Volume 1
Capítulo 39: Prelúdio da Desgraça (2)
— Senhor Ritter, o senhor já se imaginou com poderes de um deus?
Ao ouvir essas palavras, o mestre de Alice se debruçou mais casualmente sobre a mesa de reuniões, com um sorriso largo e cheio de desejos.
— A senhora não imagina o quanto eu anseio por isso! — Disse Ritter.
— E se eu lhe disser que essa filmagem esconde um segredo que permite a um ser humano acessar o poder de um deus? — Sônia apontou para a projeção do vídeo.
— Seja direta, senhora Sônia. Não tenho o dia inteiro. — Ritter pareceu impaciente.
— As chamas de Elizabeth são sugadas pelo equipamento, e não dissipadas. — Sônia aproximou a imagem enquanto falava.
— Está dizendo que o projeto KRIP não anula os poderes dos heróis, mas na verdade suga e armazena? — Ritter lambeu os lábios enquanto falava.
— Como eu esperava, o senhor é mais inteligente do que a maioria. — Sônia passou o olhar por Getúlio e Alice.
— Mas o que isso tem a ver com o fato de que a Elizabeth empurrou o moleque para fora da sala? — Alice se intrometeu.
— Muito simples, Alice. — Sônia sentou e explicou — O poder dos heróis é, segundo eles, uma centelha divina, que se aloja nas almas dos escolhidos. Baseado nessa informação e no espectro de onda emitido por eles ao usarem seus poderes, descobrimos uma forma de “sugar” essa energia para fora do corpo. O maior problema é que se não houver uma centelha divina, o nosso equipamento irá sugar a alma da pessoa. Pode parecer impossível, mas já testamos e funcionou, porém, não é possível transferir uma alma de corpo, mas a centelha é totalmente possível.
— O que teria acontecido com Elizabeth se o André não tivesse destruído toda a sala? — Foi a vez de Getúlio se intrometer.
Ritter levantou repreendendo Getúlio.
— Em vez de nos atermos ao que poderia ter acontecido, devemos nos regozijar dos resultados positivos.
Em seguida, Ritter foi em direção à saída, dizendo.
— Senhora Sônia, faça o que quiser com a centelha do deus do fogo, a senhora sabe muito bem o que eu mais desejo, então assim que souber como repassar o poder me avise.
Assim que Ritter saiu, Getúlio e Alice olharam para Sônia perguntando ao mesmo tempo:
— O que ele mais deseja?
Sônia sorriu com ar de sabe tudo, e disse lentamente:
— A centelha do deus da guerra!
— Não pode ser! — Alice esbravejou — Ele é um dos poucos que nunca se rebelou!
— Além do mais, o poder do deus do fogo é mais forte… — Completou Getúlio.
— Não existe essa questão de força, é compatibilidade! — Sônia zombou dos outros dois — Tudo está em como seu corpo está estruturado, e a sincronia com suas ondas cerebrais para usar um determinado poder! Nunca ouviram falar que você não escolhe o poder, e sim que o poder o escolhe?
Dizendo isso, Sônia levantou-se e caminhou em direção à porta, mas antes que ela saísse, Getúlio perguntou:
— E quanto a você? Como vai ficar?
— Não entendo aonde quer chegar, senhor Getúlio — Respondeu Sônia sem se virar.
— Falo de André, a senhora sabe muito bem. Sobre o que descobrimos do passado dele.
— Esse é um assunto particular, e não vou admitir intromissão sua!
— E quanto ao Alberto? O que ele acha?
— Senhor Getúlio, em consideração à sua idade, vou relevar dessa vez, mas não ouse dizer esses dois nomes na minha frente novamente!
Getúlio calou-se e deu de ombros, Sônia saiu da sala com passos duros, sem olhar para trás ou se despedir.
Alice olhou para Getúlio com desconfiança e perguntou:
— Eu sou a única pessoa que não sabe de nada aqui? O que tem o passado do trigésimo terceiro? E quem é Alberto?
— Não posso responder, você ouviu Sônia dizer que é um assunto pessoal! — Getúlio sorriu — Além domais, acho as vezes que você também tem muitos segredos!
Alice entendeu a provocação de Getúlio, levantou-se dizendo:
— Não tenho segredo algum… Agora vamos trabalhar! Temos muito o que fazer.
Alice também saiu, ficando apenas o velho na sala, ele arrumou a gravata e se levantou lentamente, seus pensamentos estavam bem organizados, apesar da idade.
— Todos temos segredos! O ponto chave é saber esconder os seus enquanto descobre os dos outros…
. . .
Longe dali, em uma floresta densa, um fantasma flutuava levemente no ar acima das árvores, sumindo e reaparecendo de vez e quando, enquanto vários projéteis longos e silenciosos voavam em sua direção em intervalos irregulares. Sempre que um projétil se aproximava, o fantasma desaparecia e ressurgia segundos depois em outra posição.
De repente um dos projéteis mudou a direção, fazendo um ziguezague no ar, atravessando o fantasma. Mas não o feriu.
O fantasma lentamente pousou no chão, sua cor tornou-se mais vívida, e sua aparência foi revelada. Era uma garota de pele morena e cabelos curtos tingidos de violeta, usava um vestido solto e sapatilhas.
A menina fantasma parecia irritada, ela caminhou a passos largos pela floresta, indo na direção de onde havia sido disparado o projétil, onde no topo de uma rocha íngreme havia uma outra garota em pé, usando um macacão marrom, segurando um arco, e com um sorriso de vitória estampado no rosto.
— Raniely! Você trapaceou! — Gritou a garota fantasma.
— Não mesmo! — Respondeu a garota com o arco — Se a toda poderosa Jaiane não consegue desviar do meu tiro especial, não é minha culpa!
Jaiane, a garota fantasma, flutuou graciosamente até ficar de frente com Raniely, a arqueira, ainda fazendo bico e não admitindo a derrota.
— Qual é Jai? Você sempre me vence! — Raniely desviou o olhar enquanto falava.
— E você sempre trapaceia! — Jaiane resmungou enquanto pousava na rocha.
Raniely sorriu e acariciou a cabeça de Jaiane, dizendo:
— Somos filhas da guerra, e na guerra não existem trapaças, apenas vencedores e perdedores!
— O Cavaleiro de Prata que dizia isso… — Jaiane disse baixinho em tom triste.
— E o que tem? — Raniely tirou um cantil e tomou um gole de água.
Jaiane pensou um pouco, e por fim disse:
— Ele nos enganou…
Raniely suspirou e fez silêncio por alguns segundos, mas acabou dando um leve tapinha no ombro da amiga dizendo:
— Talvez ele estivesse certo o tempo todo!
— Não pode ser! De jeito algum… — Retrucou Jaiane.
— Se ele estiver certo, nós podemos nos tornar deusas! Eu adoraria ser uma deusa. — Disse Raniely, segundos antes de saltar da rocha, seguida por Jaiane.
— Então vai mesmo se aliar a ele contra o Felipe e Leonardo?
— É tudo uma questão de se aliar ao lado que tem mais chances de sair vencedor… Agora vamos falar com ele.
Jaiane parou e depois de pensar um pouco disse:
— Somos as únicas que sabem onde ele está, não acha então que ganharíamos mais falando para os outros.
— Não! — Respondeu Raniely — Chega de ser coadjuvante e deixar essas pessoas como Felipe, Leonardo e Zita ficarem famosas com as nossas vitórias! É a nossa vez de brilhar! Mesmo que precise nos aliar ao nosso maior inimigo…
Jaiane acompanhou sua melhor amiga de cabeça baixa, ela não concordava com o plano, mas não tinha coragem de ir contra Raniely.