Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 10: Culpa

 

[Nattalia Kresphory]

 

Ufufuh! O que fez nós começarmos tudo você pergunta... não é óbvio? — indaguei abrindo um sorriso vazando sangue.

Os ventos calmos do final do dia, a luz carmesim da cúpula que cobria toda a cidade de Leycrid, era com certeza a cena perfeita para o clímax desse Show.

Ventania!

Como resposta a minha pergunta Kaylleon apenas lançou um soco impiedoso na direção do meu rosto.

— Eu não sou nenhum adivinho moça. — disse ele convencido de seu poderoso golpe.

Segundos antes do punho envolto de dragões dourados me acertar eu girei meu dedo indicador pra cima.

[Uma Skill foi usada!]

[Inversão da gravidade]

Fomos instantaneamente envoltos por uma energia purpura. Minha habilidade definitiva para escapar dos poderosos golpes de alguém como Kaylleon.

Nossos corpos voltaram para o chão como duas balas de canhão.

Booom!

Destroços de concreto voaram pelos ares junto da poeira.

“É claro que um Ranking A não morreria apenas com isso.”, com isso em mente, eu aterrissei sobre o solo invertendo a minha massa gravitacional para não sofrer danos com a queda, após isso me prontifiquei para esquivar-me do próximo ataque.

Um rastro de cor dourada passou pelo meio da poeira, Kaylleon contra-atacou, assim como eu havia previsto.  

“Agora!”, pisquei meus olhos com minha mente afiada em qualquer movimento.

O punho envolto da energia âmbar emergiu da nuvem de poeira alvejando novamente o meu rosto.

Dando um leve giro para a direita num pequeno pulo, eu instabilizei meus sapatos sobre o chão novamente.

Kaylleon apenas girou como um tornado torcendo seu corpo ao lançar seu punho de dragão na minha direção, semelhante a um míssil pronto para estraçalhar meu abdômen e tudo o que havia por dentro dele.

Eu ergui minha mão direita girando a palma para cima.

Os destroços de concreto e pedra dos arredores flutuaram no ar com suas gravidades se invertendo.

Ao apontar para o homem de terno todos os destroços foram lançados contra ele como balas.

“Um soco, dois socos, três socos. Um pulo para a direita.”

Eu lia cada movimento feito por Kaylleon e seus punhos que quebravam os meus projéteis como se não fossem nada.

À medida que ele destruía os destroços com seus socos ágeis nossa distância foi se encurtando.

— Pare de me fazer perder tempo. — Disse ele com um tom frio pulando entre os pedaços de pedra e vidro que lancei.

Ao dobrar suas pernas no pulo e inclinar seu corpo, Kaylleon passou pelo meio dos projéteis e apenas ergueu seus dois punhos sobre mim. 

Dois socos imbuídos com uma massiva energia Vitalis, prontos para esmagarem minha cabeça.

— Acho que vou brincar um pouco mais. — Eu disse abrindo um sorriso sádico no que eu apenas levantei meu dedo indicador pra cima. 

Vupt! Impacto!

Uma barra de metal subiu do solo acertando o queixo do velho em cheio.

Grgh! — Ele rangeu os dentes cuspindo um pouco de sangue.

Seu corpo foi jogado para longe como um trapo velho.

Quem diria que alguém de Ranking C como eu poderia fazer tal coisa, foi apenas um simples poste de luz que estava jogado por perto.

“Eu sou superior até quando estou em conflito com um inimigo de Ranking alto.”, eu ria em deboche internamente ao ver Kaylleon cair sobre o asfalto sujo.

Parte do seu terno preto se rasgou revelando a camisa branca por baixo que já até mesmo estava amarelada com toda a sujeira.

Seu ombro agora estaria quase que exposto se não fosse por essa fina camisa branca.

Eu fui capaz de causar alguns arranhões nele pelo menos.

Mesmo assim esse velhote ainda conseguiu cair de joelhos sobre o chão, numa pose até que digna para alguém como ele.

— Senhor Kaylleon! — Gritou uma voz no final da rua.

“Mas o que... quem é aquele?”, foi a única coisa que pensei ao ver um garoto de cabelos negros vestindo um casaco preto, ele correu na direção de Kaylleon.

 

[Jack Hartseer]

 

Mesmo depois de ter escutado o que Incis disse e até mesmo visto o poder de Kaylleon eu não pude deixar de me sentir alarmado por vê-lo de joelhos.

Haah.... por que veio atrás de mim garoto? eu disse pra ir pra um lugar seguro. — Disse ele em um leve suspiro e um olhar sério.

— E-eu sei, mas é que eu acabei vendo tudo de longe e aí... eu...

Um nó se fez em minha garganta. Estava claro que eu queria ajudar de alguma forma, mas como?

Eu sequer tinha algum poder e quase morri inúmeras vezes desde que vim pra esse mundo.

— JACK! — Kaylleon gritou desesperado erguendo seu corpo do chão abruptamente.

Ao piscar meus olhos no susto, eu apenas vi um rastro purpuro no ar.

Zupt!

Uma bota negra. Foi um chute que voou como uma bala direto contra centro da minha face.

“Puta que pariu!”, minha mente ficou paralisada.

Uma colisão de luzes douradas e escarlates se ascendeu por um breve segundo.

Eu fiquei praticamente cego sem contar no estrondo que tal impacto foi capaz de fazer, meus ouvidos piaram.

— Eu disse, saia daqui! Eu cuido de tudo! — exclamou Kaylleon com seus dois braços bloqueando a longa bota preta da pessoa que me atacou.

— M-mas... e-eu... — Minhas pupilas tremiam e as palavras estavam falhando.

Eu dei dois passos pra trás tentando controlar a respiração.

Meu coração já estava acelerado a tanto tempo que eu mal percebi a diferença entre um ataque cardíaco e apenas uma aceleração comum.

A figura que teve seu golpe bloqueado pelo velhote pulou para cima, não, seu corpo começou a violar a gravidade.

Seus cabelos prateados balançaram no ar e sua capa negra ondulava junto com o capuz, todos envoltos de uma energia roxa e brilhante, a mesma mulher que vi mais cedo.

Ufufu! Fuahahaha! — Ela começou a rir, não, gargalhar pra caralho, como uma doente, isso foi definitivamente horripilante, mas também meio vergonhoso.

— Você conhece esse velho nojento também? Que coisa, não posso deixar nenhuma testemunha! — Completou ela após gargalhar.

Mesmo que ela estivesse a alguns metros acima de nós eu pude sentir seus olhos púrpuros e profundos caindo sobre mim.

Uma sensação de malícia perversa pesando sobre cada fibra do meu corpo.

— Jack! Corre! — Kaylleon gritou para mim enquanto eu estava paralisado em puro medo.

Ufufuh! O garotinho está realmente tremendo! — a voz dela preencheu o vazio dos céus quando sua energia violeta se expandiu engolindo parte da vermelhidão como raízes.

“Ela definitivamente não é gente boa, é praticamente um estereótipo de vilã muito, muito Dark!”, pensei em pânico.

Ranking F? — a mulher “voando” nos céus carmesins fez um rosto enojado, — Que fofinho, deveria ter ficado quieto garotinho.

“Ela viu meu Ranking?! E-e eu também não sou um garotinho!”, fiz uma face embasbacada ao me preparar pro pior.

— Deixe o garoto em paz. —Kaylleon aterrissou do solo com um pulo que exalou poeira.

Com um movimento afiado a mulher ergueu seu braço direito na direção do velhote que já estava a se aproximar com um soco esmagador.

Gravitharion! — a voz dela ecoou se distorcendo pela cidade em um tom confiante, calmo e dominador.

O corpo de Kaylleon congelou no ar e eu sua silhueta ondulou como se estivesse embaçada.

Ele voou de volta pro chão envolto de raios púrpuros.

— Senhor Kaylleon!!!

Um grito desesperado saiu da minha garganta. O corpo dele colidiu com o solo logo adiante dos meus olhos.

Um tremor avassalador se espalhou pela rua somado de poeira e pedaços de concreto voando.

As janelas dos prédios se racharam mais e mais.

“Merda, esse velho não era Ranking A!?”

— Que desgosto, por sua causa eu não tenho mais tempo suficiente, é arriscado demais. — disse a maldita mulher.

Meus olhos procuravam desesperadamente por Kaylleon no meio do nevoeiro de sujeira.

Tudo o que fiz vindo nesse momento foi atrapalhar, eu só estava vivo por causa do velhote, eu não podia fazer nada por ninguém desde o início na verdade.

 Mesmo diante desses fatos eu apenas deixei Incis escorada dentro de uma loja e corri até Kaylleon na esperança de tentar resolver a confusão.

Eu queria muito tentar resolver esse problema, não por desejo próprio, mas por causa da culpa que senti quando ouvi o que Incis disse quando tentei ajuda-la.

“E-eu fui... tola, eu salvei você e por isso pensei que poderia fazer algo melhor que isso, apenas deixe a situação se resolver, eu já deixei pessoas demais morrerem por causa da minha tolice.”

As palavras dela ecoaram na minha mente como se preenchesse um pote vazio que vazava parte do líquido por causa de suas rachaduras de pura culpa.

— Já pode fazer seu trabalho Signari, ele é todo seu. — falou a figura de cabelos prateados no céu que fechou seu punho direito firmemente, — Ele tá muito bem preso na minha Skill! Ufufuh! — completou ela contendo uma risada.

— Entendido. — Uma voz sussurrou perto de mim.

Passos! Passos! Passos!

Uma figura de estatura baixa saiu da escuridão de um dos becos, correndo a todo vapor, passos desajeitados e engraçados.

Capuz preto seguido de um sobretudo da mesma cor, as mesmas vestes da desgraçada que tinha acabado de machucar o senhor Kaylleon.

Skill On... — A figura anã passou por mim com um sussurro, — Zighnaritis. — Ao completar seus sussurros uma adaga prateada surgiu em suas pequeninas mãos.

A poeira baixou rapidamente e eu vi o velho com seu terno totalmente rasgado de joelhos sobre o chão, suas costas totalmente expostas.

Peças precipitadas se juntaram em minha mente no que eu disparei na direção da pequenina figura correndo. 

“Esse anão de merda vai apunhalar o senhor Kaylleon!”, minhas pernas se moveram com todas as forças que meu corpo podia reunir.

O suor escorrendo, a adrenalina subindo cada vez mais rápido.

— Você ainda vai ficar insistindo mesmo? — A voz horripilante da mulher de cabelos prateados ecoou dos céus.

Nesse instante luzes se refletiram contra meus olhos e eu escutei as janelas rachando.

Vupt! Vapt! Vupt! Vapt!

Cacos de vidro voaram na minha direção como uma chuva de flechas que curiosamente preencheram toda a rua.

“Não, eu não posso recuar, não posso! Eu não posso fazer mais pessoas sentirem culpa por minha causa como a Incis. Kaylleon é o pai dela, alguém muito mais valioso do que eu que só fui salvo o tempo inteiro!”

Em minha mente uma decisão foi tomada, eu simplesmente pulei entre os pedaços de vidro que caíram sobre mim ferozmente.

A-aaargh! — Um grito de agonia rasgou minhas cordas vocais junto com minha pele que sofreu vários cortes consecutivos.

Os estilhaços de vidro passaram por mim impiedosamente.

O sangue jorrou, porém, continuei a correr.

— O-o quê?! — A responsável pelas feridas em meu corpo gritou num tom abismado.

Não me importava mais, eu não queria isso, eu não queria... ser motivo de tristeza pros outros, ser uma decepção ou o culpado pela dor de terceiros.

Assim como Incis disse, por ter me salvado ela achou que poderia fazer muito mais, era minha culpa, mas se o pai dela se fosse assim, eu seria ainda seria o culpado.

Por isso decidi ajudar o senhor Kaylleon!

Aaaargh! Senhor K-Kaylleon! — Com o pulo e erguendo meu braço eu alcancei o ombro do velhote, mas...

Corta!

Ugh! Blurgh! — Vomitei sangue instantaneamente.

Minhas costas, não, minha pele, meus músculos, ligações internas, tudo foi atravessando por uma fina e afiada lâmina que quando bati o olho inicialmente era prateada e brilhava na mão da figura anã, porém agora, sua ponta estava atravessada no meu peito, estava banhada pelo vermelho.

[Você sofreu um dano crítico!]



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