Volume 1
Capítulo 12: Confusão
A Black Hardware, ou gangue de Elisa para os próximos, é uma organização criminosa com muitos fins lucrativos relativamente nova e nada original. Seu único destaque perante a concorrência é ser capaz de reunir alguns dos melhores produtores de drogas e programadores disponíveis. Se quiser forçar um pouco, eles têm uma grande ambição pessoal.
Bom, não que nada disso realmente importe para os drogados ou crackers. Todos têm o seu fornecedor do coração e não os trocariam por nada — até porque morreriam se fizessem uma coisa dessas na cara dura.
Então… o que teria feito a Black Hardware para crescer nesse mercado tão concorrido? Simples, bastava trabalhar muito bem para as bigtechs.
Para se destacar no mercado, precisavam de alguma coisa que valesse a pena contratar. A primeira opção — e a escolhida logo de cara — era assumir, também, o papel de mercenários. As empresas mais ambiciosas não perderam tempo, logo começaram a contratar os “serviços gerais” do bando por metade do preço comum exigido.
Esse começo foi o que ajudou o grupo a se estabilizar no mundo criminal, abrindo também novas portas e possibilidades de mercados. Foi uma vida dupla de vantagens, tanto para eles quanto para seus contratantes. Bem, claro que as vantagens se restringiam nesses dois mesmo. Graças a isso, dezenas de gangues rivais tornaram-se, agora, inimigas declaradas e, assim, logo foi instaurada a Guerra Obscura.
Deveras violenta e catastrófica, foram bons 3 dias — quase 4 — de conflito generalizado entre todas as gangues da cidade — um de fora dela — e, no último dia, a segurança pública.
Black Hardware se mostrou superior a tudo isso. Claro, houveram perdas — tanto financeiras quanto de pessoas —, mas, no fim, era possível declarar a Black Hardware como vencedora.
Foi somente então, em meio a um cenário mercadológico abalado, que Elisa entrou em jogo e fez seu primeiro movimento.
Não sendo natural de Recife, a jovem, ao chegar na cidade e encontrar-se com esse cenário abalado, tem a ideia que revolucionaria todo o mercado: “Vai ser aproveitando esses escombros e precariedade que eu farei meu nome.”
Com sua pequena e humilde ambição, propôs união logo com a maior de todas as facções, a Black Hardware, que na falta de alguém melhor é urgência de reestruturação, aceitou-a como membro oficial.
A partir daí, começou trabalhando em algumas missões mais simples, sempre se mostrando leal e com o tempo uma peça fundamental para o grupo. Como uma cracker incrível e química ainda melhor, a presença de Elisa trouxe para o grupo bastante prosperidade e renome.
Com o passar dos anos, o nome “Black Hardware” foi se tornando alvo de cobiça e inveja. Atentados e conflitos eram sempre esperados, porém, traições nunca sequer foram coitadas pelos líderes do grupo.
Não podiam imaginar que, subitamente, um de seus mais confiáveis membros os traíram tão covardemente.
Henrique Santos, na época já conhecido por seu apelido de Tranca-Rua, iniciaria a revolução contra os líderes da Black Hardware, levando consigo uma unanimidade de todo o grupo.
Todo o grupo, menos uma única pessoa: Elisa.
Elisa se ausentou da revolução, mas não conseguiu avisar aos líderes do grupo a tempo. Dessa forma, em meio a mais um violento confronto de forma um tanto desigual, Roberto e Gab foram depostos do cargo de líderes da Black Hardware.
Ora, então o que levaria Elisa a se tornar a atual líder do grupo? Foi muito mais uma sacada que qualquer mérito.
Após serem derrotados e roubados, os irmãos foram atrás de Elisa em busca de algum apoio contra os revolucionários. Prontamente a moça se dispôs a resolver a situação, ou melhor, a vingar-se deles.
Porém, ela tinha uma única exigência: se tornar a nova e única líder do Black Hardware. Os irmãos, sem mais opções, aceitaram.
Resumo da história? Elisa, em um ataque hacker coordenado com Gab, infiltrou-se nós sistemas de neurocell do grupo e trucidou metade deles. Tranca, enfurecido, jurou inimizade eterna, mas fragilizado também propôs uma paz.
Dessa forma, Tranca abriu mão de utilizar o renomado nome da gangue, fundando, tecnicamente, uma nova cheia de grana e equipamentos. Dessa maneira, Elisa assumiu o poder da gangue e utiliza seu bom nome para encontrar alguns trabalhos.
Esse histórico todo é importante para entender a situação complicada que Renan se encontrava. A história que Tranca contava não batia com a sucessão dos fatos. Depois da trégua e acordo feito, não houve nenhum contato entre os dois grupos.
— Você tá me dizendo que a gente, Elisa, Roberto, Gab, Renan, a gente tá matando seu grupo agora? — questionou Elisa, enfurecida. Ergueu-se da posição de cócoras que se encontrava e cerrou os punhos.
Renan, observando-a, seguiu o movimento e também se levantou.
— Elisa, temos um mau entendido aqui, não é? — disse Renan, pondo-se na frente da mulher, que apenas o olhou. — Vocês não voltaram atrás de matar nenhum deles, né?!
Renan olhou para todos do quarto. Um a um foi negando, cada um transbordando um sentimento diferente. Elisa parecia querer se esconder de ódio, tanto que logo virou as costas para todos. Roberto, tão insatisfeito com aquilo, cruzou os braços e abaixou o cenho, transmitindo uma feição nada amigável.
Gab, por sua vez, negou de maneira risonha. Apesar da insegurança que a moça havia passado, Renan preferiu acreditar em sua inocência a fim de terminar tudo aquilo logo e salvar a sua própria pele de uma possível nova guerra de gangues.
— Quê? Como é?! — exclamou Tranca, furioso. — Que porra é essa?!
Incrédulo, Renan levou a mão direita ao rosto, coçando seus olhos.
— Inacreditável… — balbuciou.
— Não… não pode ser…
— Vai tomar no cu! Seu bosta! — berrou a imparável Elisa, tornando-se de volta ao homem amarrado na cadeira. — Você nem viu quem tava matando seu povinho, não é?!
— Calma aí, isso tudo foi só um… — Antes mesmo que pudesse concluir sua fala, Elisa calou Renan com um breve e certeiro soco no pé do estômago.
O jovem curvou-se e caiu aos pés da garota. Roberto riu da cena.
— É claro que eu vi quem era, porra!
E então, como se matasse um mosquito, Elisa deu chute na casa do homem, atordoando-o um tanto.
— Então veio atrás da gente por quê?! Tá querendo mesmo morrer né, porra?!
— São os Roupa Branca!
— Espera! — interviu o jovem, ainda tentando se recompor no chão. Ele segurou a perna de Elisa, o que a fez hesitar em disferir mais um golpe. — Ele tem algo a dizer…
Elisa, ofegante, deixou relaxar o cenho e os punhos. Sentiu o calor do sangue correr pela ponta de cada um de seus dedos. Aos poucos, a racionalidade pareceu voltar aos poucos para a cabeça da mulher, como água fluindo por um riacho. Decidiu, por fim, dar uma última chance do homem falar.
— Vá, diga de uma vez.
— Valeu, miserável… — debochou Tranca, recuperando-se das porradas e alongando-se no que conseguia. — Se não foi vocês, algum filha da puta contratou os Roupa Branca pra matar meu grupo.
— Como é?
— Eles são uns mercenários da porra, fazem qualquer coisa por grana…
— Até matar filhos da puta feito você?
— Eles não param até matar todos.
— E você… — disse Renan, finalmente recuperado e de pé — pensou que nós éramos os contratantes?
— Quem mais seria? — confirmou Tranca, ofegante. — Meus únicos inimigos ou uma concorrência qualquer?
— Que merda… — Elisa levou a mão direita à boca e logo começou a roer a unha do polegar. — E esse grupo, o quê mais você sabe sobre eles?
— Pra quê vou te dizer? Hein, porra?
— Você vai — disse Roberto, tomando a iniciativa e fazendo sombra sobre o homem amarrado. — E é melhor dizer tudo o que sabe.
A tensão pareceu estagnar no ar. Subitamente todos estavam calados, se olhando e se matando em mente. Mesmo Gab que antes não fazia questão de levantar já se encontrava de pé, mas ainda no canto da sala. Renan estava começando a ficar de saco cheio de tentar apaziguar toda aquela briga.
— Claro, meu querido amigo, Roberto. — O tom sarcástico de Trancar definitivamente não agradou Roberto. — A única outra coisa que sei do grupo é que sempre matam quem ouve falar deles.
— Sempre?
— Nem você escapa se eles souberem.
— Então você morre agora!
Imediatamente após, Roberto, num movimento altamente ligeiro para o porte de seu corpo, levou a mão esquerda para sua cintura, na parte detrás. Renan, de relance, acompanhando todo o movimento, viu exatamente o que o homem queria sacar dali.
— Espera! — o jovem exclamou, estendendo os dois braços para frente do brutamontes. — Não faz isso!
Gab, em confusão, permaneceu estática no lugar. Elisa conseguiu reagir rápido e, assim como Renan, tentou parar o homem agarrando seu braço.
— Fica na tua, Roberto, porra! — gritou Elisa.
— Eu tô livrando a minha! Saiam!
— Vocês não vão matar ninguém aqui na minha casa! — exclamava Elisa, dando empurrões no braço de Roberto numa tentativa de atrair sua atenção.
— Se a gente liberar ele vai dar merda! Na certa ele vai dizer da genre e esses Roupas Brancas vão vir atrás de nós também! — contra-argumentou Roberto.
— Isso não faz o menor sentido, Roberto, porra! Tranca tá mentindo! Por que viriam atrás da gente?
— A gente já sabe demais! Ou acha que vão deixar arquivos vivos como nós por aí?!
Com a crescente tensão no ar, o foco da visão de todos trocou. Tranca viu a oportunidade perfeita para tentar alguma coisa. Não sabia onde estavam seus braços, mas sabia que se os alcançasse a tempo poderia ativá-los para se defender.
“Só me soltar… Droga!”, as cordas de aço pareciam firmes demais para afrouxar apenas com o movimento do corpo. “Que merda!”
— Quer saber?! — exclamou Roberto, puxando a arma do coldre atrás das costas. — Esse corno morre hoje!
— Não!
— Para! — Renan estendeu sua mão em direção ao alto homem, que já mirava a pistola na cabeça de Tranca.
— Na minha casa não, porra!
— Espera!
— Eu posso ajudar vocês a conseguirem um Riesiges ou um @Eins! — O grito desesperado de Tranca-Rua ecoou pelo apartamento todo. Foi o suficiente para fazer todos pararam na mesma hora.
O passar do tempo pareceu ter ecoado no silêncio da sala.
— Como é? — perguntou Elisa, com uma feição de espanto na face e se aproximando do homem na cadeira, passando até mesmo na frente da arma de Roberto.
Ao perceber que finalmente tinha a atenção deles, Tranca abriu um largo e pretensioso sorriso e prosseguiu: — É isso aí, ou acham que eu consegui as belezinhas dos meus braços por sorte?
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