Volume 3
Capítulo 110: Emboscada na Floresta
Assim que Lu-Ji partiu cruzando o deserto rumo à extremidade sul da Grande Falha, outro grupo de soldados partiu silenciosamente buscando o mesmo destino por uma rota mais longa. O segundo grupo era menor, mas composto apenas por soldados de elite.
Dez magos, dez feiticeiros, dez arqueiros, dez espadachins, dez curandeiros e dez batedores. Os sessenta soldados seguiam pela Floresta Sagrada, uma rota longa, porém, secreta. E à frente deles ia Long-Hua, o Rei do Sul.
Conforme se moviam em velocidade, os grupos mantinham uma certa distância, nada mais do que uma forma de se moverem em segurança. Os que tinham habilidade de reatreamento iam na frente, para garantir a melhor rota, os curandeiros e os mais fortes iam no meio e transportavam as bagagens, e os que tinham melhores habilidades defensivas se moviam na retaguarda.
Após três dias de viagem eles estavam quase terminando de cruzar a Floresta Sagrada e chegando no território do Reino de Prata, próximo à extremidade sul da Grande Falha, o local onde os inimigos estavam acampados.
Uma pequena quantidade de soldados como aquela seria capaz de cruzar a floresta em dois dias, mas Long-Hua preferiu manter as energias dos seus homens para um ataque direto e eficaz sobre as tropas do Leste.
Além disso, entre elesa havia uma pessoa que não tinha o costume de viagens longas, Yu-Kan. A curandeira mais poderosa do Reino do Sul era o trunfo de Long-Hua contra seus inimigos, já que ela poderia curar praticamente qualquer ferimento. Desde que a vítima ainda estivesse viva, ela poderia fazer verdadeiros milagres.
Desgastar Yu-Kan poderia acarretar em uma derrota para o Sul.
O dia estava amanhecendo mais uma vez, e com Yu-Kan descansada, o grupo poderia mais uma vez se pôr em marcha. Mas um dos batedores chegou com um aviso.
— Senhor. — Disse o batedor — Avistamos sinais de movimentação à frente, parece ser um grupo de pessoas bem organizado, pelas pegadas que encontramos deu para perceber que eles têm algum tipo de treinamento militar. Nunca vimos pegadas como aquelas, devem ser calçados especiais, além disso, buscaram se mover deixando o mínimo de pistas possíveis, soldados menos experientes não seriam capazes de avistar elas.
— Algumas indicação de qual reino vieram? — Long-Hua perguntou — Ou quantos são exatamente?
— Calculamos que sejam em torno de 30 pessoas, mas não conseguimos identificar a origem. Parecem estar vindo do deserto mas não são dos nosso, então fica difícil prever de onde são.
— Não deixemos que isso seja um problema. — Long-Hua olhou para seus homens e começou a dar as ordens — Du-Ji, Myn-Ji e Tai-Li, vocês são os mais rápidos, então deem a volta e verifiquem quem são essas pessoas. Mu-Kan, venha comigo, vamos seguir os rastros deles. O restante espera aqui, mas mantenham atenção, isso pode ser uma armadilha, e nosso grupo estará dividido.
Todos os seus subordinados assentiram.
— Caso sejam atacados, protejam Yu-Kan. — Ele disse enquanto saía em direção aos possíveis inimigos — E se não voltarmos em meia hora, não haverá necessidade de seguir em frente.
— Mas senhor… — Um dos curandeiros tentou argumentar.
— Isso é uma ordem, se em meia hora não voltarmos ao acampamento, retornem para a capital, reagrupem e ataquem nossos inimigos com tudo.
Mais do que uma ordem, aquilo era um aviso. Se eles não voltassem dentro do prazo estabelecido significaria que estavam todos mortos. Mas não precisava explicar, todos ali já sabiam disso. Viver entre a vida e a morte era o que significava ser um guerreiro do Sul.
Ao entrar na floresta, sem precisar se prender à baixa velocidade dos demais, Long-Hua e os outros quatro homens pareciam desaparecer por entre as árvores, se movimentando tão rápido que se tornavam invisíveis aos olhos humanos normais.
Nesse ritmo levaria poucos minutos para cercarem o grupo desconhecido à frente. Mas eles estavam cientes de que poderia não ser tão fácil.
Ao mesmo tempo, poucos quilômetros ao norte, um homem negro usando uniforme militar que o deixava camuflado na vegetação, observava um equipamento eletrônico onde cinco pontos piscavam freneticamente.
— Apenas cinco, senhor. — O militar disse — Mas se movem de maneira anormal, devem estar próximos a 80 km/h e aumentando a velocidade. E estão se separando, parece que três deles vêm para inteceptar a nossa rota.
— Isso era esperado, capitão. — Getúlio disse com uma voz mansa — Mas não é nada que não possamos resolver, diferente do nosso encontro com aqueles arqueiros no deserto, agora estamos preparados.
— Para enviarem apenas cinco quer dizer que eles são suficientes. — Disse uma garota que observava o equipamento por detrás do militar — E mesmo nesse mundo não é normal se mover nessa velocidade, recomendo não atacar antes de tentar falar com eles.
— Concordo com a Arlene. — Disse um rapaz careca sentado sobre a raíz de uma árvore — Uma coisa que aprendemos nesse mundo foi não subestimar ninguém, e se eles enviaram apenas cinco, é porque três deles seriam o suficiente, os outros dois são para evitar quaisquer surpresas.
— Agradeço pelo aviso, Bruno. — Getúlio respondeu sem se virar — Mas são eles quem estão nos subestimando, desde que entraram no alcance do nosso radar estamos preparados para o encontro. É tudo uma questão de preparo.
— Então espero que já tenham se preparado. — Arlene disse — Porque eles chegaram.
No mesmo momento um homem alto, de cabelos pretos e pele queimada do sol se aproximou como se sempre estivesse ali. Era Long-Hua, o Rei do sul. Os soldados de Getúlio sacaram suas armas e miraram em direção a ele, mas o soberano sulista permaneceu inalterado perante as armas desconhecidas, com sua postura imponente e mãos para trás do corpo.
— Eu estava pensando em perguntar de onde vocês vêm, mas pela forma que se vestem, e por estarem acompanhados por duas pessoas que não deveriam estar nesse mundo, posso dizer que estão vindo do mundo dos heróis. — Long-Hua disse olhando friamente para os soldados de uniforme camuflado, Arlene e Bruno.
E parando seus olhos em Getúlio, ele concluiu:
— Presumo que você seja o líder destes.
— Muito observador. — Getúlio respondeu.
— E o que querem nessa floresta?
— Sair dela, depois vamos achar umas pessoas irritantes que não deveriam ter vindo para cá…
— Então talvez estejam tentando tentando chegar ao campo de batalha.
— E se estivermos?
— Considerarei vocês aliados ou inimigos, dependendo de quem apoiam, é claro.
— Como você disse, os “heróis” não deveriam estar nesse mundo, estamos aqui para prendê-los e levá-los de volta.
Arlene olhou para Bruno assustada, ela sabia que essa informação não era verdadeira, e que Getúlio estava tentando usar Long-Hua. Na mente dela não havia uma forma de aquela situação terminar bem.
— É mentira! — Disse a heroína — Ele nos trouxe aqui contra a nosa vontade para roubar o segredo da magia, e destruir o seu mundo para tomar as riquezas!
Getúlio deu um olhar severo para Arlene, mas antes que conseguisse dizer algo Long-Hua deu uma gargalhada.
— Ha-ha-ha! Eu estava esperando para ver até onde este homem tentaria me enganar, mas já que o expôs, vamos adiantar as coisas. Tenho que chegar ainda hoje no sul da grande falha para dar um susto nos seus amiguinhos…
— Então é lá que os outros estão? — Bruno perguntou.
Long-Hua não respondeu, apenas esticou o braço direito com a mão aberta e uma espada longa apareceu. Uma das técnicas preferidas do povo do sul, guardar suas armas em uma dimensão de bolso para ficar mais fácil de sacar na batalha, mas com a limitação de que só poderia ser usada por alguém com poder mágico.
Bruno deu dois passos para trás e tocou a árvore ativando seu poder, decomposição, em segundos o tronco da enorme árvore sumiu e o restante foi feito em pedaços. Normalmente ele poderia eliminar totalmente ela, mas agora precisava de seus galhos para criar uma distração.
Enquanto todos buscavam se proteger dos pedaços de madeira que caíam desordenadamente, ele usou seu poder no chão, eliminando a argila em um raio de quinze metros ao seu redor, revelando as rochas no subsolo. Esse era outro ponto do seu poder, ele podia selecionar exatamente o que queria decompor.
As rochas se moveram ao redor dele, como se tivesse vida própria. E dessa vez era o poder de Arlene, ao redor dela haviam dezenas de golens de pedra e madeira de tamanhos variados. Assim os dois heróis estavam cercados por dezenas de soldados armados, Long-Hua e seus homens, e ainda dentro de um buraco.
Os golens se enrolaram por cima de Bruno e Arlene enquanto tiros e gritos ecoavam pela floresta. Eles não precisavam se envolver, apenas fugir.