Volume 3
Capítulo 146: Caçada aos Heróis
Quando Eduardo e Wagner saíram da Cidade de Prata já sabiam que era questão de tempo até que o objetivo deles fosse descoberto. Nunca passou pela cabeça de nenhum dos dois que conseguiriam enganar o Cavaleiro de Prata, eles não eram inocentes.
Perder tempo era dar chance para o inimigo se aproximar, e mesmo que ele fosse se aproximar de um jeito ou de outro, ganhar tempo e distância era fundamental. Pelo menos até que eles conseguissem pedir por reforços.
Os dois roubaram cavalos de qualidade, cavalgaram a noite toda, e quando os cavalos cansaram, continuaram a viagem a pé. Uma viagem nem um pouco confortável, debaixo do sol quente, sem água nem provisões para não ter peso atrapalhando o ritmo da caminhada.
Uma pausa para descansar debaixo de uma árvore de vez enquanto, mas nada extenso, apenas minutos para respirar. Ainda assim pareciam estar longe do destino.
Já passava de meio dia quando eles chegaram a uma antiga vila, que agora se encontrava abandonada. Seus moradores deviam ter fugido por causa da guerra. Ali eles encontraram uma fonte de água e frutas.
Haviam restos de alimentos nas casas, com certeza, mas deviam estar estragados dado o tempo que as pessoas estavam fora.
Aquele era o melhor lugar para esperar para serem atacados. E eles sabiam que seriam, era questão de tempo até que descobrissem o que eles tinham pego no castelo e viessem atrás dos dois.
Descansar e se alimentar era necessário para se prepararem para a batalha que poderia vir. Wagner aproveitou para testar a Arma das Armas, Eduardo deitou na grama e tirou um cochilo.
Suas atitudes eram diferentes, mas ambos estavam se preparando.
. . .
Horas antes, na Cidade de Prata, um veículo militar saiu com três pessoas vestidas de armaduras. Um soldado com uniforme com estampa variando em tons de verde e marrom era o motorista.
Ao longo da estrada de terra, onde normalmente só passavam carroças, iam outros veículos como aquele. Uma longa fila de carros militares projetados para se movem nas piores condições de terreno e resistirem às piores situações de uma guerra.
Eles levavam alimentos, combustível, roupas, armas e munições, equipamentos de alta tecnologia… De tudo um pouco. E, é claro, muitos soldados. A missão de manter os heróis ocupados enquanto a Aliança Internacional se instalava naquele mundo contaria com uma logística de grandes proporções.
Alice não estava satisfeita com a posição de distração de herói, mas tinha que seguir ordens. Ela estava na AI desde a fundação, e sabia muito bem o quão perigosos os diretores poderiam ser. Inclusive, ela sempre achou que envenenar as famílias dos heróis foi meio exagerado, apesar de saber que era a forma mais eficiente.
Mas agora que Felipe tinha conseguido criar um antídoto e, de alguma forma, tirar as famílias de todos os 33 de radar sem chamar atenção. Tinha razão de ele ser a pessoa mais temida da AI atualmente.
Isso não tirava o perigo que Zita representava. Apesar dos diretores pensarem diferente, Alice tinha receio de que a garota, de alguma forma, recuperasse seus poderes. Aí sim seria um problema danado.
Zita nunca foi muito obediente à AI, e sempre que possível deixava bem claro que o único motivo de seguir as ordens da Aliança era porque sua mãe estava correndo perigo. Por isso ela foi escolhida como a primeira a ter seus poderes retirados.
E isso levava ao trunfo de Alice: Lee-Sen-Park. O coreano que quase foi à loucura quando descobriu a existência dos heróis e recebeu o poder que um dia foi de Zita, agora era o maior aliado da AI na defesa contra os próprios heróis.
Ele era o único que restava na AI com poderes depois da fuga em massa dos heróis. É claro que ainda tinham armas pesadas, canhões de energia, muitas granadas e outras coisinhas especiais, mas poder é poder.
A preocupação de Alice tinha outro motivo também. Ritter havia passado informações para o QG sobre os dois heróis que fugiram com um treco divino. Ela tinha receio que o tal Long-Hua fosse capaz de interceptar a comunicação, mas Ritter acho graça e disse que era impossível que alguém que nunca tinha visto um comunicador na vida conseguisse achar uma frequência específica.
Mesmo assim ela tinha um mal pressentimento.
Logo todos os outros membros da Aliança sentiram o mesmo, principalmente porque uma árvore surgiu do nada, no meio da estrada. E como se o feito não fosse o bastante, ela continuou a crescer em um formato estranho, parecendo uma seta.
A ponta da seta estava virada para o lado direto da estrada, na direção sul, parecendo indicar algo. O Cavaleiro de Prata, ou melhor, Jafah, pediu para o motorista frear o carro.
— Eles estão para lá. — Ele disse apontando na mesma direção da seta — Isso é um convite.
— Tem certeza? — Ritter perguntou.
— Sim, fui eu quem os ensinou a ética de um cavaleiro.
— Convidar um inimigo mais forte para um combate não se chama ética, e sim burrice.
— Os fiz burros para que seguissem minhas ordens, mas nem todos saíram como o planejado.
— Se eles não fossem tão estúpidos, teria sido bem mais difícil para a AI controla-los.
— Não confunda as coisas, Ritter, eles são burros, mas não estúpidos. Não confunda a falta de malícia dos heróis com a estupidez das pessoas do seu mundo.
— Nesse caso, retiro minhas palavras.
Com um aceno de cabeça, o Cavaleiro de Prata desceu do veículo e começou a caminhar na direção em que a seta apontava. Ritter o seguiu, dando ordens para que Alice seguisse com o plano de distrair os heróis.
Uma caminhada longa, mas não exaustiva. A planície era boa para caminhar, e as armaduras feitas com nanotecnologia mantinha seus corpos protegidos do calor do sol.
Perto de uma vila abandonada estavam os dois heróis. Eduardo estava deitado na grama com um braço cobrindo o rosto, Wagner estava sentado no chão e parecia brincar com um objeto que mudava de formatos.
Ritter e Jafah se aproximaram, mantendo uma distância razoável entre as duplas. Wagner levantou o olhar e encarou os dois homens de armadura, mas Eduardo parecia não ter os percebido ainda.
— Agradeço o convite, mas não estou com tempo para brincar com as crianças. — Ritter disse em tom calmo — Já devem saber que quero a Arma das Armas, entreguem ela sem resistência vai ficar tudo bem.
Wagner suspirou e levantou-se.
— Não vou entregar nada. Estávamos apenas esperando o Cavaleiro de Prata para resolver velhos assuntos. — Ele disse — Mas temos dois aqui. Qual é o verdadeiro?
Jafah desfez seu elmo e deu um passo à frente.
— Um erro, moleque. Você não faz ideia de quem eu sou…
— Será? — Wagner deu um sorriso.
— Sim. — Jafah estalou os dedos — Agora existe uma barreira em um raio de dois quilômetros, ninguém entra ou sai até que você me entregue a Arma das Armas.
Wagner ficou sério e em silêncio por alguns segundos. Até que o buzinar de um carro fosse ouvido bem próximo.
— Aposto que não ouviram eles chegando, né? — Wagner deu um sorriso maior que o último — Motores elétricos são silenciosos…