Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 89: Truque de mágica.

Pelo que Tyler sabia, havia entre as tribos indígenas brasileiras um ritual de passagem bem doloroso…

Para começar, existe uma certa formiga na amazônia que se chama tocandira. Seu significado na língua nativa significa picada que queima. Ela é uma das poucas espécies de formigas que picam. Sim, isso mesmo.

Essa formiga é basicamente uma vespa sem asas, sua picada está classificada como uma das piores dores que existe, quem já teve o “prazer” de ser ferroado, diz que é como um prego em brasas entrando na sua carne!

Desmaios, vômitos, febre e alucinações são muito comuns de se ter após uma simples picada ( isso se você não for alérgico). O ritual consiste com os índios fazendo uma armadilha de palha perto do formigueiro, depois que centenas delas são capturadas eles as jogam em uma tigela com um extrato de planta que possui um poder sedativo muito forte.

As formigas “bêbadas e desacordadas” são encaixadas em luvas de palha, como a palha é trançada cada inseto fica preso nos cruzamentos.

Para completar, um chá com ervas alucinógenas é servido a um garoto de 14 anos com duas dessas luvas para dançar ao redor de uma fogueira enquanto tem que manter os braços erguidos.

Se o jovem conseguir passar nesse teste sem chorar ou mostrar algum sinal de fraqueza, é aceito na tribo como um guerreiro.

É claro que isso era lá na Terra, como seria aqui?

Tyler estava torcendo que fosse isso. Como ele era imune aos venenos, ele acreditava que não sentiria nada mais que a picada física causada pelo próprio ferrão.

“Então, como vai ser o ritual?” Tyler perguntou.

“Dentro da floresta existe um ninho de aranhas negras, o seu teste será conseguir pegar um ovo desses e trazê-lo.” O cacique respondeu.

“Só isso?” Tyler ficou animado, talvez esse teste seria muito mais fácil do que ele pensara.

“Já ouvimos falar sobre seus métodos e armas, para ser justo você não deve usar nada mais que uma espada.” Upiara falou.

Tyler a muito já sabia que sua fama tinha chegado longe, mas essa foi a primeira vez que ele lamentou por isso. “Está bem e quanto as armaduras e proteções?” Ele quis saber.

“Podemos lhe dar armaduras nossas feitas de pele de bestas.” Ubatã respondeu.

“Se é assim eu aceito.” Tyler não sabia bem dos riscos, contudo aceitou mesmo assim.

Normalmente um cachorrinho para uma criança não valeria tal perigo, mas desde que Tyler começou a vir para esse mundo ele se sentia cada vez mais “aventureiro”, às vezes ele ficava animado só com a possibilidade de ter algum desafio. Atualmente, não havia ninguém que o desafiasse em uma luta corpo a corpo e isso o chateava. Ele parecia um garoto de 18 anos cheio de testosterona querendo extravasar.

 

***

 

“Então é aqui.” Tyler falou alto quando se viu perto do ninho das aranhas.

A tribo tinha lhe dado uma jaqueta grossa de couro e um peitoral também de couro, entretanto um detalhe interessante do peitoral foi que ele era de couro endurecido.

Tyler ficou bastante impressionado com a qualidade do material, é claro que não havia comparação com sua armadura high-tech, mas não se podia negar a segurança que ela dava. Se ele tivesse tempo, com certeza ele analisaria a resistência desse couro.

As feras não são nem de longe animais comuns, ele se lembrava muito bem do som alto que ouviu sair da carcaça que Noeru abria, quando eles se encontraram pela primeira vez.

O mais perto que ele pôde comparar foi com uma jaqueta de bombeiro (um pouco menos resistente), a jaqueta de bombeiro era feita de kevlar e outros materiais muito resistentes, tanto para perfurações como para o calor.

Talvez ela fosse mais pesada e se molhasse deveria ficar três vezes mais pesada, mas mesmo assim, ele ficou grato em tê-la.

O ninho não era uma caverna ou algo do tipo, as aranhas tinham coberto uma área da floresta com uma densa camada de teias.

Sendo realista, elas tomaram conta de uma área considerável. A bruma branca era tão espessa que não dava para ver nada além.

Em locais aparentemente aleatórios ele conseguia ver grandes saídas, esses túneis tinham um comprimento de 2 metros de diâmetro.

A melhor parte dessa história toda era que ninguém avisou Tyler sobre como essas aranhas agiam, e por não saber que tipo de aranhas elas eram, ele estava inseguro ao caminhar.

Existem várias espécies delas que fazem alçapões. Elas fazem túneis e buracos nos solos e depois os cobrem perfeitamente, quando uma presa desavisada passa por perto é tragada sem dó para o escuro buraco da morte!

Felizmente, Tyler estava com sua espada Gram, uma lanterna e uma tocha. Os timbiras disseram que dentro do ninho seria escuro então a tocha era preciso. Nesse momento Tyler fez a única trapaça possível!

Ele encheu o seu cantil com álcool que estava guardado no carro, era quase um litro e se ele usasse bem daria pra fazer grandes coisas.

Andando devagarinho para não fazer barulho, e tateando cada centímetro de terra possível ele entrou no primeiro túnel que viu.

O ar era estagnado, frio e podre. Tyler sentia uma forte opressão naquela caverna branca, era como se o medo, o desespero e a morte fossem sensações físicas. Havia algo que deixava o seu peito apertado.

Tyler tentou se manter bem no meio do caminho onde era mais firme e além disso, também parecia que era mais usado pois cola das teias já não grudava mais.

Mais e mais, Tyler caminhou dentro daquele ninho, normalmente uma pessoa comum já teria se perdido, mas Tyler ainda conseguia saber onde estava devido a sua experiência.

Os túneis não eram cavados no solo, eles eram partes da floresta recoberta por teia. Não era incomum uma curva ser demarcada por uma árvore ou pedra.

Como Tyler estava “cego” e sem um rumo certo para seguir, ele estava usando o seu sentido que mais lhe ajudava nesse momento. O olfato!

Ele decidiu seguir um cheiro de carniça e podridão que aumentava cada vez mais.

“Isso é??!!!” Tyler ficou chocado com o que viu.

Mais a sua frente uma grande clareira se estendia, é claro que quase nenhuma luz natural chegava ali, contudo com ajuda de sua lanterna ele enxergou o que parecia ser o centro dessa colônia.

Dezenas de grandes árvores, agora eram berçários da morte, Tyler podia ver incontáveis corpos em seus mais diferentes estágios de decomposição.

Ao lado dos corpos mais recentes estavam os ovos das aranhas, Tyler prestou bastante atenção nos corpos humanos. Com sorte talvez alguém ainda estivesse vivo.

Era comum que o veneno delas não matasse a vítima, afinal nada se compara ao frescor de uma presa viva.

Tyler tentou chegar no mais próximo dele, e sem problemas ele conseguiu pegar um de vários que se encontravam perto de uma carcaça de fera.

Ao contrário dos ovos das aves que são rígidos, os de aranhas mais se parecem com uma bolsa de seda.

Quando Tyler se virou para ir embora, ele percebeu que a vida nunca é fácil!

Tyler de repente se lamentou da sua má sorte. Parecia que as aranhas tinham lhe preparado uma armadilha desde cedo, quando ele entrou não viu sinal de nenhuma, mas agora toda as saídas estavam bloqueadas por imensos insetos negros.

Medindo uns 2 metros de altura, as aranhas tinham uma aparência assustadora. Sem aviso nenhum elas avançaram.

Felizmente, Tyler conseguiu reagir rolando para o lado, mesmo que tenha sido nos limites de sua agilidade.

Ele colocou o ovo em uma bolsa de couro que ficava pendurada em sua cintura e empunhou sua espada.

A aranha ficou sobre suas 4 patas traseiras enquanto tentava apunhalar Tyler com as outras restantes. Elas eram tão grossas quanto um braço humano e tão afiadas quanto uma lança.

Por um momento Tyler se sentiu lutando contra vários guerreiros.

Tyler brandia sua lâmina se defendendo e quando tinha chance revidava. As patas eram resistentes, mas com um bom golpe poderiam ser partidas.

Tyler cortou a primeira e se defendeu do golpe, aproveitou a abertura e partiu a segunda perna.

A aranha grunhiu alto e avançou com um salto.

Tyler não teve tempo de desviar, ele apenas posicionou a espada em sua frente e a deixou receber o impacto.

Deu certo!

Mas mesmo com uma lâmina atravessando seu corpo a aranha projetava suas presas para o pescoço dele.

* Shwisss * Ela gritava enquanto Tyler torcia a espada.

Demorou alguns segundos até que a fera cessasse seus ataques.

“Que merda!” Tyler gritou. Um sangue negro e gosmento sujava todas as suas roupas.

“Bom, agora vamos sai…” ele não conseguiu terminar sua frase.

Antes, ele só lutou contra uma aranha e mal pôde se safar, agora dezenas tinham lhe cercado.

A primeira que veio foi apenas um teste. Quem diria que elas eram tão inteligentes?

“Agora só tem um jeito...” Tyler suspirou desanimado, ele tinha se preparado para uma eventual situação dessas.

Ele acendeu a tocha com um isqueiro e encheu a boca com o álcool do cantil. Fechou os olhos se concentrado e tentou juntar a maior quantidade de ar nos seus pulmões.

(Cobra, Tigre, Boi, Coelho, Tigre. Katon goukakyuu no jutsu.)

Tyler lançou um poderoso lança-chamas!

A aranha imediatamente ficou em chamas, todas as demais recuaram.

“Ora, ora, ora. Parece que as comunistas têm medo do fogo!” Tyler ficou feliz pelo golpe de sorte.

“Está na hora de fazer minha retirada estratégica.” Tyler sorriu e correu como se não houvesse amanhã.

De vez em quando ele lançava outro lança-chamas, afinal mesmo que as aranhas temessem o fogo, elas não deixariam sua presa fugir livremente.

Tyler estava com dificuldade de sair daqueles túneis, talvez com mais tempo e calma ele pudesse facilmente achar a saída, mas agora ele não tinha nenhuma dessas opções. “Aqui está pior de sair que uma reunião do partido comunista! Fazer o quê?” Ele deu de ombros. “Acho que tenho de fazer uma nova saída.”

depois de mais umas quatro baforadas incendiárias ele conseguiu um caminho livre para a floresta.

“Nunca pensei que fosse tão difícil.” Ele respirou aliviado.

 

***

 

“Vejo que voltou a salvo.” O pajé falou.

“Não com ajuda de vocês.” Tyler cuspiu, ele correu sem parar desde o ninho e nem pôde tomar água, já que no seu cantil tinha apenas álcool.

“Bom, sabíamos que o senhor era um grande guerreiro e estaria mais a salvo lutando contra feras grandes. Nossos rapazes passam por um ritual diferente com formigas de fogo, nossos corpos são mais resistentes e por isso fazemos isso, mas seria muito perigoso para um estrangeiro, o veneno é muito forte.” O cacique interveio com um olhar condescendente.

‘Vão à merda!’ Tyler lamentou sozinho. ‘Poderia ter sido tão fácil!’

“Bom, e agora onde está o meu cadejo?” Ele pediu.



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