Trigo e Loba Japonesa

Tradução: Virtual Core


Volume 2

Capítulo 3

Entrar em Ruvinheigen requeria passagem por dois postos de inspeção separados. Um controlava a passagem pelas muralhas da cidade, e o outro estava situada na estrada principal, que cercava toda a expansão de Ruvinheigen.

Devido ao tráfego pesado dentro e fora de uma cidade deste tamanho, era preciso obter um documento de passagem no posto de inspeção externo, a fim de passar pelo posto de controle dos muros da cidade. Viajantes legítimos usariam os caminhos legais para a cidade, obteriam os documentos adequados e passar através das muralhas — qualquer um que não tivesse o documento seria expulso.

Os postos de inspeção também forneciam algum grau de controle sobre o contrabando e falsificação inevitável que as grandes cidades atraíam.

A estrada que Lawrence e seus companheiros tomaram era, evidentemente, menos usada já que seu posto — embora não seja exatamente malfeito — era bem mais simples do que os postos de inspeção nas rotas mais comuns, e o guarda de lá parecia conhecer Norah. Usando algum estranho poder, ela guiou ovelhas pelo portão propositadamente estreito, e Lawrence a seguiu depois de ter suas mercadorias inspecionadas.

O simples posto contrastava nitidamente com as grandes e majestosas muralhas de Ruvinheigen.

Seria completamente impossível romper as muralhas de Ruvinheigen sem controlar as áreas circundantes. Paredes de terra e madeira eram citadas com orgulho em outras áreas, mas aqui, uma barreira de pedra cercando a cidade, com torres de vigia posicionadas em intervalos regulares. Ruvinheigen estava mais perto de um castelo do que uma cidade, e Holo soltou um suspiro involuntário de admiração enquanto eles observavam a partir de uma colina conveniente logo após o primeiro posto de inspeção.

Do lado de fora dos muros havia campos cultivados e, entre eles, as estradas se esticavam radialmente para fora da cidade.

Aqui um grupo de porcos era impulsionado por um agricultor; ali uma longa caravana mercante era visível. Mais ao longe, um tapete branco se movia lentamente sobre o chão — provavelmente um rebanho de ovelhas que algum pastor trouxe para pastar. Pastores com rebanhos que passavam das centenas não eram raros, mas este pastor estava provavelmente ganhando tempo antes de finalmente levar suas ovelhas para Ruvinheigen para apoiar o consumo de carne da cidade.

Tudo sobre este lugar era extraordinário.

Lawrence e seus companheiros desceram o monte e tomaram uma das estradas que corriam por entre os campos.

A cidade era tão grande que do monte parecia que ela estava perto, mas percorrer a distância tomou algum tempo. Norah teve que ter cuidado para que suas ovelhas não comessem as colheitas que cresciam em ambos os lados da estrada. Por fim, o grupo estava perto o suficiente para ver o padrão nas paredes da cidade.

Neste ponto, Lawrence pegou cuidadosamente duas moedas de prata e as estendeu para entregar a Norah.

“Certo, então, aqui estão seus quarenta trie.”

Trie eram moedas de cobre simples. No entanto, tantas moedas seria um fardo pesado, e Lawrence avaliou que as duas moedas de prata que a entregou poderiam ser trocadas por quarenta e cinco trie.

Ele pagou Norah um extra porque se sentiu endividado com ela. Ele e Holo tiveram a sorte de não encontrar quaisquer lobos, mas Lawrence ainda ficou impressionado com a habilidade da garota. Até Holo admitiria isso, e era fácil para Lawrence ver Norah se destacando no futuro. O dinheiro extra foi apenas um investimento para esse fim.

“Er, mas, se eu trocar isso, não vou conseguir mais do que...?”

“Considere isso um investimento,” disse Lawrence.

“Um...investimento...?”

“Agora que conheço uma pastora tão habilidosa, poderei ser capaz de conseguir um lucro surpreendente com lã,” disse Lawrence em um tom propositalmente ganancioso. Norah riu e a contragosto aceitou as duas moedas de prata.

“Nós estaremos na Guilda Rowan de Comércio por um tempo. Se tiver planos de levar o seu rebanho a campo novamente, passe lá primeiro. E poderei ser capaz de apresentá-la a um comerciante com necessidade de escolta.”

“Passarei.”

“Ah, uma última coisa. A área na qual você pode fornecer escolta — é apenas a rota que seguimos?”

“Er, posso ir até Kaslata e Poroson. Oh, e também para Lamtra.”

Kaslata era uma remota cidade sem muitos atrativos, e Lawrence ficou surpreso ao ouvir Norah mencionar Lamtra. Lamtra era um dos poucos lugares da região que não estavam sob a influência de Ruvinheigen, que controlava o resto da região. Não era muito longe em direção ao norte da grande cidade — Lawrence e seu grupo poderiam chegar lá seguindo para o norte por um ponto no meio da estrada que acabaram de tomar. No entanto, para chegar a Lamtra era necessário passar por uma floresta escura e misteriosa, que até mesmo os cavaleiros temiam, por isso resistiu contra a invasão de Ruvinheigen por tanto tempo e era a única cidade onde um número significativo de pagãos ainda vivia.

Todas as rotas legítimas para Lamtra eram incrivelmente repletas de desvios, então não achava que Norah deveria sugerir que pudesse fornecer escolta ao longo delas. Ela claramente tinha confiança em sua capacidade de cruzar a floresta.

Se ela conseguisse, havia muitos mercadores que gostariam de ir com ela.

“Lamtra, hein? Ouso dizer que você tem alguns contratos,” disse Lawrence.

O rosto de Norah se alegrou. “Muito obrigada!” ela disse, se curvando como se ainda estivesse morando em um asilo de indigentes.

“O prazer é meu. Bem, então, vou entrar pelo portão sudeste, aqui é onde nos separamos.”

“Certamente. Espero que nos encontremos de novo,” disse Norah.

Lawrence assentiu e puxou as rédeas de seu cavalo para a esquerda enquanto Norah tocava seu sino. Ruvinheigen era grande o suficiente para ter nada menos que dezessete grandes portões. Entre eles haviam portões pequenos, utilizados para grandes grupos de ovinos e outros rebanhos, os quais Norah teria que usar.

Além disso, dada interior labiríntico da cidade, era bom senso entrar através do portão mais próximo do seu destino — a cidade era grande o suficiente para isso.

Quando eles se separaram, Lawrence olhou para trás por cima do ombro e viu que Norah ainda estava os observando. Quando ela viu Lawrence a olhando, Norah acenou saudosamente para eles.

Ele poderia muito bem acenar de volta, mas estava com medo de ser ridicularizado por Holo. Lawrence lançou um olhar para ela, o que a garota loba notou.

“Você acha que sou tão malcomportada?”

Lawrence sorriu, aflito, então olhou para a frente depois de devolver o aceno de Norah.

“Hmph. Bem, agora vamos ver o gosto dessas conservas de pêssego em mel! Certamente estou ansiosa para isso.”

“Hm. Então você se lembrou disso, não é?” disse Lawrence. Enquanto se aproximavam do portão, ele estava considerando o quanto perderia para o imposto de entrada com sua carga de armaduras.

“Certamente você não está dizendo que não vai comprar!” Holo era intimidante, apesar de seu sorriso doce e cabeça modestamente inclinada.

Lawrence desviou os olhos e murmurou quase como se estivesse rezando. “Não podemos comprar se eles não estiverem vendendo nenhuma.”

“Bem, naturalmente,” disse Holo, como se tivesse total confiança de que as conservas estariam a venda.

“Ah, você provavelmente já sabe disso, mas tentam agir um pouco mais como freira no próximo ponto de verificação. Eles são mais flexíveis com uma freira.”

“Hmph. Eu não sou tão tola a ponto de criar problemas em uma cidade como esta. Mas eu realmente pareço como uma freira?”

“Não há nenhuma dificuldade com isso.”

Assim que ele disse isso, Lawrence se arrependeu. Holo tinha sofrido muito nas mãos da Igreja. Dizer que ela parecia uma freira poderia deixa-la com raiva.

“Oh, é mesmo?” disse Holo, rindo. Ela parecia feliz — surpreendentemente.

“...O que, você não está com raiva?”

“Hm? Por que eu estaria?”

“Bem, quero dizer... a Igreja é sua inimiga, mais ou menos.”

“Não necessariamente. É o mesmo que ter alguém como você por perto. Freiras são todas fundamentalmente gentis, e até mesmo uma loba como eu pode dizer que a maioria delas são muito encantadoras. Beleza transcende a espécie.”

Da sua parte, Lawrence compreendeu bem o suficiente, mas estava principalmente feliz por ela não estar brava.

E era verdade que muitas freiras eram belas. Isso pode muito bem ser parcialmente por elas serem tão assiduamente dóceis, puras e ascéticas, mas havia também o fato de que as filhas ilegítimas de muitos nobres se tornavam freiras.

Muitas mulheres formosas planejavam usar sua beleza para tornar-se amante de um nobre rico, e muitas filhas de nobres atraentes eram seduzidas por um libertino, que exercia a poesia e a arte como uma arma.

Muitas vezes, os filhos resultantes de tais ligações eram mais vigorosos e saudáveis do que os seus irmãos legítimos — muito provavelmente porque homens e mulheres capazes de seduzir a nobreza eram formidáveis.

Tais crianças eram a causa de uma boa parte das lutas de sucessão, mas a maioria delas entrariam em uma abadia — assim, muitos dos irmãos e irmãs da abadia eram bonitos, de fato.

“Contudo, não acho que poderia aguentar o jejum constante,” disse o Holo.

Lawrence riu abertamente.

À medida que avançava pela estrada que corria ao lado da grande muralha, um grupo animado de pessoas se tornou visível ao longe.

Era a entrada sudeste.

O enorme portão se abriu, e enquanto algumas pessoas entravam na cidade, outros saiam, partindo em suas viagens.

As inspeções de pessoas e bens eram conduzidas assim que atravessasse a murada, e apesar do volume de viajantes, havia pouca espera uma vez que tantos inspetores estavam a serviço.

No entanto, diferente de Poroson, nem uma única pessoa se preocupou em formar uma fila, então a menos que estivesse familiarizado com o protocolo, era possível acabar do lado de fora do portão por horas. No entanto, Lawrence conhecia o procedimento, ele guiou seu cavalo adiante, tentando o seu melhor para evitar colidir com qualquer um; abrindo seu caminho por entre pessoas menos experientes; e finalmente chegando à estrada que passava por sob os arcos, esculpidos diretos da parede de pedra, que levavam para a cidade. Em tempos de guerra, esse era um ponto importante para defender, por isso as paredes aqui eram muito espessas. Lawrence olhou para cima para ver um grosso portão de madeira suspenso acima da multidão, e com um calafrio, ele se perguntou o que aconteceria se ele acabasse caindo — embora ele nunca tinha ouvido falar de tal acidente. Logo após o portão, havia uma abertura no telhado através do qual óleo fervente poderia ser derramado nos inimigos invasores, caso rompessem a muralha. A pedra em torno da abertura estava descolorida, talvez devido ao uso frequente.

Logo após as paredes estava o posto de inspeção, e além dele, Lawrence podia ver as ruas de Ruvinheigen.

Qualquer grande cidade cercado por muros — não apenas Ruvinheigen — tinha que se expandir para cima, mais do que para fora, devido ao espaço limitado. Ruvinheigen era particularmente desafiadora a este respeito, e para a cidade que agora cumprimentava Lawrence e o fazia lembrar o convés de um navio cheio de tesouros. Várias construções pareciam prestes a transbordar a qualquer momento. Ainda para além destas, ele podia ver o alto telhado da grande catedral de Ruvinheigen.

“Você aí, mercador!” Uma voz gritou.

Lawrence voltou sua atenção para um guarda usando uma armadura de couro leve que apontava para ele.

“Ficar observando a cidade vai causar um acidente!” repreendeu o guarda.

“Minhas desculpas.”

Houve um curto riso ao lado de Lawrence.

“Próximo! Uh, você aí! O mercador que acabou de ser repreendido!”

Era difícil de prosseguir sem uma fila adequada. Lawrence engoliu seu embaraço e guiou seu cavalo na direção do inspetor, se curvando em saudação.

“Papéis de passagem,” exigiu o inspetor, impaciente.

“Bem aqui.”

“Hm. Você veio de Poroson, eh? Seus bens?”

“Vinte conjuntos de armaduras.”

O comércio era proibido fora da muralha, por isso era necessário que a carga de um mercador coincidisse com o documento de viagem.

O inspetor pestanejou rapidamente. Ele pareceu surpreso.

“Armaduras? De Poroson?”

“Ah, sim. Comprei da Companhia Latparron em Poroson. Algum problema?”

Ruvinheigen tinha sido fundada quando as companhias dos cavaleiros encarregadas de reprimir os pagãos criaram fortificações, e até hoje, a cidade permanecia como um importante depósito de suprimentos para os soldados em direção ao norte. Armas e armaduras das áreas circundantes eram importadas aqui e voavam das prateleiras imediatamente.

Lawrence estava intrigado com a reação do inspetor, mas o oficial apenas balançou a cabeça e voltou sua atenção para a carroça. Esta continha vinte conjuntos de capacetes, luvas, couraças e grevas¹ — tudo feito de couro e cota de malha. O vinho não era uma mercadoria à venda, mas ainda seria tributado. No entanto, há muito havia sido bebido.

Não havia nada suspeito e o inspetor parecia satisfeito. Ele subiu na carroça para verificar se havia itens não tributados, como ouro ou joias que pudessem estar escondidas dentro das armaduras; então, apaziguado, ele desceu. Fez uma verificação superficial no feixe de lenha, mas esconder qualquer coisa dentro dele teria sido impossível.

“Elas parecem com as armaduras de Poroson. Você estará pagando em moeda ou bens?”

As armaduras valiam cem lumiones no total, de modo que o imposto de 10 por cento equivaleria a dez lumiones.

Dez lumiones chegaria a mais de trezentas moedas de prata trenni, e nenhum comerciante viajaria transportando tantas moedas. Seria inconveniente para o inspetor contar as trezentas moedas, mesmo que Lawrence as tivesse.

Entregar algumas armaduras como imposto resolveria todos estes problemas.

“Bens,” disse Lawrence.

“Boa resposta,” respondeu o inspetor, o que provocou um suspiro de alívio em Lawrence. “Leve dois conjuntos de armadura para lá,” disse ele, gravando algo com uma pena em um pedaço de papel, que entregou a Lawrence.

Duas armaduras das vinte satisfaria o imposto de 10 por cento.

Lawrence assentiu depois de confirmar a exatidão do recibo.

Da parte de Holo, que parecia com uma freira em todos os detalhes, portanto passou sem ser questionada. Esta era uma cidade da Igreja, suspeitar de padres ou freiras provavelmente traria mais problemas do que valeria a pena.

Em todo caso, aliviado por ter conseguido passar através do posto de controle sem problemas, Lawrence desceu da carroça, tomou as rédeas, e caminhou. A partir de agora só ficaria mais lotado — e claro, perigoso.

A área em torno do posto de coleta de impostos era como uma guerra, um cruzamento desordenado de idiomas e vestuário. Lawrence podia ouvir o mesmo barulho de pessoas pechinchando e implorando em qualquer local onde os impostos eram coletados.

Naturalmente, ele não se envolveria em algo tão tolo como pechinchar sobre impostos e obedientemente entregou as necessárias duas armaduras.

No entanto, o funcionário olhou para o recibo que Lawrence recebeu do inspetor e franziu a testa.

Lawrence de repente ficou nervoso — será que havia algo impróprio? Mas não, parecia que tudo estava em ordem.

Sem saber exatamente o que tinha acontecido, Lawrence atravessou o posto de inspeção e entrou na cidade, ele subiu de volta na carroça.

A reação do inspetor ao ver a carga de armadura era um mistério, mas Lawrence tinha entrado na cidade, por isso, não há mais motivo para preocupação.

Ele murmurou garantias para si mesmo, mas uma certa inquietude permaneceu.

“Ei, mercador,” disse Holo.

Lawrence foi subitamente perturbado pelo som da voz de Holo, como se estivesse prestes a ouvir algo desagradável. “O quê?”

Holo falou lentamente em resposta à pergunta de Lawrence. “Mm. Estou com fome.”

“...”

Lawrence olhou para a frente de novo, ignorando tanto a queixa de Holo quanto sua própria inquietação persistente.

A grande catedral de Ruvinheigen é tão robusta que era visível a partir de qualquer ponto da cidade. A metrópole se espalha ao redor da catedral — o bairro mais próximo a ela é conhecido como a cidade antiga, cercado por muralhas da cidade velha, e em cercando aquelas paredes, por sua vez, está o resto da Ruvinheigen.

Na parte sul da cidade mais ou menos circular estava o maior portão da cidade, e passando pela estrutura — que era grande o suficiente para permitir que máquinas de cerco passassem — havia uma praça tão larga a ponto de invejar qualquer rei estrangeiro, com uma fonte criada usando a mais recente técnica disponível no sul e uma feira permanente.

Em torno das bordas da praça estavam as grandes empresas de comércio da região, as casas de verdadeiro poder e influência na cidade, todas coladas. Além delas, pequenas empresas comerciais, casas e lojas de uma grande variedade de artesãos.

A grande catedral ficava no meio de uma das outras praças de Ruvinheigen, que eram dispostas como um grande pentágono sendo a maior delas a do portão sul. Cada praça tinha suas próprias características, quase como uma cidade dentro de uma cidade.

Lawrence e Holo passaram pela entrada sudeste, e embora a praça onde se encontram dificilmente pudesse ser comparada com a grande praça do sul, ainda era considerável.

No centro da praça estavam estátuas de cavaleiros, que haviam realizado algum feito memorável na guerra contra os pagãos, e santos, que fizeram alguma contribuição importante para a fé.

Dezenas de tendas eram alinhadas na praça com pessoas em esteiras de palha negociando suas mercadorias dentro das estruturas.

Não havia nenhuma barraca ao redor das estátuas de bronze. Em vez disso, um conjunto musical com um menestrel tocando uma flauta de madeira lisa enquanto uma famosa trupe de atores cômicos ofereciam seu serviço. Misturado com os artistas estavam sacerdotes peregrinos, vestidos de trapos e empunhando livros esfarrapados de escritura enquanto pregavam, os seus discípulos atentos usavam roupas ainda piores.

Parecia que a ordem do dia no distrito era pegar um lanche em umas das barracas, observar os artistas, e escutar um sermão depois de se divertir.

Depois que Lawrence e Holo alugaram um quarto em uma estalagem e pôr o cavalo no estábulo, eles partiam para a casa de comércio para começar os seus acordos comerciais quando se viram atraídos em direção ao tumulto de vozes felizes e deliciosos aromas.

Eles comeram algumas enguias fritas, que parecia ser um lanche popular. A doçura do óleo mascarou o cheiro de terra dos utensílios, e assim que terminasse um pedaço, você já queria outro, o que parecia ser da natureza humana. Quando Lawrence percebeu, ele e Holo pararam na frente de uma barraca de bebidas, apreciando o show de comédia enquanto bebiam um pouco de cerveja.

“Mmm, isso é saboroso,” disse Holo depois de secar um copo, e com espuma ainda nos cantos de sua boca, ela pediu outra rodada. O garçom estava muito feliz em servir clientes tão rentáveis.

Comendo enguia frita e bebendo cerveja durante toda a tarde, Holo já não parecia nem um pouco como uma freira.

As roupas que ela usava ao entrar na cidade seriam ainda menos convincentes na presença de Lawrence — nada era mais suspeito do que uma pessoa de fé viajando com um mercador.

Então Holo trocou o manto por uma capa de pele de coelho, mas ainda dobrou o manto e o envolveu em sua cintura, usando como uma saia improvisada para esconder sua cauda. Suas orelhas problemáticas estavam escondidas sob um lenço triangular.

Assim Holo tinha transformado de freira para uma moça da cidade. A praça estava cheia de garotas que tinham abandonado o trabalho para uma tarde de diversão, de forma que ela mal se destacava. O jeito que ela bebia, sem se importar com sua bolsa de moedas, ajudava a pensar que ela estava separando alguns comerciantes inocentes de seu dinheiro.

Na verdade, como Lawrence pagava antecipadamente, o garçom parecia pensar que era ele quem tinha sido desarmado por esta garota casualmente cara.

Lawrence deu ao homem um sorriso amargurado para desviar do assunto, mas o garçom também não estava necessariamente errado.

“O licor é bom e as pessoas animadas — é uma boa cidade, não?”

“A animação tem um preço — temos que nos cuidar, especialmente próximo de qualquer cavaleiro ou mercenário. Uma briga com sua laia traria mais problemas do que precisamos.”

“Você pode contar comigo,” disse o Holo.

Lawrence suspirou em vez de expressar o que achava do assunto. “Certo, bem, nós devemos ir.”

Ele terminou sua segunda cerveja enquanto Holo tinha terminado quatro cervejas na mesma quantidade de tempo, de modo que parecia um momento oportuno para sair.

“Mm? Já? Eu ainda nem comecei a beber.”

“Você pode beber mais esta noite. Vamos.”

Movendo o olhar de Lawrence para seu copo, Holo, finalmente, pareceu desistir e se afastou da tenda. O garçom falou “voltem sempre!” e sua voz desapareceu na multidão cercando Lawrence e Holo.

“Então, para onde vamos?”

“Para a casa de comércio — pelo menos limpe sua boca, hm?”

Só agora ciente da espuma nos cantos da boca, Holo trouxe sua manga perto dos seus lábios, como que para limpá-los.

No entanto, pensando melhor no último segundo, em vez disso ela agarrou a manga da camisa de Lawrence e limpou sua boca.

“Quê, você — vou me lembrar disso.”

“E ainda assim você já me acertou,” disse Holo, segurando sua cabeça com uma mão e olhando para ele, a outra mão segurando firmemente a de Lawrence. Sua raiva durou apenas um momento.

“Ainda assim,” continuou ela.

“Hm?”

“Por que você tem que me arrastar para esta casa de comércio? Prefiro mil vezes ficar bebendo cerveja na praça.”

“É muito perigoso deixar você sozinha,” alertou Lawrence.

Holo olhou surpresa por um momento, depois riu timidamente, talvez ela tenha entendido errado o que ele quis dizer.

“Mm, é verdade. Eu sou encantadora demais para ser deixada sozinha!”

Era verdade que Holo, com seus cabelos castanho-avermelhados balançando, ela tendia a atrair atenção, e alguns daqueles que observavam devem ter invejado Lawrence, que segurava sua mão.

Não que ele não tivesse um pouco de orgulho em andar por aí com Holo, mas o fato é que não havia como dizer em que problema que ela iria se meter caso a deixasse por conta própria.

A praça era um lugar divertido e animado, mas lugares divertidos e animados pareciam mais problemas do que poderiam lidar. Se por acaso sua verdadeira forma fosse exposta lá, seria desastroso.

“Nenhum charme vai impedir os guardas da Igreja ou cavaleiros do templo de perseguirem a sua cauda,” disse Lawrence. “E se você ficar bêbada e mostrar suas orelhas ou cauda?”

“Quê? Apenas me transformaria, te agarraria com a minha boca, e nós fugiríamos da cidade. Certamente posso saltar por cima daquelas muralhas. Não existe alguma velha história sobre um cavaleiro e uma princesa parecida com isso?”

“Qual, aquela em que o cavaleiro resgata a princesa prisioneira?”

“Essa mesma!” disse Holo, se divertindo. Para Lawrence, não havia um traço de romance na ideia de Holo assumindo sua forma de loba e fugindo com ele entre os dentes.

Muito pelo contrário, apenas imaginar ser preso entre aquelas grandes mandíbulas fazia Lawrence querer tremer.

“Bem, não faça isso,” disse Lawrence.

“Mm. Se você fosse o prisioneiro, haveria pouco ganho em resgatá-lo.”

Lawrence fez uma expressão angustiada e olhou para Holo que o olhava maliciosamente.

Os dois passaram por todo um turbilhão de pessoas e se dirigiram para o norte em uma travessa estreita, onde vitrines se alinhavam sob seus beirais brilhantes e iluminados pelos raios de sol. Não havia companhias de comércio aqui, mas sim construções com uniões mercantis e casas de comércio. Alguns eram associações econômicas criadas por grupos mistos de mercadores de diferentes áreas; outros eram construções para associações de artesanato criadas por comerciantes têxteis que se ajudavam independentemente da sua origem.

O mundo não oferecia proteção para mercadores que se encontravam com perigo ou acidentes. Assim como os cavaleiros usavam elmos e couraças, os mercadores se uniam para garantir a sua própria segurança. As maiores alianças econômicas eram páreas até mesmo para o pior inimigo de um comerciante: uma nação empenhada em abusar de seu poder.

Uma história famosa falava de dezoito regiões e vinte e três guildas se unindo na mais poderosa aliança econômica já criada, combinando forças equivalente a um exército de quatorze mil soldados e reivindicando a vitória quase que instantaneamente. A união que se formou para preservar os lucros transcendia fronteiras era um bom exemplo da solidariedade a qual esses grupos poderiam dar origem.

Por essa razão, as construções que estes sindicatos e associações usavam eram bastante ordenados, e aqueles que os frequentavam se comportaram educadamente.

Sem civilidade, longas rivalidades entre (por exemplo) um peixeiro e um açougueiro pode acabar em violência e envolver a cidade.

Tais ocorrências geralmente mancham o bom nome de uma organização, mas elas ainda eram muito importantes para os mercadores. Afinal, o comércio depende da confiança e reputação.

“Certo, eu tenho negócios a tratar, então é só me espere aqui,” instruiu Lawrence assim que eles chegaram à casa de comércio com a qual ele era associado. Ele viu o edifício pintado no estilo local e não pôde deixar de sentir uma certa nostalgia. Ele guardou essa sensação para si, por consideração a Holo, cuja terra natal ainda estava distante.

Holo o observou enquanto ele demostrava indiferença. “O quê? Você não vai me levar para dentro e me mostrar aos seus antigos conhecidos?”

Parecia que ela tinha notado o pouco de orgulho que ele reuniu ao longo do curso, mas isso não era mais o suficiente para incomodá-lo.

“Isso seria basicamente equivalente a um anúncio de casamento. As cerimônias de casamento da minha cidade são bastante turbulentas, tem certeza que está pronta para isso?”

Esse tipo de coisa era bastante universal. O conhecimento de Holo do mundo humano pareceu lhe dar alguma ideia.

Ela balançou a cabeça em desgosto.

“Eu serei breve. Se você esperar comportada, vou te pão doce,” disse Lawrence.

“Não me trate como uma criança.”

“Oh, você não quer?”

“Quero.”

Lawrence não pôde deixar de rir da resposta séria da Holo, e a deixando lá, ele subiu os degraus do edifício e bateu na porta da empresa comercial. A porta não tinha nenhuma aldrava, que era um sinal de que apenas os membros devem bater.

Depois de esperar algum tempo, no entanto, não houve resposta.

Lawrence se aventurou a abrir a porta sozinho. Dada a hora do dia, era possível que todos estivessem no mercado — e como ele esperava, o interior estava em silêncio. O primeiro andar era um amplo hall de entrada configurado como um salão de bebidas onde os membros poderiam relaxar, mas as cadeiras estavam em cima das mesas redondas e um esfregão estava inclinado em uma parede. Evidentemente, o lugar estava sendo limpo.

Nada havia mudado durante o ano em que Lawrence esteve fora, bom, com a exceção do cabelo do mestre da guilda que cuidava do balcão da frente — que tinha diminuído. Ele suspeitou que a grande barriga do mestre tinha crescido ainda mais, mas infelizmente, o homem parecia ter dificuldade para ficar de pé, então Lawrence não podia ter certeza.

O mestre ergueu o olhar do balcão e com um sorriso amigável e começou som suas brincadeiras habituais. “Veja só, que mercador pobre é este! Vagando em torno de uma casa de comércio a esta hora — não se importa nem um pouco em ganhar dinheiro. Você estaria melhor em roupas de ladrão e indo a uma cervejaria!”

“Os maiores mercadores ganham dinheiro sem sujar os sapatos com poeira; a sua única mancha é a tinta em seus dedos. Correr pelo mercado durante todo o dia é sinal de um mercador e de terceira categoria. Estou errado?”

Toda vez que se encontravam assim, Lawrence costumava ficar irritado recordando o hábito inexplicável do mestre de zombar dele quando ainda era um jovem aprendiz. Em algum lugar ao longo do tempo, ele tinha aprendido a rebater sem se perturbar.

Lawrence rebateu facilmente brincadeira do mestre, em seguida, se endireitou e se aproximou do balcão.

O homem instalado atrás do balcão bateu sua mão na testa com a resposta de Lawrence, rindo. “Você se tornou inteligente, rapaz. Bem-vindo de volta, meu filho!”

“Pare com esse negócio de ‘meu filho’.”

“O que você está dizendo? Todos na Guilda Rowen de Comércio são como meus filhos e filhas.”

Os dois apertaram as mãos depois das conhecidas formalidades.

“E mesmo assim eu sei de todas as vezes que você molhou o seu saco de dormir depois que acampávamos — e não é um dos ensinamentos de Deus que um bom pai conhece bem seu filho? Ou devo mencionar a vez que você roubou a caixa de dinheiro e escapou com seus amigos, tremendo, para o bordel?”

“Tudo bem, tudo bem. Então sou Kraft Lawrence, filho do grande Jakob Tarantino.”

“Então, Kraft meu rapaz. Você está de volta em Ruvinheigen depois de um ano. Como vai a nossa família em outras cidades?”

Os modos de Jakob eram arrogantes como sempre, e ele acertou Lawrence com toda a aspereza e intensidade do licor. A casa de comércio era verdadeiramente sua terra natal em uma cidade estrangeira.

Este era o tipo de dura hospitalidade que só se provava em casa.

“Eles estão todos bem com a graça dos santos.”

“Bom, muito bom. Bem, agora, se você está visitando nossa família por aí, deve estar conseguindo muito lucro! Se sua bolsa está pesada, sua calça vai cair. Se sua calça cair, as moças não vão gostar de você. E você, rapaz, é um convencido. Estou errado?”

Lawrence não tinha resposta. Rindo da maneira desajeitada do mestre de buscar sua contribuição, ele respondeu: “Ouvi dizer que a capacidade de lidar com números fica ruim com a idade, mas vejo que os olhos do velho Jakob ainda estão afiados.”

Lawrence perfeitamente retirou dez moedas de prata da bolsa fixada em sua cintura e as pôs no balcão.

Se ele tivesse entregado duas ou três moedas de cobre, ele teria conseguido um sermão.

Ele queria mostrar ao velho, em todo caso, como seu lucro com as especiarias tinha sido considerável. A generosa doação era o relato de que agora estava fazendo negócios nesta escala — e com isso Jakob abriu um largo sorriso.

“Ha-ha-ha, o pequeno molha cama agora está me entregando moedas de prata de verdade! Como é lindo.”

“Pare de me chamar de molha cama.”

“Você ainda é um para mim, rapaz.”

Lawrence deu de ombros, e a risada de Jakob foi ouvida novamente.

“Bem, então, você veio até aqui no meio do dia, por isso deve estar aqui a negócios. Precisa de um certificado?”

“Sim.”

“Certamente estou ansioso pelo o dia em que você se tornar um mercador famoso o suficiente para que as pessoas tremam com a menção de seu nome,” disse Jakob.

“Você que está dizendo,” Lawrence concordou — então se lembrou que ainda tinha alguma coisa para falar. “Ah, verdade. Você sabe se tem alguém da guilda que está indo para Lamtra?”

Jakob colocou um pote de caneta e tinta sobre a mesa, em seguida, olhou para cima, e levantou as sobrancelhas para Lawrence. “Agora, isso é uma pergunta estranha,” ele mencionou.

“Eu estava apenas pensando em oferecer um atalho para Lamtra em troca de uma consideração...”

O olhar de Jakob oscilou por um momento antes de se parar novamente em Lawrence. Ele tinha um largo sorriso.

“Oh ho. Você se encontrou com uma jovem pastora?”

Lawrence foi pego com a guarda tão baixa que sua respiração ficou presa momentaneamente em sua garganta, mas quando parou para considerar, ele pensou que estava longe de ser uma surpresa que os mercadores em Ruvinheigen soubessem de Norah, uma pastora fêmea.

O que significava que outros já haviam pensado naquela ideia radical de Lawrence.

“Você está longe de ser o primeiro a ter essa ideia, rapaz. Especialmente depois de que a estrada por onde ela anda ter sido fechada. Mas agora ninguém mais liga para isso, e ninguém pede uma escolta para aquela garota. Você sabe por quê?” Jakob falou suavemente enquanto escrevia o certificado.

Lawrence respondeu com um suspiro, “Porque não há ganho nisso?”

Jakob acenou com a cabeça e olhou para cima. “Essa garota é a única que anda nessa área ilesa. Claro que Norah, a Ninfa, é muito popular com seu charme e habilidade, mas não tenho que te dizer o que a Igreja pensa sobre isso. Ninguém quer se meter com aqueles filhos da puta.”

Ele mergulhou a ponta de sua pena no tinteiro e continuou, com um sorriso malicioso no rosto. “Eu sei que Norah, a Ninfa, é o tipo de garota que você gosta, mas aqui vai um conselho: Desista.”

Era uma conversa normal que acontecia todos os dias, mas foi encerrada um pouco rápida demais, e Lawrence só poderia oferecer uma espécie de sorriso angustiado como resposta.

“Então, para quem é o certificado? Ou devo deixá-lo em branco?”

“Não, é para a Companhia Remelio, por favor.”

Jakob fez outra pausa por um momento.

Ele olhou para Lawrence com os olhos calculistas de um mercador.

“Remelio, eh? Se você já sabe para quem está vendendo..., você deve estar vendendo na margem, hmm...”

“Sim. Vindo de Poroson. Há algo que eu deveria saber?” perguntou Lawrence, apenas para ser atingido por um súbito e severo olhar, que surgiu como um peixe das profundezas de um lago.

“Mm. Bem, você vai ver quando chegar lá. Aqui o seu certificado.”

Quando um mercador vendia primeiramente seus bens para uma casa de comércio, o pior problema que pode acontecer é um mercador rival forçar abaixar seus preços. Essas coisas não acontecem com muita frequência em cidades pequenas como Pazzio e Poroson, mas Ruvinheigen era grande, e por causa das conexões entre as muitas empresas de comércio e associações, isso acontecia muitas vezes. Ruvinheigen era um lugar óbvio para grandes transações, e as transações menores de mercadores individuais eram como grãos de areia.

Portanto, Lawrence diria a qual guilda ele estava associado e deixaria claro que seria levado a sério. Com o nome de uma guilda em suas costas, ele não seria tratado com desprezo.

“A Guilda Rowen de Comércio está sob a proteção de São Lambardos. Vou rezar por sua boa fortuna,” disse Jakob.

“Obrigado...”

Lawrence levou o certificado que provava sua afiliação com a Guilda Rowen de Comércio, agradecendo Jakob vagamente, este claramente sabia mais do que estava dizendo.

Lawrence sabia por experiência própria que, se pedisse mais informações, não iria obtê-las.

No entanto, em tais situações, era provável que descobrisse a resposta após uma maior reflexão ou investigação.

O que poderia ser?’ ele imaginou.

“Sim, sim, você vai ver quando chegar. É de você que estamos falando, então tenho certeza que vai conseguir tirar vantagem.” As palavras de Jakob só serviram para confundir Lawrence ainda mais, mas se ir à casa de comércio levasse a compreensão, ele não tinha escolha, senão avançar. Provavelmente, o preço de alguma mercadoria tinha desestabilizado, e a Companhia Remelio estava em algum tipo de caos.

Lawrence tirou a ideia da sua cabeça, deu a Jakob seus agradecimentos e se virou para ir embora. Ele veio aqui para vender os seus bens, e se distrair antes de fazer isso não iria ajudar em nada.

No momento em que colocou a mão para a porta, ele foi parado pela voz de Jakob.

Lawrence olhou para trás e viu Jakob sorrindo agradavelmente.

“Ah, e tenha calma antes de se envolver com alguma garota, ouviu? Mesmo uma meiga como Norah é demais para você lidar — uma garota da cidade gastaria todo o seu dinheiro antes de você notar!”

Havia janelas nas paredes da casa de comercio, mas elas não eram feitas de vidro como nas grandes empresas de comércio — em vez disso, eram faixas de pano de linho embebidas em óleo que serviam como painéis. Isso permitia que um pouco de luz pudesse entrar, mas dificilmente se podia ver através deles.

No entanto, parecia que Jakob conseguia ver Holo do outro lado.

Era a prova de que o homem possuía a astúcia para comandar uma guilda de comércio em uma terra estrangeira, ele estava muito além de uma pessoa normal.

“Você não pode investir sem capital.”

“Ha-ha! Falou bem molha cama!”

Lawrence sorriu timidamente e abriu a porta; Jakob ainda estava sorrindo quando a fechou atrás dele.

Ele se lembrou de seus dias como um aprendiz. Quando confrontava pessoas como Jakob, ele tinha tanta pressa para crescer, para superá-los. Era nostálgico, mas amargo ao mesmo tempo.

Lawrence refletiu sobre o quão jovem ele ainda era enquanto olhava em direção a base dos degraus de pedra. Apenas nesse momento, Holo olhou por cima do ombro para ele.

“Oh, aí está ele. Esse é o meu companheiro,” disse Holo.

Ela estava sentada na base dos degraus enquanto apontava alegremente para ele. À sua frente estavam dois garotos, provavelmente aprendizes de algum mercador. Eles pareciam estar em torno de quinze ou dezesseis anos, a mesma idade que Holo aparentava. Eles estavam transportando pacotes, talvez em uma encomenda para os seus pais.

Os garotos, com idade quase o suficiente para fazer a barba, olharam para Lawrence com animosidade depois de ouvir as palavras de Holo. Lidar com eles poderia ser um aborrecimento, mas se encolheram um pouco quando Lawrence suspirou.

Havia um mundo de diferença na posição social de um aprendiz de artesão e um mercador que pertence a uma guilda. Os garotos provavelmente se aproximaram de uma Holo obviamente entediada, mas agora, confrontando Lawrence, eles perceberam que não havia nada que pudessem fazer, então, olhando para o outro, os dois aprendizes saíram correndo.

Holo riu. “Eles eram tão bonitos. Me disseram que eu era uma linda rosa,” ela disse rindo, enquanto observava os garotos saírem correndo, mas o rosto de Lawrence mostrava seu desconforto.

“Não mexa com eles. Aprendizes são como cães famintos. Você poderia ser sequestrada.”

“Bom se isso acontecesse, você viria me resgatar novamente. Estou enganada?”

Confrontado com a resposta inesperadamente sincera dela, Lawrence não podia deixar de se sentir um pouco feliz, mas seu rosto permaneceu calmo. “Claro, eu resgataria você.”

Holo sorriu e se levantou. “É claro que, no final, sempre sou eu que acabo te salvando.”

Ela tinha pegado ele.

Lawrence cobriu os olhos irritado e desceu os degraus. Ela pegou seu braço direito, rindo.

“Eu não sei que tipo de retorno você está esperando, mas quero que você invista em mim,” disse.

“...Você ouviu tudo aquilo?”

“Minhas pequenas e preciosas orelhinhas podem perceber até mesmo quando você contraiu uma sobrancelha. Então... você tem uma queda por loiras, não é?”

Lawrence só expressou um confuso “Huh?” com o raciocínio absolutamente inexplicável de Holo antes dela continuar.

“Pelas magricelas também. Ou você gosta de uma aparência cansada? Ou você simplesmente tem uma queda por pastoras?”

Seu interrogatório rápido fez Lawrence pensar em uma ponte suspensa com suas cordas sendo cortadas, uma após a outra. Ele encarou Holo, alarmado, mas ela apenas sorriu de volta.

Seu sorriso era a coisa mais assustadora até aqui.

“Espere um minuto — isso é apenas a forma do Mestre Jakob dizer oi. Se ele tiver a oportunidade, é como um jogo para ele dizer coisas desse tipo. Eu não —”

“Não o quê?” Lawrence viu nos olhos de Holo que ela não toleraria uma mentira.

Ele não tinha escolha a não ser dizer a verdade. “B-bem, claro, achei Norah legal. Não posso dizer que não gostei da nossa conversa. Mas... não quer dizer que eu não penso em você, ou... bem, não é isso que significa.”

Ele se envergonhou na metade, e de repente ficou muito difícil encarar Holo. Ele nunca tinha dito algo assim em toda sua vida.

Tendo deixado isso escapar, ele respirou fundo. Depois de se recompor um pouco, ele olhou para sua companheira, que olhava para ele com uma expressão surpresa em seu rosto.

“Eu só estava provocando...”

O constrangimento e a raiva que Lawrence sentiu com essas palavras foram descartados com o sorriso que Holo lhe deu.

“Não pensei que me levaria a sério, aquilo... foi legal.”

Ela olhou para baixo e apertou o braço dele levemente.

Para Lawrence, isto não foi algo dissimulado ou falso como uma negociação comercial, mas uma maneira de ver o quão próximo eles poderiam se tornar.

Em grande parte, inconsciente e despreocupado com como isso poderia parecer, Lawrence se mexeu para pôr o braço esquerdo ao redor de Holo, mas abraçou apenas o ar.

Ela silenciosamente escorregou de suas mãos.

“Mesmo assim, machos são sempre assim. Eles vão dizer o que for preciso.”

Olhando para forma triste e séria dela, até mesmo Lawrence poderia facilmente imaginar que em algum momento no passado de Holo, alguém tivesse dito algo descuidado e doloroso para ela, algo que ela ainda ressentia.

Mas Lawrence era um mercador. Ele sempre foi cuidadoso com suas palavras.

“Então — você vai precisar me mostrar algo. Por acaso os cavaleiros não entregam as suas espadas e escudos como prova de sua boa-fé? Você é um mercador, então o que vai me mostrar como prova de sua sinceridade?”

Lawrence também tinha ouvido os contos de cavaleiros que entregavam suas espadas e escudos — dizem que até suas próprias almas — quando juram sua lealdade.

Então, o que um comerciante entregaria? A resposta era óbvia: dinheiro.

Lawrence podia imaginar a expressão aborrecida de Holo se ele a entregasse uma bolsa cheia de moedas.

Ele precisava comprar algo para ela, algo que servisse para ambas as coisas: a fazer muito feliz e representar o dinheiro — sua alma de mercador — que usaria sem hesitação para o bem dela.

O item que veio imediatamente à memória era o absoluto luxo: Conservas de pêssego em mel.

“Tudo bem,” disse Lawrence. “Vou te mostrar que não digo essas coisas sem pensar.”

 Os olhos dela se encheram com uma mistura de desconfiança e expectativa. Se ele pudesse de alguma forma, responder à pergunta naqueles olhos vermelho-marrons, bem... as conservas de pêssego em mel seriam uma pechincha.

“Vou te comprar conservas de pêss...”

Isso foi o mais longe que Lawrence conseguiu antes que um sentimento estranho o dominasse, mais especificamente sobre o lenço triangular na cabeça de Holo.

Holo inclinou a cabeça intrigada com o Lawrence congelado.

Então, com um rápido “Oh,” ela rapidamente colocou as mãos na cabeça.

“Não me diga que você —” Lawrence começou.

“O-o quê? Qual o problema? Você estava prestes a dizer que iria me comprar alguma coisa?”

Ele tinha que dar ela o crédito por não se envergonhar o tempo todo, mas Lawrence não ia simplesmente rir desta vez.

Olhar para o lenço na cabeça dela deixava óbvio. Sobre dele, suas orelhas estavam se contraindo estranhamente, vigorosamente. Essa era a prova.

Era tudo parte do seu plano.

“Sabe, há coisas que você simplesmente não pode fazer!” ele disse.

Holo pareceu perceber que seu plano havia falhado, e agora, de repente chateada, dobrou seu lábio inferior para fora consternada. “Você disse que eu deveria pedir de forma mais encantadora!”

Por um momento, Lawrence não a acompanhou, mas então se lembrou de sua conversa nas proximidades de Poroson. Exasperado, ele olhou para os céus.

“Não, eu disse que você deveria pedir educadamente. Eu nunca disse nada sobre truques femininos!”

“Mas eu estava encantadora, não?”

Lawrence odiava a si mesmo por não responder de imediato, e odiava a si mesmo ainda mais por não ficar mais irritado com ela.

“Ainda assim... eu devo dizer,” continuou Holo “você estava duas vezes mais encantador. Isso foi muito mais excitante do que se o meu plano tivesse ocorrido como eu queria.”

Finalmente sem palavras, Lawrence simplesmente caminhou pela estrada.

Holo riu e o acompanhou.

“Ora vamos, não fique com raiva!”

Quando ele deu a ela um olhar que dizia “de quem é a culpa?” ela apenas riu dele com mais vontade.

“Eu estava feliz, de verdade. Você ainda está com raiva?”

Lawrence sentiu sua expressão se suavizar ao ver os cabelos castanhos de Holo balançarem, complementado seu sorriso.

De repente, ele queria muito compartilhar uma bebida com seu silencioso e confiável cavalo — que era macho.

“Tudo bem, não estou com raiva. Não estou com raiva — okay?”

Holo deixou escapar um sorriso como se desfrutando de sua vitória, exalando antes de falar novamente.

“Não devemos nos separar. Posso pegar sua mão?”

Para voltar para os seus alojamentos, eles teriam que entrar novamente nas ruas lotadas, mas mesmo separada de Lawrence, Holo não teria nenhuma dificuldade em encontrar seu caminho.

Era um pretexto óbvio.

Ela era uma velha loba sagaz, de fato. Lawrence cedeu. “Sim, não devemos nos separar,” ele concordou.

Holo sorriu e sua mão segurou a dele.

Tudo o que Lawrence podia fazer era estreitar seu aperto sempre tão fraco nessa mão.

“Então, e as minhas conservas de pêssego em mel?”

Os sinos da catedral soaram para sinalizar o meio-dia — e o início de uma nova batalha.

A Companhia Remelio era um atacado que operava uma loja na cidade Santa de Ruvinheigen.

Lawrence, apostando que seria capaz de obter lucro, tinha ameaçado a Companhia Latparron a deixá-lo comprar mais armadura do que possuía garantias. Para pagá-los de volta, ele planejava vender para a Companhia Remelio, com a qual a Companhia Latparron frequentemente fazia negócios — e não haveria necessidade de voltar todo o caminho até Poroson para pagar sua dívida. Eles tinham apenas que gravar nos seus livros e estava feito.

Ele entrou em uma rua um quarteirão afastado da lotada estrada principal e chegaram na Companhia Remelio.

Era a porta dos fundos, onde uma grande área era reservada para carga e descarga de produtos.

Em uma cidade do tamanho de Ruvinheigen, tentar descarregar mercadorias por meio da entrada da frente de uma loja era considerado grosseiro. Se tentar fazer isso em uma rua com tráfego intenso, você seria ridicularizado, na melhor das hipóteses, e na pior, você não seria capaz de vender seus produtos. De fato, em muitos lugares, os comerciantes não deveriam levar suas carroças para as ruas por causa do tráfego pesado.

Era por isso que, nas ruas laterais paralelas à principal, cavalos puxando carroças muitas vezes estavam em maior número do que os pedestres. Lawrence franziu as sobrancelhas.

A área em torno da Companhia Remelio parecia estranhamente calma.

“Esta empresa é dirigida por monges?” perguntou Holo.

“Com monges, eu pelo menos esperaria ouvir orações. Mas não ouço nada.”

Holo, mastigando um pão, levemente tirou o lenço e começou a mexer suas orelhas, mas Lawrence não tinha tempo para tais métodos. Ele saiu do banco do motorista, atravessou a inclinação dos vagões e entrou na plataforma de carregamento.

Os edifícios eram densamente compactados, e manter uma plataforma de carga em Ruvinheigen — uma cidade onde as pessoas constantemente brincavam que os edifícios eram tão juntos que “os pobres podem dormir em pé entre as construções” — não era fácil. No entanto, a plataforma da Companhia Remelio poderia acomodar pelo menos três vagões com espaço de sobra para uma centena de sacos de trigo. Havia uma mesa para a realização de negociações e uma barraca de troca no canto, e as paredes eram decoradas com pergaminhos onde bênçãos para o bom comércio eram escritas.

Era uma plataforma magnífica.

Mas ração estava espalhada por toda parte, junto com montes de esterco de cavalo e restos de carga. Claramente, ninguém estava cuidando de sua manutenção e não havia um mestre de carga à vista.

Negócios vêm e vão, por isso não seria estranho ter momentos em que simplesmente não existiam clientes. Mas ainda era senso comum manter sua loja limpa e arrumada.

Era como se a companhia tivesse sido destruída. Lawrence se retirou e voltou para o banco da carroça. Holo parecia ter terminado o seu pão e agora vasculhava por sua torta de carne, que se Lawrence lembra corretamente, era dele.

“Se você comer muito, o som da sua mastigação vai destruir sua habilidade de ouvir da qual é tão orgulhosa.”

“Muito bem colocado — mas para o bem da minha reputação, devo dizer que posso ouvir o som de alguém no prédio.”

Holo então mordeu com entusiasmo a torta de carne. Ela claramente não ia comer só um pedaço.

“Tem alguém lá?”

“Mm...mmph...mrgh. Mas parece perigoso. Pelo menos, posso dizer que não é nada agradável.”

Ouvindo isso, os cinco andares de madeira da Companhia Remelio, dado o estado da sua plataforma de carga, começaram a parecer bastante sinistros. Nada era tão amaldiçoado como uma empresa comercial que tinha ido à falência. Quando isso acontecia, a igreja local geralmente ficava ocupada com a realização de funerais para o recém-falecido.

“Bem, não faz sentido ficar vagando por aqui. Não podemos ganhar dinheiro se não vendermos os bens.”

“Uma torta de carne não é boa até que você a coma,” concordou Holo.

“Eu estava guardando ela!”

Lawrence lançou um olhar para Holo antes de mover a carroça e recebeu um olhar igualmente azedo por isso.

Mas talvez comer a torta inteira seria acarretar culpa demais —Holo dividiu a torta em duas e ofereceu uma parte para Lawrence. Era cerca de um quarto do ele que tinha originalmente planejado comer, mas se queixar poderia lhe custar o pouco que restou, ele engoliu o pedaço.

Normalmente tortas de carne eram feitas com carne moída que se aproximava a data de validade estabelecida pela aliança de açougueiros, mas aqui em Ruvinheigen, as tortas de carne eram tão nobres como a própria cidade. A carne era totalmente saborosa e Lawrence comeu sua torta em duas mordidas enquanto conduzia a carroça até a doca de carregamento deserta.

Os cascos do cavalo batiam contra o chão e parecia que seu som familiar chegou aos ouvidos das pessoas dentro do local. Lawrence parou a carroça, descendo do assento, quando o mestre de doca finalmente emergiu.

“Ouso dizer que falta algumas horas até o Sabah² — então qual é o problema?” disse Lawrence.

“Er, bem, é que... o senhor chegou na cidade hoje...?” o mestre de cargas de meia idade arrastava suas palavras inicialmente, mas sua aptidão parecia voltar a ele enquanto avaliava Lawrence.

Aqueles olhos eram como os de um ladrão de olho na bolsa de moedas de seu alvo, e o instinto de mercador de Lawrence sentiu perigo. O mestre de cargas parecia irregular, agora que Lawrence o observava. Este era um lugar de trabalho pesado, então ele dificilmente se prostraria reto, mas mesmo assim, Lawrence poderia dizer se alguém estava cheio de vigor.

Isso não era bom. Isto claramente não era bom.

“Não, cheguei há poucos dias. Você sabe como é. Bem, você parece ocupado, então vou passar aqui um pouco mais tarde. Não tenho pressa.”

Lawrence evitou fazer contato visual, e sem esperar pela resposta do mestre de cargas, ele voltou para a carroça.

Holo também pareceu sentir algo estranho. Ela olhou para Lawrence questionando, mas logo assentiu. Apesar de sua aparência como uma garota normal da cidade, sua inteligência era extraordinária. Ela não se orgulhava de ser uma sábia loba à toa.

Mas o mestre de cargas não desistiria tão facilmente.

“Bem, agora, espere um momento, senhor. Posso dizer que o senhor é um mercador de renome. Seria rude da minha parte deixar senhor sair de mãos vazias.”

Se Lawrence apenas recusasse o homem, não havia como dizer como sua reputação poderia ser falada ao redor da cidade.

Mas o sangue de mercador borbulhava em suas veias.

Corra, ele dizia. Isso é perigoso.

“De forma alguma,” respondeu Lawrence. “Sou um mercador com quase nada além de reclamações para vender.”

Apenas um mercador de terceira categoria seria tão desajeitado a ponto de se depreciar quando negociando. Humildade era uma virtude para os clérigos, mas para mercadores, era como enfiar a cabeça em uma forca.

Mas Lawrence tinha julgado que fugir era o melhor plano. E a postura congelada de Holo reforçava essa decisão.

“O senhor não deve ser tão modesto! Mesmo um mendigo cego poderia dizer senhor é um homem de poder!”

“Bajulação não vai levar você a lugar nenhum,” disse Lawrence, sentado no banco da carroça e agarrando as rédeas. O mestre de cargas parecia ser capaz de dizer que era hora de ceder. Ele havia se inclinado para a frente tão sinceramente que quase tropeçou, mas agora ele se endireitou.

Parecia que Lawrence estava escapando da armadilha, então falou brevemente com o mestre de cargas. “Bem então vou me retirar...”

“Sim... que infelicidade. Aguardarei o seu retorno,” disse o mestre da com um sorriso insinuante. Lawrence tomou isso como sua deixa para sair, então ele começou a mover a carroça.

O mestre de cargas, no entanto, aproveitou esse pequeno espaço de tempo que Lawrence baixou a guarda. “Creio que esqueci de perguntar o nome do senhor,” disse.

“Lawrence. Da Guilda Rowen de Comércio.”

Lawrence entregou o seu nome sem pensar, então, de repente, ele se perguntou se dar o seu nome a alguém que não conhecia, em uma situação que não entendia, era um erro — mas ele não conseguia pensar em nenhuma razão para se preocupar.

Muito provavelmente, o mestre de cargas simplesmente não sabia o que Lawrence veio fazer aqui.

Contudo —

“Lawrence, você disse. De fato. Da Companhia Latparron.”

O mestre da doca sorriu desagradavelmente.

O choque que percorreu a espinha de Lawrence era impossível de descrever.

Não havia nenhum motivo que pudesse pensar que explicasse porque o mestre de cargas saberia o seu nome.

“Você trazia algumas armaduras para a nossa companhia, certo?”

Lawrence ficou subitamente nauseado enquanto sentiu que tinha caído em algum tipo de armadilha. Seu instinto gritava para ele.

Ele olhou lentamente para o mestre de cargas.

Não pode ser. Não pode ser. Não pode ser.

“Na verdade, ontem à noite um mensageiro em um cavalo rápido veio até nós. A Companhia Latparron mandou suas obrigações atribuídas a nossa empresa. Então você tem uma dívida conosco, Sr. Lawrence.”

Com essas palavras, tudo mudou.

Normalmente, as transferências de encargo não ocorriam através de um mensageiro a cavalo. Mas a anormalidade deu ainda mais credibilidade à transferência — por exemplo, se duas empresas estavam envolvidas na fraude.

Se Lawrence não estivesse sentado na carroça, ele teria um colapso.

Mesmo sentado, ele pendeu para frente com a força das palavras.

Holo, surpresa, pegou Lawrence quando ele caia para a frente.

“O que há de errado?” ela perguntou.

Ele não queria considerar isso.

O mestre de cargas respondeu por ele.

“O mercador ao seu lado faliu — assim como nós.” Sua felicidade era claramente a desgraça alheia.

“O quê?” perguntou Holo.

Lawrence queria desesperadamente pensar que tudo isso era um sonho.

“O preço da armadura deve ter caído há algum tempo. A raposa velha em Latparron percebeu isso e empurrou um estoque morto para nós.”

O futuro era obscuro.

“Nós fomos...”

A voz rouca de Lawrence era tudo que o prendia a realidade.


Notas:

1 – Componente das armaduras antigas, que se utilizava como proteção para as canelas e topo do joelho.

2 – Dia de descanso semanal no judaísmo.



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