Volume 3
Capítulo 101: Queda da Cidade de Prata (1)
Quando o primeiro raio de sol emergiu no horizonte, um estampido ecoou pelas planíceis ao redor da Cidade de Prata. Em seguida centenas de sons semelhantes foram ouvidos, deixando a população assustada.
Aparentava ser dezenas milhares de trovões ribombando de forma cadenciada, os sons permaneceram por minutos a fio. Os sentinelas, que desconheciam a origem daqueles estrondos, caíram rapidamente. E mesmo os que tentaram proteger os muros da cidade acabaram morrendo antes de conseguirem fazer algo.
Era contrastante o alcance e efetividade dos projéteis disparados junto ao estrondo quando comparados às flechas dos guardas da muralhas. Então veio um estrondo ensurdecedor ecoou centenas de vezes mais forte e poderoso. A terra tremeu, os gritos foram cessados, a muralha ruiu.
Apenas um buraco, mal dava para uma pessoa passar, mas era o suficiente para abalar a moral de qualquer um que confiasse na parede de pedra de vinte metros de altura. Em séculos, foi a primeira vez que algo fez tamanho estrago naquela que era cnsiderada a construção mais resistente do continente.
Um segundo estrondo semelhante, e o novo impacto aumentou o primeiro buraco. Os soldados da infantaria que observavam do lado de dentro começaram a perder a fé. Alguns largaram as armas e desertaram ali mesmo.
Não havia tempo para capturar os fugitivos, os cavaleiros do reino sequer sabiam se eles não teriam tomado a melhor atitude. Os líderes gritavam palavras de ordem para que seus subordinados mantivessem a formação, mas também estavam com medo.
Mais dois estrondos com menos de um segundo de diferença entre si. O primeiro aumentou mais ainda o buraco na muralha, tirando a lateral do portão junto. O segundo passou pelo buraco e acertou algumas casas, só então os habitantes da Cidade de Prata se deram conta da resistência da muralha e da capacidade destrutiva daquele poder misterioso e barulhento.
A esfera voadora que mal abrira um buraco na muralha onde permitiria a passagem de uma pessoa, uma pessoa agora havia arrasado oito mansões do bairro nobre. Agora no lugar das oito residências haviam apenas escombros.
Então vieram vários disparos simultâneos. A muralha ruiu de vez, desabando e dixando um espaço para os atacantes adentrarem. E estes não perderam um segundo que fosse, avançando cidade a dentro como uma manada de elefantes, destruindo tudo por onde passavam.
Usando suas armas de disparo contínuos, os soldados invasores matavam todos que passavam na frente, fazendo armaduras da melhor qualidade parecerem ser feitas de papel.
A batalha parecia perdida quando chegou a última linha de defesa da Cidade de Prata, o Batalhão de Feiticeiros. Desde que as guerras haviam se encerrado anos atrás esse batalhão se manteve fora de combate, mas não sem treinar o uso de encantamentos e instrumentos mágicos.
Enormes muros de terra se ergueram sob o comando de dezenas de vozes sincronizadas que entoavam um feitiço defensivo. Não era tão resistente quanto a muralha da cidade, mas deu tempo para que os soldados sobreviventes recuassem e reagrupassem. Em seguida as vozes dos feiticeiros se tornaram mais intensas e começou a chover fogo do céu.
O feitiço “chuva de fogo” era normalmente proibido de ser utilizado dentro da cidade, mas dadas as condições naquele momento e a falta de opções, o último dos batalhões não viu porque não utilizar a carta na manga.
Pela primeira vez os invasores sofreram baixas, mas foram poucas, algo inesperado perante o potencial destrutivo do ataque sofrido. Alguém anunciou que os invasores estavam recuando, e a esperança foi vista no olhar dos defensores, mas logo o cenário mudou.
Mais um daqueles estrondos foi ouvido, e dessa vez parecia estar bem perto. O muro de terra levantado pelos feiticeiros foi feito em pedaços com apenas uma daqueles rugidos demoníacos, levando consigo alguns dos seus contrutores.
A última defesa foi rompida, os soldados e feiticeiros estavam fora de formação, não haviam locais seguros para se protegerem dentro das muralhas. Enquanto isso os invasores estavam em coordenação perfeita, e ainda tinham aquelas armas barulhentas e poderosas.
O fim estava próximo.
Mas não veio. Em vez de todo aquele barulho seguido por soldados morrendo, um silêncio seguiu por mais de um minuto, até que um homem estranho com roupa esverdeada entrasse carregando a bandeira verde com cinco estrelas, o símbolo do Reino de Aço.
Os soldados restante no que sobrou da defesa da Cidade de Prata se perguntavam o significado daquilo, além de, obviamente, ser uma declaração de guerra do reino vizinho. Não que fosse uma surpresa, o Reino de Prata estava sem monarca, e o último havia arquitetado um golpe sobre o reino de Aço.
Essa era a retaliação deles. Mas não havia como desenvolverem armas tão poderosas em tão pouco tempo, meses antes o Reino de aço estava a beira de um colapso político-econômico, e agora invadia a capital mais segura dentre todas as sete, e em menos de dez minutos havia derrubado todas as defesas.
Então a pergunta que corroía a mente de todos os sobreviventes foi respondida quando entrou o Cavaleiro de Prata, com toda a sua pompa. Passos lentos, mãos atrás do corpo, postura ereta, era como se ele achasse que aqueles à sua presença não fossem dignos de estarem ali.
Um soldado de armadura comum com sinais de perfuração em algumas partes do corpo tentou pedir ajuda ao homem de armadura prateada, mas o Cavaleiro de Prata apenas passou por ele, ignorando-o totalmente. A única resposta que o pobre homem teve foi um salva de tiro que lhe tirou a vida em segundos.
— Como podem ver, estamos aqui para tomar essa cidade. — O cavaleiro de Prata disse se olhar para niguém — Normalmente eu pediria para que vocês se rendessem e largassem as armas, mas conheço muitos aqui e sei que jamais fariam isso. Então para quê perder tempo, não é senhores?
A resposta veio na forma de uma ventania que o empurrou para trás, balançando a capa azul celeste. Alguns dos soldados do Reino de Aço foram arremessados a dezenas de metros, mas o Cavaleiro de Prata apenas deu um passo para trás.
Quando a ventania cessou os feiticeiros iniciaram imediatamente a entoar o próximo feitiço, mas não tiveram tempo. Rajadas estrondosas ceifaram vidas em segundos, e o último batalhão foi eliminado em dois minutos.
Um soldado se aproximou do Cavaleiro de Prata e disse que já poderiam declarar a conquista da cidade. Mas o homem de armadura prateada pediu o radio comunicador do soldado.
— Atenção! — O Cavaleiro de prata disse no comunicador — Não economizem munição, destruam tudo que puderem! O objetivo aqui é mostrar a esse mundo o que podemos fazer, e dar a eles a sensação que não atingimos o nosso limite.
Assim que acabou de falar, jogou o comunicador para o soldado e retornu ao buraco na muralha, por onde vinham entrando Stanis, o Rei de Aço, e o General Nogueira.
Balas de canhão passaram voando por cima do que restou da muralha, e onde caíam deixavam um rastro de destruição. Aos sons de explosões, colisões e desabamentos, se misturaram os gritos de terror dos habitantes da cidade. Não havia como estimar quantos inocentes morreriam, mas era necessário para os três completassem seus objetivos.
Quando enfim as munições dos canhões acabaram, os três arquitetos da invasão rumaram em direção ao castelo no centro da cidade para concluir a tomada de poder e declarar a queda definitiva do Reino de Prata.