Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 97: Olhos sorrindo.

Era 8:40 da noite e Calie não sabia ainda o que vestir, já era a quinta vez seguida que ela se vestia e mudava de roupa.

Sua cabeça estava a mil e ela não conseguia entender a razão. Ser indecisa quando se está escolhendo uma roupa é uma coisa que todos acham comum para uma mulher, mas Calie não.

Ela sempre foi rápida nessa questão, e por causa disso ela estava ficando cada vez mais nervosa. No fim não aguentando mais essa indecisão ela pegou um vestido azul de seda que havia comprado quando ainda trabalhava como comissária de bordo. Ele era muito bonito, porém não luxuoso demais. Era o tipo de vestido que realçava sua beleza e valorizava seus atributos.

“Mãe, ele pode ir também?” Mel perguntou enquanto carregava o cachorro a tiracolo.

“Acho que não querida, é um restaurante.” Calie falou.

“Ele vai ficar bem quietinho.” A menina tentou convencer a mãe.

“Querida é um restaurante, não é legal levar um.” Calie tentou convencer a garota de um jeito que ela não ficasse triste.

“Se o tio Ty deixar eu posso levar?” Ela perguntou esperançosa.

“Tá certo, agora vá assistir televisão enquanto eu termino de me ajeitar, e tente não se sujar.”

Pouco tempo depois que ficou pronta, Tyler chegou.

“Espero que goste, eu não sabia ao certo qual a sua preferida, então pedi que colocassem uma de cada.” Tyler disse enquanto entregava um grande buquê de flores.

Como ele mesmo disse, era uma mistura de várias flores diferentes, rosas, margaridas, tulipas, amarílis e até girassóis.

“Isso é interessante, eu nunca ganhei flores antes.” Calie observava o buquê. “É lindo, mas acho que gostei mais dessas.” Ela apontou.

“São tulipas, sabia que na linguagem das flores ela quer dizer declaração de amor?” Tyler disse sorrindo.

“Mesmo? Eu… eu não sabia.” Calie ficou nervosa.

“Não fique assim, às vezes eu só gosto de te provocar um pouco, não se preocupe, afinal é uma bela flor. Você tem muito bom gosto, eu vou me lembrar das próximas vezes.”

“Certo...” Calie falou, mas ainda ficou envergonhada, pois Tyler disse que se lembraria disso nas próximas vezes.

“Tio, o Tupã pode ir, né?” Mel se meteu entre os dois e perguntou esperançosa.

Tyler coçou o queixo e depois respondeu que sim.

Aquilo foi o suficiente para que a garota pulasse de alegria.

“Você está muito bonita.” Tyler a elogiou.

“Obrigada, você está muito bem.” Na verdade, Calie se surpreendeu com Tyler.

Ela já tinha viajado com ele e o viu fechar negócios de milhões de dólares usando apenas uma camisa de flanela, calça jeans, botas e um casaco de couro. Nessa noite ele usava um terno cinza aberto com camisa branca. Ao invés de gravata comum, ele usava uma tipo texana, coisa que ela nunca tinha visto ele usar.

“Gravata texana? Gostei.” Calie sorriu e a ajeitou.

“Só uso em ocasiões especiais, na verdade fazia muitos anos que não a usava?” Tyler confessou.

“Só falta o chapéu de cowboy e estar armado, vai fazer com que seu estereótipo de texano bilionário do petróleo suba às alturas!” Calie riu.

“Sempre ando armado, então só me falta o chapéu.” Tyler deu de ombros.

Calie revirou os olhos e sorriu, esse velho não tinha jeito.

“Acho que deve estar com fome, vamos indo.” Tyler pegou ela na mão e a levou até o carro.

“Sem camionete hoje?” Ela perguntou, Tyler quase nunca saía em um sedã, mas hoje era uma exceção  ele estava com uma das Mercedes que o escritório tinha.

“Achei que seria ruim para você, é complicado subir na camionete com vestido e saltos.” Ele explicou.

“Obrigada.” Calie sentiu seu peito se aquecer, eram coisas simples, mas essa atenção que estava recebendo lhe fazia sentir-se estranha, estranha de um jeito bom.

 

***

 

“Não é muito caro aqui?” Calie perguntou para Tyler quando eles se sentaram na mesa.

“Não sei, acho que só vou saber quando a conta chegar.” Tyler deu de ombros.

Calie sabia muito bem quanto de dinheiro Tyler tinha (ou imaginava que sabia), mas mesmo assim ficou constrangida com a atenção que estava recebendo. Ela notou quando Tyler puxou o metre de lado e pediu para que o restaurante deixasse Mel entrar com o cão, ele até deu uma quantia para que eles lhes dessem um canto bastante reservado.

“Não precisa de tanto, podemos ir em outro canto.” Ela tentou convencê-lo.

“Que nada, sair daqui só vai trazer mais trabalho. Por que não comemos?” Tyler desconversou.

Para ser sincera, Calie nem soube o que comeu, embora o sabor estivesse muito bom, ela só se lembrava de ficar observando Mel e Tyler interagirem.

Não havia qualquer dúvida de que os dois se davam muito bem. Eles tinham um certo companheirismo que Calie não conseguia entender, desde que Tyler começou a ensinar suas lições, ou quando ele deu aquela pulseira hippie (a qual ela nunca tirava!) Mel o via como um norte. Se fosse em outra época, Calie ficaria muito preocupada, todavia hoje em dia, ela ficava em um misto de felicidade e tristeza.

“Obrigada...” Calie suspirou.

“De nada?” Tyler respondeu sem saber o motivo.

“Obrigada... por tudo...”

“Lembra daquela conversa que tivemos quando nos conhecemos?” Tyler perguntou depois de um tempo.

“Sim, você soltou uma cantada de quinta.” Calie sorriu.

“No meu ranking eu a considero como uma das minhas melhores, mas não me referi a isso, foi quando eu falei sobre o seu sorriso.” Ele a lembrou.

“Ahh… você disse que eu mentia com os olhos.” Calie se lembrou da conversa.

“Hoje eu fico feliz em dizer que pela primeira vez vi seus olhos sorrindo, posso dizer que é algo mágico de se ver.” Tyler brincou.

Calie corou e ficou pensando naquelas palavras, depois de alguns minutos calada ela falou. “Acho que não sou mais a mesma mulher que você encontrou naquele dia, é tão estranho.” Ela suspirou e começou a fazer carinho na cabeça da filha. “Minha mãe era a única pessoa com quem eu podia contar, é tão estranho não tê-la aqui, às vezes eu queria perguntar tantas coisas a ela, entretanto, outras vezes eu fico mais calma quando sei que ela está descansando depois de tantos anos sofrendo. Minha vida mudou tanto, posso dizer que estou muito feliz esses dias, bom pelo menos não tenho mais nenhuma preocupação.”

“Fico feliz, pessoalmente acho fantástico que você se sinta assim. Você é uma pessoa boa e merece ser feliz.”

Calie não respondeu nada, só abaixou o olhar. Ela deveria dizer que às vezes tinha medo de acordar e tudo isso ser um sonho, toda a sua vida foi difícil e agora tudo era tão fácil que às vezes ela tinha medo de não ser real.

“Vamos para a sobremesa?” Tyler tentou cortar o clima que tinha ficado pesado. “Aqui tem brownie com sorvete, adoro bolo solado, quem quer?”

Depois de Mel ter comido três vezes e dado uma para o cão que ficava no seu colo, eles foram para casa.

“Tio me conta mais histórias sobre… aquilo.” Mel pediu.

Calie nem fez questão de saber o segredo dos dois, Tyler sempre contava estórias fantasiosas para a menina. Ele misturava algumas de suas aventuras com um mundo mágico que inventou.

“Pergunte para a sua mãe primeiro.” Ele falou.

Mel não teve tempo de perguntar, sua mãe respondeu logo que viu aqueles olhos suplicantes.

“Certo, mas escove os dentes antes.” Calie disse derrotada, parecia que isso já havia se tornado um hábito desses dois.

“Eba!!!” Mel gritou e correu para se aprontar.

“Eu vou tomar um banho, te vejo antes de você sair?” Ela quis saber.

“Claro.” Tyler respondeu prontamente.

 

***

Calie:

 

‘Ainda sou bonita, certo?’ Calie se perguntou.

Hoje era o seu aniversário de 28 anos, normalmente ela nem se importava muito com sua aparência. Porém de um tempo para cá ela começou a se preocupar mais com esse seu lado.

Por grande parte da sua vida ela não gostava da sua beleza. Ser bonita quando jovem trouxe Dylan que foi a sua maior decepção, desde aquela época ela não ligou muito para como se vestir ou de se cuidar como mulher. Até em sua profissão como comissária ela se sentia obrigada a sorrir e se arrumar.

Mas desde que Tyler entrou na sua vida ela começou a recuperar esse seu lado perdido.

Desde que Tyler entrou na sua vida…

Desde que Ty…

“OHHH MERDA!!!” Calie gritou quando percebeu a verdade.

Quando ela se deu conta dos seus verdadeiros sentimentos, tudo agora tinha mudado o sentido.

Ela terminou seu banho com as mãos trêmulas. ‘Qual foi a última vez que fiquei tão nervosa assim?’

‘O que eu vou fazer agora?’

Calie se vestiu e ficou sentada ali na cama, pensando.

Muitos minutos se passaram até que ela fosse ver como Mel estava.

“Isso, agora dê a pata!” A voz de Tyler vinha do quarto. “Bom, seu comunistazinho. Agora role.” Ele mandou de novo.

Calie ficou escorada na porta e olhou a cena.

Mel estava dormindo abraçada em Tyler enquanto ele tentava adestrar o cão.

“Ela dormiu faz tempo?” Ela disse depois de um tempo.

“Ah, você está aí, ela dormiu faz pouco tempo. Cada dia que passa eu tenho que inventar mais coisas para ela.” Tyler riu.

Calie sorriu tímida. “Desculpa te fazer esperar.”

“Não se preocupe, aconteceu alguma coisa?” Ele perguntou quando viu que seu semblante estava diferente.

“Não, é só que eu pensei em muitas coisas agora. Chuveiros tem esse dom.” Calie desconversou.

“Sei, quer tomar um café? Eu faço.” Tyler sugeriu.

“Pode ser.” Ela aceitou.

Quando estavam no corredor, Tyler falou. “Sei que eu não tenho nada a ver com isso, mas esse seu perfume é muito bom.”

Calie sentiu seu coração parar por um instante. “E.. eu… nem sei do que é.” Ela gaguejou. “É só uma colônia boba. É de uma fruta que se parece com uma abóbora, eu nunca à vi, mas gostei do cheiro.”

“Se chama pitanga, é uma fruta tropical.” Ele disse. “É uma das fragrâncias naturais que eu mais gosto.”

Calie outra vez sentiu seu coração parar de bater por alguns instantes. Ela ficou feliz em saber que Tyler gostava desse seu perfume.

 

***

 

“Então, se sente mal por estar mais velha? Embora eu seja um garoto nesses assuntos, tenho muitos amigos que sabem sobre isso, talvez possa te ajudar.” Ele brincou.

Calie entrelaçou os dedos na xícara e ficou olhando o líquido fumegante. “As vezes tenho medo.” Ela meio que soltou parte do que estava preso em seu peito.

“Uma vez eu ouvi certa frase, ela me ajudou muito, é assim: Quem não sonha, não realiza, quem não ousa, não sabe seus limites.”

“...” Calie tentou absorver o sentido dessa frase.

“Sabe um dos maiores defeitos das pessoas?” Tyler perguntou e sem esperar já completou. “É o medo, às vezes temos medo de ousar, de descobrir coisas novas e de experimentar novos patamares na nossa vida. Às vezes o resultado negativo pode ser só um não. Os “nãos”, não são perigosos, no máximo podemos ficar como estamos, mas o medo de agir, sempre nos faz regredir.”

Calie ficou muito satisfeita em ouvir essas palavras de ânimo. “Acha que eu devo ousar mais?” Calie perguntou sem tirar os olhos do café.

“Que mal há em dar um passo de fé?” Tyler aconselhou.

“Então...” Ela respirou fundo e se levantou da cadeira e foi na direção de Tyler.

“Então o qu...” Tyler tentou falar, mas foi calado pelos lábios macios de Calie.

Tentando reunir toda a coragem que tinha, ela tentou passar tudo o que sentia com um único beijo. No começo tinha sido mecânico e estranho, Tyler parecia estar relutante, contudo não durou por muito tempo.

Aos poucos foi se tornando mais suave e amoroso, logo depois mais forte e intenso, até que não se sabe quanto tempo depois os dois se separaram.

Calie ofegante e trêmula, apoiou a cabeça no pescoço de Tyler, sem saber como ela já estava sentada em seu colo e ele a segurava pela cintura.

“Calie por favor, vamos parar por aqui…” Ele disse com a voz visivelmente alterada.

“Desculpe.” Ela de repente quis chorar depois de ouvir Tyler dizer isso.

“Ainda bem, eu não sou o símbolo de integridade moral que pareço. Não sei por quanto tempo mais poderia me conter.” Tyler disse enquanto afrouxava a gravata.

“Sério?” Ela quis saber.

“Muito, acha que eu sou de ferro?” Tyler riu nervoso.

‘Mais um?’ ela pensou consigo mesma e resolveu agir.

Pego mais uma vez de surpresa, Tyler quis pará-la no começo, mas não teve mais forças. Ele a beijou com vontade e empenho.

Calie por sua vez não cedeu e retribuiu com igual empenho e ardor.



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