Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 14: O Inabalável e o Ninja

— Como está a condição do Unsai? — pergunta Malena.

— Ele está bem. — Um empregado lhes oferece mais copos d’água, Gaojung agradece com um movimento da cabeça, pondo-os no centro da mesa. — A orelha será reimplantada depois de algum tratamento. Mas caramba! Ainda estou surpreso com a frieza do Kaon!

— Foi uma demonstração clara da sua vontade de ganhar mesmo na desvantagem em que estava. Porém, não creio que um estilo tão bruto pode ficar de frente contra os grandes nomes.

— Concordo… em todo caso, não é uma preocupação que devemos ter agora! Está quase na hora da penúltima luta da noite! Malena, quem você pensa que o destino abençoará desta vez?

— Hahaha… Sendo sincera, não tem como não pensar que as chances estão a favor para Jay. Principalmente se levar em consideração que o oponente é do tipo ofensivo.

No corredor escuro Darada está respirando fundo, preparando-se mentalmente para o combate. Os sons de fora aumentam, incluindo os amplificados dos narradores; o momento dos lutadores serem chamados está próximo.  O rapaz levanta uma sobrancelha em estranheza ao ver alguém surgir correndo no final do outro corredor à frente.

“Cheguei a tempo!” Jay fica no centro do corredor sombrio, ofegante pela corrida que fez.

Faíscas vermelhas jorram dos barris, o público estremece o lugar com a empolgação. Gaojung os introduz:

— (…) um usuário exímio do estilo gou-son e também um dos Quatro!! Será que ele poderá superar o incrível desempenho do irmão?! Ou ficará em sua sombra neste torneio?! NADA PODE DERRUBAR ESSA ROCHA!!! NADA PODE DERRUBAR JAY!!!

O citado entra na arena com passos lentos, segurando a barriga com a mão esquerda. Sua imagem é ofuscada pelas partículas. Está vestido com uma roupa estrangeira como seu irmão, havendo diferenças na textura das mangas, calças largas e na palheta de cor, que é mais clara.

Depois de algum tempo, as faíscas azuis são lançadas ao ar, dando o sinal para Darada também sair do corredor. O cabelo dele é loiro e está amarrado para trás por ser longo, sua expressão transmite cansaço pelas pálpebras escuras, tendo uma altura de 1,83 m.

— Olá — cumprimenta Jay ao ficarem próximos, o juiz está falando.

— Eai… Está tudo bem?

— Ah! perdão! Tive um pequeno acidente, então acabei chegando atrasado, não foi minha intenção desrespeitá-lo.

— Não se preocupe, está tudo bem.

Ele levanta as mãos até serem alinhadas com os ombros, abrindo as pernas para melhorar sua base em um futuro deslocamento. 

“Mas calmo do que eu esperava…”, pensa Darada. O juiz apita, iniciando o combate. “Agora não sei se consigo acreditar…É mesmo ele o lutador com um histórico quase perfeito?”

Jay expira com suavidade, separando os braços à frente da cintura, ficando em uma pose ereta com as pernas não muito distante para os lados.

— Que postura estranha… — comenta um homem na plateia. — Aquilo serve para lutar?

— Cara… — diz o que está sentado a sua direita. — Não sei dizer se presta, mas nas partidas dele que vi na internet, nunca presenciei ninguém o nocautear. Absolutamente… nenhuma vez.

O apito soa, o confronta começa.

Darada investe no adversário, ele ameaça atacar com um soco de direita, mudando subitamente para um chute de esquerda ao inclinar-se para trás; poeira se espalha pelo arco do golpe que estoura no rosto do estrangeiro.

Fios de luz roxa surgem em um fundo negro, disseminando-se rápido por ele como minhocas, formando a imagem das raízes de uma árvore.

Jay despenca de lado contra o chão, não esboçando resistência.

“Funcionou?...” questiona Darada.

— UM ACERTO EFETIVO?!! — brada Gaojung. — Mas já?! No início da luta… JAY JÁ TOMBOU?!!

— Pela trajetória do chute — fala Malena —, creio que atingiu a têmpora! Se isso for verdade, é bem improvável que ele possa se levantar!

O lutador de pé se sente atormentando, sentindo, enquanto olha o caído, os arredores serem trocados por um mundo escuro repleto de ondulações.

“Senti o impacto entrando… Mas o que é essa inquietação?... O juiz não apitou, isso significa que não acabou. Preciso... confirmar!”

Ele avança, rotacionando o quadril para desferir um soco desde cima, rompendo o ar até ser interrompido na colisão da pancada no pé do Jay, que distribui o poder do golpe pelo ar à volta dos membros.

 “O quê?!” Seu punho fica colado na sola; apesar de estar deitado no chão, Jay conseguiu parar o ataque com a perna direita, apoiando a inclinação do corpo com o calcanhar da demais. “Sem efei…?” Darada percebe o levantar súbito do adversário, que se aproxima com os dedos alinhados para formar lanças, se tornando um borrão pela velocidade em que o faz; o adversário é forçado a recuar antes que fosse acertado.

Metros são formados entre eles.

Jay respira fundo e solta tudo, retornando o ambiente a um clima mais brando quando refaz a postura do começo da luta. Existe uma leve marca da pancada que levou na têmpora direita. Darada esboça mais seriedade com o fechar das sobrancelhas e lábios, finalmente sentindo a forte presença do oponente, que é como um redemoinho puxando a realidade à volta dele, um que se não for tratado com o devido cuidado, irá o sugar para a morte.

“Então é assim que vai ser…” pensa Darada. Ele investe contra o adversário. “Hora de testar meus limites. O quanto posso fazer contra esse monstro? Irei descobrir, e guardar essa experiência para minha vida.”

Seu punho colide na palma do Jay, tendo o impacto distribuído pelo pé para o fundo da terra como raízes brilhantes, não movendo nem sequer um milímetro do braço mesmo com a grande força embutida no choque que leva.

Darada inverte a posição das pernas enquanto dá saltos curtos pela área em que está, lançando socos consecutivos, que cortam trajetórias retas como rajadas de luz, fazendo o adversário cerrar dos dentes pela dificuldade que tem em desviar de todos.

“Mas não pense que não estou indo para ganhar. Eu vou ganhar!”

“Esse cara é bom.” Jay move a cabeça para o lado, expondo um pouco do seu olhar pelas pálpebras. “O seu jogo de pés é de alto nível, o que dificulta uma leitura dos seus movimentos. Preciso revidar… senão nunca irei impor um ritmo.”

Os dedos se dobram; na primeira brecha que vê, Jay joga um golpe em forma de foice pelo lado, visando a garganta do oponente.

“Aí está!” Darada observa o ataque com o canto do olho. “Esse é o golpe decisivo que ele sempre usa para acabar as lutas! Aproveitando sempre de um momento entre a chuva de ofensivas inimigas para o encaixar!”

Ele agarra o pulso daquele braço, tirando todo o poder do balanço.

— Achou que ninguém poderia te estudar e preparar uma estratégia contra? Essa ingenuidade irá custar seu braço! Irei quebrá-lo!!

Quando o loiro põe força nos dois braços para quebrar o pego, seu corpo gira, gira no ar como uma roleta, acontecendo de ter seu rosto refletido por uma palmada, jogando-o de cabeça contra o chão.

O público fica em silêncio, estourando uma algazarra após alguns segundos.

Darada se apressa em levantar da posição desconfortável em que está caído, tomando uma postura de luta enquanto olha pasmo para o adversário, totalmente desacreditado com o que aconteceu.

— É… você entendeu errado — fala Jay.

— O quê?

— Sei o que está pensando. Esse não é um trunfo para finalizar o combate. Acontece só da maioria dos meus adversários não notarem, então eu realmente acabo acertando o ponto no pescoço deles, apesar de não o fazer tão bem quanto meu irmão faria. Na verdade, o objetivo era de fazê-los esquivar ou agarrar meu braço; no primeiro caso, para afugentar a agressividade que me pressiona; no segundo caso, é porque me agarrar é… inútil. — As últimas palavras do rapaz pesam toneladas sobre a consciência do oponente.

Darada está nervoso, encarando o adversário, que se aproxima com passos tranquilos, pressionando-o cada vez mais com o sentimento de estar encurralado, afundando-o em uma realidade de fundo sombrio, em que os dois na arena estão pintados apenas por tons distintos de azul. Parte do olhar do Jay se revela, aparecendo como uma cintilação branca que o aproxima de algo monstruoso, a algo perturbador, como um demônio na pele de um cordeiro finalmente expondo sua malícia.

O loiro grita, avançando em desespero, liberando um soco que é pego e travado pelos dedos do rival. Seus metacarpos são apertados com força o suficiente para o fazer tremer o braço de dor e esforço, que se provam fúteis pela falta de resultado.

Ele tenta bater em Jay com o outro braço, neste instante o ombro do rapaz vai para trás, puxando-o contra uma parede ao lado, resultando na batida do rosto de Darada por lá. Sangue mancha o concreto.

O na parede fica furioso; ele tenta se virar, paralisando ao ter o braço torcido quase no sentido contrário, conseguindo se soltar apenas depois de muita resistência. Após se libertar, Darada vai direto no ombro do adversário, pegando-o, em seguida lança um soco com o outro braço; o ombro agarrado se mexe, a mão que está nele desliza para baixo junto do dono, que teve o equilíbrio abalado, sucedendo dele ser acertado com uma joelhada na face que o joga para trás.

Sangue escorre do nariz quebrado, a expressão de Darada está devastada — desprovida de consciência. Sua visão apaga em um breu.

O apito soa com a queda do derrotado sobre a terra. O público enaltece o vencedor, que retoma a postura do início da batalha como um ritual de relaxamento.

— QUE FORTE!!! (...) E esse é um dos Quatro!! Um dos que podem roubar a glória dos favoritos!!

Jay vai para o corredor escuro enquanto levanta o braço direito ao alto, mantendo o olhar baixo durante os gritos do narrador. 

— QUAL SERÁ O LIMITE DA EFETIVIDADE DO SEU ESTILO CONTRA OS GRANDES NOMES?!!

[7° Luta (1°F) - Jay vs Darada

Duração - 4 m 22 s

Vencedor - Jay

“Cada movimento dele induziu uma quebra na compostura do oponente, ao menos digo que não é um estilo ordinário o que ele usa, mas não deixa de ser uma porcaria! Hahahaha!”, comentário do Traçal, conquistado após uma perseguição incessante com risco de vida.]

 

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Muitos minutos se passaram. A batalha final da primeira fase está prestes a acontecer. Humine e Oralos se entreolham, tendo o primeiro uma postura com as mãos enfaixadas adiantadas,  como se fosse segurar a cintura de uma mulher; seu cabelo está devidamente amarrado, formando a visão de um amontoado de espetos azuis que lembra uma meia-lua com suas torções.

O apito soa, ele corre contra o oponente, demonstrando uma agilidade notável ao esquivar dos jabs disparados na tentativa de contê-lo, mandando socos e chutes nas bordas do tronco e rosto do rival, desenvolvendo-os no limite de sua flexibilidade, explorando arcos altos.

— Ei ei! Não me diga… — comenta Kimai no andar de observação, vendo Humine mover constantemente as mãos, as usando às vezes para formar selos. — …que ele é um ninja!?

Oralo vê o adversário à frente formando um selo que destaca os indicadores para cima, ele tenta o pegar com uma mão, resultando apenas na passagem dela por uma imagem residual enquanto sente uma dor horrível queimá-lo: seu pé está sendo quebrado pelo calcanhar do Humine, que nem está tocando o chão, como se tivesse caído ali, tendo atacando ao desviar do último movimento inimigo.

Em sequência, ele manda desde baixo um chute que amassa os testículos do adversário, causando um “oh!” de todos os homens nas arquibancadas. A dor que Oralo sente é tão intensa como um vulcão em erupção, fazendo-o cair de joelhos, o momento esperado: a lateral do seu queixo é atingida, o que faz sua cabeça virar enquanto chacoalha o cérebro, apagando-o desse mundo para um de total escuridão.

O apito soa.

— Que execução perfeita!! — Malena se empolga ao ponto de derrubar um copo d’água sem perceber. — Humine conquista seu passe para a próxima fase sem levar quase nenhuma pancada! Dando um desfecho genial para a primeira fase do Torneio da Corte! Simplesmente o que foi esta noite?!

— Já aceitei que não vou sobreviver na próxima — diz Gaojung.

— Hahaha!

— Foram tantas reviravoltas e fatores inesperados em todas essas lutas! Agora entendo o motivo do interesse do Holliver nos jovens desta geração!

[8° Luta (1°F) - Humine vs Oralo

Duração - 2 m 53 s

Vencedor - Humine

“Nem Omnislai tem uma agilidade naquele nível. É um lutador interessante, imagino como se sairia contra o estilo Alkala”, comentário do Ury.]



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