Um Alquimista Preguiçoso Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


Volume 1

Capítulo 82: Um passado de glória

A segunda peça teatral trouxe um grande momento da Família Xu, quando eles ainda estavam no auge e seus combatentes eram guerreiros temíveis.

Na ocasião, uma Besta Demoníaca alada, detentora de asas com cerca de seis metros de envergadura e dotadas de penas negras, tão escuras que permitia a ave se camuflar na escuridão, descia todas as noites da Montanha Ancestral de jade para raptar um cidadão.

No começo, as Famílias estavam tendo dificuldades para abater a criatura, pois suas penas de pura tenebrosidade permitiam-na se esconder na escuridão intangível que cobria a cidade todas as noites, revigorada pelas altas árvores da Floresta das Mil Perdições, que parecia conspirar para jogar aquela região isolada no esquecimento e no caos, ofuscando as estrelas e o esquálido brilho da lua. Além do mais, a despeito de sua Energia Espiritual poderosa, a qual se encontrava na 2ª Camada do Reino Espirituoso, o monstro possuía a peculiar capacidade de passar despercebido pelos mais aguçados Sentidos Espirituais, tornando toda a caça um verdadeiro exercício de contemplar o céu noturno.

Após duas semanas de ataques e vinte pessoas desaparecidas, incluindo cultivadores, alguns até mesmo do Reino Virtuoso, foi decretado um toque de recolher ao cair do sol. Diante do perigo iminente, não houve discussões quanto à decisão. Estavam todos temerosos por suas vidas e pelo bem-estar de seus familiares.

Nos dias seguintes, uma grande campanha foi formada por todas as Famílias, cujos membros mais proeminentes foram obrigados a trocar o dia pela noite, passando as madrugadas acordados olhando para o céu.

Devido às diversas medidas tomadas, os ataques diminuíram, porém não cessaram. Em duas ocasiões, houveram grandes confrontos contra a besta, que conseguiu sair vitoriosa em ambas investidas, levando consigo a vida de alguns cultivadores, incluindo um Ancião Espirituoso da Família Xiao.

Quando completou um pouco mais de um mês desde o surgimento do monstro, a Família Xu decidiu montar uma armadilha diferente de tudo que havia sido tentado até então.

A primeira coisa que fizeram foi pedir para o povo da cidade apagar todas as lâmpadas a óleo e lanternas depois de um determinado período, com exceção do centro, que manteria algumas luzes acesas. Em seguida, armaram barris em pontos estratégicos, carregados de óleo.

Quando a noite chegou, praticantes mais fracos foram colocados para perambular pelas ruas, em times de três ou menos. Eles deveriam ficar andando ao redor das poucas áreas iluminadas e sempre próximos dos barris. Enquanto os mais fortes, incluindo Anciões, manteriam certa distância para não correr o risco de assustar a criatura voadora.

Tudo isso foi feito pensando no comportamento da Besta Demoníaca nos últimos tempos. Esses monstros não são dotados de uma inteligência significativa e na maioria dos casos, agem como animais comuns, seguindo certos costumes. Uma coisa que repararam era no fato de ela não invadir as casas. Seus ataques sempre focavam em pessoas que se encontravam em locais abertos, de fácil acesso.

Outro ponto importante de se notar era que, embora preferisse capturar suas vítimas em locais de pouca luminosidade, devido ao seu hábito noturno, não parecia temer entrar em regiões com luz baixa, contanto que fosse um espaço aberto, possibilitando entrada e saída rápida. E por fim, apesar do incidente envolvendo o Ancião dos Xiaos, a besta preferia atacar grupos fracos.

A primeira noite foi um fracasso, pois a Besta Demoníaca não apareceu e a segunda não foi diferente. Já na terceira, quando o som de asas tempestuosas reboou por toda a cidade, desaparecendo e reaparecendo em locais diferentes, todos tiveram suas atenções redobradas.

No instante em que o monstro alado deu um rasante silencioso em direção a um dos grupos, os combatentes da Família Xu foram avisados por linhas de rami que haviam sido presas sobre os telhados das casas, para funcionar como uma espécie de alarme. Tomando conhecimento de sua presença, um dos Anciões usou uma poderosa Técnica de Combate, passada entre as gerações.

A técnica envolveu parte do centro da cidade em um grande domo feito de pedras entrelaçadas, igual a uma gaiola arredondada, com frestas que não possuíam mais do que trinta centímetros de espaçamento. E, enfim, eles conseguiram prender a Besta Demoníaca em um lugar no qual suas ágeis asas não pudessem lhe proporcionar uma fuga bem sucedida. Afinal, mesmo cultivadores possuindo habilidades que os permitem voar, não tinham a menor chance contra aquelas asas de puro breu.

Mas essa foi apenas a primeira parte do plano. No momento em que o monstro foi enclausurado, aqueles servindo de isca acenderam os barris de óleo, liberando um poderoso fulgor por toda a área, obstruindo a visão da criatura que não estava acostumada a ser exposta a uma fonte de luz tão forte.

Por fim, três Anciões saltaram para dentro da gaiola de pedra, por uma abertura criada pelo usuário da técnica, e travaram uma batalha feroz, que resultou no ferimento grave de uma Anciã e na quase morte de um especialista Espirituoso da 1ª Camada. Só conseguiram alcançar a vitória após quebrar uma das asas do monstro e prender seu pescoço no chão usando uma Técnica Elemental da Terra.

Ao final da segunda apresentação, uma nova salva de palmas soou, elevando o espírito jocoso de toda a cidade. Embora trágicas as infelicidades do passado, as exibições serviam para lembrá-los de que sempre haveria alguém para protegê-los nos momentos conturbados.

Outra pequena pausa foi feita e logo a terceira peça começou.

A Família representada da vez foram os Xiaos. No cenário, a cidade desapareceu e as colinas da Montanha Ancestral de Jade, abraçada por parte da Cordilheira dos Tesouros de Viço, ganharam vida.

Foi um período tempestuoso. Na época, parecia que a Montanha Ancestral de Jade havia despertado na mais pura e odiosa fúria. Assolada por raios, que caiam dia e noite, mesmo sem a presença de uma única gota de água, o clima da região sofreu mudanças drásticas levando tensão e medo ao coração da população.

O que pareceu ser apenas uma das caóticas, porém, efêmeras mudanças climáticas, típica daquele lugar, perdurou por quatro dias seguidos, mantendo o povo desperto, incapazes de fechar os olhos e ignorar os retumbantes trovões que reverberavam por todo o território, fazendo a terra vibrar e o ar alvoroçar.

Embora fosse um clima atípico, mesmo para a Montanha Ancestral de Jade, ninguém esperava que algum desastre fosse acontecer. Na cidade, projetada contra a tela branca através da silhueta de uma extraordinária maquete, os cidadãos seguiam suas vidas cotidianas, a despeito dos trovões abafando suas vozes. O vendaval revolto, que descia morro abaixo, era bloqueado pelas altas paredes da muralha e, portanto, nenhum dano significativo atingiu a cidade.

Os únicos que enfrentavam algum advento eram as Famílias Xu e Xiao que não possuíam nenhum tipo de barreira para protegê-los dos tempestuosos ventos, que em seu apogeu, chegava a arrancar árvores do chão e arrastá-las ao longo da colina. No entanto, por se tratar de grupos formados em grande parte por cultivadores, isso ainda não foi um temporal digno de causar medo.

Numa tentativa de minimizar os danos causados, os Xiaos enviaram alguns praticantes para bloquear os destroços que rolavam montanha abaixo e os Xus montaram barreiras provisórias usando Técnicas Elementais da Terra.

No quarto dia, os raios pararam de cair e ao anoitecer, os trovões desapareceram, sem deixar qualquer sussurro da tormenta provocada. Os ventos continuaram por mais três dias, quando, tão de repente quanto apareceu, desapareceu. Após um dia de calmaria, tudo aparentava ter voltado ao normal; nenhum sinal de vento forte veio da montanha e o céu acima da cordilheira se abriu em um lindo e radiante tempo ensolarado.

Foi então que, no nono dia, o terror recaiu sobre a Família Xiao. Quando a noite chegou, a tormenta retornou ainda mais furiosa do que antes. Raios anormais choveram por toda Cordilheira dos Tesouros de Viço, trazendo relâmpagos e trovões que pareciam resultar da ruptura do céu. Uma massa cinzenta de nuvens aglomeradas, tão densa que passava a vaga impressão de ser palpável, igual a um amontoado de algodão sujo de fumaça cujos tufos podiam ser arrancados com a mão, cobriu o topo da Montanha Ancestral de Jade.

Embora a região naquele período não estivesse sofrendo de seca, pequenos focos de incêndio se formaram em locais distintos, porém eram instantaneamente extinguidos pelo vendaval forte, que arrastava troncos, galhos e pedras menores colina abaixo.

A forte tormenta que surgiu de repente na noite do nono dia, durou apenas um instante, um sopro efêmero vindo da boca do inferno. E quando ela se foi, um silêncio sepulcral atravessou a colina e atingiu a cidade, mergulhando toda região circundante numa espécie de quietude profana.

Foi nesse momento que surgiu. Descendo o lado noroeste da montanha em uma corrida desenfreada, uma pequena horda de Bestas Demoníacas atravessou os morros e prados, seguindo ensandecidas rumo a cidade. Observando o caminho traçado pelos monstros, eles atravessariam o território da Família Xiao e se chocariam contra a Muralha Protetora do Caos.

Na apresentação mostrada pelo Teatro das Sombras, parecia existir em torno de cinquenta a cem Bestas Demoníacas compondo a horda, mas segundo Xiao Shui, que não parava de comentar sobre a peça desde o início da terceira parte, foram mais de duzentas, todas atacando de uma única vez.

De acordo com Shui, essa fora uma batalha travada há muito tempo e uma das mais importantes da história dos Xiaos. É ensinado nos Salões Espirituais a respeito das consequências geradas por ela e as sequelas sofridas após o embate.

Na tela branca, armada por meio de improvisos, as sombras dançaram exibindo um espetáculo horrendo de terror e horror. Dezenas de Bestas Demoníacas, das mais diversas espécies, marchavam lado a lado, massacrando tudo que se punha em seu caminho. As mais fracas, não passavam de reles Mundanas, tentando acompanhar a manada, enquanto muitas se encontravam no Reino do Despertar e Virtuoso, alcançando as mais altas camadas.

Entretanto, como se já não bastasse o perigo representado pelo bando, entre os monstros existiam três que se destacavam. A mais fraca, tratava-se de uma besta quadrúpede na 3ª Camada do Reino Espirituoso, a intermediária era uma serpente gigante altamente venenosa Espirituosa da 6ª Camada. E a mais poderosa de todas era uma criatura feroz, de força extrema, que já tinha atingido a 4ª Camada do Reino Soberano do Despertar.

Conforme as sombras na cortina branca ondulavam e se transformavam, a história continuava, cada vez mais dramática e trágica. Os primeiros a confrontarem as bestas foram dois grupos liderados por Guardiões, responsáveis por assumir a frente do campo de batalha.

Devido a desvantagem numérica, os grupos atacaram separados, pincelando a horda em lados opostos, flanqueando e abatendo os monstros mais fracos, diminuindo seus números enquanto evitavam um confronto direto. A primeira investida se provou pouco eficaz em diminuir a velocidade da manada aterradora, que continuou varrendo, sem se importar com empecilhos.

À medida que o bando adentrou o território da Família Xiao, outros grupos liderados por Guardiões se juntaram à batalha e a cena seguinte tornou-se mais caótica. Mesmo conseguindo contornar a desvantagem numérica, os Xiaos passaram a sofrer perdas consideráveis quando defrontaram os monstros mais fortes.

Na busca de deter o avanço da horda, mesmo cultivadores Mundanos foram obrigados a entrar na batalha e a contagem de vítimas apenas cresceu, transformando os campos montanheses em um espetáculo de carnificina. Não demorou muito e os dez Anciões tomaram parte no conflito ao lado do Patriarca daquela época, Xiao Deming.

O embate contra as forças mais poderosas entre os cultivadores e as Bestas Demoníacas reverberou por toda a Cidade da Fronteira do Caos que, segundo as sombras dançantes na tela branca, a qual conseguia transmitir com uma realidade ímpar o evento há muito ocorrido, lançou luzes misteriosas no céu noturno e provocou estrondos ensurdecedores.

As outras Famílias desejavam se juntar a batalha, mas foram impedidas pelo medo do surgimento de uma segunda horda, sem falar que, criaturas estavam aparecendo de todos os cantos. Dessa forma, elas se limitaram a enviar alguns cultivadores para servir de apoio.

Nas encostas dos montes menores que faziam parte da cordilheira, a luta se espalhou por todos os lados. O Patriarca sozinho, na ocasião, um poderoso cultivador da 5ª Camada do Reino Soberano do Despertar, enfrentou a besta que estava apenas a uma camadas abaixo de sua Energia Espiritual. Enquanto os Anciões se dividiram para combater os demais monstros.

A batalha perdurou por horas, seguindo até o amanhecer. Novas Bestas Demoníacas surgiam a todo o momento, correndo desenfreadas colina abaixo. No topo da Montanha Ancestral de Jade, a massa cinzenta de nuvens se tornava ainda mais densa, espalhando seus tentáculos nas quatro direções e ofuscando parte da alvorada.

Quatro Anciões morreram, dos quais, três foram devorados pela serpente gigante. Naquele período, como fora relatado por Xiao Shui, a Família Xiao possuía cinco Supremos-Anciões, com dois deles sendo Soberanos nos estágios iniciais. E pela manhã, todos já haviam se juntado ao massacre decorrente da fúria dos monstros.

Foi apenas durante à tarde, quando a ventania soprou a massa cinzenta para longe, que a situação começou a melhorar. A Besta Demoníaca quadrúpede na 3ª Camada do Reino Espirituoso foi morta e outras pararam de surgir. Após isso, eles conseguiram subjugar a serpente, mas antes, um Supremo-Ancião foi envenenado e acabou por falecer, incapaz de lutar contra a alta quantidade de toxina injetada em seu sangue.

Enquanto isso, a criatura de força e ferocidade aterradora da 4ª Camada do Reino Soberano do Despertar, seguia lutando contra o Patriarca, que na tentativa de minimizar os danos, levou o duelo para longe do território da Família. Dois Supremos-Anciões se juntaram ao confronto, sendo que um deles também era um Soberano na 1ª Camada.

O conflito entre as forças foi devastador e implacável. Por mais que lançassem Técnicas de Combate poderosas, a criatura conseguia resistir a tudo e ainda impelir ataques dominantes e, a despeito de seu tamanho exagerado, sua velocidade e astúcia eram um risco a mais. Depois de diversas trocas de golpes, um dos Supremos-Anciões caiu, deixando os dois Soberanos para lidar com a situação.

O Patriarca foi severamente ferido, mas resistiu até o fim e conseguiu dar o último golpe na Besta Demoníaca. Ao término do confronto, quase metade dos praticantes da Família Xiao haviam perecido e os que sobreviveram se encontravam em circunstâncias deploráveis, com muitos tendo que ser carregados até os médicos para receberem tratamentos urgentes.

E para completar o desastre, os ferimentos do Patriarca foram tão graves que não conseguiu resistir àquela noite. A Família Xiao foi capaz de impedir uma catástrofe que poderia ter destruído toda a Cidade da Fronteira do Caos, mas em contrapartida, as consequências sofridas foram tremendas.

Conforme foi explicado por Xiao Shui, a qual fez questão de acrescentar informações ao longo de toda a apresentação, a assim chamada: “Batalha da Tormenta”; ocorreu há pouco mais de quinhentos anos e os efeitos gerados afetam a Família Xiao até nos dias atuais.

Naquela época, os Xiaos eram os mais poderosos das quatro Famílias, contando com Espiritualistas até mesmo entre os Guardiões, ao passo em que os Anciões se elevavam aos mais extraordinários níveis. Naquele período, acreditava-se verdadeiramente na possibilidade de que em breve eles poderiam vir a se tornar uma das grandes potências do Império Dourado. Porém, após perder metade de seus Anciões e dois Supremos-Anciões, bem como o próprio Patriarca, a Família enfrentou uma série de problemas, desde disputas internas e até a falta de recursos para cultivar.

Dos dois cultivadores sobreviventes do Reino Soberano do Despertar, um deles veio a falecer de enfermidade alguns anos depois e o outro assumiu o controle dos Xiaos. Por algum tempo, os requisitos necessários para se tornar um Ancião ou Supremo não foram preenchidos, deixando assim, a Família funcionando com somente metade da capacidade.

Logo após a morte do Patriarca substituto, alguns anos depois da tragédia, a Lei da Matança foi acolhida entre os familiares e quatro novas Famílias Secundárias foram integradas na tentativa de aumentar o tributo recolhido. Porém, isso só serviu para levá-los ao declínio e a selvageria. A escassez de recursos se agravou e o número de cultivadores diminuiu, devido à crescente mortalidade.

Foi apenas recentemente, depois que o Patriarca Enlai assumiu o controle, que a situação começou a mudar. Dos atuais dez Anciões, sete tiveram sua ascensão ao Reino Espirituoso após a mudança do regime e desses, quatro eram frutos diretos das novas mudanças.

O próprio pai de Xiao Shui, com seus quarenta e três anos, não chegou a testemunhar a Lei da Matança em pessoa e pôde desfrutar de um crescimento livre e de poucos riscos. O mesmo se aplicava a 2ª Anciã Ah-kum.

E, apesar dos três Supremos-Anciões, que viveram nesse período conturbado da Família, terem conseguido se tornar cultivadores poderosos, atualmente, com os seus talentos e os recursos adquiridos, acredita-se que eles poderiam ter se transformado em poderosos Soberanos.

Xiao Ning, o qual desconhecia essa história, pois nunca fez questão de frequentar os Salões Espirituais, ouviu tudo com bastante atenção e assim, começou a entender um pouco melhor o motivo que levou os Xiaos a ficar na atual situação. As rixas internas vinham de uma época passada, em que ressentimento e incerteza eram grandes. E por se tratar de uma mudança recente, causada pelo Patriarca Enlai, a insegurança e descrença presente era grande, levando muitos membros a questionar e desconfiar dos métodos adotados.

É claro, essa ainda é uma avaliação supérflua da situação interna, mas a partir deste ponto, já se faz possível especular outras perspectivas e entender um pouco mais a problemática.

Ouvindo as explicações da irmã, Xiao Chan decidiu se juntar à conversa e adicionar um pouco mais de conhecimento. De acordo com ele, o Patriarca daquela época foi um dos mais fortes e respeitados que já passou pela Família Xiao. Sua queda levou a diversos rompimentos de tratados comércios envolvendo outras Famílias e Seitas. Por causa disso, os Xiaos tiveram muitas dificuldades em fazer negócios, resultando na diminuição de capital e no empobrecimento dos recursos obtidos.

Além do mais, aproveitando do enfraquecimento deles, as demais Famílias da Cidade da Fronteira do Caos aumentaram o próprio comércio ao roubar alguns de seus parceiros mais antigos, o que gerou uma pequena contenda, ocasionando em conflitos violentos. Porém, tudo se resolveu após negociações serem feitas.

Outra coisa importante que ele citou, a qual, de certo modo, Xiao Ning já possuía um breve conhecimento, afinal cresceu como um Xiao, foi um dos motivos das rixas internas terem aumentado, as quais perduravam até os dias de hoje.

A Família Xiao é uma organização montada a partir de outras Famílias. Explicando melhor, há muito tempo, milhares de anos no passado, dez Famílias de porte menor se juntaram para aumentar o seu poderio de combate. Elas decidiram adotar um novo sobrenome que pudesse agradar a todos, dando assim, origem a entidade surgente conhecida como “Xiao”.

Para evitar os conflitos gerados por uma aliança tenra ― afinal, é esperado alguma tensão quando poderes independentes se unem ―, foram estabelecidos dez cargos empoderados, que deveriam ser assumidos por um representante de cada uma das ramificações. E, esses dez empoderados detinham o papel de eleger alguém entre eles para assumir o dever de líder de toda a Família.

Deixando de lado as dificuldades apresentadas naquela época, com o passar do tempo, outras Famílias foram integradas à entidade conhecida como “Xiao” e a “Família” cresceu de maneira exponencial. Essa expansão trouxe diversas mudanças no núcleo interno e uma delas foi o abandono da tradição de eleger um descendente direto dos ramos originais. No entanto, eles ainda existiam e detinham poder e influência considerável.

Após a queda do Patriarca que marcou toda uma geração, a Família entrou numa disputa para decidir aqueles que assumiriam os cargos de Anciões e os ramos primários, os mais tradicionais que perdurava desde a criação dos Xiaos, achavam-se no direito de tomar a frente da organização, mesmo não tendo descendentes capazes de atender os requisitos mínimos de poder.

Essa disputa aumentou ainda mais os problemas internos e aqueles vindos de “Famílias Secundárias”, no decorrer do tempo, passaram a ser marginalizados pelos “descentes”, gerando assim, o presente quadro encontrado nos dias atuais.

Mesmo não existindo mais regras que impedem os praticantes vindos de outras subdivisões de assumirem postos como: Ancião/Anciã; Supremo-Ancião/Anciã; Patriarca ― sendo o único requisito ter o cultivo mínimo em um determinado nível, alguns dos poucos descendentes das ramificações originais seguem competindo pelo controle, inferiorizando todo o resto.

Xiao Ning sabia que quando os “Xiaos” foram criados, tudo começou com a união de dez famílias. Esse era um conhecimento comum que se aprende desde criança. Ainda assim, as partes mais detalhadas envolvendo a hierarquia por trás dos postos da Família eram algo desconhecido para ele.

Contemplando o cenário completo, ficava cada vez mais claro o motivo da rixa interna. Era como já havia pensado no passado: Não passava de um bando de velhos apegados aos dias de glória, que não estavam dispostos a abrir mão do poder.

No palco, as apresentações continuaram e desta vez a Família representada seria os Qins.

As sombras desenhadas por meio dos contornos dos bonecos ganharam formas distintas e uma nova história teve início.

Diferente das outras exibições, essa trazia, como personagem principal, uma pessoa que ainda estava viva e atuando com todo o seu poder. E essa era a Matriarca Annchi, entre os quatro líderes, era ela quem se mantinha no poder há mais tempo e sua força atualmente era tão poderosa quanto séculos atrás.

A narrativa acontecia em torno de cento e cinquenta anos no passado, quando a Família Imperial elegeu um novo sucessor, que governaria sobre o Império Dourado até os dias modernos.

Na ocasião, os líderes das outras Famílias e muitos de seus Anciões foram até a capital do império, levando consigo diversos cultivadores para prestar homenagens e levar oferendas, o que resultou na queda das defesas da cidade, deixando muitas áreas antes vigiadas, desprotegidas e vulneráveis a ataques. Sem falar também que, na falta de seus comandantes, diversos praticantes relaxaram, abaixando a guarda.

A Matriarca Annchi foi a única que não compareceu na cerimônia de posse do imperador; não gostava desse tipo de coisa, achava que esses eventos só serviam para bajulações sem sentido e o sujeito em questão, não tinha lá uma das melhores reputações. Então, decidiu permanecer na cidade e não obrigou nenhum de seus Anciões a participarem.

O incidente ocorreu alguns dias após os demais partirem para a capital. Tudo começou quando algumas Bestas Demoníacas Despertadas, vindas da Floresta das Mil Perdições através do territórios dos Zhans, conseguiram passar despercebidas pela patrulha, escalar a muralha e atacar a zona residencial sudeste da cidade.

O caos foi instantâneo, resultando em inúmeras mortes de Mortais que não conseguiram se proteger. Por sorte, os cultivadores responsáveis por manter a segurança interna chegaram rápido ao local e confrontaram os monstros, impedindo o avanço das criaturas até a chegada de praticantes mais poderosos ― afinal, os patrulheiros são compostos por pessoas de cultivo baixo, já que os mais fortes são encarregados de vigiar as zonas perigosas, fora dos muros.

O incidente foi considerado uma lamentável tragédia e isso levou os membros remanescentes das Famílias a ficarem mais atentos. Porém, a deficiência causada pela falta de cultivadores Virtuosos e Espirituosos não pôde ser amparada, de modo que o segundo incidente ocorreu dois dias depois.

A Família Xu já vinha sofrendo com a falta de especialistas competentes há algum tempo e a nova geração não parecia promissora. Naquele período, o único Espiritualista entre eles era o seu Patriarca, que apesar da idade avançada, tinha conseguido ascender ao novo Reino apenas recentemente.

Além dele, existiam apenas sete cultivadores do Reino Virtuoso e após a saída dos líderes para a capital, somente um ficou para trás, para manter a proteção da Família. Contudo, durante à noite daquele dia, quatro Bestas Demoníacas do Reino Virtuoso, com uma delas sendo da 5ª Camada, cruzaram a divisa entre a Montanha Ancestral de Jade e a Floresta das Mil Perdições, passando pelo campo de cinamomos, e invadiram o território da Família Xu.

Os membros estavam indefesos contra a ferocidade dos monstros e mesmo o único que poderia rivalizar com as criaturas, apesar de ser mais fraco do que aquela da 5ª Camada, morreu logo no início da batalha, deixando os outros Xus indefesos. Sem líder e um cultivador poderoso para orientar, não demorou muito para um massacre unilateral começar.

A Família Xiao tentou enviar ajuda, mas devido aos conflitos internos crescentes, eles também estavam sem muito pessoal. Foi apenas quando um Ancião da Família Qin foi envidado pela Matriarca que as coisas se acalmaram, mesmo assim, a perda para os Xus foram grandes e eles não se encontravam mais na condição de manter uma patrulha ampla ao redor de seu território.

E então, talvez tenha sido trazida pelo cheiro de sangue que marcou o ar naqueles dias ou talvez tenha sentido a ausência da aura daqueles poderosos que sempre circundavam a área ao redor da cidade, mas uma Besta Demoníaca do Reino Espirituoso da 4ª Camada deixou as partes mais distantes da Floresta das Mil Perdições e rompeu a entrada leste da Muralha Protetora do Caos.

O ataque foi tão repentino que os responsáveis por vigiar os portões da entrada leste, incluindo alguns do Reino Virtuoso, não tiveram a menor chance de frear a invasão ou sequer chamar ajuda. O monstro atravessou a muralha e invadiu a cidade, destruindo casas e estabelecimentos e massacrando a população.

Se fosse em dias normais, mesmo que uma besta adentrasse o imponente muro de pedra, ainda existiria cultivadores forasteiros capazes de parar sua fúria e até mesmo derrotá-la, afinal, um número considerável de viajantes passavam por aquelas áreas e todos possuíam um grau de poder respeitável.

Porém, a cerimônia de posse do novo imperador estava acontecendo e muitos haviam migrado para a capital, deixando a Cidade da Fronteira do Caos sem o seu costumeiro tráfego. Por causa disso, o monstro espalhou a destruição por todos os lados, devorando e assassinando pessoas ao seu bel-prazer.

Perante uma besta tão poderosa, as outras Famílias ficaram indefesas e não conseguiram reagir a tempo de evitar o aumento da catástrofe. Tão logo quanto foi possível, os praticantes mais fortes dos Qins se prontificaram para mitigar a situação.

Sob o comando da Matriarca Annchi, grupos foram formados e assumiram papéis distintos: os mais fracos, aqueles no Reino do Despertar, deveria orientar a população e ajudá-los a evacuar para uma região mais segura; enquanto os do Reino Virtuoso e acima ficaram encarregados de vigiar a parte danificada da muralha para garantir que outras bestas não entrariam, ao mesmo tempo em que uma parte deveria se dividir e investigar os arredores da floresta para ter certeza de não existir mais nenhuma do Reino Espirituoso se aproximando.

Enquanto isso, a Matriarca se dispôs a enfrentar sozinha a Besta Demoníaca.

A Família Qin era conhecida por formar guerreiros poderosos e resilientes. Eram pessoas orgulhosas que acreditavam em enfrentar adversários do mesmo nível por conta própria. Não aceitavam ajuda de terceiros, mesmo sendo seus familiares. E naquela época, Qin Annchi já estava na 4ª Camada do Reino Espirituoso. Como Matriarca, seria uma vergonha depender de seus subordinados para enfrentar um monstro de nível igual.

Embora parecesse uma atitude imprudente (e de fato era, afinal, quando no mesmo nível, Bestas Demoníacas são mais fortes do que cultivadores humanos), a Matriarca tinha plena consciência de que uma batalha de tais proporções poderia destruir toda a Cidade da Fronteira do Caos.

Pensando nisso, seus ataques foram impiedosos e precisos, mirando sempre em pontos vitais ou em locais que já havia atingido. Não poupou Energia ao desferir suas Técnicas de Combate mais poderosas em sequência, visando derrotar seu oponente o quanto antes. Da mesma maneira, conduziu o monstro de modo a não deixá-lo destruir os locais intactos, evitando aumentar a devastação.

A despeito da poderosa criatura, o embate não se estendeu por muito tempo, mas nos poucos minutos do feroz confronto, uma cena de aniquilação e subjugação pôde ser testemunhada, conforme ondas de choque reverberavam pelo solo, abalando as estruturas próximas. Dizem que até hoje, no canto sudeste da Muralha Protetora do Caos, é possível notar fissuras decorrentes das poderosas habilidades usadas por Qin Annchi.

No final da batalha, ao sair vitoriosa, a Matriarca da Família Qin se tornou um das poucas praticantes em toda a história da Cidade da Fronteira do Caos a vencer uma luta contra uma Besta Demoníaca do Reino Espirituoso num embate frontal e sozinha.

Quando a penúltima exibição teatral chegou ao fim, uma salva de palmas calorosas se ergueu, primeiro para os marionetistas e depois para o palanque, com milhares de olhos voltados para Qin Annchi, a qual retribuiu a afetuosa saudação dando um singelo aceno para o público.

E então, pela última vez, uma pequena pausa foi feita enquanto os marionetistas se preparavam para começar a próxima apresentação.

Todos os anos em que a abertura do Festival da Geração do Caos era feita por meio do Teatro das Sombras, as quatro primeiras peças retratavam um evento importante na história de cada uma das Famílias que teve ligação direta com a cidade e era sempre um conto diferente, dos já exibidos antes.

No entanto, a última exibição nunca mudava. Trazia a mesma lenda em todas as ocasiões.

Na tela branca, um lindo cenário foi projetado. Em meio às sombras, um mundo onírico feito de palácios e cidades flutuantes e criaturas divinas ganhou vida. Das nuvens, retratadas por borrões, uma vasta cachoeira despencava do céu, enquanto carpas subiam a correnteza e se transformavam em poderosos Long celestiais. Torres tão altas que pareciam tocar as estrelas se elevavam a alturas absurdas.

Todo o cenário montado havia sido construído com uma beleza magnífica que transcendia o mundo dos mortais, formando paisagens celestiais.

A primeira parte da última peça focou em demonstrar toda a grandeza daquele mundo celestial, transitando por panoramas belíssimos e dando vida a criaturas deificadas, que voavam e dançavam livremente através das nuvens, dando voltas e mais voltas pelo céu.

Em seguida, figuras de contornos humanoides começaram a ganhar forma. Homens e mulheres deslumbrantes, adornados das mais lindas e refinadas vestimentas e joias, vivendo em harmonia perfeito com a natureza, controlando raios, tempestades e furacões com o simples movimento dos dedos, ao mesmo tempo em que o amor a paz e a virtude eram espalhadas para todos os cantos do mundo terreno e celestial.

No total, notava-se a silhueta de vinte e três figuras, tão deslumbrantes, perfeitas, divinas, que pareciam fazer parte de um devaneio oriundo de mentes cativas da mais pura e surreal fantasia.

Os seres celestiais viviam em paz uns com os outros, repartindo, presenteando, agradecendo, ajudando; tudo seguia no mais perfeito equilíbrio. E assim foi por muito, muito tempo.

E então, as sombras se deformaram e um novo quadro se formou. Longe de seus companheiros, um dos seres celestiais passou a ser o foco da trama. Esgueirando-se por lugares velados, o ser de aspecto ambíguo, como se escondesse algo em sua própria estrutura corporal, deixava escapar sua verdadeira face.

As sombras tremularam e uma coisa horrenda, que gargalhava perversamente, surgiu. Longe da vista dos companheiros, a Coisa conduzia experimentos de caráter duvidosos ao passo em que suas intenções nefastas eram transmitidas por um vulto mais acentuado, triangular nas pontas, que de tempos em tempos deixava escapar uma risada maliciosa.

E assim, mais uma vez as sombras se transformaram. De volta ao foco estavam os outros seres, vivendo como de costume no mundo celestial. Foi quando, de repente, a ambientação mudou e a luminosidade da tela branca caiu, mergulhando aquele paraíso utópico em uma obscuridade amaldiçoada.

Dos altos picos celestiais, monstros abomináveis, desfigurados pelo vulto amorfo, surgiram devastando os resplandecentes pastos divinos e devorando com um apetite insaciável as criaturas abençoadas pelos céus.

Pegos de surpresa com o ataque repentino, os seres celestiais se assustaram e procuraram refúgios na companhia uns dos outros. Conforme a devastação se espalha pelos campos divinos, derrubando os palácios, as cidades e ruindo as torres, parecia que a guerra maldita seria vencida pelos abomináveis monstros. Porém, eles eram Deuses e se elevavam acima de qualquer criatura.

Juntos, os vinte e dois Deuses que prezavam pela paz e harmonia, lançaram um contra-ataque implacável, subjugando e purificando as criaturas malditas. No entanto, o vigésimo terceiro, aquele que conduzia experiências profanas, não deixaria suas criações serem destruídas e então entrou na batalha.

A guerra entre os Deuses durou por meses e todo o continente foi assolado por tempestades e desastres naturais. Mesmo estando em desvantagem, o maldito vigésimo terceiro resistiu usando de trapaças e comandando sua hedionda tropa para lançar ataques furtivos.

Mas, no fim, a justiça prevaleceu e os vinte e dois Deuses benevolentes venceram. O vigésimo terceiro pereceu no campo de batalha e as abomináveis  criaturas fugiram para o mundo dos mortais. E desta forma, a última apresentação acabou.

Quando a exibição terminou, novamente uma onda de ovação se ergueu do público, contando com a participação entusiasmada de Xiao Ning, muito embora, uma parte crucial tenha sido deixada de fora.

Xiao Ning não precisava ver a continuação da peça para saber o que acontecia depois na história. Mesmo ele sendo ignorante para muitos dos assuntos envolvendo o Império Dourado e até a própria Família, essa era uma fábula conhecida não apenas em todo o Continente Dourado, mas também em quase todos os outros locais que visitou em sua vida passada.

Dependendo da região, alguns aspectos da lenda mudavam, como a paisagem, a maneira com que o ataque começou, o que motivou o deus maligno a iniciar seu plano e, em certos locais, alguns dos Deuses possuíam um segundo nome, diferente daquele conhecido no linguajar popular.

Entretanto, o núcleo central da história era sempre o mesmo.

Depois de derrotar o Deus que se perdeu para pensamentos maliciosos, as criaturas foram para o mundo dos mortais e começaram a caçar os humanos. Indefesos, eles não tiveram outra escolha a não ser orar para os céus, pedindo por ajuda.

Benevolentes, os Deuses atenderam as orações e desceram ao mundo dos mortais onde travaram uma batalha sem fim contra os monstros nefastos. Para ajudá-los, as criaturas celestiais foram convocadas e uma guerra se instaurou por todo o mundo. No caso da lenda contada no Império Dourado e nos outros estados soberanos vizinhos, as pessoas acreditam que essa batalha ocorreu no Continente Central. Afinal, a existência de continentes distintos é desconhecida para eles.

Porém, gananciosos, os humanos invejaram os poderes dos Deuses e usurparam uma fagulha de seus dons, nascendo assim, os primeiros Cultivadores. Irados pela traição, os Deuses ordenaram que as criaturas celestiais permanecessem no mundo dos mortais, fazendo dessa raça odiosa, movida pela cobiça, seus inimigos e assim voltaram ao mundo celestial. E, embora os monstros ou “Demônios” tenham sido obliterados, deles nasceram as Bestas Demoníacas.

Os monstros gerados pelos Demônios, proliferaram e se espalharam por todo o Continente Central. Os humanos conseguiram o poder para enfrentá-las, mas nunca foram capazes de se livrar das bestas, que constantemente traziam medo e terror para as pessoas. E quanto às criaturas celestiais, conhecidas como Feras Mágicas, elas vagavam por terras remotas, destruindo com seus poderes divinos qualquer humano que se colocasse em seu caminho.

Xiao Ning aplaudiu o fim da peça com um genuíno entusiasmo, pois a apresentação e a composição geral haviam sido esplêndidos. No entanto, a história narrada por meio das sombras estava longe da realidade... talvez, nem tanto.

Em primeiro lugar, os Deuses não eram existências que viviam em outro plano. Eles sempre estiveram no meio dos humanos, e sim, eram tão reais quanto qualquer outra pessoa naquela cidade, embora, ainda assim, divindades. Foi graças a um Artefato criado por uma dessas entidades que ele conseguiu retornar dos mortos e voltar para o passado ― o assim chamado, Tesouro Divino: Retorno do Herói.

Em sua vida passada, durante a Guerra do Extermínio, atuando sob o domínio do Reino de Atlântida, Xiao Ning orquestrou e comandou diversas expedições em busca de algo que pudesse ajudá-los a ter uma vantagem e apesar de jamais ter encontrado nada significativo, foi numa dessas buscas que encontrou o Artefato Mágico que o permitiu se salvar de um definitivo fim agonizante.

E muito embora nunca tenha descoberto a origem dos Deuses ou sequer sabia se eles possuíam uma, Xiao Ning tinha plena confiança de que um dia eles existiram. Porém, agora, estavam todos mortos.

Há muito tempo, éons no passado, uma grande guerra aconteceu entre os Deuses e o Deus da Desolação, que resultou em uma catástrofe sem precedentes, levando o mundo todo ao caos.

O Deus da Desolação foi selado e seu exército demoníaco perdeu as forças e se espalhou pelos quatro cantos. Contudo, a despeito de terem sido “vitoriosos”, os Deuses que saíram em defesa da humanidade morreram.

Após o selamento do Deus da Desolação, os demônios que ele comandava se refugiaram, evitando conflitos e ficando escondidos por milhões de anos. Por esse motivo, a existência dessas criaturas é tida como uma abominação do passado, extinta há éons, por muitas regiões, incluindo o Continente Central, afinal, fazem muitas eras que ninguém se depara com um. Mas eles ainda estão vivos, vagando pelas sombras.

Ao menos, foi isso que Xiao Ning descobriu ao longo de milhares de anos de pesquisa.

No instante em que a última apresentação se encerrou, as cortinas foram rapidamente desmontadas e o palco se viu mais uma vez livre.

Neste momento, o Patriarca da Família Zhan chegou ao parapeito da plataforma e, sem qualquer tipo de hesitação, saltou. Mas antes que atingisse o chão, começou a flutuar, espalhando sua aura sobre os presentes.

Voando por cima do palco, Zhan Tengfei aguardou um instante, até que todos se calassem e prestassem atenção nele.

― Como sempre, esse foi um espetáculo magnífico, digno de ser a abertura de um evento tão importante. ― Sua voz ecoou poderosa pela multidão e seus olhos dirigiram uma singela saudação aos marionetistas, que estavam parados próximos da plataforma. ― Mas nós já aguardamos demais e tenho certeza que nossos prodígios estão ansiosos para se provarem. Como de costume, os vinte e cinco competidores virão agora se reunir no palco para que vocês os conheçam e se lembrem de seus rostos, enquanto eu explicarei as regras e exibirei a lista de quem lutará contra quem.

Seguindo as palavras do Patriarca Tengfei, os participantes começaram a deixar o tablado, conforme um renovado clima festivo contagiava o lugar. Estavam todos empolgados, pois logo as disputas começariam.

 


Niveis do Cultivo: Mundano; Despertar; Virtuoso; Espirituoso; Soberano do Despertar; Monarca Místico; Santo Místico; Sábio Místico; Erudito Místico.

 


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