Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Koto Tenske


Volume 1

Capítulo 10: O Ninho de Goblins.

Tyler acordou amanhecendo o dia, ele saiu da barraca e foi conversar com o caçador. 

— Será que você pode achar o ninho deles? 

— Eu já andei muito por essas partes, há poucos locais onde um ninho de goblins pode se abrigar, se a moça nos levar mais ou menos próximo de onde ela fugiu, eu posso nos levar lá. — Noeru foi muito confiante ao afirmar. 

Vendo a confiança nos olhos do homem Tyler não duvidou, há muito ele já tinha aprendido o valor de um perito local. 

Tyler entrou de volta na barraca e a moça já estava acordada. — Olá, dormiu bem? — Ele quis saber. 

— Sim obrigada… — A moça ainda estava bem tímida. 

— Eu sei que você pode estar com fome, mas eu queria fazer alguns testes para saber se você está realmente bem. 

— Testes? — Ela perguntou assustada. 

Tyler usou a palavra teste em vez de exame pois achou que seria mais fácil dela entender. — Não tem com o que se preocupar, apenas faça o que eu te pedir. 

Ela assentiu, Tyler retirou seu estetoscópio. — Isso é para eu ouvir seu coração, olha aqui como é. — Ele colocou as olivas no ouvido dela e o diafragma em seu peito. — Vê como dá para escutar o coração bem direitinho? 

Ela assentiu novamente, Tyler estava usando as mesmas táticas que se usa em crianças. Ele já havia mentido na noite anterior sobre seus “problemas masculinos”, fazer com que o paciente se sinta bem é sempre a prioridade do médico. 

— Minha vez. — Tyler ajustou o aparelho nos ouvidos. 

— Hum… — Ela tremeu quando ele colocou o estetoscópio na pele dela. 

— Gelado? 

— Sim… — Ela disse, mas não era só isso, havia um homem tocando-a em uma parte bem privada de seu corpo. 

Tyler checou o coração. — Agora encha o peito de ar e segure. 

— Shiii… — Ela puxou todo ar que conseguiu e segurou fazendo com que suas bochechas ficassem estufadas. 

— Muito bom, agora solte. — Tyler ia falando enquanto mudava de pulmão. — Mais uma vez. 

— Diga trinta e três para mim. 

— Trinta e três… 

— Muito bom, espere só mais um pouco, estou terminando. 

Agora Tyler dava pequenas batidinhas entre as costelas. Tanto essas batidas quanto dizer o número trinta e três eram muito importantes, as batidas entre as costelas é um procedimento chamado percussão torácica, ele indica se o pulmão está cheio de ar ou se tem alguma obstrução, quanto mais o som se parecer com um “tambor”, melhor. 

Dizer o número trinta e três não é aleatório, a ressonância provocada pelo som das sílabas “erres” pode mostrar se há um acúmulo de secreção, muco ou líquido nos pulmões. 

— Estou indo bem? — A moça perguntou incerta. 

— Muito bem. — Tyler brincou. 

— Agora eu vou te mostrar uma luz, siga ela com os olhos, acha que pode fazer? 

— Sim. — Krinna parecia mais confiante. 

Esse exame é bom para saber as respostas das pupilas, dá para ver também se a pessoa tem anemia, icterícia, ou se recebeu alguma pancada forte na região da cabeça. 

— Estamos quase lá. — Depois disso Tyler começou a examinar os grânulos linfáticos, esses dois carocinhos de uva que ficam na parte de cima da garganta são um bom indicativo se o corpo está com alguma infecção. 

— Segure isso na boca enquanto eu vou por isso no seu dedo. — Tyler colocou o termômetro nela, e um medidor de oxigênio. Ontem ela tinha uma febre baixa, mas hoje parece que estava tudo bem. E o medidor também não mostrava nada demais. 

— Pronto já acabamos, doeu? — Ele perguntou. 

— Não… você é um médico estranho. — A moça parecia confusa. 

— Eu tenho cara de estranho? 

A moça ficou envergonhada e tentou se redimir. — Não, você não, são seus aparelhos e a forma como age, nunca tinha visto um médico agir assim. 

— Ahh… isso não é nada, é porque eu venho de muito longe, é assim que tratamos das pessoas lá. Está com fome, podemos trocar seus curativos depois que comer. — Tyler tentou mudar o assunto. 

— Obrigado, já posso me levantar? 

— Já, venha para fora quando quiser. — Tyler saiu, agora que ela falou, ele percebeu que talvez ela quisesse usar o banheiro. 

Os dois já estavam sentados ao redor de uma fogueira quando Krinna voltou de seus afazeres. 

— Olá, eu sou Noeru — disse o caçador se apresentando. 

— Krinna, muito prazer, obrigada por me salvarem. — Krinna agradeceu de coração. 

— Não há de que, o mestre me disse que havia mais algumas mulheres em seu grupo. 

— Sim… — A menina disse tristemente pensando nas amigas. 

— Não se preocupe, eu e o mestre vamos trazê-las de volta. 

— Como? Vocês são apenas dois. — Krinna não sabia o que dizer. 

O fato era que ontem a moça já estava machucada e tinha corrido por um longo tempo tentando salvar-se. Quando ouviu a voz de Tyler ela sentiu um raio de esperança então sucumbiu ao cansaço. 

— Não se preocupe, o mestre é um homem cheio de surpresas, ele definitivamente pode dar conta desses vermes. 

Embora ela não estivesse confiante, achou melhor não confrontá-los. 

Depois de comerem, Tyler pediu para eles se arrumarem, pois queria fazer o máximo possível enquanto ainda era cedo. 

Tyler pensou em trocar os curativos hoje, contudo viu que não havia tanta necessidade e, também viu que talvez fosse possível ter que fazer muitos curativos e um futuro próximo, então era melhor racionar. 

— Krinna, você acha que consegue voltar até o local de onde fugiu? — Ele quis saber. 

— Consigo sim, quer tentar chegar ao ninho dos goblins, não é? — Ela adivinhou. 

— É sim. — Tyler confirmou. 

— Eu sei onde é. — Krinna disse. 

— Você sabe??!! — Os dois exclamaram ao mesmo tempo. 

— Sim, todos em Atazar sabem, o senhor da cidade não permite que aquele ninho seja extinto por medo de uma retaliação dos trolls. — Krinna confessou. 

— Então não haverá problema, os trolls vão ser mortos em pouco tempo. 

— O rei vai mandar um exército? — A moça perguntou esperançosa. 

— Não, eu vou matá-los sozinho. 

Com o queixo caído ela não conseguiu falar nada. 

Como o ATV levava apenas duas pessoas, Tyler ia dirigindo com Krinna do lado enquanto o caçador ia em pé se segurando na caçamba traseira. 

Em mais ou menos uma hora e meia eles chegaram a encosta de uma pequena montanha. 

— Se seguirem reto vão ver a entrada. — Ela informou. 

Tyler viu medo nos olhos da jovem. — Noeru fique aqui e proteja o local, eu vou entrar. 

— Mestre é perigoso, deixe-me ir junto. — O caçador implorou. 

— Então vamos fazer assim, eu entro enquanto os dois ficam na entrada, matem tudo que queira entrar ou sair. 

— Certo. — Parece que os dois estavam de acordo com a ideia. 

Tyler foi para trás do carro e tirou os equipamentos. Em primeiro lugar ele colocou um colete tático, nos bolsos ele foi enchendo do que era mais necessário agora… munição. 

Encheu com todos os pentes que tinha tanto para a Glock quanto para o M-4. Retirou seus óculos de visão noturna e o fixou no capacete. 

Quanto ao rádio, ele utilizou uma extensão, um laringofone. O laringofone é um acessório muito utilizado pelas forças especiais, é como se fosse uma “coleira” que se ativa com a vibração causada pelas cordas vocais, e o som vai direto para o ouvido por um fone que filtra a maior parte dos ruídos externos. Isso permite ao usuário sempre ter as mãos livres. 

Tyler testou os acessórios da sua Glock, como o ninho era em uma caverna obviamente seria bem escuro, Tyler colocou a lanterna da arma em modo strobo. O strobo é um modo de funcionamento geralmente presente em lanternas militares, um feixe de luz muito potente fica piscando de forma intermitente, isso confunde e desorienta o inimigo. E talvez o mais importante acessório eram os silenciadores, Tyler só tinha para ele mesmo, essa era uma das razões dele não trazer o caçador junto. 

Tyler agora tinha uns quinze quilos de equipamento em seu corpo, porém esse era um peso considerado leve. Alguns soldados em missões podiam levar até quarenta quilos de equipamentos. 

Tyler dirigiu o carro para mais perto, quando parou bem na frente da entrada ele disse. — Fique aqui na entrada, mate tudo que não for humano! Vamos nos falar pelo rádio, lá dentro ele pode falhar um pouco, então não fique assustado se eu demorar para responder. 

— Entendi mestre. — Noeru respondeu. 

Tyler pegou um morango que tinha guardado e o comeu. 

“Tenho que estar cem por cento.” Ele pensou. 

— Estou indo. — Ele se despediu. 

Antes de Tyler entrar a moça gritou. — Por favor, não morra! 

Ela estava vermelha e parecia arrependida de ter gritado aquelas palavras. 

— Não vou, é dever de um homem voltar seguro quando tem alguma mulher preocupada com ele! — Tyler riu e entrou na escuridão. 

As palavras do velho fizeram a moça ficar mais envergonhada ainda, agora ela realmente estava arrependida de ter falado aquilo. 



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