém.

Aproximando-se, ela percebeu que a figura misteriosa na verdade não passava de um garoto se abraçando e olhando para a mulher com um olhar extremamente cabisbaixo. Acharia que ele estivesse morto, se não acabasse piscando. Ela reparou que as roupas dele estavam totalmente rasgadas e o pequeno aparentava estar bem fraco. A moça apontou a katana para ele, para ver se reagia, mas, mesmo com a lâmina bem na sua frente, ele sequer demonstrou medo, não tinha vida em sua expressão.

Ela então levantou o queixo dele calmamente com a ponta da espada, podendo ver mais claramente seu rosto. Ele tinha cabelos loiros, compridos e, assim como seu corpo em geral, estava bem sujo. A singular então o fez abrir os braços, o que não foi difícil. Ele não estava segurando nada como uma bomba e não havia nada atrás dele.

Tendo todo o cuidado do mundo, ela se ajoelhou na frente dele e segurou a mão do garoto. Por um momento ela teve uma sensação estranha, ela conseguia sentir que o menino era um singular também, mas um que ela nunca havia visto antes, não tinha certeza o que ele podia fazer, mas ela entendia que o poder dele era algo curioso e talvez bem único. Ela ficara curiosa a respeito dele.

— Qual o seu nome? — perguntou para o garoto sem expressão, que permaneceu quieto por alguns instantes antes de abrir a boca para responder.

— Ethan. Só Ethan. — ele respondeu, com uma voz bem fraca.

— Ethan. — a moça ficou analisando aquela criança ferida e fraca, era um milagre encontrar alguém naquele estado ainda vivo. Enquanto guardava sua espada na bainha, ela oferecia a mão para ele, com um tom de voz bem mais acolhedor, mas ainda assim soando ameaçador. — Meu nome é Mary.



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