Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 1

Capítulo 3: Garota Incêndio

HIKIKOTSUNAGARI

Garota Incêndio

Os suspiros de Akihiro eram profundos e pesados. Seu olhar, carregado de desespero, refletia a tensão do momento.

— Você… você está bem? — perguntou ele, estendendo a mão para a garota.

Ela ainda estava incrédula, como se não acreditasse que, finalmente, alguém tivesse notado sua presença.

— Não precisa ter medo. Eu não vou te machucar… — disse o garoto, sem saber ao certo como prosseguir.

Hesitante, a garota segurou a mão dele com firmeza e usou o impulso para se levantar.

— Você consegue me ver? — perguntou ela, acenando diante do rosto do garoto, como se quisesse uma prova concreta.

"Claro, quem não notaria alguém pegando fogo misteriosamente?" — pensou ele, antes de responder:

— Sim, claro que sim.

— Akihiro!

Ele se virou ao ouvir a voz chamando seu nome. Era Misaki, correndo em sua direção, ofegante.

— Tá tudo bem?! — perguntou ela, apoiando as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego.

— Sim, conseguimos resolver o problema

— Vim o mais rápido que pude…

Akihiro ficou surpreso, mas sorriu de leve.

— Eu reconheço seu esforço e preocupação. Obrigado.

— Pera... o quê? — A garota arregalou os olhos, sentindo seu rosto esquentar.

— Eu só agradeci. Algum problema?

Misaki se ajeitou rapidamente, desviando o olhar.

— N-Não! Não é isso… É só que eu não fiz nada. Só vim ver se você estava bem… — Ela olhou de relance para a garota ao lado de Akihiro. — E, claro, ver como ela estava também.

Akihiro se virou para a garota.

— E você? Como se sente? Tá com alguma queimadura? E por que, exatamente, estava pegando fogo?

A garota pareceu ficar um pouco tensa. Misaki, percebendo a reação dela, colocou a mão no ombro de Akihiro.

— Ei, calma. Acho que você está perguntando demais de uma vez…

O garoto se assustou levemente com o toque inesperado, mas assentiu.

— Ah… Certo. Desculpa.

— Está tudo bem, não precisa se desculpar

Antes que Akihiro pudesse continuar a conversa, o som estridente do sinal ecoou pelo pátio, indicando o fim do intervalo.

— Temos que voltar para a sala, Misaki! — disse Akihiro, já se virando para ir embora.

Ele começou a andar rápido, mas foi interrompido quando sentiu um puxão no pulso.

— Espera! Não me deixa!

O desespero na voz da garota era palpável.

Akihiro olhou para ela, surpreso.

— Mas… Mas a gente resolveu seu problema!

Misaki percebeu o medo nos olhos da garota e se aproximou, sua voz suave tentando acalmá-la.

— Se você tem mais problemas, podemos te ajudar. Basta falar com a gente.

Ela abriu um sorriso paciente, transmitindo confiança. A garota, ainda insegura, finalmente soltou o pulso de Akihiro e respirou fundo.

A garota, satisfeita por tê-la acalmado, voltou-se para o garoto, agora com uma expressão levemente irritada.

— Akihiro, você não pode simplesmente sair como se tudo estivesse resolvido. Ela estava pegando fogo! Nem perguntamos o motivo ainda!

Ele abriu a boca para responder, mas hesitou. No fim, desviou o olhar, aceitando a bronca.

— Não faz essa cara — insistiu a garota. — Você sabe que errou, né?

— Tá… Tá bom. Fui apressado demais. Deveria ter perguntado mais sobre a situação dela.

Misaki sorriu, satisfeita.

Akihiro se virou novamente para a garota, agora mais sério.

 

— Como você se chama?

Ela arregalou os olhos, como se estivesse envergonhada. Ainda assim, decidiu responder:

— Hana… Hana Suzuki.

Akihiro cruzou os braços.

— Suzuki… Bom, é um nome bonito. Agora, me diz: por que você estava pegando fogo?

Hana desviou o olhar para o chão, apertando seu próprio pulso.

— É… meio difícil de explicar…

Misaki percebeu o nervosismo dela e se aproximou, tocando seu rosto de leve para que olhasse em seus olhos.

— Tudo bem, se for complicado de falar. Mas, se você não nos contar o motivo, não vamos conseguir te ajudar.

A pobre garota corou levemente com o toque e gaguejou. Mas, reunindo coragem, finalmente revelou:

— Eu fui amaldiçoada por alguém… Uma pessoa estranha que se autodenomina "Deus do Destino".

Akihiro inclinou a cabeça, confuso.

— "Deus do Destino"? Que tipo de título é esse? E por que ele te puniu?

— Eu… Prefiro não falar o motivo… Mas, por favor, me ajudem! Faço qualquer coisa!

Hana segurou os ombros de Misaki e olhou desesperadamente para os dois.

O garoto refletiu por um instante antes de responder:

— Bom, acho que podemos te ajudar. Pelo menos, eu conheço alguém que pode.

— Sério?! Muito obrigada! — disse Hana, os olhos brilhando. Ela apertou os ombros de Misaki com tanta força que o fez reclamar.

— Ei! Está me machucando!

Hana percebeu e deu alguns passos para trás, constrangida.

— D-Desculpa! Eu só fiquei empolgada…

— Está tudo bem. Mas antes, preciso falar com alguém…

Misaki e Hana o olharam, curiosas.

— Kimiko, preciso da sua ajuda.

Uma presença surgiu atrás dele, como um peso sobre suas costas. Kimiko deslizou a mão sobre Akihiro, um sorriso brincando em seus lábios.

— Eu sabia que um dia você me chamaria, Akihiro.

Misaki arregalou os olhos.

— Quem é essa garota?! Como ela apareceu do nada?!

— Isso não importa agora — respondeu ele, se virando para Kimiko. — Preciso da sua ajuda. Essa garota, Hana, tem problemas com alguém chamado "Deus do Destino".

— Hm… Eu conheço esse "Deus do Destino". Na verdade, ele é um vampiro semideus.

Hana cutucou Akihiro no ombro.

— Com licença… Com quem vocês estão falando?

Akihiro ficou confuso. Olhou para Kimiko, que sorriu.

— Ela não pode me ver, me ouvir ou me sentir. Só fico visível para pessoas com quem você tem intimidade.

Akihiro suspirou.

— Como podemos encontrar esse "Deus do Destino"?

Kimiko apoiou as mãos no peito dele, ampliando o sorriso.

— Posso abrir uma fenda dimensional direto até ele… Mas, em troca, quero seu sangue.

Akihiro revirou os olhos.

— Certo…

A vampira se aproximou do pescoço dele, deixando um beijo suave antes de cravar os dentes.

— Akihiro, isso não dói?! — perguntou Misaki, preocupada.

— Está tudo bem… — disse ele, tentando conter os gemidos de dor.

Assim que terminou, Kimiko segurou uma faca e a cravou no tecido da realidade, rasgando-o até que uma fenda irregular se abrisse.

— Boa sorte — disse ela.

A fenda começou a puxá-los para dentro.

— Akihiro, o que está acontecendo?! — gritou Hana, agarrando seu braço.

— Vai ficar tudo bem! Confia em mim!

E, em um piscar de olhos, os três foram sugados para dentro da fenda, deixando Kimiko para trás.

O grupo foi puxado pelo buraco de minhoca em alta velocidade, sem qualquer controle sobre o próprio destino. O espaço ao redor se distorcia em tons de azul e roxo, enquanto uma força invisível os arrastava para o desconhecido.

— Akihiro! O que está acontecendo?! — gritou Misaki, agarrando-se ao braço dele com força.

— Como se eu soubesse! — Akihiro rebateu, cerrando os dentes. — E gritar no meu ouvido não vai ajudar em nada!

Antes que pudessem dizer mais alguma coisa, a viagem abruptamente chegou ao fim. Os três foram arremessados para fora da fenda, caindo em um chão raso coberto por uma fina camada de água. O impacto gerou ondas suaves, ecoando na imensidão do lugar.

Akihiro piscou algumas vezes, tentando processar onde estavam. O céu acima deles não era normal. Parecia uma extensão do próprio universo — um infinito repleto de estrelas, galáxias e poeira cósmica, como se estivessem caminhando sobre a fronteira do espaço.

No entanto, a breve admiração pelo cenário foi interrompida por uma voz grave e imponente.

— Bem-vindos ao meu domínio.

Os três se viraram ao mesmo tempo.

Sentado de forma desleixada em um trono macabro feito de crânios e ossos, um rapaz de pele pálida os observava. Seus cabelos negros caíam até a cintura, e ele usava um longo kimono preto com listras brancas nas bordas. Mas o que realmente chamava atenção eram seus olhos — um vermelho intenso e brilhante, ainda mais vívido do que os de Kimiko.

O ar ao redor parecia pesar.

E então, ele sorriu.



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