Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Trauma Longínquo

Capítulo 88: O Que Precisa Ser Feito

 

[8 Anos Atrás]

 

A sala do trono estava escura e a única luz que a adentrava eram os raios lunares de mais uma calma noite no reino de Zykron, as três luas douradas irradiando nos céus e fazendo todo o seu brilho atravessar as vidraças transparentes das janelas com adornos de espinhos.

— É uma ordem, Abatharon.

A voz feminina, porém, séria e imponente que ressoou até mesmo entre os vários pilares negros no cômodo fez o musculoso Abatharon estremecer levemente.

— M-Mas vossa majestade, foi preciso que o comandante Storlyx a deixasse inconsciente com uma lesão cerebral, aquela garota agora deve estar até o dobro mais forte que eu. — Abatharon respondeu prostado diante da mulher de cabelos curtos sentada no trono diante dele.

Ela cruzou suas duas pernas fazendo seu traje de couro escuro estalar.

— Não sabia que alguém como você temeria tanto assim uma simples garotinha com sangue vampírico nas veias. — Ela curvou seus lábios vermelhos em um sorriso malvado — Se teve culhões o suficiente pra estar agora prostado diante da rainha do império, Lumakina, por que caralhos está com medo de Incis Katulis?! — completou arregalando os olhos ao engrossar ainda mais a voz.

Os ombros de Abatharon largos e rígidos pareciam mais pesados e não era a sua armadura metálica com as luzes Neon ou os circuitos acoplados a ela que lhe dava essa impressão... era apenas tensão.

Lumakina se recostou contra seu trono negro relaxando sua postura enfurecida de antes.

— Mil perdões, vossa majestade, eu não sei onde estava com a cabeça ao lhe dizer tal coisa.

— Esse seu tom de voz tremido e travado... — Lumakina levantou a voz dessa vez em um tom de escárnio. — é realmente fofo ver um homem de aparência tão poderosa agir como um cachorrinho assustado diante de mim, realmente me faz esquecer todos os problemas. — Soltou um suspiro no fim.

Abatharon respirou fundo antes de sua voz interna ecoar em sua mente.

“Cachorrinho assustado?! Desgraçada, mas ela até que tem razão, não sou nada mais nada menos que uma peça no jogo dela nesse momento, porém o que diabos posso fazer quando essa é a única saída que achei pra pagar a minha dívida e curar a minha filha.”

A voz de Lumakina pairou sob os pesados ombros de Abatharon que com sua face escondida por trás daquele elmo negro só conseguiu suar em nervosismo.

— Como eu já disse, é uma ordem, Abatharon. Se deseja mesmo pagar a dívida que sua esposa jogou sob seus ombros, assim como curar a síndrome de Tenebris que sua filha contraiu, — Pausou ela descruzando suas coxas volumosas e se levantando do trono. — terá que dançar no ritmo da música.

Passos. Passos. Passos.

O salto-alto de Lumakina tocou sob cada degrau do pequeno altar onde seu trono ficara antes dela finalmente estar frente a frente com Abatharon.

A voz dela soou sinistra e ao mesmo tempo sedutora quando se inclinou pra frente aproximando sua face do elmo dele. — Olhe pra mim, meu cachorrinho.

Gh! — Abatharon congelou.

Na mente do cavaleiro a junção de todos os seus problemas atuais e passados se juntaram formando uma grande tempestade negativa.

“Minha esposa, essa rainha de Zykron me lembra um pouco dela. Depois que me esforcei tanto pra entrar nas forças armadas de Zykron pensei que poderíamos viver ainda melhor, passar a morar aqui seria como um paraíso não só pra mim, mas pra minha filha também, minha garota... ela deve estar se sentindo solitária agora.”

Ei, por acaso está surdo, Abatharon?!

Lumakina não se importava, não se importava se ele seria como um boneco de testes para o primeiro exame de aptidão em força da Incis Katulis, não se importava se todo o esforço do cavaleiro Abatharon passasse a ser sem sentido se ele perdesse a vida por causa dessa ordem, não se importava com nada mais além de si mesma.

Por isso, mesmo que se comportar como um cachorrinho diante dela a deixasse satisfeita apenas Storlyx que seguia as suas ordens à risca era realmente alguém que ela tratava meramente como um igual.

“Aquela garota estava descontrolada, devorou as crianças que morreram e provavelmente agora seu corpo está quase em perfeita sincronia com o DNA vampírico, se eu lutar contra ela apenas para testar sua força com certeza corro sérios riscos de vida e por ventura minha filha ficará totalmente sozinha se eu morrer também.”, ponderou Abatharon antes de dar um suspiro.

— Já chega. — Disse ele erguendo-se de seus joelhos enquanto sua armadura escura com um elmo cheio de espinhos atrás rangeu.

Os olhos carmesins de Lumakina serpenteando seu corpo da cabeça aos pés.

Medo, angústia, repulsa, ódio e dúvidas. Tudo isso estava pra se tornar um só dentro de Abatharon e transbordar afogando tudo e todos.

— Estou fora disso a minha filha é mais importante pra mim, pode nos expulsar de Zykron ou que quer que seja, vou priorizar a vida da minha filha.

Com suas últimas palavras dadas ele ergueu sua mão para apertar um pequeno botão no elmo em sua cabeça, assim o capacete se abriu no meio comprimindo-se em pequenas placas de circuitos até todo o seu semblante abatido estar revelado.

As olheiras cinzentas, uma grande cicatriz de arranhão no lábio inferior em conjunto as pupilas púrpuras e um cabelo prateado.

Lumakina abaixou sua face — Kuh... Kukuku! — uma risada contida fez seus ombros pularem levemente e consecutivamente.

KAHAHAHAAHAHA!

Foi então que ela gargalhou, a risada rouca pra dentro dessa vez havia se tornado um som psicótico e sem sentido algum com o que estava acontecendo no momento.

O cabelo escuro e curto da rainha de Zykron ondulando enquanto todo o seu esbelto corpo coberto por um traje de couro flexível tremia em um desdém maluco.

— Vadia. — Abatharon serrou os punhos contendo sua voz entre os dentes.

Como resposta Lumakina cessou sua risada levantando a face em direção da expressão enraivecida do cavaleiro de cabelo prateado.

— A sua filha qual era o nome dela mesmo? Ah sim, era Nattalia Kresphory.

As pupilas de Lumakina vermelhas como sangue pareciam mais vazias do que nunca, o sorriso doentio em seus lábios avermelhados.

O arrepio que correu nas costas de Abatharon apenas fez ela continuar a encará-lo enquanto dizia: — Sabe, sua filha sofre com a síndrome de Tenebris a alguns anos e durante esse meio tempo sua dívida só aumentou. Seu nome como cidadão de Zykron estará sujo se sair agora, não só seria viável te expulsar junto com Nattalia como também seria viável manda-lo para Lacrima.

“Lacrima a prisão que fica ao sul de Seraph, Zykron tem poder sobre aquela prisão também?!”, a mente de Abatharon congelando.

Os feixes dourados da luz das luas lá fora passando entre as janelas e tingindo o piso de cerâmica xadrez.

Lumakina estava realmente levando esse projeto a sério, a ideia de criar soldados perfeitos a partir dessa amostra do DNA vampírico que ela conseguiu era algo que poderia avançar o poder armamentista de Zykron em mais de 10 anos, tempo suficiente para a grande calamidade que estaria por vir.

— Chega de explicações históricas. — Interrompeu Lumakina fazendo o cavaleiro diante dela dar um passo pra trás.

— N-Não se do que está falando, porém receio que mesmo em tal situação, um homem precisa saber o seu lugar e fazer o que tem que ser feito.

Hoh! entendo, desafiando a rainha de Zykron. Pra um cachorrinho você é bem levado.

Abatharon se prontificou em uma postura de defesa quando gritou: — Skill On!

 

 

Nessa mesma noite em um prédio distante da fortaleza onde a rainha Lumakina atuava o rosto um pouco enrugado de um homem com cabelo prateado e olhos dourados se refletia na janela de um apartamento.

Com uma ombreira negra de metal acompanhada de um longo sobretudo listrado em preto e branco ele por fim acrescentou um tapa olho escuro sob seu olho esquerdo, assim indagou com uma voz até que alegre: — Os disfarces estão em perfeito estado. Recruta Osmoldt, sabe onde conseguiram isso?

— Espera, como o senhor que é o nosso capitão não sabe nem de onde veio os disfarces?!

Essa resposta veio do garoto careca saindo do banheiro enquanto ajustava sua gravata cinzenta em seu terno listrado.

— Já era de se esperar do capitão Kaylleon. Osmoldt, a sua gravata tá toda errada, vem cá eu arrumo pra você! — Uma garota animada se levantou do sofá deixando o pequeno computador portátil que ela usara de lado.

Kaylleon não pôde deixar de se virar para os dois recrutas que começaram a correr um atrás do outro ao redor do sofá e sentir algo um pouco familiar.

“Esses dois... as vezes nem parece que estamos lutando, os meus companheiros e eu. No fim nunca foi meu intuito criar uma tal organização ou um exército de soldados sangue frio como o que fazem nessa merda de lugar chamado Zykron.”, ponderou Kaylleon com sua única pupila dourada exposta tremendo.

De fato, o tapa olho deixava bem difícil de saber o que o velhote estava pensando, porém seus dois companheiros de quarto estavam com disfarces ótimos também.

— Pronto, sua gravata tá perfeita agora. Se quiser me agradecer tem que falar ‘obrigado Iku, meu amorzinho’, hahaha!

— N-Não fala besteira, estamos indo resgatar a filha do capitão Kaylleon.

Os punhos de Kaylleon se fechando firmemente.

Ele poderia ter falado em voz alta, porém ninguém mais precisava daquelas palavras além dele.

“Sim, eu vou salvá-la. Me espere, Incis minha única filha.”

 

 

Aqui é o soldado Renard Shadoky, passando as coordenadas pra iniciar a operação.

A tensão de Zakio sentado no banco do motorista simplesmente foi quebrada pela voz no aparelho de comunicação.

— Afirmativo, nos encontraremos no ponto principal do setor 1.

Ele levantou a mão para as pessoas no compartimento de passageiros atrás dele e fez um sinal antes de dizer: — Iniciando a operação de resgate.

Todos saíram do veículo com a placa riscada.

Passos. Passos. Passos.

“Tem tantos veículos em um só estacionamento, o dinheiro necessário pra uma infraestrutura e tecnologia tão rica assim deve ser algo exorbitante, aquela rainha maldita deve nadar em dinheiro todo dia.”, Zakio sibilou em sua mente enquanto caminhava pra fora do espaçoso estacionamento.

Os postes irradiando uma luz esverdeada pelo piso de concreto tingindo as ruas sujas da noite com o tom de cor meio musgo.

— Zakio, prometo que não vou vacilar como da última vez. — Uma voz madura e afeminada veio das costas do garoto ruivo que apenas olhou para a mulher detentora de tal entonação por cima do ombro pra no fim responder com uma face frívola.

Não me importo contanto que a gente acabe com raça de alguns soldadinhos de Zykron e salve a Incis de brinde.

No mesmo instante em que o resto do grupo alcançou Zakio um som estrondoso somado a um clarão se expandiu pelas ruas.

Booom!

O reflexo de brasas e fumaça emergindo do meio da cidade foi replicado nas milhares de janelas dos arranha-céus de Zykron.

No mesmo instante a voz chiada de Renard veio aos tímpanos de todos. — Bombas detonadas com sucesso, o gerador de energia do distrito 1 foi obstruído, nossa distração começou. Vão, vão, vão!

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