Trauma Longínquo
Capítulo 95: Não Pode Ser Real
Dois rastros metálicos reluziram cruzando-se um sob o outro ao passarem pelo corpo de Melize.
Vush! Corta! Corta!
Foi um ataque simultâneo e de perfeita sincronia, a primeira vez que Jack e Zakio tiveram um tempo de reação mútuo.
— Nhghr! — Melize rangeu os dentes com a ponta negra e afiada da Moon Blade de Jack rasgando seu ombro ferido novamente.
Ainda no ar os olhos da assassina se estreitaram quando ela viu a distorção prateada da espada de Zakio acertar o local errado.
“Como esperado.”, murmurou ela internamente no que um brilho esverdeado a envolveu.
“Zakio teve o mesmo tempo de reação que eu, isso nunca tinha acontecido, mas isso pouco importa. A gente acertou um golpe praticamente crítico nela.”, a mente de Jack se tornou ansiosa enquanto sua capa rasgada ondulou sob seus ombros e torso já que o mesmo ainda estava no ar também.
Os cabelos escarlates de Zakio dançando aos ventos enquanto ele declarou vitória: — Acabou! Assassina de merda!
Foi então que... a tal assassina quebrou o vazio perfurando o ar com a palma de sua mão.
Os olhos de todos se arregalando.
O golpe foi capaz de fazer uma vibração ressoar pela câmara do Boss e também fez uma pequena nuvem de ar condensado eclodir da sua mão, ninguém de fato compreendeu o que houve, porém isso foi logo demonstrado como uma forma de locomoção já que Melize se manteu nas alturas com esse golpe que por ventura lançou-a para o lado direito semelhante a um míssil teleguiado.
— Droga, aquele Lunge-Hei não é nada bom.
A voz de Incis tinha um tom cansado e apreensivo no que suas pupilas douradas tentaram acompanhar o vulto aterrissando em mais um dos pilares da câmara.
Akira segurou o braço de Incis com uma face apreensiva. — C-Capitã Katulis, não se esforce tanto.
— E-Eu entendo que você realmente me admira depois de tudo o que passamos em Zykron, Akira. Mas agora não temos muito tempo pra isso, precisamos dar um jeito de ajuda-los.
As sobrancelhas de Akira levantando levemente em admiração diante de sua capitã que continha um olhar destemido.
Os joelhos de Melize se dobraram suavemente quando suas botas se fixaram sob o pilar antes dela chutá-lo para pegar impulso. — Isso poderia ser uma bela virada de jogo. — Declarou ela.
Quebra!
Uma rachadura foi deixada sob a superfície após Melize se atirar do pilar.
Os olhos prateados de Renard refletiram a silhueta borrada que se distorceu pelo ar em sua direção.
A perna de Melize partiu os ares fazendo um verdadeiro arco no vazio.
Um impacto súbito se espalhando pelos arredores.
Renard cerrou os dentes com a força do chute que se pressionou contra a membrana negra em seu braço.
“A Ultimessiah está...”, sua mente ficou transtornada somada a uma expressão chocada.
A membrana negra que se revelou como a cópia de uma arma poderosa que Renard copiou no passado começou a se rachar e esguichar sangue.
O suor frio escorreu de sua testa enquanto seus ombros ficaram pesados com a entonação imponente de Melize que pressionando a ponta de sua bota contra o tentáculo sangrando disse: — Não importa quantas armas você tenha em seu arsenal de cópias, Renard Shadoky, nada disso é capaz de me parar.
Assim como Incis havia dito o Lunge-Hei era uma arte marcial muito problemática não só nessa ocasião, mas em qualquer uma já que os ataques são capazes de quebrar as partículas de ar assim criando um vácuo que poderia destruir qualquer um não só por fora quanto por dentro.
A primeira reação veio de Zakio.
— Renard! Droga, mas nós a acertamos ao mesmo tempo, como ela está de pés agora?!
Aterrissando ao solo novamente Jack bufou lançando uma resposta para seu companheiro: — Talvez tenha acontecido o que Renard disse, nós erramos os golpes e o dano foi transferido.
“Espera, transferido... transferido pra quem exatamente?”
A questão permeando internamente em Zakio teve também sua resposta logo de imediato.
— Ughn... uh... — Um gemido doloroso veio aos ouvidos do espadachim ruivo fazendo seus olhos se lançarem na direção do grunhido.
Olhando para o teto ele expressou uma face de desconforto mordendo o lábio em ódio, suas sobrancelhas franzidas.
A garota de jaleco branco que fez Zakio ser vítima daquele chute de antes estava vomitando sangue com dois grandes cortes na região de seu abdômen, com seu corpo frágil firmemente enrolado nos fios prateados de Melize ela não tinha escolha a não ser continuar ali, presa como uma pequenina mosca em uma teia de aranha.
Os olhos de Layaka lacrimejavam diante da dor ardente.
O sangue manchando o tecido branco e rasgado do seu jaleco se expandiu aos poucos enquanto seu peito subia e descia levemente com a respiração ríspida.
“Droga do que adianta ser uma Codesh se nem mesmo posso usar os poderes agora? No final das contas eu nunca me dei bem com combates, prefiro ser uma pesquisadora.”, gritava ela no fundo de sua alma.
Renard foi jogado para trás derrapando levemente, assim o tentáculo gigante em seu braço ondulou gotejando sangue pelo ar.
— Não há como me eliminar se dependerem apenas de um pequeno hematoma em meu ombro, Zakio foi incompetente o suficiente para errar seu ataque em um momento crucial deste embate. — Declarou Melize com uma face estática. — Uma vez que esse pequeno erro tenha dominado a situação fui capaz de me curar com os danos sendo transferidos para a senhorita presa no teto, a prisão de Fylak é assim, é uma teia que nunca falha em capturar nenhuma mosca. Por esse motivo eu declaro que não há saída pra vocês, o meu trabalho está próximo de ser concluído e pra isso preciso eliminar todos assim como o S.I.S me propôs.
Alguns pequenos fios surgiram no corte sob o ombro de Melize pra no fim ela mover alguns dedos fazendo-os costurarem o machucado.
“Então foi assim que ela cuidou dos meus ferimentos enquanto estive inconsciente na mansão.”, observou Jack.
Renard foi quem se manifestou primeiro, ele ergueu seu rosto cansado para a assassina enquanto seus joelhos tremiam. — Vo-Você fala demais, senhorita assassina do império. Pensei que poderia acabar com isso tudo com um pouco menos do que minha força total, mas agora... acho que as coisas mudaram, essa sua tal prisão Fylak é realmente um pé no saco só que eu também tenho uma carta na manga.
As sobrancelhas de Melize levantaram quase que de forma imperceptível diante de tais palavras. — Uma carta na manga?
— Exato e essa carta se chama... fé.
Vush! Ventania! Contorce!
No mesmo instante a voz de Renard foi engolida pelos movimentos bruscos sendo feitos ao redor da assassina de cabelo negro.
“Outro ataque em conjunto? Terei de desviar, o efeito da prisão de Fylak não recarrega tão rápido.”, analisou ela com as pupilas azuladas rapidamente oscilando para esquerda e direita.
Uma adaga carmesim caiu sob ela pela sua retaguarda no mesmo instante em que uma espada prateada gigantesca rasgou pela sua direita.
Eram Jack e Zakio que já estavam ao redor de Melize, não para ataca-la, mas para contra-atacar qualquer movimento em resposta.
O tentáculo obstruído no braço de Renard aumentou seu tamanho e pulsou com veias escarlate antes de diminuir e formar uma linda espada negra com uma lâmina pontiaguda num formato afunilado.
Ele apontou sua espada em formato de funil para sua oponente exclamando: — Essa prisão é muito boa, porém ela tem um tempo de recarga! Não só eu, mas todos os meus companheiros aqui já parecem ter compreendido isso e foi tudo graças a mim. É por isso que mesmo já estando muito ferido, ainda tenho fé e essa fé vai ser a que vai te destruir.
Melize levantou os braços em postura defensiva tentando compreender o que diabos poderia acontecer em seguida.
“Eles não me atacaram?! E essa espada em formato estranho?”, dessa vez ela se encontrou em um verdadeiro infortúnio como a mesma diria.
Sua mente ficou pela primeira vez confusa diante de um combate, que tipo de estratégia seria essa?
Foi então que num piscar de olhos a espada afunilada na mão do cavaleiro de olhos prateados... eclodiu em fragmentos negros.
“Era uma farsa?!”, os olhos de Melize se arregalaram quando um tentáculo com uma boca colossal se abrindo engoliu seus arredores.
Poeira, destroços e um som de desabamento somado a tremores tomaram conta da câmara.
As pupilas amarelas de Incis tremiam em temor. — Aquela coisa não pode ser real, está mais pra um... demônio!
[8 Anos Atrás]
No instante em que a Ultimessiah se tornou esse tentáculo nojento e colossal Renard soube que não haveria chances algumas de desviar contra uma coisa dessas.
“Eu vou te salvar, Incis!”, exclamou Renard internamente.
Tremores se estenderam pelo salão de entrada, as paredes e o chão vibrando com os impactos dos dois tentáculos pulsantes batendo um contra o outro e ficando rígidos como duas lâminas.
Dois vultos se distorceram pelo meio do local.
Renard brandiu seu braço para frente como se fosse uma espada, assim o tentáculo nojento em seu braço partiu o vazio como uma navalha em direção de Storlyx.
Bam! Bam! Bam! Quebra! Ventania!
A membrana colossal cortou a distância destruindo vários pilares de sustentação ao redor do centro do salão.
“Obstruindo o perímetro pra ter vantagens... como esperado de um terrorista. Sempre jogando bem sujo.”, observou Storlyx antes de flexionar suavemente os joelhos dando um pulo suave e preciso.
O tentáculo espinhoso passou por baixo de suas pernas que poderiam ter sido decepadas facilmente.
O sobretudo negro de Storlyx ondulou sob o ar em meio ao seu pulo no que ele lançou sua membrana de carne para frente.
Como resposta as pupilas prateadas de Renard tremeram em choque.
O tentáculo saindo da espada que o cavaleiro loiro empunhava se curvou em zigue-zague no ar como uma serpente faminta e quando Renard piscou seus olhos um espinho pontiagudo estava a centímetros do centro de seu globo ocular direito.
“Rápido demais.”, os pensamentos dele congelaram diante do sentimento da morte eminente enquanto seu corpo se arqueou para trás tentando escapar.
— Você ainda está limitado apenas a usar a boca, é como uma versão 100 vezes pior da Ultimessiah.
A voz séria e imponente de Storlyx ressoou no que os cabelos negros de Renard dançaram com seu movimento brusco para frente, seus olhos prateados reluziram.
— Não tenho medo de nada contanto que a deusa Afradia esteja me vigiando!
Puxando o seu corpo para frente com todas as forças ele usou seu tentáculo escarlate para morder o espinho prestes a se enterrar sob seu olho.
— Hmph! — Storlyx ficou firmemente fixo em um só local quando balançou seu braço comandando o seu tentáculo de espinhos para recuar.
Foi então que dois rastros prateados dilaceraram a distância até o cavaleiro loiro.
O sobretudo branco de Renard balançando no que ele se aproximou suficiente de seu oponente com uma intenção assassina emanando do seu olhar.
— Saia do meu caminho de uma vez!
Lançando seu braço para frente com todas as forças o tentáculo em seu braço era pontiagudo o suficiente para afundar no peito de Storlyx, porém...
Em um mero e efêmero momento.
Sem nem mesmo se mexer.
Um buraco no estômago, o sangue escorrendo, as roupas rasgando enquanto algo afiado atravessou até sair pelas suas costas.
Foi assim que o cavaleiro loiro perfurou o abdômen de Renard impiedosamente com essa membrana pulsante e afiada chamada Ultimessiah.
“O que?!”, os olhos opacos de Renard tremiam em puro temor.
Não havia aberturas, não havia chances, não havia ninguém humano que conseguiria reagir em tal velocidade.
Agora Renard havia compreendido algo muito valioso, por mais que ele devotasse sua alma e corpo em Afradia a deusa da vida... se ele esbarrasse com um verdadeiro demônio, não seria nada mais nada menos que um mero mortal.
Fé, esperança, orgulho e acima de tudo coragem, esses eram os valores semeados nas igrejas que adoravam Afradia.
Nesse momento um sorriso dolorido se abriu no rosto de Renard. — No fim não era a sua espada que era um demônio, mas sim você, não é?
Os olhos azuis de Storlyx eram como duas safiras profundas, ao redor dele Renard podia jurar visualizar um vapor negro e espectros assustadores de mortos gritando.
Esse homem sempre esteve rodeado de mortes, tragédias e desespero, diante de tudo isso talvez ser indiferente poderia fazê-lo prosseguir sem se ferir e foi isso que o olhar vazio e sem vida do cavaleiro de cabelo dourado passou para Renard.
— Storlyx, pelo que exatamente você luta nesse momento?
A entonação que lançou essa questão pelo ar não veio de Renard, então de quem era essa voz?
Uma expressão confusa se formou na face dos dois oponentes. Quem mais estaria adentrando a fortaleza de Zykron pela entrada principal?
Passos. Passos. Passos.
Uma silhueta oculta nas sombras se aproximou calmamente.
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