Volume 1

Capítulo 5: Os Cicatrizes (versão antiga)

 

— Então, quem são esses singulares que vocês estão tendo problemas? – Mary perguntou enquanto Lucy e ela seguiam o rapaz.

— Nomeamos eles de Ghouls, e o maior problema que eles vêm causando é que eles se alimentam justamente de carne humana. Perdemos muitas cargas de equipamentos porque nossos membros foram atacados por eles.

— Algum poder que descobriram, para atacar alguém treinado assim? – perguntou Mary.

— Pelo que um dos nossos disse em seu relatório, eles podem se regenerar e são bem ágeis e fortes, podem arrancar um braço com facilidade.

— Espera, se são “eles”, então quer dizer que há vários com o mesmo poder? Como isso é possível? – Mary questiona um fator importante.

— Eu não sei tudo. Mas parece que de alguma forma eles podem passar esse poder para outros. – Lucy ficava pensativa.

— Se reproduzindo talvez? – Mary diz.

— Mas que poder é esse, que poderia ser passado biologicamente? –  perguntou a ruiva.

— Quem sabe, se temos poderes como os do Bruno, ou do Drake, ter um que passa para os filhos não é surpresa.

— Se for verdade, temos que dar um jeito nesse grupo o quanto antes. – disse Lucy.

— Sabem a localização deles? – Mary perguntou.

— Ainda não, mas estou elaborando um plano para descobrirmos. – respondeu Bruno

Enquanto eles andavam pela cidade dos Cicatrizes, Mary olhava em volta. Era realmente um local pequeno, e boa parte das casas era simples. As pessoas olhavam para a Assassina de Heróis de volta na cidade, alguns adultos olhavam com um certo temor dela, outros apenas surpresos, mas o destaque eram as crianças, que ficavam admiradas com a presença dela, muitas delas escutavam as lendas que rondavam sobre ela e seus feitos.

As vestimentas das pessoas eram bem simples, jeans e moletons eram as coisas mais vistas, muito por ser uma região montanhosa e consequentemente mais fria. Os três pararam na frente de uma casa em que aparentemente não havia ninguém, ela também não era muito grande.

— Ela vai ficar do lado da minha? – questionou Lucy, de certa forma indignada.

— É a única disponível, ou quer dividir a casa com ela? – respondeu o líder para a ruiva.

— Mas e o- — Antes de Lucy perguntar outra coisa, ela foi interrompida por alguém a chamando por trás, e, quando os três se viraram para ver quem era, tratava-se de um rapaz, e para todos ali era inconfundível aqueles cabelos azuis jogados para trás e aquela aura mais fria do que o convencional.

Ele se preparava para cumprimentar quem quer que fosse que estava acompanhada de Bruno e Lucy, porém, logo que Mary se virou, sua expressão logo se altera para de raiva e um pouco de decepção.

— Por que ela está aqui? – O novo rapaz perguntou. Ele olha para Lucy, que fica com um olhar cabisbaixo e cruza os braços, e para Bruno, querendo questioná-lo do porquê ter deixado Mary entrar.

— Olá, David. – cumprimentou Mary, com uma expressão neutra em sua face.

— “Olá David” o caramba. – ele acabou reparando que a moça carregava alguém, por causa disso ele se aproximava calmamente enquanto mantinha um tom sarcástico. – Ah, então é isso, Mary agora está cuidando e se preocupando com alguém, não é adorável, Lucy? – David ria, enquanto a ruiva não, pois sabia que aquela risada era o mesmo que rir para não explodir de raiva. O rapaz então se aproximou mais, porém dessa vez com uma expressão mais de desprezo.  – Amoleceu rápido hein.

— Talvez. – respondeu sem nenhum tipo de raiva ou desprezo na voz. De primeira, o rapaz não sabia o que responder, ficando surpreso e mais irritado, tanto que ele começa a fechar seu punho e a levantá-lo, porém, antes de fazer alguma bobagem, Bruno segurou seu pulso, e, quando olhava para seu líder, David apenas vê ele acenando negativamente. Foi o suficiente para ele se acalmar e abaixar a mão.

— Como a deixou voltar aqui, mesmo sabendo o que ela fez? – perguntou para Bruno enquanto ajeitava seu moletom de manga curta.

— Ela vai nos ajudar contra os Ghouls, e em troca ela vai tentar conseguir ajuda contra os Heróis.

— Tá brincando comigo? Pra quê? Pra ela sacrificar mais de nós só por causa de uma vingança idiota? Bruno, Lucy e eu conseguimos, deixa com a gente eliminar os Ghouls. – David tentava convencer seu líder.

— Eu não posso arriscar perder nossos melhores guerreiros. E ela por enquanto só quer um local para ficar, eu não pude recusar a ajuda dela, David, vocês sabem do que ela é capaz, então está decidido. Ela fez um trato e agora iremos cumprir. – Bruno terminou o assunto por ali. O líder então começa a se afastar e diz que tem assuntos para resolver, indo na direção do centro da pequena cidade.

David e Mary se encararam, a moça continuava com uma expressão neutra, enquanto o rapaz de desprezo. Agora reparando, ele realmente tinha a aparência de um guerreiro singular, calças e botas surradas, ataduras nas mãos, uma enorme cicatriz que aparecia na gola da blusa, fora seu porte físico bem definido.

Os dois ficaram se olhando sem reação por parte de ambos até que ele só virou o rosto para o lado e bufou, passando pela singular e indo em direção à sua casa.

— David. – Lucy tentou pará-lo para conversar um pouco, mas ele só continuou em frente. A ruiva ficou um pouco desapontada, olhou para Mary e só liberou caminho para ela e Ethan passarem e chegarem na casa vazia. Enquanto isso, Lucy ia para a casa que David estava, pelo visto os dois moravam juntos.

Mary adentrou na casa, e ela era relativamente pequena, tanto que o único cômodo separado por paredes era o banheiro, que era o único. O interior da casa tinha um chão e paredes de madeira, apenas uma cama, um armário de duas portas pequeno, um freezer vazio e uma mesa que provavelmente era usada para montar equipamentos ou consertar coisas. Realmente parecia uma casa feita para uma pessoa apenas. A albina se lembrou que aquela casa pertencia a alguém com que ela já trabalhou.

Ela então colocou Ethan deitado na cama, podendo finalmente relaxar um pouco, suas costas até doíam de tanto tempo o carregando. Mary deixou as mochilas ao lado da cama e desencaixava a bainha de sua cintura, apoiando-a na parede ao lado. Logo em seguida retirando o coldre com pistolas do garoto e abrindo um pouco sua jaqueta para ele respirar.

Como ainda estava dormindo e realmente pensou que ele merecia tal repouso, Mary pegou uma garrafa de água da mochila junto de um pano, podendo assim limpar o rosto do garoto, que estava sujo de sangue e terra. Após tudo isso, enfim ela deixa o garoto terminar de descansar na cama.

Mary não queria admitir, mas ela também estava muito cansada. Fora a batalha que tiveram, ela ainda ficou carregando Ethan nas costas, junto do peso de sua katana e as mochilas, mesmo que não estivessem muito cheias.

Ela então foi ao banheiro e se olhou no espelho. Sentindo que precisava tomar um banho, a singular retirou sua camiseta e, agora, era possível ver que ela não tinha uma cicatriz apenas, mas várias por todo o corpo, de cortes, buracos e até mesmo uma de pontos que teve que tomar em seu abdômen.

Ela também tinha algumas tatuagens em seu corpo, bem no meio de seu tórax ela tinha uma espada apontada para baixo e enrolada em vinhas espinhosas. E nas costas, ela tinha uma tatuagem de rosa, cujas pétalas começavam abaixo da nuca e o cabo dela se estendia por toda sua coluna, porém, o cabo da flor estava todo cortado pelas cicatrizes de Mary, impedindo a flor de estar com o cabo completo.

A moça olhava para seus próprios olhos. Ela rapidamente se lembrava de estar mais nova, ofegando com um olhar assustado e com a mão no rosto por estar sangrando por um corte, e voltava a se ver atualmente, pois agora nem mesmo com um braço quebrado e retorcido ela se importava mais.

Mary então retirou sua ombreira, braçadeira e luvas, revelando que seus dedos e mãos em si eram cheios de calos, já que sua principal arma era uma katana. Seu braço direito por algum motivo tinha várias cicatrizes de queimadura e parecia até ser mais escuro que sua cor de pele padrão. Em seu braço esquerdo, um pouco afetado pelas cicatrizes, havia uma tatuagem que se estendia dos dedos até metade de seu braço, marcas tribais que no final formavam a figura do rosto de um lobo.

Após isso ela retirou sua saia, shorts e suas botas, seus pés também aparentavam estar bem machucados por constantemente estar saltando, realizando acrobacias e correndo. Mesmo que ela estivesse acostumada, seu poder não a ajudava nesse quesito. Além disso seus pés também aparentavam estar em uma situação parecida de seu braço direito, mais escuros que sua cor original.

Enfim ela se despiu por completo, por fim soltando seu cabelo, que em comparação a seu corpo extremamente afetado, era liso e um pouco comprido, realmente invejável. Até que após todo esse processo, ela adentrou no box do chuveiro.

Após se banhar, Mary era vista com outra roupa, uma um pouco mais casual, como um short pequeno e uma regata. Agora era possível notar que Mary tinha olheiras profundas, já que retirou a maquiagem borrada da frente.

 A singular ficava ao lado da cama em que Ethan estava dormindo. Apesar de ela lembrar que depois quem teria que tomar um banho seria ele. Mary se lembrara da expressão assustada e de como ele estava tremendo após ter dado o tiro final em Dex, questionando-se se não havia mesmo jeito de Ethan crescer normalmente.

Ela então se sentou de costas para a cama, na parte aberta, e pouco a pouco seus olhos iam ficando pesados até chegar ao ponto de ela dormir.

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Enquanto isso, na casa de Lucy e David, o rapaz estava sentado no sofá, pensativo sobre toda a situação.

A casa deles era tão simples quanto à que Mary estava, porém, mais cheia com as coisas deles, com uma cama e armário maiores, e até com uma lareira em uma das paredes.

— David. – Lucy chegava perto do rapaz.

— Lucy, eu sei que remexer o passado nunca é bom, mas ela? – questionou, realmente a ideia de trabalhar junto de Mary novamente não lhe era atrativa.

— Eu também não gosto dessa ideia, mas não tem como negar que ela é uma guerreira incrível. E parece que aquele menino trouxe o pouco restante de humanidade que ainda havia nela, quem sabe agora? – Lucy respondia se agachando na frente do rapaz.

— Eu sei que, se eu estivesse no lugar dele, provavelmente eu teria aceitado, mas será que ela mudou mesmo? E sério, por que o Bruno aceitou? Parece até que não confia na gente, nem mesmo nos consultou antes. – David parecia indignado.

— O Bruno é meio afobado às vezes, você sabe disso. Mas ei, David, eles querem que voltemos vivos. – colocou a mão no rosto do rapaz, aquilo acabou contendo boa parte do estresse dele, e, para completar, a moça ficava desviando o olhar e seu rosto começava a ficar com as bochechas avermelhadas, falando com uma certa hesitação por não ser nem um pouco boa em falar dos sentimentos. – E... Eu também quero meu namorado vivo.

Isso fez David abrir um sorriso e começar a dar pequenas risadas, o que deixou seu cônjuge um pouco brava.

— Você é tão fofa quando fica envergonhada. – disse com um sorriso bobo no rosto. Lucy olhava para ele e praticamente não conseguia ficar irritada com ele, até se culpando por isso. Ela colocou a mão no rosto de David enquanto virava a própria face.

— Cala boca. Para de me olhar. – a singular dizia, tentado disfarçar sua vergonha. O rapaz deu outra risada sutil e beijou a mão de Lucy, o que a deixou mais envergonhada.

— Quatro anos quase, e não se acostumou com a vergonha? – perguntou com um olhar bem mais provocativo e um sorriso mais leve.

— C-como eu deveria me acostumar a isso? – Lucy escondeu o rosto com as duas mãos.

— Hehe. Bom, de qualquer forma, tá certo, vamos aceitar a ajuda dela para derrotarmos os Ghouls. – David se colocava mais reto no sofá e se mostrou determinado a ajudar a cidade, mesmo que tivesse que colaborar com alguém de que não gostava.

— Hm? ah, ok. Ahem. – Lucy retomou sua compostura e se levantou, indo na direção do sofá e sentando-se ao lado de seu namorado. Ela então respirava mais aliviada e soltava seu cabelo que estava amarrado em rabo cavalo, logo após inclinando sua cabeça para David.

— Quer um pouco? – perguntou ele, e Lucy acenou positivamente. O rapaz então começava a basicamente massagear os cabelos dela, pois, depois de um dia inteiro presos, sua cabeça já estava doendo, então ela aproveitou o momento para relaxar um pouco.

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Longe dali uma menina pequena corria na escuridão de um monte de ruínas fugindo de algo aparentemente, mas até então não se tinha visão de nada. A menina estava lacrimejando desesperada e correndo como se não houvesse o amanhã. Ela então parou atrás de uma casa abandonada e, muito ofegante, tentava verificar se o que estava perseguindo-a já havia fugido, olhando de canto pela parede. Parecia estar tudo bem naquele ponto.

A menina tentava se acalmar e respirar fundo enquanto ficava escondida atrás daquela parede, acabando por ficar sentada entristecida. O que ela não havia notado era uma figura grande logo ao lado dela, provavelmente por estar escuro. O esquisito era essa tal figura estar de ponta cabeça. A coisa abriu um sorriso e, quando a menina notou a presença de alguém ao seu lado, ela virou o rosto tremendo com uma expressão de desespero.

Assim que percebeu uma figura grande, com um sorriso, essa coisa virou seu rosto de uma vez na direção dela, fazendo a menina gritar de pânico. A figura então abria sua boca, que parecia até normal para um ser humano, com a diferença dos caninos serem bem pontudos, e por fim, a última coisa que a menina viu depois de cair foi uma fileira de dentes afiados voando na sua direção.



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