Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 28: Em Briga De Gigante, Anão Deve Ter Cuidado

Corro e continuo assim por um tempo. Já estou para não aguentar mais as minhas pernas. Por sorte, um pouco da fadiga vai embora depois de drenar rapidamente algo que está no caminho.

Atrás de mim vem um gigante monstro querendo acabar com a minha vida. Ele realmente não está nada feliz comigo. Matar os amigos dele deve ter lhe irritado bastante. Ou então só está determinado a correr atrás de mim porque acha que sou apetitoso.

Gostaria de cogitar mais sobre as possibilidades, porém vou ter que continuar correndo por um tempo, então é melhor guardar minha sanidade mental para o que for vir logo em seguida; preciso de toda energia para fugir desse cara.

Passo por corredores e mais corredores que me levam cada vez mais perto da próxima grande caverna. Lá possivelmente vai ter mais algumas fontes de energia, porém não quero chegar lá com essa encomenda atrás de mim.

— Remi! — grito para minha pulseira. — Me dá um caminho onde esse cara não vai conseguir me alcançar!

— Calculando.

— Rápido!

— Encontrado. Mapa atualizado.

O mapa holográfico agora aponta para um canto um pouco diferente, que dá uma volta incrível, mas que chega no lugar onde eu quero. E essa passagem está logo ao meu lado… Droga, passei!

Paro e dou meia-volta. A criatura ruge para mim e está prestes a me atacar. Eu corro em direção a pequena abertura na parede do corredor e me jogo lá. Sinto o vento do golpe da criatura raspar o meu corpo.

Assim que entro na fenda, continuo pelo novo corredor, sempre seguindo o mapa. A criatura enfia a mão no buraco e tenta me alcançar, porém ele é grande demais e não consegue.

Chuto o seu braço e continuo seguindo reto. Finalmente me livrei dessa coisa. Ao menos é isso que imagino. O monstrengo começa a bater na parede com força, como se quisesse aumentar ainda mais o tamanho da fenda. Pelo visto esse cara não vai me deixar em paz.

Saio correndo por um bom tempo em um caminho completamente escuro e sem nenhuma fonte de iluminação. Quando me dou conta finalmente chego na próxima caverna.

Essa daqui é pequena comparada com a anterior. Uma caixa perfeita. Para a minha sorte a passagem por onde eu deveria entrar está soterrada por algumas pedras, o que significa que não teria como aquele monstro vir aqui.

O problema é que a passagem da saída também está fechada. 

— Ótimo, estou preso.

— Calculando nova rota… — diz Remi, enquanto faz seus cálculos bizarros.

Aproveito o momento para analisar todo o ambiente. O teto escuro está cheio de morcegos me observando na escuridão, pendurados em estalactites.

Estalactites são legais. Meu pai me explicou uma vez que a formação delas e eu fiquei simplesmente fascinado. Essas coisas crescem no teto e são pontiagudas, mas não ao ponto de furar, tá mais para…

Da entrada ouço um barulho forte batendo nos escombros e os empurrando para o lado de dentro. Ah, não! Mais uma vez a pancada, fazendo os escombros saírem voando, um deles quase me acerta.

Eu vou para o mais longe possível da entrada. Aqui tem algumas lâmpadas e até mesmo um daqueles registros de energia encostado ao pé de uma parede. 

Isso com certeza vai me dar alguma sustentação enquanto enfrento essa coisa. Na verdade, se o Remi já tiver achado uma nova rota, eu posso simplesmente sair correndo daqui.

— Remi!

— Calculando nova rota…

Ah! Ótimo. Agora ele arranjou de travar, justo na vez em que mais precisava dele. Parabéns para mim que confiou em uma máquina…

A próxima pancada faz os escombros voarem para todos os lados. Desvio de todos com agilidade, pulo de alguns e caio de pé. Olho a criatura em desafio e ela também me encara.

O monstro bate no chão com seu punho fechado e grita para mim. Aqueles dentes me dão um arrepio até agora. Se aqueles Estertores Comuns já me davam trabalho, imagina esse monstro nível 30. E olha que eu nem sou level 30 ainda!

Me coloco em posição de batalha e faço toda aquela eletricidade acumulada vazar do meu corpo. Diversos raios ficam viajando ao redor do meu corpo. Meu cabelo sobe e sinto algumas partes do corpo formigarem.

— Pode vir!

E ela vem mesmo, como um touro enfurecido.

Corro em sua direção também. Quando estamos a poucos metros de nos chocarmos, pego uma pedra no chão e jogo com toda a força em sua cabeça, acertando em cheio um de seus olhos.

Sangue negro espina e a criatura para e tomba para o lado. Consigo desviar de seu corpo e me viro para verificar o estrago.

Ela se levanta e fica passando a mão no rosto, no local onde eu a atingi. Ela parece nervosa, depois confusa e com dor até que por fim me olha com os outros olhos que sobraram, com raiva.

Até eu estou surpreso agora. Não estava que minha força e velocidade fossem o suficiente para esmagar um olho dela. Embora estivesse mesmo esperando que acertasse o olho, não esperava que ela perdesse um.

Bom, se as pedras são capazes de fazer um dano contra essa criatura, então talvez ela não vá ser um grande problema. Espero não estar enganado.

Ele parte para cima de mim com tudo, agora completamente enfurecido, mais do que estava antes, quando tinha todos os olhos. Pego algumas pedrinhas do chão e começo a correr enquanto jogo elas em seu rosto.

Algumas ele protege, outras ele simplesmente fecha os olhos e outras não são rápidas o suficiente para lhe tirar mais um olho. 

Ele consegue se aproximar o suficiente para me desferir um golpe que me leva para cima, o teto. Eu quase sou empalhado por uma das estalactites de ponta afiada, mas consigo me desviar no ar e me seguro aqui.

Infelizmente é meio liso, então estou escorregando. Que droga, gostaria de ficar mais tempo aqui. Na verdade, queria ficar o máximo de tempo aqui até que essa criatura parasse de encher o saco e fosse dormir ou sei lá. 

Vou me agarrando cada vez mais para cima, tentando ficar na grande estalactite, pendurado. Não quero descer, não vou descer.

A criatura debaixo de mim está irritada com a minha covardia. Eu também estaria. Ela vai até a saída, onde tem algumas pedras tampando a passagem e começa a me jogar de lá gigantescas rochas.

De onde será que ela aprendeu isso?

Tenho que ficar pulando de estalactite em estalactite para não ser acertado pelas pedras, como se pulasse de galho em galho.

Nenhuma das pedras me acerta, porém estão acertando as estalactites. Essas coisas vão cair, daí adeus meu plano de ficar aqui em cima para sempre.

Mais uma pedra acerta uma das pedras pontudas que estou pendurado. Ela balança. E imediatamente eu tenho uma ideia. Vou fazer esse negócio cair bem em cima dele.

Para isso preciso que ele esteja abaixo de mim. Bom, vamos tentar. Começo a pular novamente de rocha em rocha no teto fazendo ele acertar o maior número delas possível.

Todas balançam e ameaçam cair, mas nenhuma parece que vai cair em cima dele e transformar ele em uma ameba. Sinceramente nem sei se isso funcionaria, precisaria ser uma bem pesada e além disso tem a carapaça por cima dele que funciona como escudo…

Sou acertado por uma das pedras. Droga! Começo a cair e assim que toco o chão, antes que eu possa pensar em me recompor, o Estertor Mutante está ali com os gigantescos braços para cima, punhos fechados.

Eles abaixam com tudo e me acertam de cima para baixo, me esmagando contra o chão. A força que ele faz isso faz a caverna inteira balançar. De novo ele dá um forte golpe contra mim, me afundando novamente no chão.



❧ AMOR ☙

 

A ruiva se levantou e começou a ir em direção a Solares, sua Chefe, ensaiando brevemente todas as coisas que iria jogar na cara dela. Ao chegar próximo, parou em uma distância segura. Ela havia aprendido isso com anos de prática, onde falava coisas para alguém, tal pessoa não gostava e no instante seguinte as duas estariam no chão rolando e puxando os cabelos umas das outras.

Tentando evitar que seus cabelos fossem puxados, porém desejando no fundo que isso acontecesse, ela chamou a atenção de Solares e começou a falar o seu discurso padrão, a respeito da insatisfação que sentia. E como prova, claro que entregou outros depoimentos, como o caso de Vida. 

— Vocês estão fazendo uma coisa horrível! Essa metodologia deveria ser averiguada. As pessoas estão literalmente insatisfeitas com isso e vocês que estão no poder continuam sem fazer nada a respeito.

Solares era uma mulher preparada para a maioria das situações. Porém a única que ainda conseguia lhe tirar do sério era quando alguém lhe desrespeitava na frente de outros. Encarava o respeito como a maior prova de autoridade que uma pessoa pudesse ter.

Por conta disso, ficou totalmente sem jeito com as palavras de Amor, o que deixou a Chefe dos Recrutas em uma situação completamente desconfortável. Afinal, não poderia demonstrar que estava incomodada, já que isso demonstraria fraqueza. Teria de responder em um tom calmo, sério e que resolvesse o problema.

Mas o problema era que Solares era uma garota de pavio curto. Ela tinha problemas para controlar a sua raiva e outras emoções. Por conta disso, naquele instante, se alguém pudesse ver toda a ira em seu peito, diria que a garota de cabelos brancos e olhos vermelhos estava para explodir.

— Primeiramente eu peço para que fale baixo comigo — disse ela, tentando manter a paz. — E em segundo lugar…

— Falando baixo? — interrompeu Amor. — Chefe! Eu nem comecei a falar alto ainda!

E sim, Amor dissera isso em um tom ainda mais alto. Obviamente, como esperado, a compostura de Solares fora completamente por água abaixo. Ela se levantou de seu beliche, jogando suas coisas no chão de tanta raiva e se aproximou para bem perto da outra recruta.

— Como ousa falar comigo nesse tom? Eu sou a sua Chefe e você me deve respeito! 

— Então você pode gritar comigo e eu fico calada escutando? — debochou Amor, enquanto dava alguns passos para trás.

— Aqui é uma instalação da classe S — disse Solares, com os dentes cerrados. — Nós somos treinados a receber ordens, e seguimos essas ordens à risca. Se você é incapaz de obedecer, então não deveria nem estar aqui.

— A senhora está me dizendo que se eu receber a ordem de matar uma família, sem motivo nenhum, eu tenho que obedecer sem questionar?

Tal pergunta pegou Solares desprevenida. Primeiro ela queria responder, explicando que não haveria como a classe S pedir tal coisa. Depois ficou repensando no assunto, de como sua adversária iria rebater o argumento. 

Por isso imaginou falar o código penal que faria da situação impossível, ou então o código de conduta, que em casos como esse daria razão para o soldado que não quisesse cumprir a ordem. Entretanto, quanto mais pensava, mais ela se perdia.

Podia-se dizer que Amor havia alugado um canto especial na mente de Solares. 

As duas discutiram por alguns minutos, chamando a atenção de tipos desejados e também indesejados. Indesejados até demais.

— Ei! Respeita a Chefe, vagabunda — falou Ermo, junto de seus outros dois colegas.

Vagabunda era um insulto muito pessoal para Amor. Mais pessoal do que para qualquer outra pessoa. Pois era como costumavam chamar ela, quando a mesma procurava os seus direitos como cidadão em sua cidade. A chamavam exatamente assim. Uma pessoa que não tinha nada para fazer além de reclamar.

— Escuta aqui! — gritou ela, partindo para uma discussão que duraria muito e muito tempo.



ϟ KAIKE ϟ

 

Esses dois golpes foram suficientes para me deixar desacordado por um tempo, ou ao menos semi-desacordado, porque ainda sinto a dor. Depois mais um golpe me acorda, bem no meio dos meus peitos. 

Não sei como minha cabeça ainda não virou um completo purê de batata. Acho que ser condutor te deixa com maior resistência. Olho para cima e vejo que o monstro está prestes a dar mais um golpe… Mas, eu também vejo outra coisa.

A estalactite logo em cima dele, uma bem grande e robusta, está balançando. 

Ele desce os enormes braços em cima de mim e se eu receber mais um desses golpes tenho certeza que não vou aguentar. Vou acabar desmaiando de vez e virando almoço de monstro mutante.

Assim que sobe os braços mais uma vez, a rocha pontiaguda se desprende de sua base, fazendo um enorme barulho e caindo como se fosse em câmera lenta. Eu dou um sorriso para o monstro, que parece notar algo de errado.

Assim que olha para cima, a ponta da estalactite entra em sua boca e o empalha no chão, soterrando o resto de seu corpo junto com ela. 

Eu uso o resto de minhas forças para rolar para o lado e talvez escapar dos destroços. Consigo por pouco.

Completamente destroçado, me levanto e vou em direção ao registro de eletricidade. Preciso de alguma coisa para me curar.

Assim que dreno toda a energia, todas as lâmpadas do local se apagam, restando apenas a mim e a escuridão. 

— Nova rota encontrada, mapa atualizado — diz Remi.

— Ah, muito obrigado. Bem a tempo — digo. 

— De nada. É um prazer ajudar — fala ele com aquela simpatia toda.

Dou um suspiro e uso a lanterna da pulseira para ir me guiando ao novo local. Não é tão longe. Vou seguindo o mapa até chegar no local indicado. Aqui é tão escuro quanto os outros lugares.

As luzes são mais apagadas, mais azuladas. O ambiente está um pouco frio por conta disso. Bom, ao menos alguma coisa de diferente…

Algo acerta a minha perna e eu caio de costas no chão. Eu logo me levanto. 

— O que foi isso? — Jogo a lanterna de um lado para o outro, porém não vejo nada.

— Não consegui detectar. Foi muito rápido.

Sim, é verdade. Foi tão rápido que eu não consegui nem sentir direito a…

De novo eu caio no chão porque sinto algo se esbarrando em mim. Tem alguma coisa de errado aqui, essas criaturas são tão rápidas que eu não consigo ver elas e nem senti-las. 

Me levanto, agora lentamente. 

— Existe algum registro de criaturas muito rápidas no seu sistema, Remi? — pergunto baixinho.

— Sim, deixe-me mostrá-lo.



ϟ [STATUS] ϟ

[NOME: Fúria]

[ORIGEM: Bioquímica]

[NÍVEL: 12]

[SAÚDE: Verde]

[Fúrias tem uma aparência diferente dos Estertores, humanoides. Fúrias tem aparência canina. São fracas, porém com uma velocidade anormal. Soldados bem treinados podem dar conta de enfrentá-las com armas apropriadas, entretanto, existem equipamentos específicos para a sua eliminação; todas elas limitam parcialmente ou totalmente a sua velocidade.]

[Não há como fugir de Fúrias.]

 

Outro golpe me lança para frente e eu dou de cara com o chão. Que droga, qual é dessas coisas?

De repente eu vejo, a alguns metros à minha frente, algumas criaturas horríveis que realmente se parecem com uma mistura de cachorro com humano. 

A pele é humana, os braços esticados, que no caso seriam as patas da frente, o rosto humanoide só que com a fuça esticada… Caramba, parece que eu vim parar em um filme de terror. 

O que foi que essa gente da classe S fez para ter tanta coisa feia guardada no porão deles?

— Prepare-se para lutar e correr, Kaike. — Me alerta Remi.

Me ponho em posição de batalha e preparo meu corpo para lançar um bocado de raios.

“Não há como fugir de Fúrias.” Bom saber.



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