Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 15: Lembranças Deturbadas

 

Foi em um piscar de olhos, eu não lembro quanto tempo passei dentro do vazio silencioso, só sei que quando abri meus olhos novamente... eu estava deitado em uma cama confortável.

Minha visão ainda meio turva passou a se tornar mais nítida lentamente.

Paredes de mármore se revelaram rodeando-me em uma luz quente, que adentrava o local com uma leve brisa.

“Quem diabos... é essa pessoa?”, me perguntei em pensamentos ao finalmente perceber o detalhe principal que se formou diante dos meus olhos, um lindo rosto de olhos azuis me observando sem emoção alguma.

— Boa tarde, como se sente? — Indagou a face desconhecida.

— O-o que... quê? — Minha voz fraca quase não saiu enquanto eu esfreguei meus olhos com uma leve dor de cabeça. 

O rosto que me observava com suas frias pupilas azuladas estava próximo, muito próximo, os fios de cabelo negros pendiam de sua cabeça até quase tocarem sobre minhas bochechas, uma mulher e que mulher!

Ela ergueu o rosto, assim afastando-se de mim com um leve suspiro que não continha nenhum tipo de emoção.

 Meu corpo mal conseguia entender direito o que estava acontecendo, acho que esse foi o motivo do meu rosto não ficar vermelho igual a porra de um morango por causa dessa situação tão repentina.

— Finalmente acordou, de qualquer modo, — a mulher cruzou seus braços com uma face séria, — meu nome é Misa Hordrik e aliás... não faça movimentos muito bruscos ou suas feridas podem se abrir, mesmo que tenha fica 1 semana inteira desacordado.

Foram palavras diretas e sem muita personalidade eu diria.  

Sua face frívola e pálida tinha perfeitos olhos de cor safira com cabelos negros presos a um rabo de cavalo, além disso ela estava vestindo um grande jaleco branco por cima do que parecia um terno.

“Que tipo de vestimentas são essas? Onde diabos estou?”

Em um leve suspiro eu tentei me acalmar um pouco e então ergui minhas costas da cama.

Ghn! — Eu rangi os dentes ao me levantar, mesmo que lentamente.

— Eu disse a você que movimentos bruscos seriam perigosos...

De fato, eu senti uma pontada no meu peito quando ergui minhas costas do colchão, mas... o crucial dessa situação não foi isso e sim o que aconteceu logo em seguida.

Ao tatear meu peito com a mão eu pude perceber estranhos tecidos por cima da minha pele, meu corpo estava repleto de ataduras.

— O-o que diabos... — antes que eu pudesse soltar algum comentário confuso sobre isso, senti uma ânsia subir pela minha garganta. — Ugh... Blurgh! — Eu vomitei.

Meu corpo fraquejou no mesmo instante que o líquido quente e avermelhado foi expelido e molhou minhas mãos junto do edredom que me cobria.

Meus olhos perdidos e lerdos se arregalaram ao vislumbrarem o carmesim, escorrendo entre as ataduras húmidas de sangue, o sangue que saiu de dentro de mim.

Apenas isso foi o suficiente pra fazer uma rápida lembrança pairar sobre minha mente.

Cadáveres sobre as calçadas, gritos de desespero entre becos e ruas... aquele ataque terrorista que aconteceu em Leycrid... como eu poderia me esquecer dele?

Minha cabeça latejou fortemente e meu corpo passou a tremer histericamente.

Eu tinha tentado ajudar o senhor Kaylleon, mas fui esfaqueado pelas costas e naquele momento eu tive uma visão, uma visão de algo simplesmente inexplicável que me fez entrar em desespero.

Quem era aquele tal de Abyssus? O que houve depois que ele me ajudou?

Perguntas e mais perguntas pairaram sobre mim, o desconforto e aquela bizarra sensação de medo que tive ao dar de cara com meu Alter Ego... veio à tona novamente.

Isso nem era a ponta do Iceberg, eu toquei naquele portal bizarro e caí em um abismo cheio de vozes e luzes... aquelas bestas que tive que me defender, os circuitos reluzentes no teto escuro do subterrâneo.

Tum! Tum! Tum!

Um nó se fez em minha garganta e meu coração passou a bater rapidamente.

— Acalme-se, não há mais o que temer. — Uma voz fria me puxou do mar repentino de perturbação e meus olhos se desfocaram do líquido carmesim sobre meus braços.

Eu mantive o silencio e apenas olhei em angústia para a misteriosa figura ao meu lado, seja lá quem fosse essa mulher eu realmente não queria causar uma má impressão, mas minhas emoções não estavam em um momento favorável. 

 

“Que merda... será que deu tudo errado? O senhor Kaylleon está bem?”, o receio foi levemente tomando conta de todas as outras coisas que eu podia sentir.

— Como eu disse, acalme-se. — Repetiu ela olhando para meus olhos inseguros e assustados profundamente.

Eu fiquei fora de controle por um momento, mas esse olhar por algum motivo me acalmou, não sei dizer bem se isso era algo bom ou ruim, na verdade... sei dizer sim, a quem eu estou enganando?

Eu não queria ser vulgar, mas ela realmente era muito, muito gostosa... por isso acabei ficando de certa forma mais calmo quando parei pra prestar atenção melhor nessa mulher.

“Porra! Isso não é um Ecchi da vida seu imbecil!”, praguejei a mim mesmo em pensamentos ao desviar o olhar para o lado em constrangimento.

Isso definitivamente não era hora pra deixar meus instintos me dominarem, eu nem sabia onde estava pra início de conversa.

Minha respiração se instabilizando, meu coração voltando a bater normalmente e um leve calor subindo pelo meu corpo.

“Misa Hordrik, esse era o nome dela... apenas se acalme cara.”, foi o que pensei quando minha mente voltou aos eixos.

— Vejo que realmente não está com uma saúde mental muito boa, de qualquer modo, peço que permaneça na cama por mais uns dois dias se não quiser vomitar sangue como houve agora.

— E-entendo.

Com meu rosto meio avermelhado o meu olhar viajou lentamente pelo cenário ao nosso redor, um lindo quarto de mármore com um tapete vermelho e uma mesa de madeira ao lado da cama, além disso havia uma prateleira cheia de livros e uma varanda, isso definitivamente não era um lugar comum.

A tal Misa pareceu perceber meu olhar desconfiado e se manifestou dizendo: — Primeiro de tudo, seja bem-vindo.

Eu voltei os olhos para a face de peixe morto dela e apenas pude responder com uma expressão mais confusa ainda.

“Puta merda... eu realmente estou sem entender nada de novo.”, pensei em frustração.

— Jack Hartseer, você esteve desacordado por uma semana após o incidente em Leycrid. — comentou ela olhando para a mancha de sangue sobre o cobertor.

— U-uma semana?! Grhn! — dei uma reação abismada antes de tossir um pouco com o gosto de ferrugem na garganta.

— Sim, — A mulher misteriosa caminhou até uma prateleira logo ao lado e pegou um lenço antes de continuar, — apesar de tudo seu corpo ainda resistiu a gigantesca massa de energia Vitalis eclodindo e engolindo todos, realmente muita sorte. — completou ela ao se aproximar de mim e levar o lenço em sua mão até minha boca.

O tecido suave entrando em contato com meus lábios limpou o sangue.

— E-eu posso usar meus braços sabia?

— Seu físico é muito fraco, ter sobrevivido a uma explosão como aquelas foi um verdadeiro milagre então prefiro evitar que haja mais deslizes hoje. — Respondeu ela.

“Qual é a dessa mulher?”, pensei em constrangimento sentindo minhas bochechas entrando em vermelhidão.

— O-ok, me desculpe... de qualquer forma, aconteceu muita coisa enquanto estive desacordado?

A figura que se intitulava como Misa Hordrik me olhou com sua face sonolenta e entediada sem responder nada, me pergunto o que diabos ela estaria pensando olhando pra mim tão calada, tipo, me responde porra!

Ela deu um leve suspiro e então puxou o cobertor sujo de sangue de cima de mim.

— Aconteceram muitas coisas de fato, é meio complicado de explicar tudo.

Os olhos frios dela repentinamente se tornaram mais afiados enquanto o grande cobertor pousou sobre o chão levantando um pouco de poeira.

“Por que uma pessoa que mal conheço parece estar tão empolgada em me explicar algo? Talvez ela nem sequer está empolgada, foi só impressão minha? Eu realmente não sou bom lidando com gente fria.”

 Eu só desisti de procurar respostas em minha mente quando senti o calor do sol cobrindo todo o meu corpo.

— Iremos fazer um pequeno Tour amanhã, por hoje fique em repouso, — ela pausou olhando para o pano no chão, — e sobre o cobertor... eu pego um novo. — completou.

— Be-beleza então... espera, esse não é o foco! P-pode pelo menos me dizer que lugar é esse?!

— Só um minuto. — Me interrompeu.

Clink!

Quando percebi de onde veio esse repentino som, Misa Hordrik estava ascendendo um cigarro com um isqueiro negro na mão. A fumaça subiu rapidamente da pequenina bituca entre seus lábios que sabe lá quando foi parar ali.

Clank!

O barulho da tampinha de ferro fechando esvaiu a chama.

— Pode repetir? Eu estava ocupada. — disse ela com uma pequena nuvem evaporando de sua boca e uma expressão efêmera.

Eu fiquei incrédulo automaticamente.

— Mas que... porra?



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