Vida em Folhas Brasileira

Autor(a): Lucas Porto


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 20

 

Base da Lótus Negra.

Salão Principal.

— Então seu plano é... Jogar um feitiço no Noredan? — ironizou Sinsha, Gazel estava ao seu lado deu um olhar sério para a irmã, não era o momento para brincadeiras.

— Aquela história boba está completamente errada — respondeu Hakuro. — Na história original, Ryoto ouviu falar de uma planta que podia curar tudo, mas o rei não o deu ouvidos por ser um simples plebeu. O príncipe, Ryoto e o nobre foram atrás da flor e a encontraram. Entretanto aquela era a última flor, não havia como tirá-la do local.

— E o nobre por pertencer a Grande Família Sains utilizou sua magia de plantas para absorver a magia da lótus rosa por meio de uma runificação reversa. — Gazel completou.

— Exato, mas antes tiveram que matar a planta, não é possível fazer runas com seres vivos. O nobre morreu pelo excesso de magia absorvida, mas conseguiu replicar outras lótus, se eu conseguir transferir uma pequena quantia da energia mágica para os soldados mais fracos, a Lótus Negra irá recuperar seu poder total — Hakuro olhou para Sinsha que ainda estava confusa com tudo aquilo, na realidade, ela nem se importava, apenas queria matar o desgraçado do Noredan.

— Ainda sim acho perigoso, você está se baseando em muita especulação — resmungou. Hakuro de fato era muito inteligente a ponto de entender toda a teoria por trás do processo de fabricação de runas e de energia mágica, entretanto nada impedia que ele morresse no processo.

— Não temos muita alternativa. Acredito que vá demorar quatro dias para meu corpo absorver a energia mágica.

— Quatro dias? Você quer que nós fiquemos parados aqui por quatro dias inteiros? 

— Não, vocês irão me proteger, o Noredan não vai ficar parado.

A porta foi aberta abruptamente, interrompendo a conversa.

— Meu lorde. — Kana surgiu e se curvou, em suas mãos ele carregava uma caixa retangular feita de madeira. 

— Chegou no momento certo. — Hakuro se aproximou dele e tomou a caixa de suas mãos, abrindo-a ele foi pego por um grande brilho azul. Gazel e Sinsha se aproximaram para ver melhor. 

O responsável por aquele brilho era uma esfera, um orbe para ser mais preciso. Aquele orbe tinha um símbolo estranho. Parecia ter algo vivo dentro, Sinsha reconheceu que aquela presença era a mesma de um Noredan.

— Isso... 

— É um dos seis orbes que servem como chave para o portão GyoDan. Especificamente, o Orbe da Dor — explicou.

No chão daquele salão havia três círculos feitos utilizando giz. Haviam vários símbolos que nenhum deles ali entendia, o próprio Hakuro desconhecia a utilidades de alguns. Todos convergiam para o centro do círculo menor, onde ele estava indo.

Hakuro respirou fundo antes de prosseguir. Era a primeira vez que ele tentava realizar a runificação, pior, a runificação reversa que dava quase o dobro do trabalho. O orbe não é algo vivo, logo toda a energia contida no orbe seria passada para o corpo de hakuro e posteriormente para os soldados mais fracos, isso iria rejuvenescer a Lótus Negra, a fazendo novamente desabrochar.

Apenas Gazel, Sinsha e Kana estavam ali. Olú rejeitou comparecer, ele ainda se sentia culpado por deixar o Noredan escapar, por isso ficou como vigia na entrada da porta. Tudo o que importava para ele seria ter a cabeça do Noredan e a supremacia da Lótus Negra em relação aos Dez Grandes Famílias.

Gazel não sabia muito bem o que pensar, aquilo tudo era novo para ele. Toda Artéria tinha conhecimento da magia, eles sabem que existem, mas não como funciona. 

Já Sinsha se mostrou aflita. Sentimentos contraditórios estavam em seu âmbito, de um lado a vontade insaciável de lutar contra o Noredan e vencê-lo. Do outro, o medo, seja lá o que o Noredan fez, ela nunca tinha visto uma presença tão amedrontadora antes, foi como sentir o medo na sua forma mais natural, personificada em um monstro. Ver seu lorde querendo utilizar esse poder a deixava incerta.

Hakuro se sentou de pernas cruzadas no meio do círculo, ele colocou o orbe sobre o colo e o tocou. Naquele momento o giz começou a se metamorfosear, trocando de um branco sem vida para um azul forte. Hakuro sentiu uma dor inexplicável em seu ser.

Ele então sentiu duas presenças. 

Uma longe, a reconheceu, era o Noredan Besta-Elétrica, que estava em algum lugar na região nordeste.

Já a outra presença, mais próxima, era do Noredan de Olhos Negros.

Era do homem que se chamava Kishi.


 

Redondezas de Mākeke nui.

Acampamento improvisado.

Kishi estava caído no chão gemendo de dor. Alguém estava fazendo alguma coisa com ele, aquela sensação desconfortável era avassaladora. Como um sussurro em sua mente, ele entendeu que aquilo se tratava de alguém tomando as forças de um Noredan.

O orbe... Estão absorvendo... Precisamos o parar... — Sua boca se mexeu por vontade própria, mas o dono daquelas palavras não era Kishi, mas sim Noredan.

"Quem está fazendo isso? Será... A Lótus Negra, merda" — pensava, ele começou a caminhar pelo caminho de onde tinha vindo, precisava achar Alissa e seu pai, precisava contar sobre isso.

"A Lótus Negra tem um orbe e estão utilizando seu poder, isso está afetando o meu Noredan, fico surpreso que guardaram esse trunfo para o final." — Ele voltou a andar devagar, ainda lento e com dificuldade. — "Eu preciso recuperar o orbe, eu pude sentir a presença dele, posso rastreá-lo. Eles não devem estar esperando que eu descubra seu esconderijo, visto que nem as dez Grandes Famílias conseguiram. Essa é minha chance de realizar um ataque surpresa."

Alissa estava caminhando de um lado para o outro. Seus ferimentos ainda estavam bem ruins, mas ela não conseguia ficar parada. Já o Senhor Edo, dizia para a mesma ir com calma, caso se esforçasse demais, poderia abrir novamente uma de suas feridas.

Os dois se surpreenderam quando viram Kishi voltar ofegante e quase não conseguindo ficar de pé. Os mesmos correram na direção dele. O pai de Kishi o segurou antes que tombasse no chão, Alissa se abaixou e viu que ele estava desgastado.

— O que houve meu filho? 

— O orbe, a Lótus Negra tem um e está tentando absorver seus poderes...

— Como você sabe disso? — perguntou Alissa.

— Eu posso senti-lo. Sei onde a Lótus se esconde.

— Espere um pouco. — Edo tocou o peito do filho, sua palma brilhou em um tom verde. Sua habilidade mágica, reflection pain começou a dispensar toda a dor e sofrimento que seu filho estava sentindo direcionando tudo para o próprio senhor Edo.

Kishi se sentiu melhor, toda a dor se foi em um único momento. Aquela habilidade era realmente fantástica. Em compensação, Edo pagou o preço sentindo uma dor inimaginável. Disfarçou, no entanto, para que seu filho não se preocupasse.

— Obrigado pai — agradeceu. —, agora eu preciso ir até eles, um golpe surpresa enquanto ainda estão desprevenidos.

— Você ficou louco? —exclamava Alissa. — Eles também podem estar "sentindo" você, é muito arriscado.

— Isso mesmo, Kishi, não podemos ser imprudentes agora.

— Quanto mais tempo passa, maiores são seus poderes. Não posso ficar parado. — Alissa abriu a boca para contestar, mas Kishi prosseguiu a interrompendo. — Eu posso me regenerar, eles não vão conseguir me matar. Eu pego o orbe e saio, é o único jeito.

— Não seja arrogante, o que sua regeneração foi capaz de fazer contra aquela mulher? 

— Eu vou conseguir. — Ele passou por eles, indo se preparar para a viagem.

— Então eu irei com você.

— Não, você ainda está machucada.

— O quê?!

— Acalme-se — interrompeu Edo, os ferimentos dela iriam se abrir.

— Você não pode simplesmente ir lá sem mim, você sabe muito bem que é suicídio. — dizia atropelando sua fala, sua garganta doía. —Eu irei te ajudar, a gente pode conseguir junt-

— Não somos uma equipe.

Alissa parou.

— Obrigado pela última vez, mas sendo sincero, você irá apenas me atrapalhar. 

— Meu filho…

— Mas que merda de papo é esse! — trovejou em fúria, uma forte dor em seu peito a atingia. — Eu disse para você, iria lutar ao seu lado, eu não preciso de sua aprovação.

— Você nem ao menos consegue ficar em pé Alissa!

— Que se dane! Você não pode decidir nada por mim.

— Porque você não entende que é fraca!

Os dois pararam de gritar, Kishi rangia os dentes e cerrava seus punhos enquanto Alissa perplexa, não sabia o que dizer.

— Ajuda, guerreira… Você é a mais fraca de nós — mentiu. — Suas habilidades, sua cabeça oca… Se quer tanto jogar sua vida fora vá em frente, mas não entre no meu caminho.

Ele se virou e com rapidez foi até sua barraca juntar suas coisas. A menina estava desolada, tentava impedir a todo custo que suas lágrimas saíssem, mas tudo era em vão. Ela caiu aos prantos e Edo se abaixou para tentar confortá-la de alguma forma.

Ouvindo o choro e os gritos de lamentações, Kishi erguia sua cabeça e chorava, de forma silenciosa com a mão no rosto. Seu pai estava certo, Alissa queria ser como ele, queria travar batalhas impossíveis, desafiar as possibilidades.

— Me desculpe. Por favor, me desculpe — sussurrou. — Eu não quero que você seja como eu, me desculpe…

 

 

Três dias depois.

Vila Omena.

Com o desaparecer do Sol em meio às nuvens, deixando um deslumbrante rastro dourado que tingia o céu, Kishi chegava finalmente ao seu destino. Assim que entrou naquela vila humilde ficou um tanto quanto surpreso, não esperava que pessoas vivessem tão próximas a base da Lótus Negra.

A presença do orbe ia diminuindo a cada instante o que evidenciava que o processo de absorção estava avançando. Felizmente ele conseguiu seguir aquela presença e agora já não tinha dúvidas que o orbe estava dentro daquela enorme floresta do outro lado da vila.

Conforme andava notou que não havia muitas pessoas fora de casa. Provavelmente pelo horário.
Agora de frente a floresta, Kishi notou que aquelas árvores eram absurdamente grandes. Suas raízes se estendiam por vários metros e em alguns casos era impossível ver as folhas do topo. Uma floresta anormal sem dúvidas.

Ele se concentrou um pouco e sentiu a fraca presença do orbe ali, ainda estava distante, no meio da floresta talvez. Quando pensou em adentrar a floresta ele parou. 

O vento soprou forte. Kishi sentia algo de errado ali, se sentia observado. Antes que pudesse fazer algum movimento, ele ouviu passos vindo de trás. Quando se virou, notou que o dono daqueles passos era um senhor, fora de forma e com aproximadamente sessenta anos.

— Com licença, meu jovem — dizia enquanto se aproximava. — Você está querendo se aproximar da floresta da morte?

— Floresta da morte?  Eu sou um viajante, achei que conseguiria usar a floresta como atalho. Por que chamam a floresta assim?

— Eu já vi muitos como você, viajantes desavisados. — Ele olhou para a floresta. — Aqui é onde descansa a alma de inúmeras pessoas, dizem que você pode ouvir passos e até vozes.

— Então por que vivem tão perto dessa floresta amaldiçoada?

— Amaldiçoada? Muito pelo contrário, aqueles que perderam suas vidas em guerras, batalhas desnecessárias e até que sofreram uma morte inesperada vem até aqui. Eles esperam seus familiares vivos dentro dessa floresta para que possam dizer suas últimas palavras e por fim partir a outro plano. 

Ele olhou outra vez para as gigantes árvores da floresta e se perguntou se a sensação que teve quando tentou entrar fosse os mortos o recebendo. Ele se lembrou de Sekiro, será que sua alma também estava ali esperando até que Kishi viesse? E enquanto o pai de Alissa, ele também estaria ali?

Ele não sabia responder nenhuma daquelas perguntas, fechou os olhos e se focou somente em seu objetivo: resgatar o orbe. Independente se era certo ou não entrar naquela floresta ele-

Uma faca foi em direção a sua garganta.

Por reflexo, Kishi se esquivou e segurou o pulso do atacante. Era aquele velho que olhava pasmo, jurando que tinha acertado. Torcendo o braço do velho para suas costas, ele o imobilizou.

— Eu sei que estão aí, apareçam! — ordenou para o alto das árvores, realmente tinha alguém ali.

A resposta que obteve não foi a mais desejada. Uma flecha voou em sua direção, mesmo ele usando o velho como escudo os ninjas da Lótus não hesitaram. Kishi largou o velho e segurou a flecha com uma das mãos.

Jogando a flecha no chão ele correu para dentro da floresta o mais rápido que podia. Utilizar os atacantes corporais como escudo não funcionaria, a primeira coisa que ele precisava fazer era se livrar dos arqueiros.

Em uma floresta grande como aquela Kishi estava cheio de pontos cegos, o inimigo tinha o conhecimento geográfico do local, mas enquanto se mantivesse em movimento os arqueiros teriam dificuldade em acertá-lo.

"Droga, eu me distraí com a história do velho. Preciso subir em umas das árvores, ficar no chão não irá me ajudar em nada." 

Dois ninjas saltavam em cima dele. Kishi se jogou no chão rolando e por sorte esquivou do ataque simultâneo. Eles portavam espadas curtas, sem esperar um deles correu em sua direção e tentou o cortar.

Sem dificuldades, ele se esquivou daqueles ataques simples. Em um momento de abertura, acertou um soco no estômago do inimigo. Aquele ninja perdeu a concentração por alguns segundos, o que foi o suficiente para seu Ry desativar. Ele sentiu a fadiga tomar conta de seu corpo.

Kishi ativou seus olhos negros e lançou o corpo desse ninja recém acertado para cima do outro que já estava vindo o atacar. O corpo dos dois ninjas colidiram um com o outro fazendo ambos caírem no chão. Ele desativou seus olhos negros. Então, ele sentiu uma forte dor de cabeça. Colocou a mão na cabeça e deu um passo para frente quase perdendo o equilíbrio.

— Merda! Meus poderes de Noredan não estão funcionando direito, tenho que tomar cuidado-

O som de uma corda sendo puxada.

E mais uma flecha.

Kishi sacou sua katana e se defendeu do ataque fazendo a flecha mudar de curso. Sem pestanejar ele voltou a correr o mais rápido que podia. Sem a força tremenda que a forma Noredan o proporciona, seria difícil subir rapidamente as grandes árvores.

Mais seis ninjas surgiram em seu caminho. Dois portavam kunais enquanto os outros três espadas curtas. Eles atacaram todos de uma vez, começando pelos de kunai. O primeiro tentou um corte horizontal na barriga de Kishi que se esquivou sem problemas.

O segundo ninja rodou por cima das costas do primeiro que estava abaixado, esse segundo desferiu um ataque vertical em nele que se defendeu da kunai com sua katana.

Antes que pudesse realizar um contra-ataque os outros três ninjas surgiram ao seu lado. Um na esquerda, dois na direita. O da esquerda se mostrou mais rápido que o esperado, em uma estocada ele cortou um pouco da roupa de Kishi, fazendo um corte superficial em seu peito.

Os outros dois ninjas que estavam na direita atacaram de forma sincronizada, Kishi se defendeu sem maiores problemas, mas foi surpreendido quando uma flecha quase atingiu seu olho.

Quando um dos ninjas tentou um outro golpe vertical, ele se defendeu sem problemas, ele então chutou a perna do ninja o fazendo ficar de joelhos. Quando estava prestes a finalizar, um outro ninja surgiu, também com um ataque vertical usando ambas as mãos.

Usando sua mão direita, Kishi segurou aquele ataque e o contra atacou usando a ponta de sua katana. Os ninjas mais afastados arregalaram os olhos pensando que aquele seria o fim de seu colega, entretanto, o ninja mais próximo — aquele que a poucos segundo tinha sido atingido na perna e se ajoelhado por conta da força do ataque — se surpreendeu ao ver Kishi errando de propósito.

Uma densa fumaça se espalhou pelo local.

Um dos arqueiros que estava escondido em cima das árvores observava aquela nuvem preta cobrir todo o campo de batalha. Ele estava tentando localizar seu alvo.

"Eu sou o melhor arqueiro dentro dos cadetes, como ele conseguiu se esquivar?" — Ele quase perdeu a concentração, mas se acalmou. — "Espere, na hora que ele atacou o Oka com a ponta da katana, ele deve ter perfurado por engano uma das bombas de fumaça." — Ele riu. — "Idiota, quem comete um erro tão bobo desses? Você pode ter certeza que eu vou te atingir seu Noredan maldito."

Ele ouviu barulho de folhas.

Quando olhou para o lado assustado ele viu que Kishi estava bem ali. Quando tentou gritar ele foi agarrado pelo pescoço. 

"Os arqueiros..." 

Ele pensava enquanto era sufocado, 

"Eles deveriam ter visto ele se aproximando de mim, ele já pegou os outros em tão pouco tempo...", O arqueiro desmaiou.

Kishi olhou para baixo e viu que a fumaça já havia se dissipado. Ele apenas conseguiu pegar quatro arqueiros contando com esse, era bem provável que houvesse mais. A distância entre os galhos das árvores, que também são gigantes, é enorme, mas caso usasse sua força de Noredan aos poucos poderia prosseguir sem problemas, e assim fez.

Ativou seus olhos escuros e com toda a força concentrada na perna ele pulou para o próximo galho. Assim que pousou seus olhos desativaram, ele mais uma vez o ativou e pulou, e continuou a fazer isso.

Às vezes, ele conseguia ver alguns grupos de ninja escondidos. Preocupados, eles se perguntavam onde estava o Noredan que já devia ter passado por ali. Kishi continuou saltando dentre os galhos, tomando cuidado para não ser notado.

 

 

Base da Lótus Negra.

Salão Principal.

O líder da Lótus Negra gritava de dor enquanto segurava o orbe com ambas as mãos, ele estava de olhos fechados e sentado de pernas cruzadas, não mudou sua posição em nenhum momento nesses últimos três dias. A única coisa que fazia, era gritar de dor.

Um ninja da Lótus entrou no salão, ele tentou evitar ao máximo não olhar para Hakuro. Se aproximando de Kana, ele lhe passou o relatório do que estava ocorrendo ali fora, após isso se afastou saindo do salão.

— O Noredan... Já chegou, não é...? 

— Sim meu lorde. — Kana ficou preocupado, Hakuro não come e nem bebe nada a três dias, ele acabará morrendo se continuar assim. — Ele continua avançando, os soldados estão apavorados.

— Quantos mortos?

— Nenhum.

Hakuro achou aquilo estranho, ele conseguia sentir a presença do Noredan se aproximando, imaginou que mataria tudo que entrasse em seu caminho assim como ocorreu com os homens de Cicuta.

— Meu lorde, o senhor acha que ele conseguirá chegar até aqui? 

— Não sei — confessou. — As tropas foram separadas em quatro unidades com cerca de 240 soldados cada. Eu já esperava que a primeira unidade seria derrotada sem problemas.

— Eu ainda não entendo meu lorde, você fez com que os cadetes ficassem na linha de frente. Por que? Planejava usar eles como sacrifícios apenas para atrasar o Noredan?

— Não seja tolo, jamais faria isso. — Ele respirou de forma pesada mais uma vez antes de continuar.

— O objetivo da primeira unidade era nada mais que aumentar o ego do Noredan.

— Aumentar o ego? 

— Nesse momento ele acha que suas habilidades são muito superiores, iremos usar isso a nosso favor para pegá-lo desprevenido.

— Um plano arriscado.

— Quando se enfrenta o impossível, é necessário tomar ações impensáveis.

 

 

Floresta da Morte

Dentre os galhos das árvores.

Kishi continuava saltando galho a galho. Por mais que avançasse aquela floresta se mostrou maior que o esperado. Ele já viu dezenas de soldados escondidos nas moitas, caso estivesse avançando pelo solo estaria em maus lençóis.

Ele se encontrou com alguns arqueiros também. A maioria foi atacada de surpresa, os que conseguiram sentir sua aproximação foram calados antes que revelassem sua posição.

Desde de seu confronto contra Cicuta ele evita matar as pessoas. Não por pena, ele sabe que mortes sempre ocorreram em um campo de batalha, acontece que essa sempre foi sua primeira opção. Após tantas mortes nesses últimos anos, ele havia se esquecido do valor de uma vida.

Não hesitaria, porém, em matar um inimigo. Mas caso houvesse uma outra opção, ele optaria por essa. Não usaria mais sua raiva ou o Noredan como desculpa para matar os outros. 

Ele queria ser alguém melhor.

Som de uma corda sendo puxada.

Kishi olhou para o lado e viu um arqueiro mirando uma flecha em sua direção. 

Ele não teve muito tempo para pensar, a flecha voou na direção de sua cabeça. Ele colocou o braço direito na frente do ataque para diminuir a força da flecha. Conseguiu. A flecha atravessou seu braço e ficou a poucos centímetros de atingir seu rosto.

A flecha era vermelha. E parecia estar pulsando, como em uma melodia ardente.

Ela explodiu lançando Kishi ao chão.

A colisão foi feia, ele quebrou a perna esquerda e perdeu boa parte da mão direita. Seu rosto sofreu queimaduras de segundo grau. Ele não pensou muito, apenas ativou seus olhos negros que começaram a curar todas as suas feridas.

Apenas um olho funcionava, o esquerdo. Ele viu doze ou quinze ninjas se aproximando, sua regeneração estava lenta, ele fazia uma força absurda apenas para manter seus olhos negros ativados.

"Da onde aquele filha da puta saiu? Que merd-”

Kishi olhou para cima.

Uma mancha negra caia.

Ele tentou ver direito o que era, mas não conseguiu.

Sem cerimônia.

Seu corpo foi esmagado.

E o chão, estilhaçado.



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