Vida em Folhas Brasileira

Autor(a): Lucas Porto


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 18

 

Redondezas de Mākeke nui.

Acampamento improvisado.

Uma forte dor de cabeça martelou em Alissa a fazendo despertar. Inutilmente ela moveu sua mão até sua cabeça, tentando conter a dor, mas não funcionou. Foi quando sentiu um calor repentino, como se algo tocasse as costas de sua mão.

Em um movimento de puro reflexo, ela afastou o calor e tentou se levantar depressa a fim de se proteger, mas ao tentar levantar com tanta rapidez, sua pressão caiu, causando uma forte tontura.

— Desse jeito você vai morrer mais rápido.

Ela olhou para aquele sorriso sarcástico de Kishi que estava ali do seu lado. E com uma reação inesperada, suspirou e voltou-se a deitar.

— Graças a Deus… Você está vivo.

— Deveria se preocupar consigo neste momento.

— Fique quieto. — Ela colocou o braço sobre os olhos. — Por quanto tempo eu dormi?

— Um dia a mais do que eu. Meu pai cuidou de nós nesse meio tempo, parece que demos muito trabalho.

— Sim.

O clima se tornou ameno lentamente. Embora tivessem muito o que conversar, nenhum deles estava com disposição para tal. Kishi se ajeitou na cadeira em que estava, rangia os dentes a cada movimento.

— Você está bem acabado. O que houve com sua regeneração?

— Minha regeneração só funciona quando eu ativo os poderes do noredan, mas eu não consigo manter aquele estado por muito tempo, é desgastante.

— E aquela mulher? A da lótus?

— Não sei, eu não vi para onde eles correram.

Ele se levantou, com dificuldade.

— Ei! Onde você vai?

— Não gosto de ficar parado, vou caminhar um pouco.

— Do que está falando seus ferimentos vão se abrir. Volte já aqui.

Alissa colocou os pés no chão e tentou ir atrás dele, mas suas pernas fraquejaram, ela quase tombou, por sorte, conseguiu se apoiar no próprio Kishi que se virou para ajudá-la.

— Eu só preciso de alguns dias até poder ativar minha regeneração novamente, você não tem essa mesma sorte. É você que precisa descansar.

Ela não retrucou. Infelizmente sabia que ele estava correto, comparado a ele, Alissa não passava de uma simples humana, seus ferimentos não desapareciam, ela não possuía uma força descomunal ou habilidade de luta para sobrepor seus adversários.

E mesmo com tudo isso, Kishi nunca conhecerá alguém tão forte quanto ela.

Mesmo com todas as desvantagens, ela correu para salvá-lo. Enfrentou diversos oponentes e não se queixou uma vez sequer. Ele não sabia o que poderia dizer, em sua mente, se sentia grato por ter conhecido alguém como ela.

Kishi ajudou ela a se deitar para que repousasse. Depois, saiu daquela tenda. Não precisou nem mesmo iniciar uma caminhada para se deparar com seu pai, que estava voltando de uma vila.

— Pai…

— Como ela está?

— Teimosa como sempre, mas vai ficar bem.

— Fico feliz em ouvir isso. — Ele abaixou sua cabeça, e disse. — Os ataques estão piorando, vocês tiveram sorte dessa vez.

— Eu sei, mas não vai acontecer de novo. Na próxima vez, eu posso garantir que irei…

— Matá-los?

— Derrota-los…

— Meu filho, esse caminho de guerreiro não é para nós. Veja onde ele te levou, veja o estado de Alissa.

— Não comece — retrucou.

— Ainda há tempo, podemos fugir e nos esconder. Viver uma vida tranquila.

— Não! Você quer sempre fugir, evitar conflitos, qual seu problema? Não podemos continuar sempre assim, correndo com o rabo entre as pernas.

— Eu mais do que ninguém conheço esse sentimento de injustiça, de querer lutar pelo que se acredita. Mas você acha mesmo que isso irá lhe trazer algo de bom? — falava com pesar. — E se Alissa decidir seguir seus passos?

— Ela não vai.

— Como pode ter certeza?

— Porque ela é melhor do que eu — respondeu olhando nos olhos de seu pai. — Conflitos só trazem perdas, você tem razão, mas abaixar a cabeça para tudo e todos não é a resposta. 

Kishi passou do lado de seu pai, o dando as costas.

— Apenas por favor, não faça uma escolha a qual irá se arrepender depois.

Ele adentrou a tenda.


 

Três dias depois.

Caminhando pela floresta, Kishi observava as folhas verdes das árvores caírem lentamente no chão. Os pássaros batiam suas asas erguendo-se a voo. Os ferimentos de Kishi tinham desaparecido, seu corpo recuperou boa parte da energia gasta, provavelmente amanhã ele estaria bem.

Ele não pensava em nada específico. Apenas focava na sua respiração e na natureza ao seu redor. Já faz um bom tempo desde que saia para caminhar. Enquanto alguns guerreiros ficavam imóveis meditando, ele preferia estar sempre em movimento.

Sorrindo sem um motivo certo, Kishi se concentrou em sentir o vento que batia em seus cabelos bagunçados. Ele então-

Seu coração palpitou forte.

Kishi caiu de joelhos no chão sentindo uma pressão horrenda, um ruído sem forma invadiu sua mente. Seus olhos ficaram totalmente negros, seu estado noredan foi ativado de maneira forçada. Ele sentiu duas presenças similares a do seu Noredan.

Uma longe dali. Outro Noredan como ele.

E a outra...

De uma pessoa.

Alguém...  — Aquela não era a sua voz, outra coisa tomava controle de seu corpo. — Invadiu o orbe, o poder do orbe...

Está sendo usado.



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