Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 12: Precisão Torturante

Vermelho jorra dos barris na entrada da arena.

— Vindo do país das artes marciais — grita Gaojung —, possuindo a experiência construída em milhares de anos!! Um dos Quatro! URY, A CORRENTEZA INDOMÁVEL!!!

O rapaz entra no território de terra, recebido com o entusiasmo abrasante do público. Ele usa calças folgadas de cor azul e um casaco abotoado feito do mesmo tecido escuro, havendo um laço grosso amarrado na sua cintura com as duas pontas caídas juntas abaixo do nó.

— Se eu não o conhecesse por seus feitos em torneios de fora — fala Malena —, iria considerá-lo uma das zebras, mas sabemos bem que não há como deixá-lo em uma posição tão baixa! Ele já provou para o mundo com os seus resultados que é forte! Que será uma das potências da nova geração!

Faíscas azuis jorram, ofuscando a imagem do outro lutador.

— Conhecido por sua agilidade e destreza no circuito amador!! será que alguém poderá tocá-lo neste torneio?!  SENCASTROLL, A LÂMINA FUGAZ!!!

O jovem chega a arena. Ele tem 1,81 m de altura, sua pele é amarelada, o cabelo é curto e castanho, vestido apenas com um short assim como os demais competidores vindos do circuito amador.

“Então eles estão mesmo dando nomes estranhos para nós.” É o que pensa ao olhar para os narradores. “Por que fazem isso?... E não tinha uma nomeação melhor para mim?”

— Você parece bem relaxado — fala Ury. O juiz está próximo deles.

— Ah! desculpe. Estou levando isso a sério, só não é da minha natureza ficar exaltado. 

— Isso não soa ruim… Meu pai gosta de dizer que a essência ideal para um guerreiro é a que possui um coração brando, sem preocupações desnecessárias.

— Que surpresa, você é bem fluente mesmo sendo estrangeiro.

— Já morei nesse país quando mais novo. Não pesquisou direito sobre mim?

— Só o que interessa. — Ele aponta para um dos braços do Ury. — O seu estilo.

— Em posição! — brada o juiz, servindo como um aviso para a proximidade do início da luta. Ele se distancia dos dois.

— Certo, me mostre o que pode fazer contra a “Alkala”. — O estrangeiro abre a postura com o afastar das pernas, mantendo os braços estendidos à frente em diagonais opostas, ficando com os punhos cerrados e o dedo do meio parcialmente elevado.

O apito soa, o confronto começa.

 

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Em outra parte do edifício, Laerte e Jay continuam se entreolhando. O de cabelo grisalho se aproxima do outro com passos lentos, seguindo em manter as mãos para os lados, rodeadas pelo vapor de cor suspeita.

O boxeador amassa a lata de refrigerante na mão direita, jogando-a como uma bala para a lixeira com o estalo de um dos dedos.

— Ei ei! Vai matar um civil? — Ele abre outra lata, tomando uma golada. — Sinceramente… Já é o terceiro que me ameaça de morte hoje, se pelos menos fossem umas moças bonitas… Enfim, não vou lutar com você fora da competição, sou um atleta, não um arruaceiro.

— Hah! Que cara estranho você é. Está dizendo que não vai reagir mesmo se eu for no seu pescoço?

— As coisas também não são tão convenientes. “Eu preciso proteger esse corpo mesmo que isso me mate.”

— Hã?...

— Não tente entender. — Laerte se vira, indo embora dali. — Apenas suponha que posso estar disposto a matar para proteger esse corpo fora de um ringue. É difícil se conter sem um juiz ou plateia, não posso garantir sua segurança sem eles… Ah! sim! — Ele se vira. — Ei! Você não vai assistir à luta do seu irmão?

— Hum…? HAH!!! — Ury fica pálido ao perceber que perdeu muito tempo naquele lugar, disparando em uma corrida pelo corredor. — Tenho que chegar a tempo! Ele vai me espancar se eu não conseguir responder às perguntas depois!

O rapaz some do campo de visão do boxeador. 

— Esses caras são bem estranhos, hein? — Ele pega um celular do bolso, bocejando antes de ver a tela. — Que tarde… Vou embora. Alguém deve gravar as lutas, vejo os vídeos mais tarde no hotel.

Jay chega perto do muro de vidro para assistir o combate, deparando-se com uma cena estranha: Sencastroll está se abraçando enquanto treme bastante. O seu rival se encontra perto dele, ainda estando na pose com os braços estendidos.

— O que foi? — fala Ury, mantendo o tom sério. — Por que não ataca?

— Desgraçado!!

O seu rosto está suado e todo torcido de raiva, tendo veias ressaltadas pela testa.

“Não estudei a fundo sobre isso”, pensa, “mas consigo adivinhar o que ele fez comigo… Quando tentei me aproximar para o embate, ele saiu daquela postura e me acertou duas vezes no meio da barriga e três vezes no peitoral direito… Esse desgraçado está acertando meus pontos de acupuntura!”

— Não consegue nem mais manter a compostura… — Ury suspira. — Que lutador desprezível.

Sencastroll fica furioso ao ouvir essas palavras, lançando um chute alto contra o oponente. Uma agulha de luz penetra a pele e afunda na carne; Ury está atingindo, com o dedo elevado em seu punho, o ponto “Zusanli” do adversário, que fica localizado lateralmente abaixo do joelho, fazendo-o sentir uma tempestade de raios estremecer seu corpo.

Com o recuo da perna do Sencastroll, o oponente se aproxima com uma investida, surpreendendo-o. Ury golpeia os ombros dele, virando a carne em uma espiral com o girar dos punhos. Um pé desliza pela terra, a postura do acertado se abre, usando-a para lançar uma cabeçada que desce sem encontrar nada.

— Então finalmente me mostrou suas costas… 

Uma agulha de luz perfura a carne; Sencastroll está sendo acertado na carne ao lado de uma parte alta da coluna e, com o salto para frente do Ury, sente mais agulhadas atravessando-o pelo alto, subindo indefinidamente. A dor se espalha igual infinitos raios explodindo, manchando a forma do rapaz no meio dos estouros incessantes.

Pés giram pela terra, Sencastroll recebe a investida do rival de frente, agarrando os braços dele antes que o acertasse. Os dois rapazes se encaram, estando, o atingido. bastante ofegante, entortando as sobrancelhas a todo momento.

— Acabou, Ury! Não pode fazer nada sem seus punhos!

— Idiota. — Ele cai de propósito para o lado, rotacionando o corpo.

— Hã?... — Os olhos de  Sencastroll perdem o brilho, ele sente uma agulha penetrar sua carne. A ponta de um sapato está tocando na lateral do seu pescoço, girando para torcer a pele. Ury está com a cabeça para o lado, sustentando-se com uma perna, tendo seus braços soltos pelo adversário.

Os joelhos do acertado caem sobre a terra, ele olha para o alto, ameaçando tombar para trás a qualquer momento. Uma tempestade de raios despenca sobre sua existência, arrasando-a com a quantidade massiva de perfurações.

— E-E ELE CAI!!! — grita Gaojung — SE AJOELHANDO COMO SE ESTIVESSE DE FRENTE PARA UM REI!!! Os impactos precisos do Ury devastaram o adversário!!

— As colisões não foram fortes — diz Malena —, ao menos não visivelmente, mas ainda tiveram um grande efeito... Então essa é acupuntura do estilo alkala, que assustadora.

— Quantos já caíram por causa desses golpes cirurgicamente precisos?! Ury escalou até o topo do seu país com uma destreza incalculável!!

— Se Sencastroll puder suportar a dor ele poderá continuar!

Uma mão é erguida, tampando parte da luz dos holofotes; o apito do juiz soa. O estrangeiro se vira, deixando o local enquanto o adversário está encolhido no chão, sendo a pessoa que se rendeu.

— E acabou... EM RENDIÇÃO?!! Com tão poucos ataques?!

— Pelo jeito as “agulhas” dele estão maiores e mais pontiagudas — fala Malena. — Ury se tornou muito forte!

As costas do rapaz são a última coisa a desaparecer nas sombras do corredor, sendo enaltecido pela vitória absoluta.

[4° Luta (1°F) - Ury vs Sencastroll

Duração - 3 m 11 s

Vencedor - Ury

“Aquilo foi terrível de se assistir. Parecia que o Sencastroll estava sendo atacado por uma colmeia de abelhas pela forma em que ele expressava a dor”, comentário do Kimai.]

 

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“É verdade…”, pensa Laerte, tendo acabado de se virar para caminhar após conversar com um segurança. Ele está com a bolsa de viagem. “Não posso sair até que as lutas acabem. Tinha esquecido. Suponho que seja mais uma peculiaridade dos seus torneios, Holliver.”

Suas pernas param de se mover, as da pessoa à frente também. Ele e Traçal se olham, estando o segundo de lado por vir da curva do corredor.

— Logo você que é o comportado está tentando sair mais cedo? — diz Traçal, estando com algumas faixas enroladas pelo rosto e pescoço, indicando o quanto mais há por baixo da roupa.

— O que posso fazer? estou com sono. Ficar acordado durante a madrugada é frustrante.

— Você é um maldito moleque?

— E você uma múmia.

Após segundos de silêncio mórbido, os dois gargalham.

— Laerte, sua sorte o ajudou a escapar de mim dessa vez, mas na próxima rodada ela pode acabar. Não entre com preguiça na arena, senão te mato.

— Não tem como isso acontecer, fique tranquilo.

— E então… como “ela” está?

— Ah… Você ficou sabendo disso? Acreditei que fosse mais do tipo arrogante, só que pelo jeito pesquisa bem sobre os oponentes. — Uma veia ressalta na testa do Traçal ao ouvir essas palavras, fazendo Laerte suar frio e decidir revirar sua mochila atrás de algo. — Não fique bravo, aqui.

Ele joga uma lata de refrigerante que é aparada. O robusto, com o indicador dessa mesma mão, joga o selo da lata para o teto como o tiro de uma pistola.

— E eu pensava que sabia abrir um refrigerante como ninguém.

— Hahahaha! Estou surpreso por não ter avançado para quebrar sua cara. Aquele caipira realmente me entreteve.

— O Omni sempre foi um oponente interessante, as lutas contra ele têm um ar especial. Mas tenho que admitir, não esperava que ele fosse alcançar aquele nível.

— Que foi? Está frustrado por ter sua velocidade batida?

— Não seja idiota… velocidade não é o que me torna forte.

— Esse é um bom olhar. — Suas pernas voltam a se movimentar, passando por Laerte na caminhada pelo corredor.

— Traçal! — O robusto para com o bravejo do Laerte. — Obrigado por não matar o Omni!

— Tch… O que está dizendo? Acha que eu sou o quê? — Seus passos voltam a soar. — Ele está vivo por causa da própria capacidade! Não me agradeça, isso é nojento!

“Como será que esse cara ficou com uma personalidade forte assim? O exótico entre os exóticos, praticamente um leão.”

Laerte, com um sorriso, também parte do local,

“Certo, vou para o quarto tirar um cochilo. Não posso mais comer qualquer coisa doce, chocolate está fora de questão. Sei que consigo… Eu consigo!” Sua mão, a que está dentro da bolsa, esbarra num pacote, assustando-o ao ponto de arregalar os olhos. “Sobrou uma?!”

 

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Em outra parte do edifício, os irmãos Jay e Ury estão conversando.

— E então? Por que acredita que dei aquele golpe?

— Hm… — Jay está tenso, tendo dificuldades para acompanhar a discussão. — Não foi para fazê-lo perder a compostura?... 

— Seu cérebro tem algum problema? Não foi por isso, naquela área o impacto não causa tanta dor, o foco ali foi para afetar o psicológico… 

— Ei! Ury… Até quando temos que falar disso?!

— Até você entender tudo. O quanto acredita que vai envergonhar nossa família se perder devido a uma idiotice? Nem tente estimar, teremos que trocar de nome e país, fazer cirurgias plásticas e viver nas sombras da miséria...

— Essa não… Eu sei que está exagerando como sempre, mas não tem como minha barriga não revirar com você falando isso. — Ele a segura, ficando com a testa tingida de roxo.

— Todo dia teríamos que comer pão, sem qualquer manteiga. Entregaremos nossas irmãs para homens diabólicos para não morrermos de fome e, enquanto estivermos imersos em ódio, diremos: “Maldito seja Jay! Que nos levou a um fim tão trágico!”

— Pare!! — O rapaz tomba para frente, sua barriga faz ruídos que soam pelo quarto.



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