Volume 3

Capítulo 137: Uma Tarde Fria no Acampamento

A chegada do restante dos heróis causou o encerramento prematuro da reunião. Com exceção de Eduardo, Wagner e Felipe, todos os outros estavam agora no acampamento de guerra.

Além deles, Long-Hua e mais um pequeno grupo de guerreiros havia chegado. Mas esses se mantiveram afastados, pressionando o grupo dos heróis em um efeito pinça.

— Se não fosse a chegada de vocês, eles teriam nos atacado de surpresa. — Leonardo disse a Hugo.

— Então foi bom termos chegado logo. — Hugo respondeu.

— O timing não poderia ter sido mais perfeito! — Jaiane comentou — Mesmo eu estando apenas como observadora, teria que me envolver, caso eles atacassem.

— Eu também. — Lucas concordou — Apesar de não querer me envolver com isso, estou vendo que a situação só vai ladeira abaixo.

— Você diz isso porque não viu a situação no acampamento da AI. — Helder falou — Os caras já conseguiram estabilizar um portal, e estão trazendo um monte de coisas!

— Em breve chegarão carros e bombas. — Mirian completou.

Leonardo respirou fundo e esfregou as têmporas.

— Sei que estão cansados, mas gostaria que repassassem o máximo de informações para Jonas, Esmeralda e Zita. — Ele disse — Eles que estão no comando, enquanto eu estou no apoio e retaguarda. 

Helder e Mirian concordaram e foram até a tenda principal, onde as lideranças do acampamento discutiam as estratégias, Leonardo ficou na parte comum do acampamento com os outros heróis.

Andreia brincava de lançar magias e se defender contra os ataques de algumas das Pessoas Livres. Ou talvez eles estivessem treinando sério, não dava para saber. De toda forma, Leonardo estava feliz de ver o crescimento de sua filha. A única coisa que incomodava ele era a manopla presa ao braço de sua esposa.

A única vez que ela usou aquilo foi para criar o orbe que agora estava no cajado de Andreia. Ela havia dito que era um artefato divino, e que sabia onde estavam outros dois, mas não acharam. Na verdade, um deles estava destruído, o outro tinha sido pego por alguém que chegou antes.

Ele suspirou mais uma vez e voltou sua atenção à conversa de seus colegas heróis.

— Por que mesmo estamos dando satisfação para o André? — Raniely perguntou.

— Porque ele tem um miniexército, e não estamos com a intenção de irritar eles. — Josiley respondeu.

— Tenho certeza de que a gente poderia acabar com esse mini exército! — Raniely retrucou.

— Você nunca enfrentou as Pessoas Livres do Leste, né? — Jonas, que vinha chegando da tenda principal, perguntou — Esses caras seguem o André apenas para encontrar a morte em uma batalha. A maioria das Pessoas Livres já foi escravo, Brogo, por exemplo, era um brinquedo de tortura. Acha que eles sentem medo? Não! Eles só desejam matar quem for inimigo, e morrer em batalha com a honra de um guerreiro.

— E você tinha que se aliar a eles? — Jaiane reclamou.

— Não é questão de ter ou querer, é apenas entender o que precisa ser feito e deixar as engrenagens girarem.

— Desde quando você pensa assim?

— Desde que falei com “ele” pela última vez.

— Ele? — Raniely estreitou os olhos — Às vezes esqueço que você é um dos que conseguem ouvir o deus que te escolheu.

— E o que “ele” te disse? — Jaiane questionou.

— Que o fim desse ciclo está próximo, e em breve “eles” poderão andar entre os mortais outra vez. — Jonas respondeu, olhando para o céu que escurecia com a chegada da noite.

Então houve alguns segundos de silêncio, que foi quebrado pela pergunta de Lucas:

— Acha que o plano do André é libertar os deuses?

— Isso é burrice! — Raniely respondeu.

— Concordo. — Disse Jaiane.

— Talvez não seja tanta burrice quanto achamos. — Hugo balançou a cabeça negativamente.

— Do que está falando?

— Lembra que quando viemos para cá a desculpa foi de que íamos salvar esse mundo de uma guerra iminente? — Ele coçou o queixo — Participamos de três guerras, mas nunca de uma forma “completa”.

— Completa? — Jaiane perguntou — Seja mais específico.

— A primeira nem foi bem uma guerra, houve toda uma movimentação, daí o Leste devolveu a semente para o templo, e tudo ficou na paz. Então, o André começou com o lance de resgatar escravos, e tivemos algumas batalhas, mas não foi isso tudo, e o Reino do Sul interveio para voltarmos à paz.

— Claro, quase metade dos resgatados eram do sul. — Lucas comentou.

— E aí tivemos a guerra de verdade! — Hugo continuou — Quase todos os heróis, todos os sete reinos, muitas mortes… Mas na verdade, nós fomos a causa de todas as três guerras! Nunca impedimos nenhuma guerra, mas criamos três!

— Duas foram criadas pelo André e uma pelo Leonardo. — Raniely rebateu a tese de Hugo — E quando o Leo libertou a magia perdida, o André estava com ele.

— Ou seja, o André é o culpado por tudo! — Jaiane concordou.

— Não esqueçam que ele só roubou a semente para se vingar do Reino de Prata, eu também não ficaria muito feliz se me amarrassem e jogassem na Grande Falha. — Leonardo retrucou.

— E o lance dos escravos… — Hugo aproveitou a brecha criada por Leonardo — eu não tiro a razão dele. Viemos de um mundo onde escravidão é crime.

— Onde querem chegar? — Raniely perguntou.

— E se… — Hugo parecia procurar a melhor forma de falar — Se estivermos no lado errado?

— Eu já pensei sobre isso. — Leonardo comentou — É por isso que larguei a liderança, dessa vez vou apenas seguir a correnteza.

— E quem se lascou com toda a responsabilidade fui eu… — Jonas comentou baixinho.

Houve mais alguns segundos de silêncio, até que Leonardo se virasse para o lado mais escuro e perguntasse:

— Gledson, você é um dos poucos que nunca ficou contra ele, poderia nos dizer o que pensa?

— Penso que a melhor coisa que fiz até hoje foi nunca me envolver com os problemas de vocês. — Gledson disse, no seu tom sombrio — Vocês todos se pegam demais no que ouvem, e esquecem o que não foi dito.

— E o que não foi dito? — Raniely perguntou, aparentando estar sem paciência.

— Primeiro, a guerra. Nos foi dito para evitar uma guerra, mas não qual delas, e quem nos disse isso?

— O Cavaleiro de Prata, o mesmo cara que tentou passar a perna em todos nós! — Leonardo respondeu.

— Segundo, a vingança do André. Ele disse que queria se vingar de todos que fizeram mal a ele, mas nunca disse quem exatamente eram esses “todos”. Nem especificou se éramos nós, ou se tinham outros, ou mesmo, se éramos todos os trinta e dois.

— Você tem um ponto. — Jonas comentou — Mesmo a Zita tendo torrado a garganta dele naquela vez, eles fugiram do castelo juntos e começaram a investigação que resultou em nós voltando para casa. Ele também teve oportunidades de me matar, e de matar o Wagner, e não fez.

— Acha que tem algo maior, e que ele está escondendo de nós?

— É do André que estamos falando, ele tem segredos dentro de segredos.

— Se tem alguma coisa, aposto que a Zita sabe. — Jaiane comentou — Por que não perguntamos a ela?

— Ela não diria. — Leonardo balançou a cabeça.

— Isso nos leva ao terceiro ponto. — Gledson suspirou — Qual o segredo dos deuses?

— Segredo dos deuses? — Jaiane repetiu a pergunta de Gledson.

— É algo que o André parece saber e nós não. — Gledson comentou — Algo me diz que a Anne também sabe…



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