Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


volume 4

Capítulo 107: Estabelecendo suas fundações. Parte 1.

“Mais uma vez...” Tyler falou enquanto se erguia lentamente do chão.

Ele já tinha visto muitos filmes de espadachins e samurais, mas lutar contra Otaviano o levou para outro nível. A melhor palavra na qual Tyler estava pensando para descrevê-lo era… Insano!

Otaviano era, na melhor definição, a junção perfeita entre homem e espada. Cada movimento seu era tão fluido como um rio, para sua sorte eles estavam apenas usando espadas de madeira para treino, senão ele teria morrido um par de vezes.

“Você não é de tudo ruim.” Otaviano falou enquanto tomava um pouco de ar, ao contrário de Tyler que estava bem-disposto fisicamente e apenas tinha apanhado, ele já estava ficando cansado.

“Isso é um elogio?” Tyler riu.

“Você tem poucos vícios, seu jogo de pés não é mal e aprende rápido.”

“Então eu tenho talento?”

“Não, você está na média. É só mais fácil ensinar alguém que não sabe de nada, do que ensinar alguém que pensa que sabe lutar.”

“Obrigado?” Tyler franziu o cenho.

“Que foi, ficou triste? Pensou que era um talento descido dos céus?”

“Bom…” Tyler ficou sem palavras, bem lá no fundo ele pensou que era um pouco especial.

“Olhe, mesmo que você seja mediano ou um pouco inferior. Você é mais forte do que qualquer homem que eu conheço, nem quando eu tomei a minha porção eu era tão forte quanto você. Em uma luta séria, não há ninguém que possa se comparar a você!”

Mesmo sem querer admitir, Tyler ficou feliz em ouvir isso. Se bem que quando ele foi pensar com calma , Otaviano não tinha falado nada demais, tecnicamente ele estava certo. Se Tyler desferir um golpe de espada, mesmo se alguém bloquear, não sairá ileso.

Ele agora era mais forte que 10 homens, quem poderia se opor a ele em um combate?

Tyler também agradeceu interiormente, pois as poucas aulas de Kendo que teve estavam fazendo diferença agora.

O Kendo é a arte de esgrima desenvolvida pelos samurais do Japão feudal. E embora a espada que Tyler estava usando agora não tivesse nada a ver com uma katana, ele pegou os princípios e tentou aplicar aqui.

A katana é uma das mais difíceis espadas de se aprender a lutar, ela é uma espada que deve ser manejada com ambas as mãos e atingir um patamar no qual você pode se chamar de espadachim, demora décadas.

Tyler estava treinando com uma espada de madeira que imitava uma espada que se parecia muito com um gládio romano.

O gládio romano tinha entre 60 e 70 centímetros e gume de ambos os lados.

“Que madeira é essa?” Tyler perguntou depois de um bom tempo.

Ele estava impressionado com a resistência dessa espada de treino. Ambos os homens haviam trocado golpes com todas as suas forças, mas por incrível que pareça ela tinha aguentado. No começo ele não deu nada por ela, ela era muito clara, sua cor era um amarelo tão fraco que era quase branco, sem falar do peso. Ela era tão leve quanto a madeira de pinus.

“Isso?” Otaviano olhou para a espada como se não fosse grande coisa. “Se chama pau-de-ferro.”

“Pau-de-ferro?” Tyler quis rir, contudo não pôde deixar de admitir que o nome tinha fundamento. “É fácil de se achar?” Ele quis saber.

“Não é tão difícil de se encontrar uma árvore de pau-de-ferro, o problema é você cortar a madeira dela!” O rei riu.

“Como assim?” Agora Tyler ficou confuso.

“A árvore é praticamente uma coluna de aço, tentar cortar ela é perder seu machado.” Ele explicou.

“E como vocês fizeram essas espadas?”

“Eu comprei um galho caído que foi encontrado, depois pedi que um ferreiro fizesse. Acho que ele passou meses esfregando o galho em uma pedra de polir para comer toda a madeira de sobra.” Otaviano quis rir.

“Isso é sério?” Tyler não acreditou que tal coisa poderia ser verdade.

“Muito.” Ele acenou.

“Ela cresce rápido?” De repente Tyler sentiu que deveria investigar mais essa árvore.

“Não, demora uns 100 anos até que ela fique grande.”

“Grande que precise de quantos homens para abraçar?”

“De dois a três.”

“...” Tyler imediatamente começou a calcular, a grosso modo a envergadura de uma pessoa, ou seja a medida alcançada quando se mede o comprimento de ponta a ponta dos dedos quando os braços estão abertos, é igual à altura do mesmo.

Se uma pessoa tem 1,75 metros de altura, que era a média dos homens daqui. A altura média X os dois homens e meio, davam uma circunferência de 437 centímetros.

Tyler não fazia a mínima ideia do que era o padrão de grandeza de Otaviano, mas uma árvore alcançando essas dimensões é grande em qualquer lugar do mundo, bem pelo menos na Terra.

Como botânico, ele sabia que esse crescimento não era lento, se esse pau-de-ferro pudesse ser utilizado… ele tinha acabado de dar fim em muitos problemas futuros.

“Eu preciso falar com o Macal depois.” Tyler pensou alto.

Otaviano riu da expressão que viu no rosto de Tyler, ele estava brilhando. “Garoto, bater com um machado no tronco só faz sair faíscas, muitas pessoas tentaram aproveitar essa madeira.”

“Quantas delas eram eu?” Tyler ousou se gabar. “Para cada dificuldade enfrentada, existe uma chance de ter sucesso onde ninguém mais teve.”

“Hahaha, sente-se tão confiante? Eu vou querer um novo jogo de espadas de treino.”

“Eu vou me lembrar disso, mas agora eu quero treinar mais um pouco, ainda aguenta?” Tyler não estava cansado, ele tinha o corpo todo dolorido das pancadas “instrutivas” de Otaviano, mas ele não estava nem um pouco cansado.

“Você de repente virou um garoto que nem tirou o cheiro de leite da sua mãe e acha que é melhor que eu? Venha eu vou te mostrar como esse velho ainda aguenta! Hahaha!”

Tyler viu que Otaviano estava realmente se divertindo, parecia que ele não se esforçava assim a muitos anos. Eles já estavam lutando a umas 4 horas, contudo nenhum deles fez questão de parar.

 

***

 

10 dias depois Tyler chegou com a primeira parte da sua caravana em Colina Azul.

Nessa primeira viagem, Tyler tinha vindo com apenas uma carreta com dois contêineres rebocados. Essa viagem era uma espécie de incursão batedora. O objetivo maior era se certificar que o caminho era largo e seguro o suficiente para que as futuras cargas viessem sem problemas.

Tyler ia marcando as áreas onde havia risco de atolar, ou se tinha um curso d’água onde o carro seria incapaz de transpor.

Tudo foi anotado e diagnosticado, quando possível ele já resolvia o problema. Às vezes ele colocava pedras nas partes onde o solo era mais macio, outras vezes ele colocava troncos partidos com uma motosserra e firmava um caminho. Pode-se dizer que ele teve sorte que não havia nenhum rio profundo que precisasse de ponte para ser atravessado.

Antes mesmo de chegar, Tyler já viu o motivo do nome da cidade. A icônica grama azulada cobria grande parte das pastagens ao redor da cidade. Quando Macal lhe avisou que a grama tinha uma cor azul ele pensava que era uma cor que lembrava azul…

Porém, parece que ele subestimou mais uma vez esse mundo, o azul daquela grama era forte e profundo, beirando ao intenso do azul-marinho. Ao longe ele viu algo que saltou um leve sentimento de orgulho no seu coração, ele avistou a bandeira de Atlantis tremulando no topo da mansão do senhor da cidade.

“Vossa majestade, seja bem-vindo. Já preparei todas as suas acomodações!” O lorde Waz veio correndo recebê-lo, não foi nem preciso dizer que ele tomou um susto quando viu Tyler com a aparência de um belo e forte jovem.

“Muito obrigado, por favor arranje um lugar para descansar e comida para os meus homens.” Tyler apontou para a comitiva de 50 homens que o acompanharam nessa viagem.

“Com toda certeza, farei agora mesmo.” Waz acenou para um criado próximo e o despachou. “Mestre, eu gostaria de avisar ao senhor que recentemente muitos aventureiros vieram das guildas para cá, parece que o senhor colocou algum anúncio de emprego?”

“Sim, eu fiz, mas só falarei com eles amanhã. Quero conhecer a cidade primeiro.”

“Certo, deixe-me acompanhá-lo.” Waz tomou a frente.

A cidade podia ter uma extensão territorial grande, mas, com certeza, não era desenvolvida. Pelos cálculos de Tyler, não moravam mais do que 600 pessoas na cidade, ou seja, ela era um pouco maior que uma vila.

Todos aqui tinham suas vidas ligadas ao trabalho no campo, seja criando gado ou plantando alimentos.

Como Waz já tinha explicado antes, a cidade arrecadava maior parte da sua renda com derivados obtidos de um gado local. Queijo, leite, carne seca e peles eram vendidos para todas as cidades vizinhas usando o rio como estrada.

Tyler gostou muito do que viu, topologicamente a cidade era perfeita. Era plana e tinha poucos árvores, contudo a floresta não era longe.

“Acha que pode me ajudar?” Tyler perguntou para Thoran.

Thoran havia se tornado o braço direito de Tyler quando o assunto era trabalho no campo, agora Tyler mediria com perfeição a topografia do local.

Thoran apenas correria de um lado para o outro com uma régua enquanto Tyler usava um teodolito para mapear o local.

Enquanto houve luz no céu, Tyler mediu e fincou estacas numeradas por toda a cidade. Ninguém sabia o que diabos ele estava fazendo, mas também ninguém teve coragem de perguntar.

À noite, quando todos estavam descansando, Tyler aproveitou para trabalhar, durante a viagem de vinda ele usou todas as suas noites para aperfeiçoar sua esgrima ou trabalhar no planejamento da cidade, com quase duas semanas depois de ter tido seu corpo transformado, ele só dormiu 8 horas ao todo, agora mesmo ele estava desenhando o esboço inicial de Atlantis D.C.

“Acho que ficou bom!” Tyler sorriu satisfeito e por um momento ele se esqueceu do que deixou para trás…



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