Volume 1

Capítulo 16: Perguntas e talvez respostas (versão antiga)

 

Com a faca já retirada de seu crânio, Rebecca ainda estava desacordada, porém sua regeneração já estava consertando seu cérebro e cabeça, assim como seus cabelos. Era madrugada, cerca de duas da manhã, os quatro estavam sentados ao redor dela, esperando-a acordar.

Lucy e David estavam bocejando já de sono, Ethan estava se esforçando mesmo para se manter acordado, Mary era a única que não aparentava querer dormir, porém as vezes seus olhos fechavam por pouco mais de um segundo antes de se abrirem novamente.

Mary sacava da mochila duas barras de cereais e dá uma para Ethan comer, o que ele faz com um pouco de dificuldade. Lucy bebia de uma pequena bolsa plastificada, sangue animal, tomando cuidado para não deixar cair no chão. Enquanto David tomava uma bebida com vapor saindo da garrafa. Ethan fica curioso e pergunta para o singular gélido.

— David, o que é isso?

— Hm? Ah, é só um suco com gelo seco. – respondeu antes de beber um gole.

— Gelo seco? O-o o que é isso? – Ethan questionava, confuso.

— Nunca ouviu sequer falar disso? – David retornava a pergunta, chocado.

— N--não. – nesse mesmo instante, os três olhavam para Mary, que estava se preparando para morder a barra de cereal, ela notava os olhares e parava o que estava fazendo.

— Que foi? – questionou, provavelmente estava perdida em pensamentos antes. Os três nem questionavam e voltavam a comer.

Agora que já tinham se alimentado, o quarteto esperava Rebecca acordar.

— Ah, que inveja dessa regeneração. Ela nem precisa se esforçar. – Lucy dizia enquanto fazia seu sangue ir para frente e para trás na veia de seu braço. De surpresa, David chegava e encostava seu dedo, que estava congelado, no pescoço da ruiva, fazendo-a se arrepiar toda.

— Que informações você acha que os ghouls podem ter? Eles não parecem ser o tipo de grupo que tem ou que sabe guardar segredos. – David perguntava para Mary, enquanto refazia a névoa gélida dentro do local para conter o cheiro da canibal e não serem localizados.

— Além de quem é “Carniçal”, também será bom entender sobre aqueles ghouls mortos se movendo. – Mary respondia.

— Aquele ferimento em formato de esfera? – Ethan perguntava para sua mestra.

— Aquilo sem dúvida é de um singular dos Heróis. – Mary respondia com um certo rancor na voz.

— Já viu algo assim antes? – perguntou David.

— Já, mas eu não tinha certeza na hora. – a albina respondia olhando para baixo.

— Sério, a gente não pode dormir? A gente gastou bastante energia. Você não tá cansada, Mary? O Ethan tá. – disse Lucy. Ethan estava sempre chacoalhando de leve sua cabeça para não dormir.

— Eu estou bem. Ethan, descanse depois também. – Mary puxava um pouco a bochecha do garoto, que ficava mais alerta, mas ainda com sono.

— Tá...

— Não podemos descansar ainda, esse é o melhor horário para isso. – Mary dizia ajeitando sua posição.

— Tem certeza? Eles aparentam ser preferencialmente noturnos, podíamos pegar um deles pela manhã. – David respondia enquanto ficava se distraindo fazendo algumas esculturas bem pequenas de gelo, uma delas era de Lucy. A ruiva olhava para a brincadeira de seu namorado e a analisava. – Se bem que de manhã eles provavelmente vão estar bem juntos para garantirem o descanso...

— Eu não sou tão gorda assim. – disse apontando para uma região especifica da escultura.

— Eu não te fiz gorda. – David respondia, confuso.

— Ah não? Então o que é isso? – ela continua apontando para a região especifica.

— Você é assim. – David revidava, num tom sarcástico.

— Gorda? – Lucy perguntava, indignada.

— Você não tá gorda. – ele respondia, revirando os olhos.

Mary olhava os dois e, apesar de considerar a situação um pouco infantil e querer voltar ao assunto das informações, ela conseguia ver alguma graça naquilo, deixando acontecer, porém sua expressão continuava neutra, pois fazia muito tempo que ela não expressava nada além de seriedade e raiva.

 — Mary, diz pra Lucy que ela não tá gorda e que eu não a vejo assim. – David dizia, tentando evitar da ruiva pegar a escultura que fez.

— Minhas mãos estão limpas nesse assunto. – respondeu a albina, levantando um pouco as mãos em sinal de rendição, e em seguida ela cruza os braços. – Só não façam tanto barulho.

— Eu sabia, você me acha insuficiente. – Lucy fingia um drama para David, que só olhava para o céu e acariciava a cabeça dela com uma expressão de alguém que já passou por aquela situação várias vezes.

— Ethan. – Mary chamava o menino ao seu lado, que estava quase pegando no sono. A albina então, para o acordar, cutuca-o de leve na costela, e Ethan quase saltava de susto.

 — Ai... Sim? – disse após se acalmar.

— Essa ghoul foi a mesma que te atacou há poucos dias, né? Você parecia saber algo sobre ela. Isso está certo? – Mary, mesmo que indiretamente, pressionava o menino a pensar sobre o assunto. O casal inclusive para de fazer brincadeiras e olhava para a albina e o menino.

— Ah... Ela parecia alguém que eu tinha conhecido. E a voz parecia da menina que tentaram me fazer casar uma vez... – Ethan tentava se lembrar dos detalhes, pois estava com sono.

— Hm, e o nome dessa menina? – Mary perguntava, já imaginando a resposta.

— Rebecca, eu acho. – ele dizia, esfregando os olhos.

— Certo, então eu tenho alguns palpites já. Mas de qualquer forma, Ethan, essa na sua frente, — Mary apontava para a canibal desacordada. – é a Rebecca.

— ... – Ethan estava até agora quase dormindo, mas, após ouvir isso vindo de Mary, ele ficava assustado e em choque praticamente, enquanto David e Lucy só ficavam confusos.

— Uou uou, calma, eu já estava curioso de por que alguém faria a filha casar com alguém atualmente, e agora você tá dizendo que essa ghoul aqui é alguém que o Ethan meio que conhecia? – David interrompia, provavelmente mais confuso que Ethan e Mary.

— Sim. – Mary respondia, calma como sempre.

— Então... Isso comprova que os ghouls passam seus poderes, mas provavelmente deve ser somente aquele tal de “Carniçal”. — David respondia, um pouco apreensivo agora.

— Ele deve ser o original. Mas então... Onde ele estaria? Por que não nos atacou ainda? – Mary se questionava, suas teorias não paravam.

— Considerando que esse “Carniçal” seria o original, então possivelmente ele seria o mais forte, será que ele tem aquele grito das fêmeas também? – Lucy adicionava mais uma dúvida.

— Outra coisa, se essa ghoul é alguém que Ethan já conhecia, por que ela não o reconheceu ou falou algo a respeito quando atacou há alguns dias? – Mary pergunta, colocando a mão no queixo e olhando para o chão.

— Será que... A transformação afeta a memória? – disse Lucy, e todos os olhares viraram para ela. – Digo, quando se tornam ghouls, essas pessoas esquecem de quem eram antes?

— Para isso vamos ter que testar. Ethan, assim que a Rebecca acordar, use sua anulação nela, veja se é possível reverter a transformação. – Mary dizia, olhando para o menino, que acenava positivamente, agora compreendendo melhor a situação.

E não demorou muito, pois assim que Mary acabou de falar todos ouviram barulhos de correntes se mexendo, a ghoul acordou e já estava furiosa, grunhindo, mas não conseguindo gritar por causa do concreto na boca, seus olhos já estavam em modo de ataque e suas garras à mostra.

Ela olhava para Mary com uma expressão de puro ódio, tentando se soltar, mas não conseguindo, pois a albina conseguiu amarrar aquelas correntes de maneira quase impossível de se libertar.

— Ok, fiquem prontos. – Lucy dizia meio que no susto e se levantava, cortando seu dedo com a unha e fazendo uma bala de sangue, apontando-a para Rebecca.

David ativava seu poder e seus braços ficam pálidos com o gelo. Mary sacava sua katana e agachava, ficando mais perto da altura do rosto dela deitada e colocando a lâmina bem próxima da nuca dela. A albina então dizia em um tom frio e calmo.

— Grite, e você morre. – disse Mary. Quando Rebecca escutou isso, sentiu uma aura de intimidação enorme, como se estivesse olhando para uma ceifadora com uma carga de mortes alta nas costas, maior do que qualquer canibal esfomeado.

 Assim que sentiu que a canaibal estava mais calada, ela retirava o pedaço de concreto da boca de Rebecca, que só grunhia de medo, mas tentando intimidar de volta.

Ethan aproveita isso tudo para chegar por trás devagar e encostar a mão na canibal, que ao sentir o toque em suas costas, vira seu rosto na hora, exibindo suas presas para Ethan, tentando assustá-lo. O garoto virava o rosto por causa do susto, mas continuava encostando nela.

Com isso, passou-se menos de um segundo e a ghoul sentia algo que tira a atenção dela, ela começa a sentir fortes dores de cabeça e, antes de gritar de dor, Mary tampava sua boca com a mão direita, então por mais que Rebecca mordesse, não causava nada.

Os olhos dela iam voltando à sua cor natural, suas garras retraíam assim como seus dentes. Enquanto isso, Mary a deixava ajoelhada enquanto a segurava, o que não era difícil.

Rebecca então inclinava seu rosto para trás e parecia desmaiar, seu corpo ficava mole e ela apagava.

— Funcionou? – perguntou David, tentando ver o rosto dela enquanto ficava atrás de Ethan.

Os quatro escutavam alguns grunhidos, como se alguém estivesse gemendo de dor e cansaço, Rebecca abria seus olhos lentamente até que, ao olhar para frente e sua visão voltar a se focar, ela via três figuras, duas mais afastadas, uma ruiva e um rapaz de cabelos azuis escuros, e uma bem mais perto dela, com a mão apoiada em seu joelho e com os cabelos loiros.

Assim que sua visão se focasse, Rebecca se assustava e tentava se jogar para trás, mas percebe que estava acorrentada nas pernas e braços, e também estava sendo segurada pelos ombros.

Ela tentava gritar no desespero, porém não conseguia, e, logo em seguida, uma lâmina encostava em seu pescoço. Rebecca tentava gritar de novo, porém escuta uma voz feminina vindo de trás, e o tom dela fez a garota sentir um frio na espinha como nunca havia sentido antes.

— Não grite, ou vai ser seu último suspiro. – disse Mary, quase sussurrando para ela, que, na hora, parava de gritar e começava a lacrimejar.

Ethan não sabia bem o que fazer na hora. Aquela era a menina que há alguns anos o tinha rejeitado completamente. Após ser levado para a casa dela, os dois foram bons amigos, pois Rebecca sempre era animada e conversava com Ethan como se não houvesse o amanhã. Ela até mesmo já fez uma brincadeira onde os dois se casavam.

Ele realmente pensou por um momento que poderia encontrar afeto, porém não demorou muito para as coisas virarem contra ele.

Mesmo que no começo ela fosse amigável e gentil, logo ela começou a questionar porque Ethan não tinha atitude? Porque ele não sorria de volta? Ela nunca ouviu uma vez da boca de Ethan que ele a amava. Ethan não estava ali para salvá-la?

Tudo que o menino fazia era acompanha-la em silêncio e raramente proferir alguma palavra, sua expressão sempre era a mesma, parecendo estar morto.

Várias vezes Ethan a viu correndo e chorando, mas não tinha coragem de perguntar, não se achava bom o bastante para isso naquele ponto. No fundo, o menino tinha um pouco de raiva dela, mas nem de longe desejou o mal para ela. Vê-la naquela situação de desespero o deixava com um nó na garganta.

Mary sentia que a garota decidiu ficar calada e aos poucos retirava a mão da boca dela. Rebecca ainda lacrimejava, não estava entendendo nada daquela situação, apenas seguindo por causa do aviso recebido.

Ela olhava para Mary e via a figura da assassina, que já lhe causava medo por uma simples olhada e, ao olhar para frente e ver Ethan, ela teve uma sensação familiar, como se tivesse visto aquele rosto.

— Rebecca, se lembra de mim? – perguntou Ethan, calmamente. A garota ficava confusa com a pergunta, ela piscava e chacoalhava levemente a cabeça para ter certeza de que estava acordada. O menino ficava um pouco envergonhado por estar tão perto do rosto de alguém da idade dele, mas aguentou.

A menina, ainda muito assustada, tentou analisar o rosto do garoto. Era realmente familiar, porém bem diferente do que Rebecca tinha de lembrança, aquele menino baixinho, franzino e com a expressão sempre cabisbaixa agora estava mais alto, mais forte e com mais vida em seu olhar, apesar de parecer meio cansado.

— E-Ethan? – ela dizia com a voz tremendo. O garoto apenas acenava positivamente. – É-é você mesmo? O-onde a gente tá, que lugar é esse?

Rebecca parecia totalmente perdida, Mary, David e Lucy se olhavam e concluem apenas no olhar uma das hipóteses.

— Você não lembra? – Ethan perguntava.

— Lembrar do que? Ethan, quem são essas pessoas? – ela olhava em volta e sua expressão de assustada não sumia.

— Qual a última coisa que você se lembra? – Ethan segurava nos ombros dela, tentando passar um olhar de confiança.

— Quê? Ethan... Você tá diferente. Como mudou tão rápido? – Rebecca questionvaa o menino.

— Rápido? – ele ficava confuso, tentando assimilar os pontos, após alguns segundos tentando resgatar suas memórias, ele se dava conta e tentava perguntar para a garota. – Eu tinha acabado de sair da sua casa, né?

— Hã? Ah... Então é por isso, me desculpa, é que eu... Só queria sair daquela casa, eu odeio meus pais. – a garota dizia entristecida.

Ethan olhava para Mary e fazia um sinal de dois com a mão, e depois três, pois não tinha exata certeza de a quanto tempo aquilo tinha acontecido.

— R-Rebecca, me escuta, não é por causa disso que você tá aqui. O que você lembra depois de eu sair de casa?  — Ethan tentava pressioná-la, colocando as mãos em seus ombros. A garota ficava envergonhada e começava a gaguejar, tentando se lembrar.

— É-é-é-é... D-d-d-Depois que você foi embora, eu lembro da janela quebrando e eu caí e... Agora acordei. – ela dizia com um olhar muito confuso.

Mary então começava a fazer alguns sinais de mão para Ethan, dizendo: “Basta, largue ela, Ethan.”

— M-mas. – ele tentava pedir mais um tempo com Rebecca, mas sua mestra continuou: “Foque na missão. Será melhor se ela não saber do que fez.” O menino ficava cabisbaixo, enquanto a garota fica apenas confusa.

Ele então tirava a mão do joelho de Rebecca e enquanto os dez segundos se passavam, Ethan diz para seu primeiro amor, agora já sem esperança.

– Eu tive raiva por um tempo de você, Rebecca, me desculpa, eu não sabia o que você realmente queria. Se eu pudesse, teria te ajudado... – ele falava um pouco rápido, com um certo tom de tristeza na voz e, após isso, o menino se levantava e afastava dela.

— E-ethan? – Rebecca estava totalmente confusa, até que os dez segundos se passavam e a garota novamente sente as dores de cabeça e começa a se contorcer, ela tentava gritar, porém Mary tampa sua boca com a mão até que ela enfim voltava a ser uma ghoul. Mary soltava a boca dela, que estava ofegante e confusa. – O que vocês fizeram? Se querem morrer rápido, é só dizer, eu arranco a cabeça de vocês quatro com prazer.

— Ainda não acabamos. – Mary diz atrás dela, colocando a lâmina da katana mirada para a nuca de Rebecca. – Fale, quem é o Carniçal, onde ele está?

— He... Heheh... Ele vai acabar com vocês, aquela vila toda vai ser parte da família logo logo. – Rebecca dizia, inclinando seu pescoço para cima e olhando para Mary, não demonstrando nenhum medo diante da albina. Na verdade, estava sorrindo, e Mary não entendia o porquê.

Foi aí que Ethan e Mary se deram conta. Os dois começaram a sentir várias energias se aproximando a uma alta velocidade e de diferentes direções. A albina estava para fincar a katana na nuca de Rebecca, porém aquele momento de distração de Mary, em que ela ficou assustada por causa das energias de singulares se aproximando, deu tempo o suficiente para a ghoul preencher seus pulmões e usar seu grito, desnorteando os quatro ali naquele cômodo, fazendo Mary largar a katana para cobrir seus ouvidos e, de quebra, usar como se fosse um chamado de socorro para sua família de canibais.



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