Volume 1

Capítulo 8: Apetite voraz (versão antiga)

Após apresentado aos Cicatrizes que os iriam acompanhar, Mary e Ethan voltaram para treinar. Lá, o garoto demonstrou suas habilidades até então com duas pistolas para o grupo. Mesmo sendo uma criança praticamente, ele mostrava que era capaz de atirar como ninguém na cidade e, em questão de acrobacias e correr por obstáculos, ele quase se equiparava a Mary e Alex, que o grupo já reconhecia como as mais acrobatas dentre todos.

Tudo em Ethan era mais do que alguém da idade dele teria, Lucy inclusive chegou a perguntar para a albina se não estava sendo demais tudo o que o garoto estava passando. Elas conversavam baixo enquanto o menino treinava mais disparos.

— Eu tentei, mas ele decidiu que vai ficar do meu lado, então pelo menos eu quero garantir que ele fique vivo. – respondeu Mary após Lucy a questionar.

— Talvez a mentalidade dele não esteja pronta para isso, já pensou no que ele pode virar se o criar com uma rotina de esforço e limite constante? – retrucou a ruiva.

— Hum, e nós estávamos prontos para o que viria? Me responda se puder, Lucy. – Mary apontava bem no meio do pescoço da singular, onde havia uma enorme cicatriz de corte nele.

— Ngh... Meus traumas não tem a ver com os outros. – disse enquanto abaixava o dedo de Mary e respondia com um tom mais sério. – E nem os seus deveriam, ele não merece ter só porque você teve.

A albina olhava por alguns instantes Ethan, como se já soubesse disso e Lucy não precisasse falar o óbvio. Ela voltava para a ruiva e respondia num tom calmo e um pouco triste.

— Se você tiver outra ideia para alguém que foi abandonado a vida inteira. Ele se traumatiza primeiro sozinho, ou eu o traumatizo? Não me faça escolher, Lucy. —  dito isso, a ruiva ficava um pouco surpresa e sem o que responder. Era uma situação complicada de pensar, pois não havia algo como “melhor escolha”, somente a que teria menos efeito.

Ethan, após terminar de disparar, rapidamente recarregou sua pistola e a arma em pouco mais de um segundo. David agora estava encostado na parede, já não parecia mais tão nervoso, de certa forma estava curioso e pensativo.

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Na mesma tarde, algumas pessoas estavam apenas passeando por ali e aproveitando aquela tarde de sol maravilhosa, quando foram surpreendidos por algo que viram e gritaram em pânico. Foi necessário pouco tempo, a informação do que havia acontecido foi passando pelos habitantes até chegar em Bruno, que foi averiguar a situação, e é claro que chegou até Ethan e Mary, que curiosos, foram na direção do ocorrido. Assim que chegaram à local e viram aquele amontoado de pessoas, tentaram passar por elas até chegarem na frente.

Na frente estava Bruno, ajoelhado observando a cena e tentando analisar a situação, logo atrás dele estava David, também pensativo, e Lucy estava perto do líder dos Cicatrizes, analisando juntamente dele. Algumas pessoas que estavam ao redor ficavam enojadas e algumas até vomitavam, tendo que se afastar daquela vista.

— O que aconteceu? – perguntou Mary enquanto se aproximava e acabava vendo a cena, para ela não acabou tendo tanto efeito, porém, para Ethan foi outra história. Assim que chegou mais perto e viu o ocorrido, ficou em total estado de choque, arregalando os olhos e dando alguns passos para trás.

Bruno e Lucy estavam analisando um cadáver naquele beco. Em volta no chão estava cheio de sangue e vísceras, o corpo era de uma mulher, que, dava a entender que se tratava de alguém que ajudava na plantação da cidade. Porém, só era reconhecível a parte de baixo, pois em cima foi a razão de Ethan ter se assustado.

A parte superior estava quase irreconhecível, o rosto estava ensanguentado e com uma expressão de medo total na hora da morte. O tronco estava todo aberto, com a pele, músculos rasgados, faltando órgãos como estômago, pulmões e fígado. Os braços estavam quase no puro osso, sem músculos, apenas alguns nervos sobraram conectados na hora da atrocidade.

Ethan olha aquilo e na hora se lembrou de Dex, que tinha poderes que remetiam bastante aos músculos, aquela cena estava lembrando muito o singular. Havia sido sua primeira batalha de verdade, e já nela levou um tiro enorme na mão, viu Mary ser trucidada e ainda teve que usar a mão que menos tinha eficiência para dar um tiro definitivo.

O garoto segurava a camiseta de Mary enquanto virava o olhar e ofegava um pouco. Por falta de prática a albina não fez carinho nos cabelos dele, mas ficou em sua frente obstruindo sua visão. Enquanto ele tentava se recompor, a albina se aproximou e agachou ao lado do corpo também.

Bruno apertava sua mão, que brilhava num tom amarelo junto de seus olhos, enquanto isso Lucy separava em um canto os sangues da vítima e do agressor, para então provar o do responsável pelo ataque.

— Não foi ninguém dos Cicatrizes. – o líder dizia enquanto suspirava nervoso.

— E também não é ninguém que eu conheça. – adicionou Lucy após analisar o líquido.

— Tem que ter sido um Ghoul. Olha isso, foi esperto, pegou justamente a responsável pela barreira na cidade. – David dizia indignado, andando de um lado para o outro. Por um momento, após analisar essa frase, Alex mudou sua expressão para uma de surpresa, ela percebeu algo.

— Ah não. – sentindo que algo mais havia acontecido, a loira utilizou seu poder para sair correndo a uma velocidade enorme na direção da entrada da vila.

— David, verifique se a barreira de emergência ainda está disposta caso a atual se desfaça. – disse Bruno, visivelmente mais irritado. No caminho o singular gélido apenas agradecia pelos poderes de demônio de seu líder, que também o permitia guardar a essência de poderes de singulares com que ele já formou pacto em objetos. E, assim, após verificar um cubo escondido dentro de uma comporta secreta no centro da vila, David respira aliviado.

— Vai ser a última que temos. – David sussurrava para si mesmo um pouco preocupado.

— Então isso é obra de um deles. – Mary analisava o corpo devorado da pessoa.

— Com certeza não foi apenas um, tem que ter sido pelo menos dois, seria muito difícil ele chegar na cidade e ela não ter me avisado. – dizia Bruno, referindo-se à pessoa morta.

— E quem está de vigia neste horário? – questionou Mary.

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Alex chega na entrada da cidade e, como ela já temia, ela encontrou outro corpo de mais um Cicatriz. Diferentemente de Charlie, ele não estava com o corpo devorado, e sim apenas o rosto, que estava somente no osso. Aquilo parecia um ataque em sincronia, primeiro eliminaram rapidamente o vigia da cidade para depois trucidar a singular responsável pela barreira.

— Merda. – desesperada, Alex olhava rapidamente em volta e pegava o corpo do rapaz antes de voltar para onde todos estavam.

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— Bruno, rápido, envia alguém para a entrada. – disse a loira sem pestanejar ao chegar, assustando quase todos que estavam presentes, já que ela chegou com mais um cadáver. Algumas pessoas em volta vomitaram e outras saíram dali porque estavam enojados com a cena.

— O quê? – o líder se virava e via que mais um Cicatriz havia morrido por causa desse novo grupo de singulares canibais. Ele ficava ainda mais sério e pensava por alguns segundos e se levantava, seus olhos brilharam em amarelo e, em seguida, duas pessoas que estavam no meio da multidão, uma mulher alta e parruda, e um rapaz mais baixo e magro saíram correndo na direção da entrada da cidade. – Não podemos mais evitar confronto neste momento, me encontrem em minha casa pela final da tarde.

Seus olhos novamente brilhavam, parecia estar contactando algumas pessoas, e os que levantam a cabeça para isso são: Mary, David, Lucy, Mike e mais duas pessoas. Todos esses acenam positivamente.

— Vou verificar se há mais alguém na cidade. – disse Alex antes de canalizar sua energia nas pernas e começar a correr com sua super-velocidade pela cidade. Enquanto isso, David e Lucy foram ajudar Bruno com os corpos, levando-os para outro lugar da cidade.

Sobrou apenas Mary, que olhava em volta, mas, por algum motivo, não conseguia achar o garoto, chamando por ele.

— Ethan? Ethan, Ethan! – visivelmente preocupada, ela já estava com a mão na bainha, imaginando que isso não era apenas um sumiço comum de um adolescente, até que sentiu uma energia estranha atrás dela e, ao se virar, conseguiu sentir essa energia vindo de um beco entre duas casas.

— Huhum. Olhe esse rostinho bonito. – uma voz feminina com um tom sádico dizia isso, enquanto em sua frente estava Ethan, com um olhar estranho, como se estivesse sob uma espécie de transe. A garota estranha segurava o rosto do menino com as duas mãos, alisando a face dele com unhas compridas e afiadas, inclusive chegando a cortar bem lentamente o rosto dele. – Você é um menino tão bonitinho, inocente, gostou do meu canto? Qual será o seu sabor?

Ela era do mesmo tamanho de Ethan, tinha um corpo magro e um cabelo longo, liso e preto, lábios carnudos e bem avermelhados, assim como seus olhos, que eram escarlates com as pupilas verticais como as de um predador selvagem. Junto disso, ela usava uma espécie de vestido bem simples, como se fosse um disfarce. E agora, ela abria sua boca lentamente, que conseguia abrir muito mais que a de um humano convencional, e, com os caninos bem pontiagudos, pronta para devorar Ethan sem ele sequer saber.

Mas, antes que uma tragédia ocorresse, essa mesma menina recebeu a ponta de uma lâmina em seu ombro, vindo de cima, atravessando todo seu corpo até chegar ao chão. A garota, em choque grunhia de dor e cuspia sangue, e nesse baque acabava por soltar Ethan.

Assim que ela virou o rosto, viu um par de olhos acinzentados e brilhantes, junto de um cabelo branco inesquecível. Mary retirava rapidamente sua katana do corpo dela, a agarrava pelos cabelos, se posicionava na frente dela e com seu braço direito, fazia uso de uma força anormal até para um humano para arremessar a ghoul, fazendo-a sair daquele beco.

Mesmo assim, Ethan não parecia sair daquele transe, Mary tentou estalar algumas vezes os dedos na frente dele, até que ela, sem hesitação deu um tapa em seu rosto, enfim o acordando, bastante confuso. Parecia mais aliviada, mas a albina voltou a ficar em posição de ataque quando percebeu que a ghoul que ela arremessou, começou a se levantar, e quando olhou para o ombro ferido dela, estava totalmente fechado, sem sequer cicatrizes.

— Regeneração, eu odeio essa habilidade. – murmurava Mary enquanto jogava sua katana para a outra mão e partia para cima da garota.

Sem hesitação, ela demonstrou seu olhar feroz de um legitimo predador, enquanto as veias de seus braços saltavam e seus músculos ficavam mais aparentes. A menina atacou primeiro, com uma garrada que poderia arrancar facilmente o rosto de alguém.

Mas o que ela não esperava era que Mary conseguiria segurar seu pulso com a mão direita, sendo que claramente a força que aquela canibal possuía era claramente maior do que a de um humano.

Sem muito tempo para pensar, ela tentou atacar com o braço restante, mas sem muita dificuldade, a albina se abaixou e perfurou o tronco de sua adversária com a katana, com real maestria.

Ainda em choque pelo quão rápido tudo isso foi, a garota nem percebeu que Mary logo em seguida girou a lâmina e se jogou para o lado, rasgando o abdômen dela, fazendo-a cuspir mais sangue.

Irritada, a ghoul se preparava para rapidamente se regenerar e avançar com tudo em Mary, porém, assim que olhou para frente, Ethan estava com uma de suas pistolas miradas para ela. Mesmo que com uma certa hesitação, ele disparou um projétil que acertou bem no meio do rosto da mulher, abrindo um buraco em seu nariz.

Ela levava um baque pelo tiro e ia para trás, fazendo com que Mary aproveitasse-se dessa brecha para girar seu corpo e dar um chute na mandíbula da moça, quebrando-o e fazendo-a girar até cair no chão.

Mike se aproximava por causa do tiro, estranhando ao ver uma moça estirada no chão e sangrando com uma expressão de morte.

— É uma Ghoul. – disse Mary enquanto guardava sua katana, antes do rapaz questionar algo.

— E como que não notamos antes? – perguntou após o choque inicial, e logo se abaixava e analisava um pouco o corpo da garota.

— Ela atraiu Ethan o deixando em transe de alguma forma. Lembra do que aconteceu? – perguntou para o menino, que guardava sua pistola e se aproximava, olhando para sua mestra.

— B-bom, eu lembro de ter escutado ela cantando, e... Daí eu acordei aqui nesse beco. – respondeu, muito confuso ainda. Mike se levantava e dizia.

— Não façam tanto barulho assim, os moradores ficaram assust— — antes de completar sua frase, Mary o interrompeu com um grito e puxando sua camiseta.

— Cuidado! – ela o tirou de algo que veio de cima e aterrissou no chão de maneira bestial. Era um rapaz, com os mesmos olhos avermelhados da garota aparentemente outro ghoul, apesar de ser apenas possível ver um deles, por causa de seu cabelo ter uma franja enorme.

Mike ainda estava um pouco assustado, sem saber exatamente o que fazer, Mary se preparava para sacar sua katana e Ethan suas pistolas. O rapaz Ghoul pegava a menina nos braços, e nisso os três percebiam que os ferimentos dela, como nariz e mandíbula quebrados, estavam regenerados já, e ela estava para acordar.

Porém, antes mesmo de algum deles reagir, o garoto saltou para o lado mais rapidamente do que se esperava, sumindo da vista dos três ao entrar em outro beco entre duas casas ali perto e, quando Mary foi correndo verificar, viu o Ghoul atravessando a barreira da cidade, pois, assim que ele passou, uma pequena deformação no ar era percebida, o que era surpreendente, porque a barreira estava um pouco longe de onde eles estavam.

Ele visivelmente era rápido.

— Onde ele foi?! – Alex surgiu do nada ao lado dos três, perguntando irritada.

— Já foram. – Mary dizia, deixando a loira mais aborrecida. Enquanto olhava para onde o Ghoul havia corrido, a albina pensava. – Um grupo de singulares com os mesmos tipos de poderes... Vamos, temos uma reunião com o Bruno.



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