Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 1

Capítulo 1: Lagrimas Gentis

HIKIKOTSUNAGARI

Lágrimas Gentis

Era uma tarde simples de um dia qualquer, apenas mais um dia para qualquer pessoa, mas para uma garota chamada Misaki Takahashi, era só mais um pesadelo. A pobre garota estava sentada no chão frio e gelado. O rosto escondido entre os braços, a cabeça baixa como se quisesse desaparecer. Os soluços abafados preenchiam o espaço, enquanto um grupo de garotas a cercava, repetindo os mesmos gestos e ações como nos outros dias de Misaki.

— Olha só para você, chorando como se isso fosse resolver alguma coisa! — uma delas disse, a voz carregada de desprezo.

— Por que não age como uma moça de verdade? Você só faz passar vergonha. — A líder do grupo inclinou-se, os olhos brilhando com um sadismo evidente.

Misaki não respondeu de imediato, apenas apertou ainda mais os joelhos contra o rosto, como se isso pudesse afastar as palavras cruéis.

— Vai ficar muda agora? Não é de admirar que ninguém goste de você.

— Por favor... Me deixem em paz...

As risadas das garotas ecoaram pelo banheiro, cruéis e vazias. Uma delas chutou levemente a mochila da garota, provocando-a.

— Paz? Com essa sua cara? — disse a líder, aproximando-se mais. Ela tirou um cigarro do bolso e acendeu com calma.

Misaki ergueu o rosto levemente, os olhos marejados encontrando os da líder por um breve instante.

— Eu disse... — começou, hesitante.

— Não ouvi. Repete mais alto. — A líder deu uma tragada longa antes de pressionar a bituca ainda acesa contra a bochecha dela.

O grito de Misaki cortou o ar, mas as outras garotas apenas riram mais.

— Agora você entendeu seu lugar. Pode ir embora. — A líder deu um passo para trás, fazendo um gesto casual em direção à porta.

Tremendo, Misaki levantou-se e saiu correndo, os soluços abafados ainda ecoando enquanto ela desaparecia pelo corredor. A mesma continuou correndo até as ruas, ajeitando seus cabelos curtos e o uniforme amassado e sujo.

Ao chegar em casa, a garota largou a mochila no chão da entrada e desabou no sofá. O uniforme sujo e a marca vermelha na bochecha contavam a história do dia.

— Misaki, o que houve? — A voz da mãe dela veio da cozinha. Quando apareceu na sala, o olhar preocupado caiu direto na mancha em sua bochecha.

Misaki tentou esconder o rosto com a mão, mas a mãe foi mais rápida, segurando suavemente seu queixo para examinar o ferimento.

— Foi na escola, não foi?

Misaki não respondeu, apenas assentiu lentamente.

— Não se preocupe. Amanhã eu vou resolver isso. — A mãe acariciou o cabelo dela.

— Você promete? — perguntou Misaki, sua voz quase inaudível.

— Prometo.

No dia seguinte, as palavras da mãe pareciam já distantes. Sentada novamente no banheiro, a garota abraçava as pernas enquanto os risos e insultos ressoavam ao redor.

— Por que, mãe? Por que você mentiu? — sussurrou para si mesma, os olhos inchados de tanto chorar no mesmo banheiro, sofrendo na mão das mesmas pessoas.

Após mais um intervalo de bullying, Misaki chega à sua classe, sentando-se em sua carteira, cobrindo o rosto com os braços. Enquanto a mesma chora por mais um dia terrível, o sono começa a consumir seu corpo.

Após um pequeno cochilo, Misaki acorda, abrindo os olhos e levantando a cabeça. Seus olhos ainda semiabertos pelo sono, mas ao usar a mão para esfregá-los, ela nota que está sozinha na sala, indicando que possivelmente a aula era Educação Física.

Misaki decidiu que iria cabular a aula de Educação Física. A sala vazia parecia uma fuga momentânea da realidade.

Enquanto ela mergulhava em pensamentos negativos, a porta rangeu. Um garoto entrou, sem pressa. Ele tinha cabelos castanho-escuros que caíam sobre os ombros e olhos amarelados que brilhavam na penumbra.

— Também não gosta de educação física? — ele perguntou, casualmente, sentando-se em uma carteira próxima.

A garota hesitou antes de responder:

— Não gosto.

Ele a olhou por alguns segundos, o silêncio se instalando entre eles.

— Você é Misaki Takahashi, certo?

Misaki o encarou, desconfiada.

— Como sabe meu nome? Vai me chamar de estranha também?

— Estranha? Não. Mas... parece que você está acostumada a ouvir isso, não é?

Ela desviou o olhar, a expressão fechada.

— Não importa. Todo mundo me odeia de qualquer jeito.

O garoto deu um pequeno sorriso.

— Eu não te odeio.

— Está mentindo. Todo mundo mente para mim. — Misaki apertou os braços ao redor das pernas, os olhos novamente cheios de lágrimas.

— Não sou todo mundo, Takahashi. — Ele estendeu a mão, com um olhar calmo. — Meu nome é Akihiro Nishida.

Ela hesitou antes de apertar a mão dele, ainda desconfiada.

— Por que está sendo gentil comigo?

Akihiro deu de ombros.

— Porque não há razão para não ser.

Misaki, hesitante, piscou algumas vezes antes de responder.

— Você... É da minha turma, certo?

— Sou, sim. Geralmente me sento no canto, perto da janela. — Ele deu de ombros, como se fosse algo trivial.

Misaki franziu a testa, tentando lembrar-se.

— Nunca ouvi falar de você. Nem me lembro de chamarem seu nome na chamada.

O garoto riu baixo, um som breve, quase irônico.

— Talvez porque você está sempre de cabeça baixa... Ou fora da sala.

A garota sentiu o rosto corar, envergonhada. Ele não estava mentindo. Antes que pudesse responder, algo chamou sua atenção: dois pequenos furos no pescoço dele, quase escondidos pela gola da camisa.

— Nishida... O que é isso no seu pescoço? — perguntou, com o tom vacilante, mas carregado de curiosidade.

Akihiro congelou por um instante, a mão instintivamente cobrindo a marca. Seu olhar desviou-se dela.

— Não é nada importante.

— Por favor... Me conte. Prometo que não direi a ninguém.

Houve um momento de silêncio, enquanto Akihiro parecia decidir se deveria ou não responder. Por fim, ele suspirou.

— Tudo bem, mas é segredo. Se contar para alguém, eu vou ter que... Bem, te matar.

Ele sorriu levemente, mas havia algo em seu tom que a fez se arrepiar.

— Sou um vampiro.

O ar pareceu desaparecer da sala. Misaki piscou, a expressão incrédula no rosto.

— Um vampiro?

Akihiro recostou-se na cadeira, cruzando os braços, como se estivesse esperando por essa reação.

— Exatamente isso. Sou um vampiro.

Misaki soltou uma risada nervosa, a voz tremendo levemente.

— Você deve estar brincando... Vampiros não existem.

Os olhos de Akihiro brilharam por um breve instante, um brilho dourado e quase hipnótico. Ele desabotoou lentamente a gola do uniforme, revelando as marcas no pescoço com mais clareza.

— Então, me diga, Takahashi... Como você explica isso? — perguntou, o tom calmo, mas firme.

A garota recuou um pouco, o coração acelerado. As marcas pareciam tão reais, tão impossíveis de ignorar. Ela engoliu em seco.

— Pode ser... Um acidente? Um arranhão?

Akihiro sorriu, balançando a cabeça.

— Sempre tentando encontrar uma explicação lógica. Não se preocupe, Takahashi. Não estou aqui para te morder... Ou algo do tipo.

A resposta dele só aumentou a confusão de Misaki.

— Se isso for verdade... Por que você está aqui?

O garoto ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.

— Porque, mesmo sendo o que sou... Também sou humano. Ou pelo menos... Parte de mim ainda é.

Misaki continuava olhando para ele, a expressão entre a dúvida e o fascínio. Parte dela queria acreditar; a outra parte recusava-se a aceitar algo tão absurdo.

— Então... Você é um vampiro que frequenta a escola?

— Exato. Meio irônico, não acha?

Misaki o observou com mais atenção. Apesar da calma que ele demonstrava, havia algo em Akihiro que parecia... Triste. Como se ele carregasse um peso invisível.

— E por que você confiou em mim?

Ele inclinou a cabeça, pensativo.

— Porque você parece... Diferente.

— Diferente?

— Sim. Dá para perceber quando alguém conhece a dor. Você carrega isso nos olhos.

As palavras dele a atingiram em cheio. Ela ficou em silêncio, surpresa por alguém tê-la enxergado de forma tão clara.

— Eu... — começou, mas foi interrompida pelo som do sinal, anunciando o fim da aula de educação física.

Akihiro levantou-se, ajeitando o uniforme com calma.

— Melhor voltarmos antes que percebam que estamos cabulando aula.

Misaki hesitou, mas levantou-se e o seguiu. Enquanto caminhavam de volta para a sala, ela sentia o peso das palavras dele ecoando em sua mente.

— Akihiro... — chamou, parando antes de entrar na sala.

Ele virou-se, os olhos dourados encontrando os dela.

— Sim?

— Você disse que não ia me machucar... Isso é verdade?

Ele sorriu. Não um sorriso cheio de sarcasmo ou mistério, mas algo suave, quase reconfortante.

— É verdade. Eu prometo.

Apesar disso, algo dentro de Misaki dizia que sua vida nunca mais seria a mesma.



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