Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 44: Respeite Os Outros E A Si Mesmo Para Ser Respeitado

Abro os olhos e vejo que estou novamente aos cuidados da nossa curandeira. Essa mulher já deve estar cansada de me ver aqui e sinto que ainda vai ter de me ver mais vezes… Se as coisas continuarem assim.

Levanto da cama, dreno a energia dos aparelhos digitais que monitoram a minha vida, apenas um pouco, para não danificá-los. 

Me sinto melhor, como se tivesse tido uma boa noite de sono. Levanto da cama, estou com roupas pretas, como as que usamos em dias normais do dia-a-dia.

Enquanto saio do lugar, a curandeira me aborda e avisa que é para manter repouso. Ela sabe sobre a minha condição, onde apenas drenar energia já me deixa melhor. Entretanto, a curandeira não acredita na eficácia desse método. Julga que possa haver algum efeito colateral.

Dou de ombros e finjo que vou obedecê-la. Vou para o dormitório. Parece que já é de manhã, mas sei muito bem que se passou ao menos um dia desde aquele teste com Vega.

A luta foi tão intensa que acabei desmaiando, mas ganhei mesmo assim por roubar a bandeira sem perceber. 

Enquanto ando em direção ao quarto, Remi me perturba mostrando estatísticas da minha saúde. Digo para ele parar de me aborrecer até chegar finalmente no dormitório.

Abro a porta e não encontro ninguém. Devem estar na sala de treinamento. Me sinto muito melhor agora, então não tem problema ir lá dar um “Oi” para o pessoal. 

Me dirijo até lá. Assim que abro a porta vejo que o cenário voltou a ser aquele branco. Há o palco ali no meio, com o que parece um quadro branco.

Quanto mais entro, vejo todos os recrutas em fila, esperando para serem treinados. O meu grupo, que no caso é o de Amor, está separado, treinando separadamente.

Eles fazem o mesmo movimento que ensinei a eles… Mas espera um pouco, tem mais gente ali do que esperava. Será se são só curiosos, estão ali para papear ou o quê?

Não. Para a minha surpresa eles também estão treinando, embora tenha um grupo de recrutas fazendo nada. Também noto que as filas estão menores do que o normal. Muito menores.

— Olha só! O Kaike! — grita Precioso, apontando o dedo em direção a mim.

Todos olham para mim e antes que qualquer um deles possa falar, Maravilhoso completa:

— Não é que é mesmo, Precioso? É o nosso condutor favorito!

Os recrutas que estavam lutando param o que estavam fazendo e vem correndo em minha direção. Fico sem saber muito o que fazer. Descido parar, vai que sou atropelado por todos.

Agora estou cercado por diversas pessoas, muito mais do que dez pessoas. Eu diria que tem mais de vinte aqui.

Os conhecidos, como Vida, Ash e Amor me perguntam se estou bem. Se minha saúde melhorou e coisa do tipo. 

Outros me elogiam, dizendo que fui incrível contra Vega. Desses outros só reconheço os gêmeos, Clio e… Olha só, até mesmo Ônix, aquele rapaz que brigou comigo no meu primeiro dia aqui está no meio desse grupo. 

Achei que ele fosse ficar mais nada dele, mas olhando melhor todos os amigos dele também estão aqui.

— Bom te ver, Ônix.

Ele acena a cabeça e me dá um tapinha nas costas com sua mão gigantesca. Eu me curvo um pouquinho.

Vejo através da multidão que mais algumas pessoas estão chegando. Os que antes não faziam nada chegam para me dar mais tapinhas e dizer o quão incrível eu fui.

Algumas pessoas saem da fila e vem direto para mim. Agora estou cercado por uns trinta, com certeza.

Vejo que os auxiliares e a Solares não ficam muito felizes. Quer dizer, eu suponho isso, já que só vejo o rosto mal-humorado de sempre deles apenas de relance. O conglomerado a minha frente tapa a minha visão.

Do meio da multidão vem Sophia, a garota do D7 que é simplesmente linda. Todos os garotos dão passagem a ela, como se estivessem intimidados por sua beleza.

Pele bronzeada, cabelos muito loiros, iguais os de Ash — fazer esse comparativo a torna um pouco menos atrativa — Sophia abre os braços e os lança em volta do meu pescoço, me dando um abraço apertado, o rosto próximo do meu.

Algumas pessoas ficam intimidadas, outras continuam falando sobre o quão incrível fui com Vega. 

Eu não fico intimidado. Aproveito e abraço Sophia bem forte, tirando ela do chão. Dou um leve rodopio e no final ganho um beijo na bochecha. 

Depois disso eu aproveito para cumprimentar todo mundo. Os homens dão um aperto de mão, alguns me obrigam a dar um abraço. As meninas dão um abraço mesmo.

Sophia fica um pouco chateada por isso, mas fazer o que, não quero dar a impressão errada para as outras pessoas. E se falarem que estou aproveitando a minha aluna? Deixa isso quieto.

Me sinto um político por estar cumprimentando todos dessa forma. Me lembra das campanhas para se tornar um Classe A. 

No fim, todos esperam que eu fale. Bom, o que mais posso dizer além de “Obrigado”? O tempo em que me afasto deles para dar um pequeno discurso é o tempo em que planejo algo.

Vou para mais próximo do palco. Enquanto isso, consigo observar Vega, sentando em um canto me olhando com aborrecimento e depois para Solares. Ela também parece bem aborrecida. Está me encarando de longe, mas ao perceber que estou observando ela desvia o olhar.

Me viro para os meus novos recrutas.

— Obrigado pelas palavras de carinho, pessoal. 

Estou um pouco sem jeito. Tudo bem demonstrar certa vulnerabilidade, mas é estranho, sei que estou vermelho nesse momento.

— Mas seria muito idiota da minha parte não reconhecer o esforço de vocês — complemento. — Graças a compreensão de todos, conseguimos dar um jeito na situação. 

— Do que tá falando? — fala um recruta. — Se não fosse você a gente até hoje estaria lá…

— É! Você foi incrível, meu patrão.

— Eu nem acreditei quando você capturou a bandeira, parecia um sonho…

— E quando ele chamou o Vega de velhote…?

Vega dá uma pigarreada. Acho que ninguém ouviu além de mim. Dou uma risada.

— Pessoal, realmente, eu lutei contra o Vega. E sim, não estou tirando o meu mérito. Eu de fato consegui capturar o objetivo. Mas isso não seria possível se vocês não tivessem voltado para cuidar dos que tinham se machucado. Não é querendo ser arrogante nem nada, mas eu precisava de espaço para usar o meu poder o máximo que podia. E infelizmente ainda não tenho controle. Ou seja, no fim eu não consegui trabalhar em equipe.

— Não fala assim, Kaikii ~~ — fala Vida. Quando nota que todos estão prestando atenção nela, ela continua nervosa: — V-você f-foi incrível. Se não fosse por você mandando todo mundo vir ajudar, eu… eu não ia saber o que fazer ali, sozinha… Q-quer… quer dizer, você tomou uma boa decisão! Se não tivesse dito para virem me ajudar eu não teria conseguido tratar de todo mundo.

Ela jogou os créditos para mim. Não vou abusar muito disso. Já dei minha parcela de humildade. E a verdade é que, mesmo tendo a ajuda deles, eu sou foda pra cacete.

Sinto uma euforia dentro de mim preenchendo meu peito. Quero explodir e comemorar com todo mundo agora mesmo.

— Você tem razão, Vida. Você fez um ótimo trabalho cuidando de todo mundo. E de fato nós vencemos. Isso é motivo de comemoração. Que tal depois do treino a gente fazer uma leve festinha lá na lanchonete?

— Nem pensar — fala Sol, a distância.

Todos se viram para ela. Sol está irritada olhando para nós. Está segurando um dos recrutas desacordado pela gola da camisa. Aquele ali não deu muita sorte.

Eu me viro para frente e falo para todos:

— A patroa não deixou. — Eles riem. Então sussurro enquanto escondo a boca para que a Solares não leia meus lábios: — Mas vamos fazer assim mesmo, depois do treino.

Eles balançam a cabeça afirmativamente e então dão “vivas” bem discretas, para que Solares não fique no nosso pé.

— Enfim! Ainda temos muito que aprender sobre trabalho em equipe. Então, vamos treinar! De três em três, façam um grupo aí. Vou ensinar algo diferente dessa vez.

E assim o nosso dia se passa. Esse treino é muito mais uma brincadeira do que de fato um treinamento. Acredito que eles merecem. 

Obviamente todos estão muito sérios e também muito felizes. Como o treino é fácil, conseguem atingir os objetivos tranquilamente.

Após passar o dia treinando, vamos todos para o refeitório. Lá vira uma zona. Sol dá uma bronca em todo mundo. Ela não está nada feliz por ter perdido boa parte de seus alunos.

Não fico satisfeito por vê-la assim, mas vê-la um pouco irritada é até divertido. No fim eu a convido a se juntar a nós na frente de todo mundo, como um verdadeiro cavalheiro.

Ela fica tão vermelha quanto um tomate, começa a gaguejar e reclamar de mim e por fim sai do lugar, acompanhada de seus auxiliares. Leona é a primeira a ir atrás dela, mas antes me solta um olhar tentador.

Eu engulo em seco. Aquilo ali é literalmente dois metros de mulher. Seja lá qual for o significado de seu olhar, não sei se estou pronto.

Depois de mais brincadeiras, vamos para o dormitório. Lá conversamos ainda mais. Amor fica muito feliz em como as coisas estão indo.

Por fim, depois de Solares brigar de novo com a gente por fazer barulho demais durante a noite, nós vamos nos deitar.

As horas se passam e se passam, mas eu não durmo. Fico pensando, pensando demais.

No meio da madrugada desço da cama e vou direto para o corredor. Estou ficando frustrado. Deveria estar dormindo. Vou descontar essa raiva no treinamento virtual, sim. O treinamento.

Enquanto ando até o almoxarifado só consigo pensar no meu bastão, o bastão de metal do meu pai. Ele estava bem na minha frente, mas eu o perdi. 

Porcaria, o que eles querem me impedir de ficar com o meu bastão? Ele é meu por direito. 

— Porra!

Dou um soco na parede e ela amassa. Me descontrolei, mas não me sinto culpado por isso.

Continuo até o almoxarifado.



Comentários