Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 38: Pequenos Esforços Repetidos É Sucesso Na Certa (II)

Faltando apenas dois dias para o treinamento de Vega, e antes disso a minha luta com todos os que perderam na primeira fase do torneio, nosso grupo se reúne para discutir um novo plano, ministrado por Clio.

Todos os dez recrutas estão de braços cruzados esperando que Clio fale algo. Ele se mantém parado, na frente deles, com os braços para trás.

Bom, esse é o momento em que ele explica o plano, afinal de contas já nos entendemos e até mesmo avisei para o grupo que teríamos ajuda dele. 

De início não ficaram muito confiantes, porém logo expliquei que Clio era muito bom no que fazia e que só perdeu para Ash por conta de uma troca besta.

Isso não foi bom para Ash, acabaram brigando com ele por isso. Mas depois de um tempo, ninguém nem mais se lembra disso, afinal, ele tem se demonstrado um excelente lutador ultimamente e todos viram os seus resultados.

De qualquer forma, aqui estamos, parados. Estou esperando que o Clio explique seu plano, mas ele continua olhando para todos os recrutas como se estivesse incomodado com cada um.

Caham! — Dou uma leve tossida. 

Ele continua encarando todos com o olhar de peixe morto. Só depois de mais alguns segundos que ele abre a boca para falar:

— Sim, isso vai servir. — Ele ajeita o óculos dele. Que garoto esquisito. — Recrutas, como vocês bem ouviram, eu tenho um plano que vai ajudar o Kaike a fazer todas as pessoas que fracassaram na primeira fase ganharem pontos suficientes para passar.

Amor levanta uma sobrancelha.

— Sério? Isso é bem ambicioso, não acha?

— Sim — responde prontamente. — Mas acredite, é fácil. Basta usar a lógica. O Capitão Vega dá instruções muito vagas quando se refere às provas físicas. Isso é uma característica dele. Vejam por exemplo o fato dele ter deixado o Kaike como instrutor, mesmo não sendo designado pela Chefe Solares. Sendo assim, creio que exista como usar essa brecha para que todos os que perderam ganhem muitos pontos.

Todos se olham, confusos. Discutem entre eles e só param quando Sophia dá um passo a frente para perguntar: 

— E que brecha é essa? Tem certeza que não é nada que vá prejudicar os que perderam?

— Sim, tenho certeza que não prejudicará. Sou um dos que perdeu, não tenho porque planejar algo que vá dar errado para mim também. — E assim ele cala todos. Então prossegue: — O plano é simples, Kaike lutará contra vários grupos de três, oito grupos para ser exato. Cada uma dessas lutas tem de durar tempo suficiente para que o Capitão Vega contabilize muitos pontos. Ou seja, ao invés de o objetivo ser matar o Kaike, o objetivo será enrolar a luta o máximo que podem até atingirem os pontos suficientes para passarem no teste.

Agora todos se olham animados. Parece que de algum modo esse plano faz sentido na cabeça deles.

— Só que tem um problema nisso — digo, abaixando o astral de geral. — Todos estão pensando que é para seguir as ordens do Capitão: me matar. 

— O que significa que precisamos que o máximo de pessoas seja convencida a vir para esse grupo — completa Clio. — Só assim para que conseguirem passar.

— E para isso vamos precisar da ajuda de vocês — falo. — Eu sozinho não consigo falar com todos de um por um, e acho que seria desrespeito fazer um anúncio desses. Então, por favor, conversem com o maior número de pessoas possível, pode ser? 

Todos acenam a cabeça. Parecem determinados a completar a missão que acabei de dar a eles.

O dia se passa e infelizmente nada de muito produtivo acontece, além dos treinamentos é claro. Ninguém consegue fazer uma pessoa se quer vir ao menos ouvir o meu plano.

Falo com alguns rostos conhecidos, mas nem isso ajuda. Parece que todos estão julgando que somos uma espécie de grupo rebelde ou coisa do tipo. Não confiam na gente.

Na manhã seguinte é a mesma coisa. Ninguém dá ouvidos para a gente. Eu começo a ficar nervoso. 

As lutas serão amanhã e ainda não conseguimos fazer uma única pessoa ouvir o que temos a dizer. Até tentamos uma abordagem mais agressiva, porém isso só parece afastar ainda mais as pessoas.

Acho que sair gritando: “Venham até mim, porque sei como fazer vocês ganharem pontos” não é boa ideia.

Vendo que o jeito será improvisar quando chegar a hora, foco o meu tempo em treinar ainda mais os que são meus. 

Pego mais pesado com eles. Não deixo que me peguem enquanto fujo. Uso mais força para sentirem a pressão dos meus golpes. Talvez esteja sendo muito duro, exigindo demais, mas preciso que eles fiquem fortes.

Principalmente a garota do meu grupo. Ela é a única que perdeu e está aqui, treinando comigo. Se não fosse amiga da Amor provavelmente nem estaria aqui.

Saímos para comer, depois vamos todos dormir. Eu no caso passo a noite em claro, andando de um lado para o outro pelos corredores, pensativo. 

Enfim, o dia seguinte chega e com ele vem toda a carga de ansiedade e preocupação que estavam acumuladas.

Assim que entramos na sala de treinamento, tivemos uma surpresa e tanto. Está tudo completamente diferente. Não é só mais uma sala gigantes, branca e quadrada. Agora tem relevos, montes, matos e cipós.

O piso não é mais plano, é de uma rocha meio branca, meio cinza. O ambiente inteiro é feito de pedra, galhos, folhas e por aí vai. Existem pequenos montes que se levantam aqui e ali e chegam quase até o teto, que parece ter se distanciado.

Todos ficam impressionados com a mudança. Eu mesmo não sabia que a sala de treino tinha a função de se alterar assim. De início até pensei que fosse obra humana mesmo, mas seria impossível produzir isso tudo em um dia.

— Bem-vindos! — fala o Capitão Vega, em cima de uma pequena montanha. Uma luz bate atrás dele, escurecendo a sua parte da frente, mas ainda dá de ver o ponto vermelho da ponta de seu charuto aceso. — Hoje vai ser meu dia de diversão. Mas antes…

Ele aponta o céu, que no caso é o teto, ou deveria ser, e ali aparece um grande telão cheio de nomes. De mais pontos para menos pontos, ali estão listados os nomes de todos os recrutas. 

A maioria dos do nosso grupo tem mais de 60 pontos, o que significa que bastam eles ganharem a próxima fase e já passaram. Ash está com 75 pontos. Isso é bastante coisa. Penso que ele nem precisa vencer a próxima.

Ele é o número dois da lista. O número um é Leona, com 100 pontos totais. Ela foi a única até agora que passou. Os outros auxiliares estão com 60 pontos também.

Ermo e companhia, que até o momento não vem me fazendo nenhum aborrecimento, estão estagnados nos 50 pontos. Dou uma risada quando vejo isso. 

Queria rir olhando na cara deles, porém não os acho naquela multidão. Provavelmente estão escondidos em algum canto zoando aqueles com menos de 50 pontos.

Os com menos de 50 pontos ficam embaixo de uma linha vermelha, que tem o meu nome: Kaike.

— Como podem ver… — continua Vega. — Existem 24 alunos que estão abaixo dos 50 pontos. O que significa que vocês vão fazer um teste especial com o nosso Condutor Recruta, Kaike. Ele irá separar vocês em trios. Sim, é ele quem vai decidir isso, não vocês e nem eu; quero evitar essa dor de cabeça. 

Ouço algumas pessoas murmurando e olhando para mim com espanto. Acho que agora eles queriam fazer parte do meu grupo para eu colocá-los nos grupos que lhes convém.

Uma pena que seja eu quem vai decidir. Dou uma risadinha discreta.

— Mas enfim, ele vai separar oito grupos de três pessoas cada, e cada grupo vai usar toda a sua força para acabar com ele. Aqueles que performam melhor, talvez ganhem pontos suficientes para subir aquela linha. É fácil, é só dar umas porradas nele. Mas se algum de vocês não conseguir passar a linha dos cinquenta pontos hoje, serão desclassificados. Sabem o que isso quer dizer, não é?

Todo mundo paralisa quando ele diz isso. Fico imaginando se eles jogaram a pessoa no Porão ou fariam experimentos com elas. 

— Enfim — fala ele. — Se ajeitem e comecem.

Agora é a hora de começar a separar os grupos. Obviamente, antes que eu possa dizer qualquer coisa, uma multidão de recrutas se reúne à minha volta pedindo para que eu os coloque com a pessoa que eles acham conveniente.

Vou deixar isso de lado por enquanto. Me aproximo da garota do meu grupo, o seu nome é Clara e agora me lembro dela. Ela foi a garota que perdeu para a Vida por conta do susto que levou do grito da Solares.

Eu seguro ela pelo braço e olho para cima, procurando ver seus pontos. 35 pontos. Até que ela teve um bom desempenho de lá para cá. Isso significa que ela precisa ganhar mais 15 pontos para ficar no limite aceitável.

— Ei! — fala um garoto de cabelos pretos empurrando a multidão. Ele tem um rosto fino e um nariz bem alongado. — Aí, sai da frente mulher.

— Me espera, Precioso! — fala um garoto que chega logo atrás dele. Os dois têm a mesma cara, o mesmo cabelo, a mesma altura. Gêmeos. — O que pensa que vai falar com ele? — Ele aponta para mim como se eu fosse uma coisa.

— Sei lá, mas do jeito que as coisas estão é que não podem ficar. — Ele se aproxima de mim e mete o dedo no meu peito. — Queremos ficar nós dois juntos.

Eu os encaro de baixo para cima. Assim que faço isso, o gêmeo da frente dá um passo para trás, assustado. O de trás segura ele por trás, como se tentasse proteger de mim.

— E vocês quem são? — pergunto com uma sobrancelha erguida.

— Eu me chamo Precioso — fala o gêmeo da frente fazendo uma reverência.

— E eu Maravilhoso — diz o de trás, com uma reverência menor.

Os dois só podem estar de brincadeira com a minha cara.

— Precioso… Maravilhoso? Esses nomes…

— São nossos — fala Precioso, balançando a cabeça impacientemente.

— É que nossos pais tiveram uma briga quando era para decidir nossos nomes e acabaram escolhendo adjetivos — explica Maravilhoso. Depois ele aponta para cima. — Olha lá.

Eu acompanho seu dedo e meu olhar dá em cima de dois nomes, um do lado do outro com o mesmo número de pontos: Precioso, 35 pontos. Maravilhoso, 36 pontos.

— C-Como…?

— Como que ele tem mais pontos que eu? — fala o gêmeo — Rhá! Esse daí é um trapaceiro.

— Trapaceiro nada, só sou melhor que você. Afinal, eu nasci primeiro.

— Você nasceu minutos antes de mim!

Eles entram em uma leve discussão de quem seria o verdadeiro primogênito. Eu fico na dúvida se sinto pena por eles terem pais que dão nomes assim para seus filhos ou se tenho pena dos pais deles…

Mas parando para pensar, não vi ser tão ruim assim ter duas pessoas que se entendem junto da Clara. Eles tem pontos aproximados, então já posso me livrar de três orelhudos com uma tacada só.

— Vocês, calem a boca. — Eles de fato param de falar e me olham com atenção, esperando que eu continue. — Seguinte, deixo você ir junto com o seu irmão, mas só se você prometer que vai fazer tudo que eu mandar, está entendido?

Eles se olham. Parecem estranhar a proposta. Depois parecem analisar e por fim dão de ombros dizendo em conjunto:

— Tá.

— Tá.

 



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